GAZETA MARINGÁ, 25 de janeiro de 2011
Pesquisa do Ipea mostra como o crescimento da frota afetou o trânsito do país e a necessidade de um transporte público mais eficiente
Quase sete em cada dez pessoas sofrem com congestionamentos no país. É o que mostra a pesquisa Sistema de Indicadores de Percepção Social: Mobilidade Urbana, divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No total, 66,6% dos entrevistados dizem enfrentar congestionamentos ao menos uma vez por mês. A maior parte (20,5%) passa por congestionamentos mais de uma vez por dia e 16%, uma vez por dia. No Sul, 21,9% afirmam sofrer com congestionamentos mais de uma vez por dia e 14%, uma vez ao dia – o índice só é inferior ao da Região Norte, com 26,2% e 19,7%, respectivamente.
Esse resultado está ligado diretamente ao aumento da frota de veículos no país. O levantamento mostra que no Brasil, de 2000 a 2010, a frota de veículos cresceu 90,9% a mais que a população – só as motocicletas apresentaram um aumento de 242,2%. No ano 2000 havia um carro para 8,5 pessoas. No ano passado, o dado apontava um automóvel para 5,2 pessoas.
Justamente por isso que, de acordo com os entrevistados pela pesquisa, rapidez é sinônimo de um bom meio de transporte. Preço e conforto vêm em segundo plano. Entre os entrevistados da Região Sul, um bom transporte tem de ser rápido (31,2%), ter disponível mais de uma forma de se deslocar (18,3%) e sair num horário adequado à necessidade do usuário (11,5%). Somente 8,5% frisaram a necessidade de ser barato e 7,8% de ser confortável.
A pesquisa mostrou, ainda, entre os entrevistados da Região Sul, que 32% não passariam a utilizar transporte público sob nenhuma condição, mas 22% trocariam se fosse mais rápido, 11% se estivesse disponível e 8% se houvesse mais opções de horários.
Para o professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Garrone Reck, a pesquisa mostra a importância de se adequar a oferta à demanda. “Mais do que o ônibus estar cheio ou vazio é importante que ele não demore muito. Falar em rapidez é falar em cobertura espacial, frequência e velocidade operacional”, explica. “Mesmo nos países desenvolvidos, nos horários de pico o transporte tem uma lotação, mas, claro, num nível aceitável”, diz.
Para Reck, aqueles que ficam parados em congestionamentos diariamente nas grandes cidades brasileiras são sérios candidatos a migrarem para o transporte público. Mas, para isso, é necessário que o transporte público seja mais rápido e eficiente, já que, além do perdido na própria operação, o usuário gasta tempo também para se deslocar até o ponto e para esperar o ônibus. “Os ônibus têm de estar livre de fluxo, de tráfego, ter faixa preferencial”, diz.
Para o presidente do Ipea, Mar cio Pochmann, o país deveria dar ênfase ao transporte público. “Em países desenvolvidos o principal meio de transporte é o coletivo. Isso pressupõe investimentos em infraestrutura de grande magnitude e uma articulação do setor público com o privado, porque, sem esse esforço, vamos ter cidades com maior quantidade de automóveis, congestionamentos mais amplos do que já temos, maior perda de produtividade e maior tempo da vida comprometido no deslocamento.’’
Avaliação - O estudo indica que 19,8% da população acha o transporte público muito ruim, 19,2% consideram ruim, 31,3% regular, 26,1% bom e 2,9% muito bom. Na Região Sul, estão os mais satisfeitos com o transporte público: 44,9% o consideram bom ou muito bom e 23,5% o acham ruim ou muito ruim. Já na Região Sudeste encontram-se as opiniões mais negativas: apenas 24,5% o veem como bom ou muito bom e 45,9% o consideram ruim ou muito ruim.
O estudo aponta que, quanto mais escolarizada é a pessoa, mais crítica ela se torna em relação ao transporte público. Ele é bom ou muito bom para 34,9% das pessoas com até a quarta série do ensino fundamental – 22,5% o acham ruim ou muito ruim. Já entre os quem têm ensino superior incompleto, completo ou pós-graduação, 20,1% o consideram bom ou muito bom e 36,9% o acham ruim ou muito ruim.
A pesquisa do Ipea ouviu 2.770 pessoas em todos os estados do país e utilizou a técnica de amostragem por cotas, a fim de garantir proporcionalidade no que diz respeito à população. A margem máxima de erro por região é de 5%.
Transporte pesa no orçamento
A pesquisa divulgada pelo Ipea mostra também que transporte é uma das despesas que mais pesa no orçamento familiar. Segundo os dados divulgados, 36,8% do orçamento é utilizado com habitação, 20,2% com alimentação e 20,1% com transportes. Outros gastos como saúde e educação, por exemplo, não ultrapassam 10% do orçamento. Assistência à saúde consome 7,4% e educação 3,1%. “O transporte representa hoje [praticamente] a segunda despesa mais alta no orçamento das famílias. “Ações que possam reduzir o peso do custo do transporte seriam um ganho de renda para as famílias’’, diz o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.
Pesquisa do Ipea mostra como o crescimento da frota afetou o trânsito do país e a necessidade de um transporte público mais eficiente
Quase sete em cada dez pessoas sofrem com congestionamentos no país. É o que mostra a pesquisa Sistema de Indicadores de Percepção Social: Mobilidade Urbana, divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No total, 66,6% dos entrevistados dizem enfrentar congestionamentos ao menos uma vez por mês. A maior parte (20,5%) passa por congestionamentos mais de uma vez por dia e 16%, uma vez por dia. No Sul, 21,9% afirmam sofrer com congestionamentos mais de uma vez por dia e 14%, uma vez ao dia – o índice só é inferior ao da Região Norte, com 26,2% e 19,7%, respectivamente.
Esse resultado está ligado diretamente ao aumento da frota de veículos no país. O levantamento mostra que no Brasil, de 2000 a 2010, a frota de veículos cresceu 90,9% a mais que a população – só as motocicletas apresentaram um aumento de 242,2%. No ano 2000 havia um carro para 8,5 pessoas. No ano passado, o dado apontava um automóvel para 5,2 pessoas.
Justamente por isso que, de acordo com os entrevistados pela pesquisa, rapidez é sinônimo de um bom meio de transporte. Preço e conforto vêm em segundo plano. Entre os entrevistados da Região Sul, um bom transporte tem de ser rápido (31,2%), ter disponível mais de uma forma de se deslocar (18,3%) e sair num horário adequado à necessidade do usuário (11,5%). Somente 8,5% frisaram a necessidade de ser barato e 7,8% de ser confortável.
Pedestres e ciclistas têm vez no Sul
O estudo revelou também que o Sul é a região do país com um índice mais alto de respeito à condição do pedestre e do ciclista. Quase 60% dos sulistas dizem respeitar os pedestres e ciclistas. Nas outras regiões do Brasil esse índice variou entre 36,3% e 40,7%.
Mesmo com o indicador mais alto do país, ele ainda é considerado baixo, segundo o professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Garrone Reck. “Não há ainda uma cultura de trânsito arraigada”, afirma. Segundo ele, para que esse índice fosse satisfatório teria que girar estar em torno de 80%. “Em Blumenau, Santa Catarina, por exemplo, há esse respeito. No Rio Grande do Sul também. Em Curitiba, é [apenas] razoável. Mas com o tempo a população se educa. Ainda não é o ideal”, opina.
A pesquisa mostrou, ainda, entre os entrevistados da Região Sul, que 32% não passariam a utilizar transporte público sob nenhuma condição, mas 22% trocariam se fosse mais rápido, 11% se estivesse disponível e 8% se houvesse mais opções de horários.
Para o professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Garrone Reck, a pesquisa mostra a importância de se adequar a oferta à demanda. “Mais do que o ônibus estar cheio ou vazio é importante que ele não demore muito. Falar em rapidez é falar em cobertura espacial, frequência e velocidade operacional”, explica. “Mesmo nos países desenvolvidos, nos horários de pico o transporte tem uma lotação, mas, claro, num nível aceitável”, diz.
Para Reck, aqueles que ficam parados em congestionamentos diariamente nas grandes cidades brasileiras são sérios candidatos a migrarem para o transporte público. Mas, para isso, é necessário que o transporte público seja mais rápido e eficiente, já que, além do perdido na própria operação, o usuário gasta tempo também para se deslocar até o ponto e para esperar o ônibus. “Os ônibus têm de estar livre de fluxo, de tráfego, ter faixa preferencial”, diz.
Para o presidente do Ipea, Mar cio Pochmann, o país deveria dar ênfase ao transporte público. “Em países desenvolvidos o principal meio de transporte é o coletivo. Isso pressupõe investimentos em infraestrutura de grande magnitude e uma articulação do setor público com o privado, porque, sem esse esforço, vamos ter cidades com maior quantidade de automóveis, congestionamentos mais amplos do que já temos, maior perda de produtividade e maior tempo da vida comprometido no deslocamento.’’
Avaliação - O estudo indica que 19,8% da população acha o transporte público muito ruim, 19,2% consideram ruim, 31,3% regular, 26,1% bom e 2,9% muito bom. Na Região Sul, estão os mais satisfeitos com o transporte público: 44,9% o consideram bom ou muito bom e 23,5% o acham ruim ou muito ruim. Já na Região Sudeste encontram-se as opiniões mais negativas: apenas 24,5% o veem como bom ou muito bom e 45,9% o consideram ruim ou muito ruim.
O estudo aponta que, quanto mais escolarizada é a pessoa, mais crítica ela se torna em relação ao transporte público. Ele é bom ou muito bom para 34,9% das pessoas com até a quarta série do ensino fundamental – 22,5% o acham ruim ou muito ruim. Já entre os quem têm ensino superior incompleto, completo ou pós-graduação, 20,1% o consideram bom ou muito bom e 36,9% o acham ruim ou muito ruim.
A pesquisa do Ipea ouviu 2.770 pessoas em todos os estados do país e utilizou a técnica de amostragem por cotas, a fim de garantir proporcionalidade no que diz respeito à população. A margem máxima de erro por região é de 5%.
Transporte pesa no orçamento
A pesquisa divulgada pelo Ipea mostra também que transporte é uma das despesas que mais pesa no orçamento familiar. Segundo os dados divulgados, 36,8% do orçamento é utilizado com habitação, 20,2% com alimentação e 20,1% com transportes. Outros gastos como saúde e educação, por exemplo, não ultrapassam 10% do orçamento. Assistência à saúde consome 7,4% e educação 3,1%. “O transporte representa hoje [praticamente] a segunda despesa mais alta no orçamento das famílias. “Ações que possam reduzir o peso do custo do transporte seriam um ganho de renda para as famílias’’, diz o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.