sábado, 12 de junho de 2010

Calçadão de Cornélio Procópio, a inauguração de um monumento à incapacidade administrativa

INSTITUTO AME CIDADE, 12 de junho de 2010


O prefeito Amin Hannouche (PP) anuncia para este sábado a inauguração do Calçadão da cidade de Cornélio Procópio. É provável que desta vez a inauguração realmente aconteça, mas o ritmo acelerado das obras até nesses dias que antecipam o evento oficial indicam que mesmo depois de cortada a fita ainda surgirão muitas histórias desta obra que se tornou uma marca da monumental incapacidade administrativa desta administração.

Nesta última semana operários trabalhavam de forma acelerada retocando imperfeições e fazendo com rapidez os acabamentos da obra, algo que é totalmente desaconselhável tecnicamente. Todo mundo sabe que a pressa leva à imperfeição, que afobado come cru, e tantas outras máximas que condenam quem faz as coisas apressadamente. Pois depois de estourado o prazo tantas vezes, foi dessa forma que acabou sendo finalizado o Calçadão.

Poucas vezes uma cidade esperou com tamanha ansiedade uma inauguração oficial, nem tanto pela utilidade da obra ou sua grandiosidade econômica — “com custo de mais de R$ 700 mil”, como é dito de forma muito estranha no site da Prefeitura, pois é inédito que um Executivo municipal se gabe do fato de uma obra ser cara.

Na realidade, a ansiedade em relação a este Calçadão se deve ao transtorno criado no cotidiano dos procopenses, com o atraso nas obras, que teve por seguidas vezes a prorrogação do prazo de entrega, e também com as atrapalhações da Prefeitura e a encarregada da obra, a ILB Construtora.

Foi uma obra cercada de mistérios e suspeitas e com conflitos durante toda sua execução, terminando com um rompimento entre a Prefeitura e a ILB Construtora que até agora ainda não ficou bem claro. A situação é tão mal explicada que nas últimas semanas, talvez para dar um ar de normalidade na obra, os operários vestiam uma camiseta com o logotipo da empresa. Ocorre que antes eles nunca tiveram este tipo de vestimenta.

Do início até o seu final, a construção do Calçadão esteve envolvida em jogos de aparência e palavras vazias, sem a seriedade que uma obra pública exige. No final, algo como uma área exclusiva para pedestres, que sempre pode ser bom para uma cidade, acabou ficando marcado por este clima de má qualidade.

Além da lentidão e do trabalho malfeito, a ILB Construtora tinha inexplicáveis complicações administrativas. Segundo informações, a empresa tinha empecilhos até para fazer um simples cadastro bancário.

A empreiteira contratada pela Prefeitura também criou graves problemas trabalhistas para seus empregados, até com a falta de pagamento de salários. A situação levou ao desespero os trabalhadores, com dificuldades até para a sobrevivência de suas famílias, já que ficaram sem dinheiro para necessidades básicas. Os conflitos chegaram até aos programas de rádio e depois acabaram sendo abafados.

No entanto, até agora não se sabe como as coisas foram resolvidas com os empregados, se é que foram resolvidas. O que é indiscutível é que a empresa contratada pela Prefeitura não tinha capacidade financeira e administrativa para tocar a obra, o que demonstra grave incapacidade político-administrativa da parte do prefeito e de seus secretários.

As obras tomaram quase a metade do ano que passou. Foram meses difíceis para os comerciantes da área. Por falta de planejamento, aquela parte do centro da cidade virou um canteiro de obras todo bagunçado. Foram meses com lama, barulho, muita poeira e a conseqüente queda de vendas. Houve queixa de prejuízos de até 40% entre os comerciantes. Algo muito significativo neste caso foi que, em um período em que a cidade sofria bastante com a obra devido às chuvas, o prefeito estava passeando no Líbano, de carona com o prefeito de Curitiba, Beto Richa.

Como os prazos de conclusão eram seguidamente esticados, empresários levaram suas reclamações ao prefeito. Com a falta de diálogo, aconteceram até manifestações de rua, com faixas de protestos e palavras de ordem exigindo respeito e uma melhor condução das obras por parte da Prefeitura.

A última promessa de Amin Hannouche foi a de que a entrega seria antes do final de novembro do ano passado para, segundo ele, não atrapalhar o comércio e a população “nas festividades alusivas ao Natal”.

Pois a inauguração só acontece agora, mostrando que a cidade passou o Natal, Ano Novo, Carnaval, Páscoa, Dia das Mães e outras datas festivas esperando pelo final das obras.

E é claro que uma obra feita desse modo ainda pode dar muito trabalho, mesmo depois de cortada a fita inaugural. As conseqüências técnicas de uma construção conduzida de forma tão atrapalhada podem acabar exigindo consertos com certa freqüência e até adequações para sanar imperfeições sobre as quais a população já vem alertando antes mesmo da inauguração.

O prefeito Amin Hannouche costuma lembrar sempre a suposta crítica de um adversário seu que teria dito que, caso fosse eleito, ele teria dificuldade até para honrar a folha de pagamento dos funcionários públicos. E o mais curioso é que Hannouche sempre arremata este caso com o argumento de que os salários estão em dia, o que dá um involuntário tom cômico ao papel dele na história, pois não é lá muito comum um administrador público se gabar de algo tão básico como o pagamento do funcionalismo.

O administrador-público capaz se revela por habilidades que vão bem além de obrigações como esta. É preciso ter boas idéias e capacidade de realização, o que compreende eficiência na contratação de bons prestadores de serviço para a Prefeitura e muito rigor na fiscalização, acompanhamento e cobrança de resultados em qualquer obra realizada com o dinheiro público.

E nesse aspecto, o Calçadão acabou sendo uma prova da extrema dificuldade do prefeito em lidar com a administração do município. Mais que a conclusão de uma obra, com a inauguração do Calçadão, Amin Hannouche torna público oficialmente esta incapacidade.