quarta-feira, 14 de abril de 2010

Manifestantes contra Justus derrubam portão e invadem Assembleia Legislativa do Paraná

GAZETA DO POVO, 14 de abril de 2010


Estudantes invadiram o pátio da Assembleia Legislativa, em Curitiba, na manhã desta quarta-feira (14). Desde as 9h30, estudantes - além de sem-terras e sindicalistas - vinham fazendo uma passeata no Centro da capital, exigindo o afastamento de Nelson Justus (DEM) da presidência da Assembleia, por conta das denúncias apresentadas na série de reportagens Diários Secretos, da Gazeta do Povo e RPC-TV. Pouco depois das 11 horas, ao encontrar o portão da Casa de Lei trancado, estudantes forçaram a entrada e invadiram o local. Segundo o presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes), Mario de Andrade, não houve confronto com os policiais e nem com os seguranças da casa.

Os manifestantes permaneceram no prédio até cerca de 11h45, depois de protocolar uma carta na qual exigem o ressarcimento aos cofres públicos do dinheiro pago aos “fantasmas” e pedem, além da saída de Justus, o afastamento de toda a mesa-diretora da Assembleia. A intenção do grupo era entregar o documento diretamente ao presidente da Casa, mas eles não foram recebidos por Justus. Segundo Andrade, a ocupação foi pacífica e não houve danificação ao patrimônio. Na avaliação do presidente da Upes, o ato foi um “tempero” para cobrar o afastamento da direção da casa.

“Não tinha sentido alguém não nos deixar entrar na ‘Casa do Povo’ no instante em que ela vem sendo roubada. Essa ocupação é uma prova de que o movimento estudantil está crescendo. E se o Justus não for afastado, vamos continuar nos manifestando e podemos ocupar a Assembleia novamente”, disse Andrade.

Chamada de “Caça-Fantasmas”, em alusão aos casos de funcionários fantasmas apresentados, a mobilização foi deflagrada com o objetivo de cobrar rigor nas investigações das denúncias envolvendo a Assembleia Legislativa. Uma comissão protocolou cartas também no Ministério Público (MP) e no Tribunal de Contas (TC). “A saída contribuiria com as investigações e seria uma mostra de bom senso”, complementou o presidente da União Paranaense dos Estudantes (UPE), Paulo Moreira.

Segundo a organização dos estudantes, 800 pessoas participaram da manifestação, mas de acordo com a Polícia Militar (PM), 600 pessoas participaram do ato. Os estudantes se reuniram na Praça Santos Andrade, de onde partiram por volta das 9h30. Juntamente com a Upes, a União Paranaense dos Estudantes (UPE), a União Nacional dos Estudantes (UNE), Central Única dos Trabalhadores (CUT)e outras agremiações, além do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), participaram do ato.

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Lula confirma aviso sobre o mensalão

CORREIO BRAZILIENSE, 13 de abril de 2009


Em documento enviado ao STF, presidente admite que soube, durante conversa com o ex-deputado Roberto Jefferson em 2005, do pagamento a deputados aliados

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula admitiu pela primeira vez que teve conhecimento do mensalão durante reunião com o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), no primeiro semestre de 2005.

No Ofício nº 57/2010 encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, incluído na Ação Penal nº 470, que investiga o repasse financeiro a partidos da base aliada, Lula também reconheceu a possibilidade de ter sido feito um acordo financeiro entre o PT e o antigo PL (hoje PR) na campanha eleitoral de 2002.

No documento, Lula gasta o maior número de linhas para explicar o encontro com Jefferson. Limita-se a fazer um relato da reunião, na presença dos ex-ministros Aldo Rebelo, Walfrido dos Mares Guia, e dos deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP), José Múcio Monteiro (PTB-PE) e o próprio Jefferson.

Lula disse que foi feita uma menção ao assunto “repasse de dinheiro para integrantes da base aliada do governo federal na Câmara dos Deputados”.

Posteriomente, o presidente disse que foi informado de uma reportagem publicada no Jornal do Brasil em 2004 que resultou na abertura de dois procedimentos na Câmara, um deles teria sido enviado ao Procurador-Geral da República.

Detalhes específicos do encontro ou sua reação no momento foram poupados pela defesa. Essa pergunta de número 22 desdobrou-se em outras três. Duas não tiveram resposta por Lula ter considerado “prejudicada”. E, na outra, disse não se lembrar de ter tomado conhecimento do “mensalão” por outra pessoa que não Roberto Jefferson.

Na questão 28, quando o Ministério Público Federal (MPF) especifica a pergunta sobre se o PT repassava dinheiro aos aliados, o presidente disse não ter tido conhecimento, somente por meio da imprensa.

Lula negou ter conversado sobre o esquema antes da eclosão do escândalo com os principais envolvidos —o deputado cassado José Dirceu, o ex-tesoureiro Delúbio Soares, o ex-presidente da legenda José Genoíno (SP), o ex-secretário-geral Silvio Pereira e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha. O presidente, porém, joga para a antiga direção partidária a responsabilidade por acordos com o PL.

“Acredito que as questões financeiras ou de mútuo apoio eleitoral foram tratadas pelas respectivas direções dos partidos”, respondeu o presidente à pergunta 10 do MPF, que elaborou 33 questões: “Em termos financeiros, no que concerne à relação que seria estabelecida entre o PL e o PT durante a campanha eleitoral, qual foi a configuração final do acordo?”

Segundo o antigo presidente do PL deputado Valdemar Costa Neto (SP), o acordo eleitoral em 2002 só saiu porque o PT comprometeu-se a repassar R$ 10 milhões à campanha com aval de Lula numa reunião, em Brasília, que ocorreu no apartamento do deputado Paulo Rocha (PT-PA). O dinheiro foi pago em parcelas no total de R$ 6,5 milhões, depois que o governo havia sido formado.

O presidente confirma ter havido essa reunião na fase final da formação de chapa. “Recordo-me de estarem presentes ao menos o vice-presidente José Alencar e os presidentes do Partido Liberal e do Partido dos Trabalhadores e de que a reunião transcorreu de forma amistosa”, escreveu Lula em resposta à pergunta 9.1. O presidente nega, no entanto, que tenha sido informado por Valdemar do empréstimo para financiar a campanha.

Lula acaba também com uma antiga dúvida durante o escândalo. Ele foi explícito ao negar ter conhecido o publicitário Marcos Valério, considerado operador do mensalão, e também rejeitou um suposto encontro na Granja do Torto.

Nas 15 páginas de respostas, Lula também desconhece qualquer ilícito em relação à votação da reforma da Previdência. Segundo ele, foi fruto de acordo com os 27 governadores.

Na linha das respostas da presidenciável e ex-ministra Dilma Rousseff e do deputado Antonio Palocci (PT-SP), Lula afirmou não ter havido nenhum pedido para qualquer tipo de vantagem durante as votações no Congresso.

O presidente respondeu “não sei” às questões 13 e 14 sobre o tamanho da dívida remanescente do comitê de campanha de 2002 e ou com o marqueteiro Duda Mendonça.

Lula preferiu adotar a mesma estratégia dos petistas durante o escândalo: jogou no colo de Delúbio Soares a responsabilidade pelas negociações. O ministro Joaquim Barbosa recebeu o documento da Casa Civil na última quinta-feira e ainda não analisou as respostas. As defesas terão um prazo para se manifestar.

Dirceu de mão

O presidente Lula não se comprometeu com a defesa do deputado cassado José Dirceu (PT) no processo do mensalão, que corre no Supremo Tribunal Federal.

Em resposta encaminhada ao ministro Joaquim Barbosa, Lula não soube detalhar se Dirceu tratou de dinheiro na campanha de 2002.

“Não sei se tratava de assuntos financeiros diretamente”, respondeu o presidente a uma das questões elaboradas pelo MPF.

Segundo denúncia feita pelo então presidente do PL (hoje PR), deputado Valdemar Costa Neto (SP), Dirceu deu aval ao acordo de R$ 10 milhões que seriam repassados pelo PT durante a campanha. Em 26 de março, o Correio mostrou que José Dirceu queria o aval de Lula na sua defesa no STF.

O presidente apenas corroborou a informação que Dirceu deixou de ter papel direto na legenda quando ele se tornou chefe da Casa Civil no começo do governo.

“Creio que José Dirceu se afastou da administração interna do PT antes de ter assumido o cargo de ministro”, respondeu.

O presidente jogou para o partido a responsabilidade de ter indicado Dirceu, Delúbio Soares e o deputado João Paulo Cunha, respectivamente coordenador, tesoureiro e coordenador do grupo de trabalho eleitoral em 2002. “A decisão referente à estrutura da campanha presidencial foi do PT”, afirmou.

Lula descartou ter sido informado por Valdemar que o PT não honrou o compromisso financeiro fechado na negociação eleitoral. (TP e AR)