segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Verba desviada do Porto iria para o exterior, diz PF

GAZETA DO POVO, 24 de janeiro de 2011

Mensagens trocadas por investigados da Polícia Federal falam que Eduardo Requião teria enviado dólares para conta nos Estados Unidos


Uma troca de e-mails datados de 4 abril de 2010 entre o proprietário da empresa Unisoft, Alex Hammoud, e o ex-superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) Daniel Lúcio de Oliveira de Souza revela indícios de en­­vios de remessas de dinheiro para fora do país entre envolvidos na Operação Dallas, desencadeada pela Polícia Federal (PF) na semana passada. Essas transferências, contam as mensagens captadas pela PF com autorização judicial, seriam feitas com ajuda de Hammoud para uma conta bancária nos Estados Unidos em nome de Eduardo Requião – também ex-superintendente da Appa e irmão do ex-governador Roberto Requião.

A Gazeta do Povo teve acesso com exclusividade ao conteúdo da investigação, revelado na edição de ontem. A troca de mensagens por correio eletrônico tinha como assunto a frase “Vence quem trabalha e não quem rouba”. Hammoud é apontado pela PF como o principal articulador da negociação envolvendo a Appa, o governo do Paraná e a empresa Sawa (representante de um fabricante chinês de dragas) no processo de licitação para a compra do equipamento chinês por pouco mais de R$ 46 milhões.

Essa negociação é um dos focos principais das investigações da PF. Os federais concluíram que um enorme esquema foi formado para desviar US$ 5 milhões (cerca de R$ 8,3 milhões) após a conclusão desse processo licitatório. Conforme mostrou ontem a Gazeta do Povo, o principal be­­neficiário dessa propina seria Eduardo Requião – que, segundo conversas gravadas, receberia a metade do montante. A outra parte seria dividida entre outras pessoas – entre elas o empresário Luís Mussi, segundo suplente do senador eleito Ro­­berto Re­­quião. O esquema envolveria ainda Carlos Augusto Moreira Júnior, ex-chefe de gabinete de Roberto Requião. O dinheiro não chegou a ser desviado porque a Justiça Federal anulou a licitação.

Em um dos e-mails, Hammoud relata a Souza ter recebido uma quantia em dinheiro de Eduardo Requião para enviar para o exterior. No entanto, o empresário descreve que não chegou a fazer a transação depois de receber conselhos de amigos. “Ajudei a tirar remessa de Ctba [Curitiba] para PY [segundo a PF, seria Paraguai]. [Eduardo] Me deu dinheiro p remessa (+ que 500) e quando fui enviar, amigos banqueiros de trinta anos me disseram que a conta estava vigiada pela interpol e não me aconselharam arriscar meu nome como remetente (sic)”, diz a mensagem de Hammoud.

O empresário ainda fala no e-mail que Eduardo Requião não acreditou na vigia da Interpol e pediu o dinheiro de volta. “Mas estava fazendo c prazer p servir quem achava que merecia. [Eduardo] Vai cair sozinho nas mãos da lei e deixar o irmão dele com muita vergonha (sic)”, afirma no e-mail, fazendo menção ao embaraço que o caso causaria a Roberto Requião.

Ao responder o e-mail de Hammoud, Souza diz que Eduardo Requião contou a ele que teve problemas com o empresário e explica o motivo. “Há mais de um mês ele [Eduardo] me disse que não confiava em você [Hammoud], pois teve problemas com uma remessa para conta dele [Eduardo] nos EUA de US$ 500 mil”, diz o ex-superintentente do Porto. E Hammoud responde: “Tenho número da conta e endereço do banco do crocodilo [Eduardo] no exterior e sei onde guarda os U$ dele no RJ e em Ctba. Vou cuspir na cara deste safado depois de colocar ele na cadeia (sic)”.

Empregada de Requião - Durante a troca de mensagens, Oliveira lembrou a história investigada pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) sobre o furto de US$ 180 mil do guarda-roupa da casa do irmão do ex-governador, ocorrido em 2009. A empregada doméstica, Elizabeth Quintanilha Jorge, teria se apropriado do dinheiro, de acordo com o inquérito do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope).

Apesar da investigação policial, Souza comenta no e-mail sobre um boato que elevaria a quantia furtada por Elizabeth consideravelmente. “Mesmo de­­pois que a empregada roubou R$ 2 milhões do guarda-roupa dele ano passado, ainda sobrou muito... É o que corre de fofocas por aí. Na polícia ele declarou que ela roubou US$ 180 mil (em dólares mesmo. não declarados no imposto de renda!!!)”, afirma Souza na mensagem

A Gazeta do Povo tentou falar com o empresário Alex Hammoud, mas o celular dele estava desligado. Já Eduardo Requião afirmou na sexta-feira passada que só comentaria o caso quando voltasse a Curitiba – o que deve acontecer nos próximos dias. Já o advogado de Daniel Lúcio de Souza, Francisco Monteiro da Rocha Junior, disse que não emitiria qualquer opinião sobre a troca de e-mails porque não teria tido acesso aos autos e aos materiais contidos neles.


Ministério Público apura furto de dólares de armário
Desde agosto do ano passado, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) apura a origem dos US$ 180 mil furtados da casa do ex-superintendente do Porto de Paranaguá Eduardo Requião, em 2009. As investigações policiais indicam que o valor teria sido extraviado da casa de Requião pela empregada doméstica Elizabeth Quintanilha Jorge.

Requião procurou o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) no dia 15 de setembro de 2009 para denunciar o furto. No depoimento, já mostrado pela Gazeta do Povo, ele acusa Elizabeth de se apropriar do valor. Ele disse à polícia que os dólares em espécie estavam dentro do guarda-roupas de seu quarto. O Cope apurou que, com o dinheiro levado, Elizabeth comprou imóveis e veículos, colocados em nome de familiares. Ela confessou o crime durante depoimento aos policiais e, na época, prometeu ressarcir a quantia furtada.

Na sexta-feira, a reportagem foi até a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público para descobrir o resultado da apuração do MP. O promotor designado para o caso, Fábio Brusamolin, não foi encontrado. Segundo a assessoria de imprensa do MP-PR, Brusamolin está de férias e retorna nesta semana. Procurado por telefone, ele não atendeu às ligações.

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