quinta-feira, 1 de abril de 2010

Na saída, Dilma Rousseff provoca com 'até breve'; José Serra diz que não cultiva roubalheira

ESTADÃO ONLINE, 31 de março de 2010

Pré-candidatos do PT e do PSDB se despediram de seus respectivos cargos nesta quarta, 31, para se enfrentar nas urnas em outubro


Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) se despediram de seus respectivos cargos nesta quarta, 31, para se enfrentar nas urnas em outubro. Ambos são pré-candidatos à sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. A petista participou de uma cerimônia pela manhã, na qual ela deixou a Casa Civil. No evento, Lula deu posse aos novos ministros. Já o tucano reuniu apoiadores à tarde, no Palácio dos Bandeirantes.

A pré-candidata petista ressaltou a necessidade de dar continuidade às ações do governo Lula. Disse que está deixando o governo renovando os compromissos de lutar para melhorar a vida do povo brasileiro. "Nos despedimos. Mas não somos aqueles que estão dizendo adeus. Somos aqueles que estão dizendo 'até breve'. Nós não vamos nos dispersar", disse. Segundo ela, cada um dos ministros presentes na cerimônia de posse dos novos ocupantes dos cargos têm "um legado" a defender. "Onde quer que estejamos, lutando e exercendo a militância que tivemos de exercer sob a sua inspiração, senhor presidente", completou.

A ministra continuou seu discurso tentando qualificar os integrantes do governo Lula. "Quem fez tanto está pronto para fazer muito mais e melhor. Estamos simplesmente dizendo 'até breve'", provocou Dilma.

O pré-candidato tucano afirmou fazer um governo popular e repudiou a roubalheira. "Os governos, como as pessoas, têm de ter alma. Nossa alma é a vontade de melhorar a vida das pessoas que estão desamparadas", disse. Para Serra, sua gestão deu "oportunidade aos mais pobres", com programas assistenciais e com a transferência de renda por meio da melhoria de serviços de saúde, educação e transportes. O tucano destacou ainda a geração de 1 milhão de empregos em sua administração.

O tucano colocou o caráter e a honra como pontos centrais de seu estilo de governar. "Os governos, como as pessoas, têm de ter caráter e índole. Este é um governo de caráter", disse. "Os governos têm de ter honra. Aqui não se cultivam escândalos, malfeitos ou roubalheiras. Nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito."

Serra disse ainda entrar na nova etapa com "disposição, força e fé" e conclamou os ouvintes: "Vamos juntos. O Brasil pode mais."


LEIA AQUI NA ÍNTEGRA O DISCURSO DE JOSÉ SERRA

LEIA AQUI NA ÍNTEGRA O DISCURSO DE DILMA ROUSSEFF

Serra diz que seu governo não cultivou 'roubalheira'

ESTADÃO ONLINE, 31 de março de 2010

Governador fez balanço de sua administração nesta quarta: 'Me sinto revigorado, fortalecido, porque nós fizemos as coisas acontecer em São Paulo'


Em um discurso de 53 minutos para 4,5 mil pessoas, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), se despediu do cargo oficialmente nesta quarta, 31. No pronunciamento, disse que seu governo nunca cultivou a "roubalheira" e afirmou governar "para o povo, não para os partidos".

"Os governos, como as pessoas, têm de ter caráter e índole. Este é um governo de caráter", disse. "Os governos têm de ter honra. Aqui não se cultivam escândalos, malfeitos ou roubalheiras. Nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito", afirmou.

"Governo, como as pessoas, tem de ter alma. A nossa alma, a alma desse governo é a vontade de melhorar a vida das pessoas, para que todos tenham oportunidade de melhorar", declarou Serra. "Governamos para o povo, não para os partidos", completou. Serra disse entrar na nova etapa com "disposição, força e fé" e conclamou os ouvintes: "Vamos juntos. O Brasil pode mais."

Governo popular
Serra disse ainda ver seu governo como "popular". Segundo ele, sua gestão deu "oportunidade aos mais pobres", com programas assistenciais e com a transferência de renda por meio da melhoria de serviços de saúde, educação e transportes. O tucano destacou ainda a geração de 1 milhão de empregos em sua administração.

O presidenciável contou ainda um episódio ocorrido durante a inauguração do Rodoanel Mário Covas, na terça-feira, 30, quando encontrou trabalhadores da obra. "A emoção me dominou quando um operário me mostrou, orgulhoso, onde estava o nome dele em um monumento que eu mandei construir", disse. "Pensei comigo: valeu a pena."

Serra agradeceu também pelo trabalho dos "funcionários públicos de verdade", que o ajudaram a governar. "Servidor não trabalha direito se o exemplo não vem de cima. Nós demos o exemplo", afirmou. Serra lembrou ainda a medida adotada por seu governo de remunerar melhor os professores de acordo com seu mérito.

Ele prometeu reagir com serenidade quando provocado por seus adversários políticos. Afirmou nunca ter torcido pelo fracasso do governo de seus opositores, pois isso significaria ser contra o bem da população. "Já fui governo e oposição. De um lado ou de outro, nunca me dei à frivolidade das bravatas, nunca investi no quanto pior melhor, nunca exerci a política do ódio."

Segundo o governador, seus adversários podem atestar seu comportamento. "Jamais mobilizei falanges de ódio. Não sou assim. Não vou mudar, ainda que venha a ser alvo dessas mesmas falanges. Ao eventual ódio eu reajo com a serenidade de quem tem São Paulo e o Brasil no coração. Esse amor é a base da minha firmeza."

Durante o discurso, ele negou ainda sua fama de centralizador. "Não sou centralizador. O pessoal de Brasília ri ironicamente. Mas o pessoal de São Paulo me conhece e sabe que não sou centralizador", acrescentou.
10 minutos de saudações

O tucano iniciou seu discurso saudando a cúpula nacional do DEM, do PSDB e do PPS, secretários, parlamentares e muitos outras pessoas que estavam no evento - ao todo, foram mais de 10 minutos de saudações. Entre os presentes, Sergio Guerra e Tasso Jereissati (PSDB), Kátia Abreu, Rodrigo Maia e Gilberto Kassab (DEM), além de Roberto Freire (PPS).

Os militantes que não puderam acompanhar a cerimônia no Auditório Ulysses Guimarães, assistiram ao evento em dois telões instalados no gramado em frente ao Palácio dos Bandeirantes. Depois do discurso no auditório, Serra apareceu na sacada do Palácio dos Bandeirantes e fez um breve pronunciamento para a população.

Em frente ao Palácio dos Bandeirantes, o governador destacou: "Me sinto revigorado, fortalecido, porque nós fizemos as coisas acontecerem em São Paulo." E completou: "Ainda temos 9 meses pela frente, e o governo será conduzido por um homem honrado, um patriota, que lutou pela democracia", dize, referindo ao seu vice, Alberto Goldman.

Serra entrega sua carta de renúncia à Assembleia Legislativa de São Paulo nesta sexta-feira (2). O vice-governador, Alberto Goldman, assume o governo do Estado até o final do ano. No dia 6 de abril, Goldman toma posse do cargo de governador, em duas solenidades, na Assembleia e na sede do governo.


"Sou considerado um grande obsessivo, mas minha grande obsessão foi servir aos interesses gerais do meu estado e do meu país. Estou convencido que o governo, como as pessoas, tem que ter honra. Assim falo não apenas porque aqui não se cultivam escândalos, malfeitos, roubalheira. Mas porque nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito"

Dilma sai, destaca continuidade e afirma que não vai fugir de debates

ESTADÃO ONLINE, 31 de março de 2010

De acordo com a ex-ministra, 'nós participamos da mudança do Brasil, mas nós também mudamos. Cada um de nós é uma pessoa melhor do que entrou'


Depois de sete anos e três meses no governo, a pré-candidata do PT, ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), deixou o cargo oficialmente nesta quarta, 31. A cerimônia de despedida foi presidida por Lula, que deu posse aos novos ministros. Logo depois, em entrevista, ela afirmou que não vai fugir de debates nas eleições.

Em seu discurso, logo no início, a pré-candidata disse que não iria falar de improviso para não chorar. "Vão acontecer duas coisas: uma parte vou esquecer, e eu vou chorar muito". Dilma exaltou Lula ao afirmar que o presidente é "o mais brasileiro" dos líderes da história do País.

Sem conter a emoção, a agora ex-ministra-chefe da Casa Civil disse que "o governo do senhor é um momento importante, de ápice, de vitória". "Talvez o mais longo momento de vitória de todos esses que lutaram experimentaram em sua vida." Ela citou as lutas contra a ditadura e por redemocratização, direitos, igualdade, justiça e liberdade. "A geração que me sucedeu conseguiu realizar seus sonhos. Seu governo mostrou que um País só pode ser soberano se seu povo tiver condições de sonhar".

Dilma também criticou aqueles que ela classificou como "os viúvos do Brasil que crescia pouco". Segundo ela, essas pessoas fingem ignorar que as mudanças no Brasil são substanciais. "Elas têm medo. Não sabem o que oferecer ao povo, que hoje é orgulhoso, tem certeza que sua vida mudou e não aceita mais migalhas, parcelas e projetos inacabados", disse.

A pré-candidata acrescentou que, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o povo não é coadjuvante. "É o centro das nossas atenções." "Sob a sua liderança, presidente, que fez tanto, o Brasil está pronto pra fazer muito mais", afirmou a pré-candidata do PT. "Nós nos despedimos, mas não somos aqueles que estão dizendo adeus, somos aqueles que estão dizendo até breve", declarou.

"Nós fizemos parte da Era Lula. Vamos carregar essa história e contar para os nossos netos." De acordo com Dilma, "nós participamos da mudança do Brasil, mas nós também mudamos. Cada um de nós é uma pessoa melhor do que entrou".

Ao término de sua fala, a ex-ministra agradeceu ao presidente "por permitir esse encontro com o povo brasileiro, que fez o Brasil mais próximo do seu povo e provou o que nos sempre acreditamos, que o povo brasileiro é um povo extraordinário, que só precisava de apoio".

Depois da cerimônia, em entrevista, disse que vai participar dos debates na TV durante a campanha presidencial. Segundo ela, o debate tem um papel fundamental no processo de escolha. "Ninguém vai se esconder de debate", reforçou a ministra. Ao ser questionada se ela estava preparada para enfrentar um voo solo e não ter do lado a presença constante do presidente Lula, Dilma disse que dificilmente um projeto de governo é um voo solo. "Eu não pretendo me desvencilhar do governo do presidente Lula. Participar dele, para mim, foi um momento muito importante da minha biografia. Segundo ela, o seu voo solo daqui para a frente será com as pessoas que já vem trabalhando no projeto de governo do presidente Lula.

Dilma disse que a experiência que teve no governo lhe dá forças para enfrentar novos desafios. "Tudo o que eu passei no governo me dá muita força interior para enfrentar o que vem por aí", afirmou. Ela disse que no embate com a oposição não vai baixar o nível e usar instrumentos que não honram a transição democrática. "Por isso eu acho que não é que ele (embate) tenha que ser duro. Ele tem que ser firme e transparente", disse Dilma, reforçando que o importante é deixar o mais claro possível os projetos que estão em disputa, "para o povo poder decidir".

Ela reiterou que se sente preparada para disputa presidencial, mesmo sendo sua primeira campanha política. "Fui preparada na vida para coisas muito mais duras do que disputar uma eleição. A minha vida não foi uma coisa muito fácil. Acho que a eleição até é um momento muito bom,porque é o momento de exercício da democracia", afirmou. Segundo ela, na democracia as coisas são mais produtivas, mais generosas e menos opressivas. "Difícil mesmo era aguentar a ditadura", disse.

"Nós nos despedimos, mas não somos aqueles que estão dizendo adeus, somos aqueles que estamos dizendo até breve. Nós não vamos nos dispersar. Nós, cada um dos ministros aqui presentes, temos um legado a defender, onde quer que estejamos, exercendo a militância que tivermos que exercer. Sob a sua inspiração, presidente, quem fez tanto está pronto para fazer muito mais e melhor. Estamos simplesmente dizendo até breve."