terça-feira, 19 de outubro de 2010

Serra é entrevistado pelo Jornal Nacional

Candidato do PSDB fechou a série de entrevistas do segundo turno.
Dilma Rousseff, do PT, foi ouvida nesta segunda-feira (18).

G1, 18 de outubro de 2010


O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, foi entrevistado ao vivo nesta terça-feira (19) no Jornal Nacional pelos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes.

A candidata Dilma Rousseff (PT) foi entrevistada na segunda-feira (18). A ordem das entrevistas foi definida por sorteio.

Veja abaixo a transcrição das perguntas e respostas.




William Bonner: Boa noite, candidato.

José Serra: Boa noite, William. Boa noite, Fátima. Boa noite a quem está nos vendo e escutando.

William Bonner: Muito bem. Esta entrevista terá dez minutos com uma tolerância de um minuto e mais 30 segundos como mensagem do candidato aos seus eleitores. Essa tolerância é para evitar interrupções e para a conclusão do raciocínio do candidato, e o tempo começa a ser contado a partir de agora. Candidato, o senhor teve no primeiro turno um desempenho inferior ao que o seu colega Geraldo Alckmin conseguiu na eleição presidencial de 2006. Ele teve nove pontos percentuais a mais que o senhor obteve desta vez. A que o senhor atribui essa resposta dos eleitores a suas propostas?

José Serra: Olha, primeiro, os outros candidatos eram diferentes, inclusive não tinha uma terceira candidata, ou um terceiro candidato, tão forte quanto a Marina. E no primeiro turno, na verdade, os eleitores fazem uma aproximação pro voto, né, não é um julgamento definitivo. E de todo modo eu cheguei a ter 33 milhões de votos, a Marina 20, de maneira que isso representou a maioria da população brasileira, mostrando que na verdade o Brasil quer um segundo turno, né, porque segundo turno tem muito mais possibilidade, entre os dois mais votados, de ter conhecimento, de iluminar a cabeça e a mente para o dia da eleição.

Fátima Bernardes: Agora, esse segundo turno, ele está radicalizado. Uma mistura entre religião e política que normalmente não costuma dar certo em lugar nenhum. A sua campanha tem explorado posições do PT e da candidata do partido, por exemplo, em relação ao aborto. Essa mistura, política e religião, não deveria ser evitada?

José Serra: Olha, não fomos nós que levantamos, nem nós exploramos. Acontece o seguinte: a Dilma manifestou-se a favor do aborto. Deu uma entrevista que está, enfim, tem o vídeo. O PT no final do ano passado fez aquele programa nacional de direitos humanos que tornava transgressor, criminoso aquele que fosse contra o aborto. Então eles puseram a questão no ar.

Fátima Bernardes: Mas a sua campanha também, candidato.

José Serra: Eu sempre manifestei, eu sempre manifestei o seguinte: eu sou contra a liberação do aborto e nunca explorei isso do ponto de vista de que ela estaria errada por ser a favor do aborto. O que acontece é que ela afirmou uma coisa e depois afirmou o oposto. Nem reconhece que disse o oposto e numa campanha esses temas, Fátima, acabam sendo postos pela própria população.

Fátima Bernardes: Mas candidato...

José Serra: Nunca me passou pela cabeça transformar isso num centro de campanha.

Fátima Bernardes: Mas candidato, sua campanha tem mostrado, falado insistentemente em Deus, tem mostrado imagens de missas, de cultos religiosos. Questões como essas do aborto, até mesmo a união civil entre homossexuais, elas não deveriam receber um tratamento de políticas públicas e não uma abordagem do ponto de vista da religião? Isso não contribui assim para um retrocesso no debate político?

José Serra: Olha, eu insisto: quem introduziu esse ingrediente na campanha foi o PT e foi a Dilma. Como eu tenho uma posição contrária ao aborto eu sempre fui perguntado, e sempre disse isso.

Fátima Bernardes: Mas é um retrocesso, o senhor considera um retrocesso?

José Serra: Todas as campanhas que eu fiz, eu sempre visitei igrejas, né, eu sou católico, mas sempre visitei igrejas, inclusive igrejas cristãs, evangélicas. Sempre falo no meu linguajar cotidiano, porque está incorporado, eu sempre digo: 'se Deus quiser'. Eu sou uma pessoa religiosa. Não há nada forçado neste sentido. E, aliás, a candidata não fez outra coisa se não passar a freqüentar igrejas, coisa que habitualmente ela não fazia. Então isso dá um tipo de aquecimento que se transforma no que você falou. Agora o que eu quero dizer é que a base disso está no fato de que uma hora ela disse uma coisa e em outra hora ela diz o oposto. Aliás, não é o único caso que isso acontece.

William Bonner: Candidato, na sua propaganda eleitoral o senhor tem mostrado obras grandes que realizou como governador em São Paulo: Rodoanel, a ampliação da Marginal do Tietê. Essas obras foram tocadas, em parte ou totalmente, pela Dersa, que é a empresa estadual que cuida disso. Quando o senhor era governador, o diretor da Dersa era Paulo de Souza, também conhecido como Paulo Preto por alguns. Paulo Preto foi acusado de ter arrecadado ilegalmente dinheiro para a campanha do PSDB e de ter ficado com esse dinheiro pra ele. O PSDB e o senhor já negaram essa afirmação, disseram que não houve essa arrecadação. Mas o fato é que antes de os senhores negarem isso, Paulo Preto, ao jornal “Folha de S.Paulo”, disse o seguinte: "Não se abandona um líder ferido na estrada”. O que que ele quis dizer com isso?

José Serra: Olha, William, antes dessa entrevista nós já tínhamos desmentido. Não houve desvio de dinheiro na minha campanha, que seria a vítima no caso. Ou seja: não houve ninguém que tivesse doado, o dinheiro não tivesse chegado, e a pessoa tivesse feito chegar a gente de que a contribuição não tinha chegado, porque ele tinha dado e não chegou. Isso não aconteceu.

William Bonner: Mas esta frase, esta frase: "não se abandona um líder ferido na estrada".

José Serra: Esta frase...

William Bonner: Parece ameaça.

José Serra: Não, não. Porque sempre tem, dentro de um partido, gente que gosta de um, gente que não gosta de outro, mas o fato é que não houve o essencial que é o desvio de dinheiro da minha campanha, porque eu saberia. Em todo o caso, nós seríamos a vítima. Você percebe? Quer dizer, e aí não se trata, inclusive, nem de dinheiro do governo. É um dinheiro que foi contribuição para uma campanha. Eu desmenti isso há muito tempo. E o assunto volta posto, inclusive pelo PT, porque o que eles gostam de fazer? De vir com ataques esses às vezes meio incompreensíveis para nivelar todo mundo, como se os escândalos da Casa Civil, como se os escândalos desse senhor Cardeal agora na Eletrobras, como se tudo isso pudesse ser também reproduzido, o que não aconteceu do outro lado. Eu não tenho nenhum chefe da Casa Civil...

William Bonner: Sim, candidato.

José Serra: ...que ficou do meu lado que aprontou tudo que a Erenice aprontou. Braço direito da Dilma.

William Bonner: Sim, mas eu tenho de observar o seguinte: primeiro, Paulo de Souza tinha um cargo estratégico no seu governo. Era um cargo importante, de grandes obras. E teve uma filha dele, inclusive, contratada pelo senhor tanto na Prefeitura de São Paulo quanto no governo do estado em cargo de confiança. Quer dizer: essa relação sua com parentes, também de alguma maneira não configura aí um nepotismo dentro do governo?

José Serra: Veja, essa menina foi contratada, eu nem conhecia, não foi diretamente por mim, para trabalhar no cerimonial, que é, que faz recepções, que cuida de solenidades e tudo mais, entre muitas outras. Tinha um currículo, sabia dois idiomas, ou sabe dois idiomas, sempre trabalhou corretamente. Inclusive eu só vim a saber que era filho de um diretor de uma empresa muito tempo depois. Ela não está em nenhum cargo, nunca teve nenhuma acusação, nem nenhum cargo que tome decisões, faça lobby, pegue dinheiro, como no caso dos filhos da Erenice.

Fátima Bernardes: Candidato, no debate ainda no primeiro turno aqui na TV Globo, numa resposta à candidata Marina Silva, o senhor disse o seguinte: “Você e a Dilma têm muito mais coisas parecidas do que quaisquer outros candidatos aqui. Você estava no governo do mensalão, não saiu do governo, continuou lá, como ela”. Hoje, diante da necessidade de conquistar eleitores que votaram na então candidata Marina, o senhor se arrepende do que disse?

José Serra: Olha, eu quero completar como é que foi o assunto, porque a Marina estava dizendo que eu e a Dilma éramos parecidos, né? Não sei se ela acha isso no fundo da alma. Eu disse: “Não, nós não somos parecidos”. Agora, você não pode medir os outros pela sua régua. Se eu usasse a minha régua, eu poderia dizer: “Você e a Dilma têm semelhanças, porque ambas participaram de um governo do PT que tinha o mensalão e ambas não saíram do governo”. Isso não foi propriamente uma acusação. Isso foi mostrar como, se você começar a fazer comparação, você pode chegar a qualquer conclusão, né? Você pode dizer: fulano e sicrano torcem pro mesmo time, logo eu posso dizer que vocês são parecidos. Porque ela dizia que éramos parecidos por outros motivos, porque uma preocupação com obras, uma preocupação com propostas concretas, isso mais no meu caso, inclusive.

Fátima Bernardes: Mas não é uma forma muito fácil de atrair eleitores com uma declaração como essa?

José Serra: Mas eu posso te dizer o seguinte: eu gosto muito da Marina, é uma pessoa que eu admiro, e ela fez uma boa contribuição no Brasil para a democracia, ajudando a ter o segundo turno e aproximando gente que não participa habitualmente de eleição do processo eleitoral, coisa que fortalece a democracia. E agora, com muita alegria, eu estou recebendo o apoio de militantes do PV, como o Fernando Gaveira, Gabeira, o Fábio Feldmann, que foi candidato a governador em São Paulo, diretórios, parlamentares. Por quê? Porque eu tenho, na minha folha de serviços como prefeito e governador, uma ação ambiental muito avançada, inclusive fizemos a lei de mudanças climáticas do estado de São Paulo, considerada uma das três mais avançadas do mundo.

William Bonner: Candidato, com relação à economia. O senhor tem prometido aí coisas grandes, né? Salário mínimo de R$ 600, aumento de 10% para aposentados, 13º para o Bolsa-Família. Essas propostas não colocam em risco a estabilidade da economia, uma economia que todo mundo sabe que está com um crescimento de gastos públicos preocupante?

José Serra: Olha, William, eu fiz essas propostas porque eu acho que são fundamentais do ponto de vista social. Os aposentados ficam para trás, o salário mínimo ainda é pouco em relação às necessidades de consumo das pessoas e o Bolsa-Família é muito pequeno, dá menos de R$ 1.000 por ano. Então eu propus fazer o 13º do Bolsa-Família, programa que eu vou manter e afirmar, dar 10% para os aposentados, o dobro do que o governo quer, e fazer o mínimo em R$ 600. Isso tem um custo. Eu calculei aproximadamente, em números redondos, 1% do atual orçamento, 1% do orçamento previsto. Ora, é, tem subestimativa de receitas, ou seja: tem receitas, dinheiro que vai entrar para o governo no ano que vem, que está subestimado. Isso tem sido feito nos últimos anos no caso da Previdência. Tem também o efeito que as próprias medidas vão causar sobre a arrecadação, que é positivo. Mas corte de desperdícios, encolhimento de cargos de confiança, gente que não faz concurso, que está lá por apadrinhamento político. Com isso, nós vamos ser capaz de cobrir esse 1%. E, do ponto de vista do país, representa um grande salto social e uma medida de justiça, eu diria.

Fátima Bernardes: Mas candidato, se isso fosse assim possível, se a conta fosse viável do jeito que o senhor está falando, por que ela não foi feita agora? Quer dizer, por que ela não teria sido feita já? Acho que aumentar salário mínimo é o desejo de todo político.

José Serra: Sem dúvida.

Fátima Bernardes: Quer dizer, será que essa conta, esse ajuste, não é um pouco mais complicado?

José Serra: Porque eles têm outras prioridades. Por exemplo, estão desenvolvendo muitos e muitos subsídios a investimentos que provavelmente não são rentáveis, né? O governo hoje está distribuindo isso por todo canto. Muito desperdício, muito desvio de dinheiro público, Fátima.

William Bonner: Candidato.

José Serra: Muito desperdício. Nós vamos enxugar tudo isso para poder atender os mais necessitados.

William Bonner: Candidato, eu vou pedir, então, agora. Chegamos ao fim do tempo, eu vou pedir agora que o senhor se despeça dos eleitores com a sua mensagem em 30 segundos.

José Serra: Tá legal.

William Bonner: Por favor.

José Serra: Muito obrigado. Olha, eu, com a consciência tranquila, queria pedir a você, que está me vendo, o seu voto no dia 31 de outubro. Se você já vota em mim, conquista outro voto. Eu já disputei nove eleições, lutei bastante na vida. Disputei eleição, ganhei, de deputado, senador, fui ministro, eleito prefeito, eleito governador. Lutei bastante para isso e, como presidente, eu vou lutar muito para melhorar a saúde, a educação, a segurança e os problemas, e as questões sociais. Vamos juntos, de braços dados...

William Bonner: Obrigado, candidato.

José Serra: ... coração aberto, cabeça erguida, ganhar a eleição.

William Bonner: Seu tempo, candidato.

Fátima Bernardes: Muito obrigada, candidato, pela sua participação aqui pela segunda vez no Jornal Nacional.

José Serra: Eu que agradeço enormemente a vocês.

Dilma é entrevistada pelo Jornal Nacional, da TV Globo

G1, 18 de outubro de 2010

Candidata do PT foi a primeira de série de entrevistas do segundo turno.
José Serra, do PSDB, foi ouvido nesta terça-feira (19). Veja acima a entrevista.


A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, foi entrevistada ao vivo nesta segunda-feira (18) no Jornal Nacional pelos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes.

O candidato José Serra (PSDB) foi entrevistado na terça-feira (19). A ordem das entrevistas foi definida por sorteio.

Veja abaixo a transcrição das perguntas e respostas.





Fátima Bernardes: Boa noite, candidata.

Dilma Rousseff: Boa noite, Fátima. Boa noite, Bonner. Boa noite você que nos acompanha.

Fátima Bernardes: A entrevista terá dez minutos com tolerância de um minuto para que a candidata conclua uma resposta sem ser interrompida e mais 30 segundos para a mensagem dela aos eleitores. O tempo começa a ser contado a partir de agora. Candidata, a senhora liderou grande parte da campanha e esteve muito perto de vencer no primeiro turno. Como a senhora explicaria a decisão do eleitor de levar essa disputa pra um segundo turno?

Dilma Rousseff: Olha, Fátima, eu acho que o eleitor queria uma oportunidade a mais para poder refletir e para poder, cotejando as propostas, ter uma opção agora com mais clareza. Agora, a verdade é que nós, eu sou muito grata aos eleitores que votaram em mim, porque eu tive 47 milhões de votos e veja que coisa curiosa: eu acredito que eu seja a mulher mais, a segunda mulher mais votada da história do planeta, a primeira sendo a Indira Gandhi.

William Bonner: Candidata, quando terminou o primeiro turno, a senhora e alguns dos seus assessores, enfim, partidários do Partido dos Trabalhadores chegaram a dizer que aquela discussão, aquela polêmica sobe o aborto tinha motivado essa decisão do eleitor no fim do primeiro turno. Essa polêmica toda, essa discussão não teria se dado por causa de sua mudança de posição sobre a legislação referente ao aborto? Eu digo isso porque pessoalmente a senhora sempre se manifestou contrária ao aborto. O que a senhora fez em algumas entrevistas, na revista "Marie Claire", na "Folha de S.Paulo", foi dizer que era favorável à mudança da legislação, à legalização do aborto. Não teria sido mais natural num país tolerante como é o nosso que a senhora tivesse admitido publicamente essa mudança de opinião a respeito?

Dilma Rousseff: Veja bem, Bonner, eu acredito que nessa história do aborto houve muita confusão. Há uma diferença, Bonner, entre a posição individual minha como cidadã: eu sou contra o aborto. Sou contra o aborto porque eu acho uma violência contra a mulher, e não acredito que mulher alguma é a favor do aborto. Acho que as pessoas que recorrem ao aborto o fazem em situação-limite. O que é que acontece com o presidente da República? Ele não pode fingir que não existem milhares de mulheres, principalmente, até milhões, pelos dados até publicados pelo [jornal O] "Globo" são milhões de mulheres, três milhões e meio de mulheres que recorrem ao aborto. Nós não podemos fingir que essas mulheres não existem. E mais: não podemos fingir que essas mulheres, elas fazem isso em situações muito precárias, e provoca, recorrer ao aborto provoca risco de vida e em alguns casos a morte. Pois bem, a minha posição sempre foi a seguinte: você não pode colocar essas mulheres, prender essas mulheres. Não se trata de prender as mulheres, se trata de cuidar delas. Porque você não vai deixar três e meio milhões de mulheres ameaçadas a sua saúde. Então são duas posições diferentes. Quando a gente diz que o aborto não é um caso de polícia, no Brasil ele é um caso de saúde pública, o que que nós estamos falando? Nós estamos falando o seguinte: para prevenir para que não haja o aborto, primeira questão, nós temos que tratar a quantidade imensa de gestantes adolescentes que recorrem ao aborto ou porque têm medo da família, da família não aceitar, ou porque já não têm laços familiares efetivos que podem garantir a ela o apoio pra poder ter a criança.

William Bonner: Agora, na semana passada, a senhora divulgou um documento em que a senhora afirmou o compromisso de não propor nenhuma modificação na legislação. Algumas pessoas que defendem o aborto, né, como uma questão de saúde pública, como a senhora mesma já fez no passado, entenderam que esse seu compromisso seria um recuo, uma concessão, digamos assim, excessiva aos religiosos, que entra em contradição com algo que a senhora mesma defendeu. A senhora dizia: é uma questão de saúde pública e é um absurdo, a senhora disse isso para a “Folha de S.Paulo”, é um absurdo que não se legalize a questão. Daí a questão. A senhora não vê essa contradição?

Dilma Rousseff: Não, não vejo. Sabe por que, Bonner? Porque ninguém em sã consciência vai propor prender 3,5 milhões e meio de mulheres. Até porque tem um problema concreto, prático. Eu não concordo com a mudança na legislação. A legislação prevê aborto em dois casos. Prevê no caso de estupro e de risco de vida pra mulher. Então há, necessariamente, uma forma de a gente conduzir isso sem alteração. E acredito que um processo de alteração, por exemplo, por plebiscito, seria muito ruim. Porque dividiria o Brasil de ponta a ponta. Não levaria a uma forma de, eu diria, de acordo e de consenso. Pelo contrário: os países que fizeram isso tiveram péssimas experiências. Então eu fiz uma carta que é uma carta a todos os religiosos, mas é uma carta pública ao povo brasileiro no sentido de que acredito que a legislação.

Fátima Bernardes: Pode ser mantida...

Dilma Rousseff: Pode ser mantida, e não é necessário alterar os termos da legislação.

Fátima Bernardes: Candidata, os institutos de pesquisa atribuíram não a essa questão do aborto, mas ao escândalo da sua ex-assessora Erenice Guerra, essa ida pro segundo turno, ao escândalo envolvendo contratação de familiares, de parentes, e tráfico de influência. A senhora chegou a dizer num primeiro momento que essas denúncias eram factóides, depois a senhora mesma reconheceu que sua ex-assessora errou e que o seu partido investiga os erros. Agora a questão que surge é a seguinte: como é que isso aconteceu num ministério que a senhora comandou, a Casa Civil, e que garantias a senhora oferece ao eleitor de que isso não venha a se repetir no caso de a senhora ser eleita?

Dilma Rousseff: Olha, Fátima, a gente tem de ser muito claro com o eleitor e não tentar enganá-lo. Erros e pessoas que erram acontecem em todos os governos. O que diferencia um governo de qualquer outro governo é a atitude desse governo em relação ao erro. A nossa atitude é: nós investigamos e punimos. Por exemplo, no caso da Erenice: eu não concordo com a contratação de parentes e amigos. Sempre fui contrária ao nepotismo. Jamais deixei que se praticasse.

Fátima Bernardes: Mas ele aconteceu.

Dilma Rousseff: Sempre pode acontecer. As pessoas podem errar em vários momentos. Não tem como você saber que a pessoa vai errar ou não a priori. O que você tem de garantir é que haja punição. Por exemplo, eu vou te dar um exemplo.

Fátima Bernardes: A senhora acha que houve alguma falha, por exemplo, na estrutura montada pela senhora na Casa Civil para que esse erro pudesse acontecer?

Dilma Rousseff: Veja bem, ninguém controla o governo inteiro. O que você tem de ter garantia, vou repetir, é que havendo o mal feito, você investigue e pune. Nós estamos, nós estamos claramente, já 16 pessoas depuseram no caso da Erenice e a polícia está investigando se houve ou não houve tráfico de influência. Quanto à nomeação de parentes, foram todos, os que estavam ainda no governo, porque a grande maioria não estava, foram demitidos. Veja você, há uma diferença entre nós e o meu adversário. O meu adversário tem uma acusação gravíssima, que é o caso Paulo Vieira de Souza. O Paulo Vieira de Souza está investigado na operação da Polícia Federal chamada Castelo de Areia por propina, porque ele era diretor do equivalente aqui no Rio ao departamento de estradas, e ele cuidava das mais importantes obras do governo do estado de São Paulo. Até agora não houve uma investigação e não houve nenhum processo, pelo contrário: há uma diferença entre quem investiga e pune e quem acoberta e não pune, quem acoberta e cria uma coisa que se chama impunidade, porque a gente tem de perceber isso. Um governo é como uma empresa: ninguém sabe absolutamente de tudo o que acontece na empresa, mas o que que você tem de ter? Você tem de ter mecanismos para, havendo conhecimento daquela atividade, eu quero te dizer: no meu governo, eu serei implacável tanto com essa questão de nepotismo, né, que é a contratação de parentes, quanto com tráfico de influência ou conhecimento de qualquer mal feito relacionado à propina ou outras variantes disso.

William Bonner: Me permita fazer uma questão agora sobre a campanha eleitoral. Nesse segundo turno, o ex-deputado Ciro Gomes se juntou a sua equipe para coordenar a sua campanha na eleição. É curioso, porque há seis meses, o candidato Ciro... o então... o ex-deputado Ciro Gomes chegou a dizer que o seu adversário, candidato José Serra, do PSDB, é mais preparado do que a senhora para ser presidente da República. Sobre o PMDB, que é o partido do seu candidato a vice, Michel Temer, ele disse que era um ajuntamento de assaltantes, palavras dele, e sobre o próprio Michel Temer, o seu candidato a vice, ele chegou a dizer que era o chefe dessa turma. A minha pergunta é a seguinte, candidata: foi a sua equipe que pediu ajuda a Ciro Gomes ou foi ele que ofereceu ajuda a sua campanha?

Dilma Rousseff: Veja bem, eu tenho uma relação muito longa, de há muito tempo com o deputado Ciro Gomes. Nós participamos do mesmo governo e eu sempre disse em todo esse processo que eu respeitava, tinha uma excelente relação com ele e entendia, inclusive, que naquele momento ele estivesse magoado pela circunstância que levou ele a não ser candidato. E eu vou ter sempre, eu sei como é que é a forma pela qual e o temperamento do deputado Ciro Gomes. Ele nos procurou e nós...

William Bonner: Foi ele que procurou? Aí a senhora...

Dilma Rousseff: ... aceitamos prontamente. Por quê? Porque o deputado Ciro Gomes, eu convidei para ir a minha casa, inclusive a jantar. Eu já não lembro se foi janta ou se foi o almoço. Por quê? Porque eu tenho uma relação pessoal, mas nesse momento ele não me apoiou formalmente.

William Bonner: Certo.

Dilma Rousseff: Ele foi me apoiar depois, agora, no primeiro turno, a partir do fato que ele foi coordenador da campanha do Cid e que o governador Cid, também pelas nossas relações, me apoiava.

William Bonner: Não, é só porque, para concluir, a senhora tem direito a 30 segundos para se despedir de seus eleitores.

Dilma Rousseff: Ah, já estamos no fim?

William Bonner: Já terminou, já foi aquele minutinho de tolerância.

Dilma Rousseff: Primeiro eu queria agradecer muito ao acompanhamento dos ouvintes e fazer um apelo de forma muito humilde. Eu peço o voto e o apoio de vocês que me assistem, porque eu represento um projeto que transformou o Brasil, que fez com que o Brasil distribuísse renda, que o Brasil criasse um grande mercado consumidor, pagasse o FMI. Mas sobretudo também que nós nos tornamos respeitados lá fora. Eu vou continuar isso, eu assumo esse compromisso com vocês. E eu gostaria muito, se Deus quiser e contar com o seu voto, de ser a primeira presidenta do Brasil.

Fátima Bernardes: Muito obrigada, candidata Dilma Rousseff, pelo seu retorno aqui ao Jornal Nacional.

Dilma Rousseff: Muito obrigada, Fátima e Bonner.

Arrecadação federal completa um ano de recordes sucessivos em setembro

G1, 19 de outubro de 2010

Receita arrecadou R$ 63,41 bilhões em setembro, recorde para o período. Com crescimento econômico, arrecadação sobe R$ 90 bilhões no ano


A arrecadação de impostos e contribuições federais, e das demais receitas, somou R$ 63,41 bilhões em setembro deste ano, informou nesta terça-feira (19) a Secretaria da Receita Federal. O valor representa novo recorde histórico para este mês.

A arrecadação vem batendo recordes sucessivos desde outubro passado, na comparação com o mesmo mês do ano anterior - que é considerada mais apropriada por especialistas. Deste modo, setembro é o 12º mês seguido de recorde.

Na comparação com setembro de 2009, ainda segundo dados do Fisco, o crescimento real da arrecadação (com valores já corrigidos pela inflação) foi de expressivos 17,68%.

Ao G1, o secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, assegurou que a arrecadação continuará batendo novos recordes nos três últimos meses de 2010. "Até o fim do ano, está garantido [o registro de recordes]", afirmou.

Crescimento econômico - Depois da queda registrada pela arrecadação em 2009, por conta da crise financeira internacional, a arrecadação vem crescendo neste ano impulsionada pelo forte ritmo de expansão da economia brasileira.

Economistas de bancos acreditam que o Produto Interno Bruto (PIB) terá elevação acima de 7,5% em 2010. Quando a economia cresce, aumenta a demanda por produtos e serviços, que têm impostos e contribuições embutidos em seus preços.

Além disso, em 2009, com a economia fraca, em consequência das turbulências externas, o governo arrecadou menos - o que também baixou a base de comparação. No ano passado, o governo optou por diminuir tributos para estimular o crescimento econômico, fator que também contribuiu para baixar a arrecadação em R$ 25 bilhões no período.

Acumulado do ano - No acumulado dos nove primeiros meses deste ano, a arrecadação somou R$ 573,6 bilhões de acordo com a Receita Federal, o que representa um crescimento real de 13,12% sobre igual período do ano passado. Com isso, a arrecadação também bateu recorde histórico para este período.

Sobre igual período de 2009, ainda segundo o Fisco, a arrecadação cresceu R$ 67,23 bilhões, em termos reais. Se os números não forem corrigidos pela inflação, o crescimento é bem mais alto: de R$ 90 bilhões. Ou seja, o aumento foi de R$ 10 bilhões por mês neste ano.

Impacto nos impostos - Com o reaquecimento da economia neste ano, e com o fim dos tributos reduzidos que vigoraram durante a fase mais aguda da crise financeira, a arrecadação voltou a ganhar fôlego.

Com o IPI de Automóveis, por exemplo, governo arrecadou 200% a mais de janeiro a setembro deste ano, contra igual período do ano passado. O imposto havia sido reduzido em 2009 para estimular a economia. Também subiu a arrecadação do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), que avançou 7,3% nos nove primeiros meses deste ano. No caso do IRPJ, cobrado das empresas, o aumento foi de 3,36%

Com a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins), houve o crescimento real de 16,44% de janeiro a setembro deste ano e, no caso do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), cuja alíquota para estrangeiros subiu 2% em outubro do ano passado, e avançou mais neste ano, o aumento foi de 35% nos nove primeiros meses de 2010.

José Padilha, diretor de 'Tropa de elite', nega ter assinado manifesto de apoio a Dilma Rousseff

O GLOBO, 19 de outubro de 2010


O cineasta José Padilha, diretor do filme "Tropa de elite 2", negou em nota nesta terça-feira que tenha assinado manifesto de apoio à candidatura de Dilma Rousseff, conforme foi divulgado pela campanha do PT em evento da candidata com artistas e intelectuais no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro, na noite de segunda-feira. Na ocasião, o nome dele foi lido como um dos que declararam apoio à campanha petista. No manifesto, José Padilha aparece em destaque, entre os primeiros cem da lista de artistas e intelectuais. ( Veja a reprodução do manifesto pró-Dilma )

Em nota divulgada no site oficial do filme "Tropa de elite 2" , o cineasta lamentou a falta de crítica e de compromisso com a verdade dos dois lados desta campanha presidencial, o que chamou de um desrespeito ao eleitor brasileiro.

Leia a íntegra da nota:

"Parafraseando o filósofo americano Henry David Thoreau, gostaria de esclarecer que eu não pertenço a nenhum partido, grupo político, agremiação, sindicato ou lista de apoio a candidatos, na qual eu não tenha me inscrito voluntariamente; e que ao contrário do que certos sites e tweets têm afirmado, e do que consta em lista de apoio enviada por um grupo que apóia a candidata do PT para os grandes jornais brasileiros, eu não aderi a candidato algum nesta eleição pelos motivos explícitos em "Tropa de Elite 2?. É uma pena que a falta de crítica e de compromisso com a verdade esteja sendo a principal marca dos dois lados desta campanha presidencial. Um desrespeito ao eleitor brasileiro.

"José Padilha, diretor de Tropa de Elite 2"


Em referência à nota de José Padilha, Dilma diz que não pediu apoio de ninguém
A candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT) disse nesta terça-feira, quando questionada sobre nota divulgada pelo cineasta José Padilha, não ter pedido o apoio de ninguém. Padilha, diretor do filme "Tropa de elite 2", soltou a nota para negar que tenha assinado manifesto de apoio à candidatura de Dilma, conforme foi divulgado pela campanha do PT em evento da candidata com artistas e intelectuais no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro, na noite de segunda-feira. (Leia também: José Padilha, diretor de 'Tropa de elite', nega ter assinado manifesto de apoio a Dilma Rousseff )

- Eu não pedi o apoio de ninguém. Agora se ele (Padilha) não quer assinar, perfeitamente, ele tem todo o direito de não assinar - disse Dilma, se referindo ao manifesto. (Leia também: Oscar Niemeyer, Chico Buarque e Leonardo Boff prestigiam evento pró-Dilma em teatro do Rio )

Em Goiânia, Dilma também minimizou críticas que o aliado Ciro Gomes fez no passado a ela e ao PMDB, além de negar que esteja escondendo o vice, Michel Temer, do programa eleitoral. Ela ainda criticou a ação movida pela Folha de S.Paulo no Supremo Tribunal Militar (STM) para abrir o processo que correu contra ela durante a ditadura militar.

Questionada sobre as críticas do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), relembradas na entrevista que Dilma concedeu ao Jornal Nacional na segunda-feira , ela disse que as declarações eram compreensíveis no instante em que foram ditas, mas que o momento era outro.

- Eu considero que o Ciro fez algumas reclamações com as quais não concordo em relação a mim e ao PMDB. Mas nós estamos em outro momento. Eu considero que naquele momento ele tinha acabado de saber que não ia participar das eleições. Ele estava num momento especial, ele estava emocionado, magoado - falou Dilma, que ainda recordou a personalidade forte do aliado.

- É aquela coisa da pessoa que exagera um pouco no que fala, mas não vamos criar um caso, porque isso já passou.

Dilma negou ainda que esteja escondendo o vice Michel Temer, presidente da Câmara e filiado ao PMDB, da propaganda televisiva. Segundo a candidata, tanto o PMDB quanto Temer são muito importantes.

- O Michel não está sendo escondido. Pelo contrário, ele é uma pessoa pela qual tenho a mais alta conta. É um líder político com qualidades, é digno e íntegro. Eu respeito a forma como Michel Temer tem nos ajudado na campanha em todos os estados da federação onde tem problema. Eu considero importante a presença dele na TV e espero que ele apareça.

Quando perguntada sobre a suspensão do julgamento no STM de ação movida pelo jornal "Folha de S.Paulo" para que seja aberto o processo ao qual ela respondeu durante a ditadura, a presidenciável disse que estavam criando problemas onde não há.

- Eu não tenho problema qualquer em relação a essa questão. Não vou tratar isso como uma questão real, porque ela não existe. Estão criando problemas onde não existe, porque essas fichas, esses arquivos já estão todos disponíveis na Universidade de Campinas. Quem quiser, é só ir lá consultar. Estão criando uma celeuma que não existe - declarou Dilma.

Ela vai participar ainda de um comício no Jardim Curitiba, bairro da periferia de Goiânia, onde o candidato a governador Iris Rezende (PMDB) construiu conjuntos habitacionais quando foi prefeito. Iris disputa o segundo turno contra Marconi Perillo (PSDB), cuja derrota é vista como uma questão de honra pelo presidente Lula. Pesquisas locais, no entanto, colocam o tucano 11 pontos percentuais à frente do aliado de Dilma e Lula.

Ministros atacam gestão de Serra na Saúde

O GLOBO, 19 de outubro de 2010


O que deveria ser a apresentação e a discussão do programa de governo na área da saúde da candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff, nesta segunda-feira, no Rio, transformou-se em palco para ataques contra o adversário da petista, José Serra (PSDB), e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em encontro realizado na Associação Atlética Banco do Brasil, no Leblon, com a presença do vice na chapa de Dilma, Michel Temer, três ministros do governo Lula centraram fogo contra os tucanos, além de pedirem empenho na reta final da campanha de Dilma a uma plateia formada por servidores públicos, sindicalistas, diretores de hospitais e deputados da base aliada. Dilma não foi ao evento.

- Quem é que sabe o programa de saúde do adversário? É um gigantismo de mutirões de varizes e atendimento ambulatorial. Até 2002, os programas eram desconectos e de muito marketing - disse o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.

Temporão afirmou que ainda foi Lula quem fez a licença compulsória, com a quebra de patente, para a produção nacional do medicamento Efavirenz para o tratamento da Aids. O ministro desafiou Serra:

- O Serra nos debates diz frases de efeito e não explica nada. O desafio a comparar qualquer indicador em qualquer nível. Nós fizemos muito mais.

O ministro das Relações Instituicionais, Alexandre Padilha, seguiu o mesmo tom:

- Não são 13 dias de boatos, de mentiras, de campanha rasteira que vão tirar a energia dessa militância.

O tema aborto não estava entre nos 13 itens. Na entrevista, depois do evento, Temporão justificou dizendo que o aborto nunca esteve entre os itens e, sim, a garantia ao acesso da população a métodos anticoncepcionais e informações sobre doenças sexualmente transmissíveis nas escolas para, assim, haver uma visão laica do estado.

- Como no Brasil a questão do abortamento só se dá em dois casos específicos por lei (estupro e gravidez de risco), o SUS tem que estar preparado para atender e acolher as mulheres que, por algum motivo, necessitam de atendimento médico. Disso não vamos abrir mão. É uma questão de saúde pública.

Padilha: "nosso lema é a defesa da vida" - Sem citar a palavra aborto, Padilha pediu os cerca de 350 pessoas na reunião que levassem às ruas "o debate em defesa da vida":

- Vamos colocar no local adequado o debate em defesa da vida, que é o nosso lema. Se o importante é nascer, nenhum governo fez mais para que as mulheres e as crianças tenham o direito de nascer nesse país.

A ministra Nilcea Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, apelou para o convencimento de eleitores indecisos. Ela se disse "frustrada" em relação ao rumo tomado pela campanha no segundo turno.

Humberto Costa, coordenador do programa de saúde de Dilma, leu surperficialmente 13 projetos da petista para o setor. A lista prevê melhorias na infraestrutura da rede de atenção à saúde, iniciativas para a prevenção de doenças e a atenção integral à saúde das mulheres conforme as Políticas Nacionais de Direitos Sexuais e Reprodutivos e de Planejamento Familiar.

Costa atacou Serra:

- A verdade tem que vencer o ódio. Os adversários rebaixaram a discussão política,

Todos defenderam a volta da CPMF. Temer, por sua vez, evitou polêmica, mas fez comparações entre governos Lula e FH em relação à política internacional:

- Quando Lula assumiu, o Brasil tinha uma reserva internacional de US$ 29 bilhões. Agora, são US$ 270 bilhões. Deixamos de ser devedor para ser credor do FMI (Fundo Monetário Internacional).

O encontro começou às 17h40m. Os secretários estadual e municipal de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes e Hans Dohmann, respectivamente, também participaram. Alguns deputados petistas foram ao local com carros oficiais, como Gilberto Palmares.

- O motorista só me trouxe. Vou embora de táxi - ressaltou o parlamentar, apesar de o veículo permanecer no estacionamento em boa parte do encontro.

No fim, Dilma mandou por vídeo uma mensagem, que foi transmitida num telão:

- Convoco todos vocês a fazer um grande esforço nessa reta final da campanha para não permitir o retrocesso no país e na saúde para que possamos garantir a todos um sistema de saúde digno, que seja um forte instrumento de defesa da vida.

Justiça do Amazonas quebra sigilo de empresa acusada de compra de votos

FOLHA DE S. PAULO, 19 de outubro de 2010


A Justiça Eleitoral do Amazonas determinou ontem (18) a quebra do sigilo bancário da empresa A.C Nadaf Neto Assessoria e Comércio Exterior, acusada pelo PSDB de intermediar um suposto esquema de compra de votos a favor dos senadores eleitos Eduardo Braga (PMDB) e Vanessa Grazziotin (PC do B), que negam a existência do esquema.

Cartões do banco Bradesco foram utilizados para saques na eleição.

O juiz Victor Liuzzi Gomes acatou um pedido do Ministério Público Eleitoral, mas negou a quebra de sigilo bancário dos diretórios amazonenses do PMDB e do PC do B. Na decisão, o juiz intimou Bradesco a apresentar a lista de nomes e CPF de todos as pessoas contratadas pela empresa A.C. Nadaf.

Segundo a denúncia, empresa pagou para mais de 6.000 cabos eleitorais quantias que variavam de R$ 600 a R$ 1.200, por meio de cartões que permitiam saque no Bradesco. Com esse dinheiro, teriam sido comprados votos, por R$ 50 cada um, no dia da eleição.

A empresa pertence ao servidor público municipal Abrahim Calil Nadaf Neto. Desde 2007, ele trabalhava na Casa Civil do governo do Amazonas. O chefe do órgão antes das eleições era Raul Harmonia Zaidan, coordenador financeiro das campanhas de Braga e Vanessa. Eles negam a denúncia.

Na semana passada, o juiz federal Márcio Luiz Coelho de Freitas determinou busca e apreensões de documentos nos comitês dos candidatos, na empresa e na casa de Nadaf Neto. Segundo a Polícia Federal, na casa dele foram apreendidos 62 cartões do Bradesco em nomes de cabos eleitorais e 20 computadores.

A reportagem não localizou Nadaf Neto para falar sobre a decisão da Justiça.

Raul Zaidan falou em nome dele e disse que entregou ao Ministério Público Eleitoral a lista dos cabos eleitorais contratados e os extratos bancários da empresa Nadaf. Segundo Zaidan, não houve compra de votos, e sim a contratação, dentro da lei, de cabos eleitorais.

PF prende cinco em operação contra venda de remédios falsos

GLOBO.COM, 19 de outubro de 2010

Prisões foram feitas em flagrante nos estados de SC, MG, MA e SP. PF também apreendeu 15 mil comprimidos em oito estados


A Polícia Federal prendeu cinco pessoas em flagrante durante a operação Panaceia, que investiga o comércio via internet de medicamentos adulterados ou falsificados. A operação teve início na madrugada do mesmo dia, e as prisões ocorreram nos estados de Santa Catarina, Minas Gerais, Maranhão e São Paulo.

Segundo a assessoria da PF, foram apreendidos 15 mil comprimidos em cidades de oito estados: Belo Horizonte, Nova Serrana, Divinópolis, Juiz de Fora (MG), Campina Grande (PB), Niterói, Rio de Janeiro e Nova Iguaçu (RJ), Maringá (PR), Fortaleza (CE), São Paulo (SP), Florianopolis (SC) e São Luís (MA). A Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) coordenou a operação no Brasil e em outros 44 países simultaneamente. No exterior, a operação é chamada de Pangeia III.

"Foram apreendidos medicamentos abortivos, anabolizantes, psicotrópicos e inibidores de apetite. Alguns têm venda proibida e outros exigem receita especial. Armazenar esse tipo de substância para a venda [sem devida autorização] é um crime", disse Elmer Vicente, delegado da Unidade de Repressão a Crimes Cibernéticos da PF. Segundo ele, uma única pessoa possuía cerca de 5 mil comprimidos de vários medicamentos quando foi feito o flagrante.

A ação contou com o auxílio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A polícia informou que a operação foi deflagrada depois de sete meses de investigações. Um efetivo de cem políciais participou da execução dos 20 mandados de busca e apreensão na manhã desta terça.

O delegado também informou que a pena mínima em caso de condenação por adulteração e falsificação de remédios é de dez anos, já que o crime é considerado hediondo. "Também levantamos que muitas pessoas foram vítimas de estelionato e nunca receberam os produtos comprados. Cerca de 37% das vendas que apuramos configuram estelionato", disse.

Segundo Vicente, os compradores também podem ser punidos. "A maioria das pessoas que compra os medicamentos pela internet tem consciência de que é uma venda ilegal na medida em que esses medicamentos não têm a sua venda permitida ou se exige uma receita especial, que não é cobrada por esses sites", afirmou.

A Polícia Federal identificou 54 canais de comercialização no país e sete no exterior, que possuem venda direta ao Brasil. "Quando [o caso] for submetido à Justiça, há um pedido de que esses sites sejam fechados. Quanto aos internacionais, repassamos as informações à Interpol para que eles tomem as devidas providências", disse o delegado da PF.

O delegado da Interpol no Brasil, Luiz Eduardo Navajas, explicou que a operação já foi realizada em outros 44 países. "O Brasil geralmente é o último a completar essas operações comandadas pela Interpol, tanto pelas dimensões do país quanto pelos resultados, que costumam ser significativos", disse.

Segundo a Interpol, as ações nos outros países ocorreram entre 5 e 12 de outubro. A organização contabilizou 694 sites envolvidos em atividades ilegais de venda de medicamentos, dos quais 290 já foram fechados. No total, pouco mais de 1 milhão de comprimidos foram confiscados, incluindo antibióticos, esteroides, remédios contra câncer ou epilepsia, antidepressivos, medicamentos para emagrecimento e suplementos alimentares.

"O mais comum hoje é isso: o cara abre o site fora, porque é muito fácil e é gratuito e ele pode permanecer sob certo anonimato. Aí ele tem normalmente o fornecedor, que vai para outros países adquirir os remédios, e ele fica agenciando o negócio pela internet", afirmou o chefe da Interpol no Brasil.

Segundo ele, os medicamentos podem se originar de países vizinhos, como Paraguai e Uruguai, ou até países da Europa ou Ásia, como da região de Cingapura. "O que vemos mais aqui é o contrabando que chamamos de ‘formiguinha’. O pessoal vai para a fronteira do Uruguai e Paraguai, adquire esses medicamentos e vem vender aqui pela internet", disse.

"O papel do escritório do Brasil da Interpol é oferecer toda a estrutura, principalmente a base de dados, para que a unidade específica da Polícia Federal fossa atuar", afirmou Navajas.

Ao menos 76 pessoas foram presas ou estão sob investigação no exterior. O valor dos medicamentos apreendidos em outros países é estimado em US$ 2,6 milhões. Esta é a terceira vez que a iniciativa é realizada em nível internacional; da última vez, em 2009, 25 países participaram da operação.

Arrecadação federal completa um ano de recordes sucessivos em setembro

VEJA ONLINE, 19 de outubro de 2010

Remédios proibidos podem causar desde impotência até tumores e infecções


A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira cinco integrantes de um esquema ilegal de venda de medicamentos pela internet. A ação, que apreendeu 15.000 comprimidos, confirma a facilidade com que remédios proibidos no país ou que só poderiam ser vendidos com receita médica são encontrados em sites clandestinos. Entre as drogas apreendidas estavam substâncias abortivas, anabolizantes, inibidoras de apetite e até caseiras. Todas elas podem trazer graves consequências à saúde e, em alguns casos, até a morte.

De acordo com o endocrinologista José Egídio de Oliveira, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, os anabolizantes são capazes de trazer riscos sérios às pessoas, como aumentar a incidência de tumores, principalmente no fígado. Entre os sintomas mais brandos, estão problemas de impotência sexual para os homens e características masculinizadas nas mulheres, como impacto na quantidade de pelos e na voz.

Quem utiliza inibidores de apetite sem a orientação de um médico pode ter problemas de pressão, a frequência cardíaca acelerada, se tornar mais irritadiço e ter distúrbios do sono. Em indivíduos com propensão a transtornos mentais, esse tipo de medicamento pode desencadear surtos psicóticos.

Além disso, recentemente, um estudo sobre sibutramina - que também é um inibidor de apetite - mostrou que as pessoas com histórico de doença cardiovascular têm maior risco cardiovascular. “Se a pessoa não consulta o médico e faz uso do medicamento, ela corre um grande risco de sofrer um acidente”, diz o endocrinologista.

Remédios caseiros e abortivos — Para Oliveira, a crença de que remédios caseiros e naturais são isentos de risco é completamente falsa. “Todas essas substâncias podem trazer problemas para a saúde e ainda não proporcionam os benefícios que a pessoa busca”, avisa.

A busca por substâncias abortivas também movimenta os mercados paralelos. No Brasil, a mais popular entre os sites clandestinos era uma substância anteriormente utilizada para o tratamento de úlcera gástrica, que tem o aborto como efeito colateral. Após essa descoberta, a droga foi adotada para acabar com a gravidez indesejada. De acordo com a Anvisa, a venda desse medicamento no varejo é proibida e ele só pode ser utilizado em ambiente hospitalar.

Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio-Libanês, explica que a paciente que utilizar o medicamento com esse fim e sem acompanhamento médico pode encontrar vários cenários. “Na primeira situação, ela pode não conseguir abortar e provocar a mal formação do bebê, que terá problemas quando nascer”, diz Nogueira. No segundo caso, o aborto pode ser incompleto, o que desencadeia uma infecção uterina grave. Nesse quadro, a mulher pode ser submetida a uma cirurgia para a retirada do útero e se tornar infértil. Sem a administração da dose correta, a mulher também pode ter uma grave hemorragia. “O medicamento induz ao sangramento, que é capaz de colocar a vida da mulher em risco”, finaliza Nogueira.

Justiça suspende contrato da organizadora da prova dos Correios

G1, 19 de outubro de 2010

Empresa escolhida foi a Fundação Cesgranrio; Correios prometem recorrer.
Prova marcada para novembro tem mais de 1 mihão de inscritos.


A 5ª Vara da Justiça Federal de Brasília determinou a suspensão do processo de contratação da Fundação Cesgranrio, organizadora escolhida para aplicar as provas do concurso para 6.565 vagas nos Correios. Lançado há dez meses, o concurso tem um histórico de problemas e chegou a ficar parado por cinco meses até a escolha da organizadora, em julho. Após ser desmarcada uma vez, a prova objetiva está prevista para ocorrer em 28 de novembro. Os Correios disseram que irão recorrer da decisão e manter o cronograma.

Na sentença, o juiz Paulo Ricardo de Souza Cruz diz que determinou a suspensão da contratação porque houve dispensa de licitação, o que não seria possível aplicar no caso da realização de concurso público. "[A lei] só pode fundamentar a contratação das entidades ali relacionadas para finalidades ligadas a pesquisa, ensino, desenvolvimento institucional ou recuperação de presos", escreveu Cruz. "E a realização de concurso público não tem nada a ver [com esses fins]." O juiz se refere ao artigo 24, inciso XIII, da lei 8.666/93.

O Tribunal de Contas da União (TCU), contudo, autorizou os Correios a realizar a contratação direta da organizadora. A autorização do pedido, feita pelo ministro das Comunicações, José Artur Filardi Leite, foi publicada no dia 1º de junho no "Diário Oficial da União", na página 126 da seção 1.

O documento registra a autorização "da contratação direta de entidade detentora de notória especialização e inquestionáveis capacidade e experiência na matéria".

Conversa de surdos

O ESTADO DE S. PAULO, Dora Kramer, 19 de outubro de 2010


Muita gente pergunta quem foi melhor no debate de domingo na Rede TV! Independentemente de ter visto ou não o programa. Isso acontece sempre, as pessoas querem saber a opinião do outro, mas, sobretudo, querem conferir se a sua própria "está certa".

Há dois tipos de avaliação: o conjunto do debate e o desempenho de cada um dos candidatos. Em ambos as respostas são tão óbvias que chega a ser um tanto constrangedor externá-las como fruto de análise especializada.

Se comparado com os de "antigamente", até a década dos 90, o debate foi ruim, como todos os outros, à exceção do anterior, na Band. Naquele, Dilma Rousseff deu um choque de animação ao ser mais incisiva nas cobranças ao adversário.

No domingo a candidata amenizou o tom e a falta de novidade levou o debate para o terreno já bastante conhecido do público: aquela coisa aborrecida, arrastada e com discussões muitas vezes absolutamente ininteligíveis para a maioria das "pessoas humanas".

Serra quer explicar as coisas da forma "correta", raramente faz a tradução política do assunto, o que prejudica o entendimento de quem acompanha as cenas como um campeonato de sacadas e tiradas. É assim que a gente vê esse tipo de programa, avaliando quem desferiu o melhor golpe, instante a instante.

Nenhum dos dois é bom nisso. Mas se o defeito do candidato do PSDB é excesso de apego ao "concreto" daquilo que está sendo abordado, o de Dilma é sua total incapacidade de se fazer acompanhar no desenrolar do raciocínio.

E olhe que melhorou muito desde que fazia plateias inteiras cochilarem durante suas apresentações de projetos do governo.

Dilma Rousseff simplesmente não fecha os raciocínios. Tampouco inicia um pensamento de maneira a se conectar em linha reta com a questão posta.

No domingo, nem ela nem Serra responderam ao mediador Kennedy Alencar quais eram os defeitos e qualidades de cada um e do adversário. Foi uma tentativa de sair da ladainha sobre saúde, educação, infraestrutura, assuntos cujas abordagens são completamente previsíveis.

Ambos correram para a segurança da saída pela tangente. Tradução possível: nenhum dos dois acha que tem defeitos ou qualidades nem sabe avaliar sob esses critérios o oponente.

Daí em diante foi a obviedade de sempre: o tucano infinitas vezes superior em todos os quesitos, o que de resto seria diferente apenas se a petista fosse um fenômeno de talento natural para a política e conseguisse com isso superar as diferenças de vida, experiência e perfil existentes entre dos dois.

Trata-se de um artificialismo retórico destinado exclusivamente a alimentar o mito da neutralidade, apontar equilíbrio de desempenho entre os candidatos.

Nesse último debate, para a petista ainda pesou a desvantagem do efeito do resultado do primeiro turno e aí Serra, reanimado, joga com vontade de acertar; Dilma, abatida, joga com pânico de errar.

A invasão dos importados

O ESTADO DE S. PAULO, 19 de outubro de 2010


O mercado brasileiro está sendo tomado rapidamente por indústrias de fora. Um quinto dos bens consumidos provém do exterior, sob a forma de produtos acabados, matérias-primas ou bens intermediários. Até há pouco tempo, falar em desindustrialização parecia um exagero. Não é mais. Há uma guerra cambial, conduzida pelas maiores potências, e o Brasil é uma das economias mais prejudicadas. No começo de 2009 os importados eram 15,7% dos produtos consumidos no País, segundo estimativa da LCA Consultores, citada em reportagem do Estado no domingo. Essa participação aumentou 4,3 pontos porcentuais até o terceiro trimestre deste ano. A invasão dos produtos estrangeiros foi em grande parte facilitada pela valorização do real.

Embora seja o fator mais importante a curto prazo, o câmbio é só uma das causas do surto de importações. Para começar, há um descompasso entre o crescimento econômico do Brasil, puxado pelo consumo, e o das grandes economias do mundo rico, ainda em recessão ou em recuperação muito lenta e insegura. O mercado ficou mais restrito nos países desenvolvidos e a competição seria mais dura mesmo sem grandes mudanças no quadro cambial. A alteração mais notável nos últimos dois anos foi a depreciação do dólar. As autoridades chinesas tentaram neutralizar esse movimento, mantendo o yuan também subvalorizado. Outros governos, como o japonês e o coreano, têm procurado intervir no mercado cambial, para reduzir as perdas comerciais. No Brasil, o Banco Central (BC) tem comprado grandes volumes de dólares e o Ministério da Fazenda elevou, recentemente, o imposto sobre o investimento estrangeiro em papéis de renda fixa. Mas essas ações têm produzido um efeito muito limitado.

O aumento das importações tem afetado toda a cadeia produtiva e não só a indústria de bens finais de consumo. Também os produtores de componentes vêm sendo prejudicados pela concorrência estrangeira. E as indústrias, na tentativa de se proteger, acabam recorrendo a importações para reduzir seus custos e isso acelera o crescimento das compras externas.

Em dez setores analisados no levantamento da LCA cresceu a participação dos importados no consumo. A lista inclui, entre outros, os segmentos de material eletrônico e de comunicação, de siderurgia, de produtos têxteis, de vestuário, de veículos e de equipamentos de informática.

Globalmente, o desajuste cambial tem sido alimentado principalmente pela grande expansão monetária nos Estados Unidos e pela manutenção, na China, de um câmbio fortemente subvalorizado. As ações de outros governos têm sido principalmente uma resposta ao desafio criado pela competição entre o dólar e o yuan. Pesadas intervenções no mercado, por meio de compras de moedas e títulos estrangeiros ou da imposição de barreiras ao movimento de capitais, têm contribuído para a escalada.

Não há mais como negar a existência de um quadro de conflito. Na União Europeia, o Banco Central da zona do euro tem sido pressionado para deter a valorização da moeda comum.

Só uma solução conjunta poderá atender aos interesses de todos. Mas não há sinal de acordo entre americanos e chineses, os principais causadores da desordem cambial. Enquanto isso, os brasileiros perdem participação em vários mercados - até na América do Sul, onde se amplia a invasão chinesa,

O governo brasileiro ainda dispõe de meios de ação. Poderá recorrer a novas barreiras contra as importações chinesas favorecidas por dumping, assim como poderá ampliar a restrição a investimentos estrangeiros de curto prazo, para diminuir a pressão sobre o câmbio. Ações desse tipo tendem a perder a eficácia num prazo não muito longo, mas podem ser úteis numa emergência.

Baixar os juros poderia reduzir a atração de capitais especulativos, mas o gasto excessivo do governo dificulta a adoção de uma política monetária mais branda. A mudança não é impossível, mas também não é simples. Outras ações poderiam elevar a competitividade dos produtores brasileiros, mas isso dependerá de mudanças mais amplas na política oficial.