terça-feira, 5 de outubro de 2010

TSE proclama resultado do primeiro turno das eleições

G1, 5 de outubro de 2010

Proclamação provisória foi feita para permitir início da propaganda eleitoral.
TSE oficializou segundo turno entre Dilma Rousseff, do PT, e José Serra, do PSDB


O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ricardo Lewandowski, fez nesta terça-feira (5) a proclamação provisória do resultado do primeiro turno das eleições 2010. Com isso, a propaganda eleitoral no rádio e na televisão será retomada em 48 horas a contar da meia-noite desta terça, ou seja, a partir de sexta-feira (8).

Ao proclamar o resultado, o ministro fez a indicação oficial de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) para a disputa da Presidência da República em segundo turno.

A petista recebeu 47.651.434 votos, o equivalente a 46,91% dos votos válidos (que exclui brancos e nulos). Serra obteve 33.132.283 votos (32,61% dos votos válidos). Marina Silva (PV) foi a terceira, com 19.636.359 votos (19,33%).

Na sequência , Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) teve 0,87% dos votos válidos, José Maria Eymael (PSDC), 0,09%, Zé Maria (PSTU), 0,08%, Levy Fidelix (PRTB), 0,06%, Ivan Pinheiro (PCB), 0,04% e Rui Costa Pimenta (PCO), 0,01%.

Os números do TSE indicam que a abstenção foi de 18,12%. Foram 24.610.296 de eleitores que não compareceram para votar em todo o país, do total de 135.804.043. O número de eleitores que votou em branco na eleição para presidente foi de 3.479.340, o equivalente a 3,13% do total. Os que anularam seus votos foram 6.124.254, representando 5,51% do total de eleitores que foram às urnas.

A proclamação foi feita provisoriamente para permitir mais rapidamente o início da propaganda eleitoral. A proclamação definitiva depende de um processo mais demorado, que inclui a aprovação, no plenário do TSE, de relatórios elaborados por ministros indicados para acompanhar o processo eleitoral em cada região. Além disso, esse material precisa ser revisado pela Procuradoria-Geral Eleitoral.

Segundo Lewandowski, como não há dúvidas, impugnações ou recursos que possam alterar as condições dos candidatos mais votados, que disputarão o segundo turno, a proclamação provisória pode ser feita.

“Ausência de ações tanto nos TREs, quanto perante o TSE demonstra a confiança que a população e a democracia depositam nesta Justiça especializada. É um ato extraordinário em termos mundiais, o que deve ser ressaltado e nos encher de orgulho”, afirmou o ministro.


Saiba como será a propaganda eleitoral no segundo turno
No segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizou o início da propaganda a partir desta sexta-feira (8), mas a retomada dos programas eleitorais fica a cirtério dos partidos. A propaganda eleitoral no rádio e na televisão vai até dia 29 de outubro, dois dias antes das eleições marcadas para o dia 31 deste mês.

Nessa fase das eleições, o horário eleitoral gratuito será dividido em dois blocos diários de 20 minutos para os candidatos à Presidência e outros dois para os políticos que concorrem aos governos estaduais. No rádio, a propaganda será veiculada às 7h e às 12h e na televisão, às 13h e às 20h30.

Para presidente, cada candidato terá 10 minutos em cada período. Antes da retomada do horário eleitoral, o TSE fará novo sorteio para definir a ordem em que Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) vão aparecer no horário eleitoral. Ainda não há data marcada para essa definição.

Câmara de Londrina estuda abrir Comissão Processante contra vereador por quebra de decoro

FOLHA DE LONDRINA, 5 de outubro de 2010

Medida defendida pela Corregedoria da Casa é referente à condenação do vereador pela Justiça por ficar com parte de salários de assessores


O corregedor da Câmara Municipal de Londrina, vereador Rony Alves (PTB), entregou ontem ao presidente da Casa, José Roque Neto (PTB), uma representação contra o vereador Paulo Arildo (PSDB) por o ato de incompatibilidade com o decoro parlamentar. No início da sessão de hoje o documento será encaminhado à Procuradoria Jurídica da Câmara, que vai analisar se o pedido se enquadra dentro das questões legais de representação. Arildo foi recentemente condenado por improbidade administrativa, em primeira instância, pelo juiz da 10 Vara Cível, Álvaro Rodrigues Júnior, por ficar com parte dos salários de assessores.

O autor da representação afirmou que ''as oitivas que foram entregues na Corregedoria dão prova de que realmente a denúncia contra o vereador é verdadeira''. ''Nós entendemos que o vereador recebeu de seus assessores, em tempos diferentes, valores, que seriam parte dos seus salários, para continuarem trabalhando no gabinete. Aquilo que comumente se chama 'racha de salário'. Nos baseamos primeiro na Constituição Federal, depois no Código de Ética Parlamentar da Câmara, que afirmam que ao homem público é vedado esse tipo de ação'', explica Rony.

Caso a representação seja aceita, será aberta uma Comissão Processante (CP) pela Casa, que vai analisar o pedido. A pena para esse tipo de ato é a cassação do mandato de vereador. ''Vamos dar mais uma chance para o Paulo Arildo se defender diante da Casa e apresentar provas. Apesar de que mais de uma vez ele teve a oportunidade de apresentar sua versão dos fatos e não o fez.'' Rony se refere a canhotos de cheques e comprovantes que o vereador afirma ter que comprovariam que os repasses seriam o pagamento de dívidas que seus assessores tinham para com ele.

O advogado de Paulo Arildo, Dely Dias Neves, afirma que já estava sabendo que o corregedor faria um pedido de representação. ''Estamos esperando esse pedido faz um mês. Por enquanto, vamos esperar a decisão da Mesa Executiva'', explica. ''As provas já foram apresentadas. Se a Mesa não se importar, porque isso não depende só de nós, vamos juntar nossa defesa no processo da Câmara. Mas, a defesa é a mesma apresentada na 10 Vara Cível. Vamos demonstrar que existe uma situação de acusação destoante dos fatos que ocorreram.''

Quanto ao processo cível, o advogado afirma que não espera mais a intimação. ''Já me considerei intimado e estou preparando a defesa, que será enviada ao TJ (Tribunal de Justiça) nos próximos dias.''

Richa anuncia auditoria nas contas do governo do estado

GAZETA DO POVO, 5 de outubro de 2010

Governador eleito afirma que quer conhecer a situação de cada área; equipes de Richa e do atual governador, Pessuti, começam transição nesta quinta


Uma das primeiras medidas práticas tomadas pelo governador eleito do Paraná, Beto Richa (PSDB), no Palácio Iguaçu será fazer uma auditoria nas contas do governo. A intenção do tucano seria fazer uma reengenharia nas contas estaduais para poder ganhar capacidade de investimento e assim concretizar as propostas de governo assumidas no período eleitoral. Ontem, em entrevista à RPC TV, Richa disse que esta reengenharia vai permitir o corte de gastos desnecessários e melhorar os gastos públicos com um choque de gestão.

“Quero fazer uma auditoria, passar o Paraná a limpo. Quero mostrar ao cidadão paranaense de que forma estou recebendo o estado em todas as áreas”, disse. “O primeiro passo é fazer uma reengenharia para que possamos identificar alguns ralos que podem ser eliminados, fechar as torneiras do desperdício”, completou.

Apesar de assumir só em janeiro de 2011, o trabalho de transição do governo de Orlando Pessuti (PMDB) para o do tucano Beto Richa começa na próxima quinta-feira. Richa conversou ontem com Pessuti e os dois decidiram montar uma equipe de transição. “Isso com muita tranquilidade porque conheço o Pessuti e acho que vai dar para fazer um bom trabalho entre estas duas equipes, para conseguir promover a transição de governo”, disse.

A reportagem da Gazeta do Povo apurou que o governador Pessuti nomeou o chefe da Casa Civil, Ney Caldas Ferreira, para comandar a transição no Palácio Iguaçu. Já a equipe de Beto Richa será formada por cinco pessoas: Carlos Homero Giacomini, Deonilson Roldo, Luiz Eduardo Sebastiani, Ivan Bonilha e Norberto Ortigara.

A primeira reunião de transição entre os governos deve acontecer já nesta quinta-feira no próprio Palácio das Araucárias – sede provisória do governo paranaense, durante a reforma do Palácio Iguaçu.

Com relação às prioridades no governo, Richa disse que a primeira delas será “botar a casa em ordem”, com atenção especial nas áreas de saúde, segurança pública e educação. Segundo o governador eleito, o Paraná é o 18.º estado em volume de recursos para investimento. Após um “choque de gestão”, ele pretende melhorar o índice e transformar o Paraná num “canteiro de obras”.

Coligação - Apesar da dificuldade de montar uma equipe de governo que atenda aos 14 partidos que participaram da coligação, Beto Richa afirmou que irá conseguir fazer um governo técnico. Ele afirmou que, na disputa pela reeleição para a prefeitura de Curitiba, em 2008, fez uma coligação semelhante, com 11 partidos. “Todos os partidos têm bons quadros a oferecer”, justificou.

O tucano disse que irá ouvir as sugestões de nomes dos partidos e irá decidir em comum acordo, mas adiantou que quem não cumprir o plano de metas estabelecido por ele será desligado da equipe.

“Os secretários vão assinar compromisso de metas e objetivos. Caso eles não sejam alcançados, o responsável pela pasta vai ser desligado das atividades, fortalecendo o profissionalismo da gestão pública”, disse Richa.


Arns quer sistema de avaliação permanente
Flávio Arns, vice-governador eleito pelo PSDB, é por enquanto o único nome confirmado no secretariado do governo de Beto Richa (PSDB). Arns, que irá assumir a Secretaria de Estado da Educação, disse ontem que pretende implantar um sistema estadual de avaliação, diminuir a evasão escolar, valorizar os profissionais e promover a articulação com municípios e outras secretarias.

Arns disse que o Paraná tem várias dificuldades na educação e que é preciso melhorar a classificação do estado em índices nacionais de avaliação. Um dos gargalos, na opinião do futuro secretário, é a inexistência de um sistema estadual de avaliação permanente. “Vamos implantá-lo e acompanhá-lo. Temos que ter metas e objetivos e ver se estamos alcançando”, disse.

Para melhorar os índices, Arns afirmou que é preciso investir no sistema municipal de educação. Também pretende valorizar os profissionais da educação. Durante a campanha, Richa assumiu o compromisso de equiparar o salário dos professores com o dos agentes profissionais.

Outro desafio, de acordo com o Arns, é ampliar o número de matrículas no ensino médio e evitar a evasão. Apenas metade dos alunos que ingressam no antigo segundo grau chega ao terceiro ano no Brasil.

O Paraná ocupa a terceira posição no ranking nacional de educação, de acordo com o índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). No ensino médio, o estado ocupa a primeira posição.

Anunciados oficialmente nomes da equipe de transição de Beto Richa

GAZETA DO POVO, 5 de outubro de 2010

Na equipe que vai representar o atual governo, o único nome citado até agora é o do chefe da Casa Civil, Ney Caldas

O governador eleito do Paraná, Beto Richa (PSDB), anunciou oficialmente, na tarde desta terça-feira (5), o nome dos cinco integrantes da equipe que cuidará da transição de governo. Carlos Homero Giacomini, secretário municipal de Planejamento de Curitiba, será o coordenador do grupo.

Também integram o grupo Ivan Bonilha, ex-procurador geral do município, Deonilson Roldo, ex-chefe de gabinete da prefeitura, Norberto Ortigara, ex-secretário de Abastecimento, e o atual secretário de Finanças, Luiz Eduardo Sebastiani.
A equipe que vai representar o atual governo também deve ser composta por cinco integrnates. O único nome citado até agora pelo governador Orlando Pessuti (PMDB) foi o do secretário chefe da Casa Civil, Ney Caldas.

Em entrevista coletiva na segunda-feira (5), Beto Richa afirmou que o processo de transição entre os governos já começou. O tucano disse ainda que as primeiras ações no início do mandato serão dar atenção à dois problemas crônicos que foram relatados pela população, durante à campanha. “Vamos dar um choque de gestão, melhorar o gasto público e enxugar a máquina, a fim de conferir verbas para saúde e segurança”, contou.

O governador eleito repetiu também a promessa de interiorizar o governo estadual, através da realização de audiências públicas. “Quero interiorizar o governo e promover audiências públicas como fiz na capital, montando um governo próximo das pessoas e de valorização da opinião delas”, afirmou. Na agenda de Beto já estão planejadas viagens por Londrina, Maringá, Cascavel, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Pato Branco, Guarapuava e Ponta Grossa até quarta-feira (6).

PPS quer punição de Lula por encontro político no Alvorada

VEJAONLINE, 5 de outubro de 2010


O PPS vai entrar com uma representação na Justiça Eleitoral contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que usou o Palácio da Alvorada para um encontro político com governadores e senadores aliados (veja matéria abaixo), nesta terça-feira. Os próprios participantes da reunião disseram que estavam lá para discutir estratégias de apoio à candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff.

O evento constava na agenda oficial, e ocorreu no meio da manhã – quando, em tese, Lula deveria estar trabalhando. Alguns senadores usaram carros oficiais para se deslocar até o palácio.

Para o deputado federal Raul Jungmann (PPS), Lula cometeu um crime eleitoral. “Os limites já foram ultrapassados há muito tempo. Temos um presidente da República que funciona muito mais como um chefe de partido”. Na representação, o PPS também indaga se a viagem dos senadores e governadores a Brasília foi bancada com dinheiro público.

A ação do partido baseia-se no artigo 17 do Código Eleitoral, que proíbe o ato de “ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos estados, do Distrito Federal, dos territórios e dos municípios”. Nestes casos, a legislação estabelece uma multa de 5 mil a 100 mil reais.

A Presidência da República ainda não se pronunciou sobre a queixa do PPS.


Lula reúne aliados no Alvorada e pede empenho por Dilma
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou nesta terça-feira governadores e senadores recém-eleitos para pedir empenho dos aliados na campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência. Lula cobrou que a militância política continue em atividade, mesmo em estados como Pernambuco e Rio Grande do Sul, onde não haverá segundo turno na disputa ao governo.

A reunião ocorreu no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente, e durou cerca de uma hora e meia. Normalmente, Lula assume seu lado cabo eleitoral apenas à noite, após o horário do expediente, e nos fins de semana. Desta vez, no entanto, a reunião, declaradamente com fins eleitorais, ocorreu no horário que o presidente normalmente usa para despachar. Alguns senadores, como Cristovam Buarque (PDT), usaram veículos oficiais para se dirigirem ao encontro.

A atitude do presidente é um sinal de que ele pretende aumentar ainda mais sua atuação para tentar eleger Dilma Rousseff. Lula deve, inclusive, aumentar as viagens pelo país. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, confirma: “Ele vai se dedicar integralmente à campanha”. O ministro negou, no entanto, que o presidente vá se licenciar do cargo.

O governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), classificou o a ida de Dilma ao segundo turno como “uma lição” dada pelos eleitores de Marina Silva (PV) à campanha petista. “Uma lição para que a gente pudesse ter mais debate”, afirmou.

Ofensiva sobre Marina já começou – Padilha também afirmou que o contato da campanha de Dilma com Marina Silva já está em andamento. As apostas recaem principalmente sobre o senador petista Tião Viana e o governador Binho Marques (PT), que são aliados de Marina Silva no Acre.

Ao mesmo tempo, sem esperar a decisão da senadora verde, a campanha de Dilma Rousseff deve ir atrás do eleitor de Marina. Para isso, os petistas devem dar mais espaço ao discurso ambiental. E reforçar o contato com o público evangélico.

Quem também esteve no encontro com Lula foi o deputado federal Ciro Gomes (PSB). Ele acredita que a candidata verde não apoiará nem Dilma nem Serra no segundo turno: “Se eu bem conheço a Marina, ela vai adotar uma postura de neutralidade”.


Marina diz ter sido procurada por Dilma e Serra após primeiro turno

G1, 5 de outubro de 2010

Ela afirmou que não sinalizou apoio durante as conversas.
Candidata do PV teve 19,6 milhões de votos, quase 20% do total.


Um dia após a confirmação de que haverá segundo turno na eleição para presidente, a senadora Marina Silva (PV) disse ter sido procurada pelos candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) para discutir seu apoio na disputa.

A candidata do PV teve 19.636.359 votos, o equivalente a 19,33% dos votos válidos, com 99,99% dos votos apurados. “Ambos me telefonaram para parabenizar pela contribuição que demos ao país, pelas propostas que apresentamos e ambos, muito rapidamente, manifestaram desejo de ter uma oportunidade de conversar, caso eu ache isso oportuno, e no momento adequado” relatou.

Marina afirmou ainda, durante entrevista coletiva em São Paulo, que a decisão do seu apoio e do partido será tomada em uma convenção que, segundo estimou, deverá ocorrer em até 15 dias.

Ela disse não ter sinalizado apoio a nenhum dos dois durante as conversas. “Respondi que iria viver um processo que seria iniciado a partir de agora e depois que eu iria me pronunciar”, relatou Marina referindo-se à convenção.

Ao ser questionada sobre o apoio a Serra de Fernando Gabeira (PV), candidato derrotado ao governo do Rio, ela respondeu: “Ele disse que é a manifestação pessoal dele. Eu vou preferir fazer a minha manifestação na instância partidária após ouvir os segmentos da sociedade com os quais fiz aliança”.

Entre os setores que pretende ouvir estão o "Movimento Marina Silva", representantes de juventude, do empresariado e de movimentos sociais. Marina ressaltou que irá firmar um posicionamento na convenção. "Não tenho aqui ainda uma posição a priori", disse. A discussão dentro do partido passará ainda pela definição de "prioridades estratégicas" da plataforma do PV.

O posicionamento da legenda, frisou a senadora, não se dará em função de interesses puramente partidários.

"Há uma expectativa muito grande em relação à atitude política que vamos ter nesse momento. E ela tem que ser completamente diferente da velha política que se mobiliza pensando em alguma vantagem em termos de futuro."

Com a voz rouca, Marina concedeu uma coletiva rápida. Membros do PV que estavam no local evitaram indicar um possível posicionamento do partido. Eles foram questionados sobre o tempo previsto para a realização da convenção - 15 dias - tomar boa parte do tempo da campanha do segundo turno. A votação será no dia 31 de outubro. "Quem tem pressa agora são eles", respondeu o presidente do PV em São Paulo, Maurício Brusadin.

Serra reúne vitoriosos do 1º turno e prega ‘política de soma’

G1, 5 de outubro de 2010

Tucano discute estratégias para o segundo turno das eleições.
PSDB e aliados fazem encontro ampliado nesta quarta-feira em Brasília.


Dois dias após o primeiro turno da eleição, o candidato do PSDB, à Presidência José Serra, se reuniu com aliados que saíram vitoriosos das eleições e com as principais lideranças de sua coligação para discutir a estratégia da campanha até o dia 31 de outubro, quando será realizado o segundo turno entre ele e a candidata do PT, Dilma Rousseff.

Serra pregou o otimismo e disse querer ampliar seu arco de apoio, recebendo “políticos de bem" que queiram estar com ele no segundo turno. Reforçou que irá, se eleito, formar “um governo de maioria” em torno de “propostas e projetos”.

“Não há desenvolvimento nacional sem que juntamente se desenvolvam todas as regiões do Brasil. A nossa política também vai estar baseada nisso. É uma política de soma, não de divisão entre os brasileiros e brasileiras”, disse.

Na tarde e noite desta terça, o tucano reuniu, no comitê de campanha em São Paulo, o grupo catarinense formado pela chamada “tríplice aliança” – PSDB, DEM e PMDB –, que obteve vitória expressiva em Santa Catarina: o governador eleito Raimundo Colombo (DEM), o ex-governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB), eleito senador, e Paulo Bauer (PMDB), também eleito senador pelo estado.

Segundo Silveira, a "tríplice aliança" elegeu 25 dos 40 deputados estaduais e 10 deputados federais, entre as 16 vagas existentes.

Geraldo Alckmin (PSDB), que venceu as eleições no maior colégio eleitoral do país para o governo de São Paulo, também participava da reunião ao lado do vice-governador eleito, Guilherme Afif Domingos (DEM). Antes, ele acompanhou Serra no primeiro evento da campanha neste segundo turno: a visita a uma obra do governo estadual em São Paulo.

O tucano Aloysio Nunes, ex-secretário de Serra e senador eleito por São Paulo com o maior número de votos, também estava presente na reunião, que contava ainda com o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), e outras lideranças do DEM, como Jorge e Paulo Bornhausen.

O grupo vai se reunir num encontro ampliado nesta quarta (6) em Brasília para fazer análises do primeiro turno e traçar a estratégia para o segundo. Serra disse estar otimista e, sem citar nomes, afirmou é fácil perceber quando alguém está pessimista e finge otimismo.

“O que vejo é muito otimismo em toda parte. Esse é um dado de realidade. Tenho experiência em política. Eu sei quando um político está pessimista e está fingindo ser otimista. A gente percebe na hora. O Jorge Bornhausen que é mais antigo do que eu sabe disso. A gente saca na hora. Agora eu tenho visto os políticos autenticamente otimistas”, afirmou.

Durante a campanha do primeiro turno, institutos de pesquisas chegaram a apontar uma possível vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno. Nas últimas semanas, no entanto, ela passou a oscilar e, no domingo, obteve 46,9% dos votos válidos.

Marina e apoios - O governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse nesta terça-feira (5) que ligou para a senadora Marina Silva (PV) terceira colocada na disputa presidencial, com cerca de 20 milhões de votos, para tratar de apoio da senadora no segundo turno.

“Claro que nós queremos o apoio [de Marina e do PV], mas não queremos criar nenhum constrangimento.” A senadora já foi procurada por Serra e por Dilma. Ele disse que parabenizou Marina pela “belíssima votação” e pela “contribuição ao processo político, discutindo temas de relevância”.

Alckmin afirmou que é preciso intensificar as ações de campanha neste segundo turno e disse que já começou as articulações políticas.O governador eleito declarou ter ligado nesta terça-feira para lideranças do Piauí, Pará, Acre, Santa Catarina, Sergipe, Mato Grosso e Maranhão.

Aliados de Serra têm 55,4% do PIB

O ESTADO DE S. PAULO, 5 de outubro de 2010

Governadores que apoiam o candidato do PSDB venceram no primeiro turno em
03 de outubro de 2010


Governadores aliados de José Serra (PSDB) venceram no primeiro turno em Estados que correspondem a 55,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Os aliados de Dilma Rousseff (PT) ficaram com 33,7%, enquanto governos que correspondem a 10,9% serão definidos no segundo turno.

"É surpreendente esse dado", afirmou Ernesto Lozardo, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo. "O PT ganhou em poucos Estados, e em Estados menos relevantes economicamente. Isso mostra que o prestígio é mais da pessoa do presidente que do partido."

Foram determinantes nessa divisão as vitórias do PSDB em São Paulo e Minas Gerais, que respondem, respectivamente, por 33,9% e 9,1% da economia nacional. Os cálculos têm como base a divisão do PIB por Estados de 2007, a última divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os aliados de Serra foram vitoriosos em 7 Estados e os de Dilma, em 11. Em oito Estados e no Distrito Federal o resultado será definido somente no dia 31. Entre os maiores Estados que ficaram nas mãos de aliados da candidata Dilma estão o Rio de Janeiro, com 11,2% do PIB; o Rio Grande do Sul, com 6,7%; e a Bahia, com 4,1%.

Segundo Lozardo, o resultado mostra que a política dos Estados difere muito da política federal. "As situações não estão mais se confundindo", disse o professor. "Os eleitores estão muito mais conscientes."

A vitória de Geraldo Alckmin em São Paulo e de Antonio Anastasia em Minas Gerais mostraram a força da oposição em Estados do Sudeste, que têm forte peso econômico. Os aliados de Serra também venceram no Paraná, que tem 6,1% do PIB, e Santa Catarina, com 3,9%.

Gestão. Os aliados de Dilma mostraram força na Região Norte, ganhando no Acre (0,2% do PIB) e no Amazonas (1,6%), e na Região Nordeste, levando no primeiro turno no Maranhão (1,2%), Ceará (1,9%), Pernambuco (2,3%), Sergipe (0,6%) e Bahia. As duas regiões são bastante beneficiadas pelos programas sociais do governo federal, como o Bolsa-Família.

Mas, segundo Lozardo, essa não é a única explicação para o bom desempenho. Essas regiões têm apresentado um crescimento econômico acima da média do País, o que pode levar a uma avaliação melhor dos candidatos governistas.

"O governo investiu muito em infraestrutura nessas regiões, e também ajudou a organizar melhor a gestão", explicou o professor.

"Nós da FGV prestamos muita assessoria para governos dessas regiões, que estão muito abertos a novas ideias", disse Lozardo. De acordo com ele, esses governos estavam mais desorganizados, e receberam incentivos até de organismos internacionais, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para melhorarem a gestão pública.

Inimigo. O professor da FGV destacou que, pela primeira vez, não havia um "inimigo" definido para os candidatos à Presidência mirarem suas críticas. "Em eleições anteriores, os candidatos eram contra marajás, contra a inflação ou contra o Fundo Monetário Internacional (FMI)", disse Lozardo. "Dessa vez, o discurso era o compromisso de manter o que está funcionando."

O professor destacou que todos quiseram se apresentar como bons gestores. "O momento é muito mais pragmático e menos dogmático", disse o economista. "A prioridade foi mostrar competência de gestão."

Apesar de ter classificado as eleições de "bastante tranquilas", Lozardo lamentou que não tenha havido grandes debates de ideias ou propostas inovadoras. "O que não é bom para gente", afirmou. "Ninguém entra no dilema financeiro do Brasil, em uma estratégia para o País avançar como fez a China ou a Coreia do Sul."

Para ele, a visão dos candidatos presidenciais é muito imediatista, é de não mexer no que está dando certo.

Ciro Gomes integrará coordenação política da campanha de Dilma no segundo turno

ESTADÃO ONLINE, 5 de outubro de 2010

Candidata petista fez anúncio ao lado de lideranças aliadas no Nordeste; José Alencar também ajudará

Ao lado de lideranças do Nordeste, a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, anunciou hoje que o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) integrará, a partir de agora, a coordenação política de sua campanha. "Tenho muita admiração e respeito pelo deputado Ciro Gomes, tenho certeza de que ele tem uma grande contribuição para dar", disse Dilma, que conversou com jornalistas ao lado dos governadores Eduardo Campos (Pernambuco), Marcelo Déda (Sergipe), Cid Gomes (Ceará) e do senador eleito Wellington Dias (PT-PI), além do próprio Ciro Gomes.

Dilma afirmou que o segundo turno é um momento importante para o cidadão poder conhecer melhor as propostas dos candidatos. Ela ressaltou que o Nordeste é um dos focos de sua campanha e destacou as conquistas feitas pelo presidente Lula na região, como a ampliação do Bolsa Família, do Luz para Todos e do aumento do investimento em infraestrutura. "O Nordeste antes era o problema, hoje é parte da solução", disse.

Vice. Em Minas Gerais, a base aliada escalou o vice-presidente, José Alencar, para participar simbolicamente da cordenação no segundo turno. Mesmo enfrentando um agressivo tratamento de saúde, Alencar atendeu a um pedido do presidente para evitar a desmobilização no segundo maior colégio eleitoral do País.

A implosão do plebiscito

O ESTADO DE S. PAULO, editorial, 5 de outubro de 2010


"Não é fácil obter 50% de votos do povo brasileiro no primeiro turno." Foi como se defendeu o presidente Luís Inácio Lula da Silva, percebendo para que lado sopravam os ventos, já na manhã da jornada eleitoral de domingo. E defender-se ele precisava porque não só nos palanques a céu aberto, mas nas inumeráveis reuniões a portas fechadas com o comando da candidatura Dilma Rousseff, fartou-se de vangloriar-se da vitória no primeiro turno.

Ofuscado por essa certeza, produzida pela euforia que o inebriou desde que a sua escolhida desbancou o tucano José Serra da liderança nas pesquisas, Lula subestimou o grau de autonomia de uma fatia expressiva do eleitorado que se guia pelo senso crítico. Foi quando passou a ocupar o centro das atenções, em detrimento da própria candidata, exibindo a incontinência verbal que lhe é peculiar quando lhe pisam os calos. Na sua fúria contra a imprensa, por ter ela revelado os escândalos das violações de sigilos fiscais na Receita e a esbórnia na Casa Civil de Erenice Guerra, ele se esqueceu de que o "Lulinha, paz e amor" foi o que o conduziu ao Palácio do Planalto.

Ao expor ao eleitorado o lado feral de sua personalidade política, ele evocou antagonismos que viriam a ser um dos fatores cruciais para remeter a disputa a 31 de outubro. O papel de Lula, portanto, foi decisivo, até aqui, de duas maneiras contraditórias. De um lado, mostrou-se capaz de carrear 47 milhões de votos para uma noviça desprovida de carisma, de quem a esmagadora maioria da população nunca tinha ouvido falar até pouco tempo atrás. Mas, de outro, por se achar invulnerável, acabou contribuindo para privá-la de um consagrador triunfo imediato.

De novo por se achar acima do bem e do mal, tardou a lançar ao mar o fardo Erenice. Quando o fez, a imagem de Dilma já tinha sido atingida pelos estilhaços da festança familiar da sua sucessora na Casa Civil, dando início a um movimento de migração de votos - principalmente para a verde Marina Silva. Serra, que terminou com cerca de 33% dos votos válidos - mais perto que os adversários daquilo que previam as sondagens -, se beneficiou por tabela, recuperando a vantagem que perdera no Estado de São Paulo.

Foi a presença do tema corrupção no noticiário que alimentou a onda verde. A começar dos jovens, crescentes setores do eleitorado passaram a se interessar por Marina como portadora da utopia do século 21: a defesa de uma causa nobre - a luta contra o aquecimento global e pelo progresso social - encarnada numa figura de excepcional integridade, com uma história de superação pessoal ainda mais comovedora que a de Lula. Ironicamente, na candidata identificada com o futuro que as novas gerações desistiram de esperar da política dos negócios, como sempre desaguaram também os votos do eleitorado conservador.

Nesse contingente de não pouca monta, sobretudo entre as mulheres e na chamada nova classe C - que melhorou de vida e se modernizou no plano material, mas continuou fiel a valores religiosos na esfera dos costumes -, a evangélica Marina ficou com os votos que seriam de Dilma antes que se propagasse na internet a acusação de que, além de ateia, ela era favorável ao aborto. Um retrospecto de declarações ambíguas, devidamente explorado por seus detratores, se mostrou mais forte que as cenas de religiosidade explícita protagonizadas pela candidata na reta final da campanha.

Mas, qualquer que tenha sido a importância do voto religioso para dar a Marina perto de 20 milhões de sufrágios (e outro tanto em porcentagem), ela foi a vencedora política do pleito. Não apenas por ter levado a sucessão a um novo teste, mas também pela proeza que está por trás disso: a implosão do projeto plebiscitário de Lula, que trabalhou noite e dia por uma disputa entre "nós e eles, pão, pão, queijo, queijo". "Nós", o lulismo, "eles", a oposição. Ao decidir participar, "com uma dorzinha no coração", do que o ex-companheiro desejava restringir a uma revanche com Fernando Henrique, Marina fez história.

"Não vamos aceitar o veredicto do plebiscito", prometeu em junho, na convenção do PV. E previu: "Ele vai ser revogado pelo povo."

Uma dura lição para o PT

O ESTADO DE S. PAULO, Aldo Fornazieri, 5 de outubro de 2010


Como o processo eleitoral ainda não terminou, o resultado do primeiro turno permite afirmar que o PT saiu dele com uma derrota relativa: não alcançou seu principal objetivo, que era o de eleger Dilma Rousseff sem a necessidade de um segundo turno. De quebra, a oposição saiu fortalecida nas disputas estaduais, com quatro governadores eleitos pelo PSDB e dois pelo DEM. O PSDB manteve os seus dois principais baluartes: São Paulo e Minas Gerais; e o DEM não foi extirpado da política brasileira. A conquista do Paraná foi contrabalançada pela perda do Rio Grande do Sul.

O novo fracasso do PT nos dois principais colégios eleitorais do País revela duas coisas: em Minas houve um enorme erro de estratégia com o não lançamento de uma candidatura própria. Em São Paulo o PT precisa mudar de rumos e apostar em novas lideranças. Com a vitória de Tarso Genro no primeiro turno, o eixo de poder no PT passa por fora do Sudeste.

O resultado final em 18 Estados, com 4 governadores do PMDB, 4 do PT, 3 do PSB e um do PMN, mostra um quadro de equilíbrio entre governo e oposição, o que é salutar para a democracia, já que impede um hegemonismo desequilibrador de uma sigla. A oposição fugiu do apocalipse que se anunciava, é verdade. Mas terá de se reconstruir, pois PSDB e DEM são partidos fragmentos, sem base social e sem eixos programáticos claros, capazes de lhes conferir identidade e sentido.

Marina Silva foi a grande vencedora do primeiro turno. Ganha força para negociar uma agenda com um dos candidatos - Dilma ou José Serra. Um purismo olímpico de Marina neste momento representaria um não dar consequência à sua expressiva votação.

Serra vai para o segundo turno não por méritos próprios, mas graças ao desempenho de Marina. O que ele ganhou é uma oportunidade de se reabilitar, de reconstruir sua credibilidade, de apresentar uma agenda para o Brasil, pois a sua campanha no primeiro turno foi sofrível, errática e sem foco. O segundo turno, de qualquer forma, recoloca em cena aquilo que se previa no início do processo eleitoral: uma campanha dura e polarizada entre Dilma e Serra. Naquele momento se esperava até mesmo que Serra pudesse chegar à frente de Dilma no primeiro turno.

Dilma fez uma campanha centrada nas realizações do governo, mas também deficitária em termos de agenda futura. O que mais pesou para o seu recuo na reta final, e a ascensão de Marina, foram a tradicional arrogância petista, ancorada numa sede desmedida de poder, e a insistência em não aprender com os erros do passado. Três erros graves da campanha governista determinaram o segundo turno.

O primeiro erro foi o escândalo envolvendo Erenice Guerra. Alegar desconhecimento do tráfico de influência na Casa Civil é absolutamente insustentável, pois o governo dispõe da Abin, da Política Federal e de outros órgãos de controle interno para saber o que se passa no alto escalão governamental e no seu entorno. O que o episódio Erenice demonstra é que o PT e o governo abandonaram os cuidados necessários com o tema da moralidade pública, acreditando que o poder é uma espécie de salvo-conduto para práticas antirrepublicanas. Na verdade, desde que chegou ao poder, o PT foi enfraquecendo sua vértebra republicana, caminhando para a vala comum dos outros partidos nesse quesito. Não é raro ouvir de militantes petistas a tese de que sem essas práticas não se governa. O que a evidência tem demonstrado é que a assimilação dessas teses e dessas práticas representa muito mais risco do que benefício político, além de uma descaracterização em termos de valores republicanos.

O segundo erro, na reta final da campanha, consistiu em morder a isca, pisar na casca de banana jogada pelos adversários. Os petistas - presidente Lula à frente - passaram a atacar a imprensa, abrindo o flanco para que proliferassem acusações de antidemocratismo e para que se publicassem manifestos em defesa da liberdade de expressão, reanimando o medo que é tônica nas campanhas desde 1989, quando Lula chegou perto da vitória. O próprio presidente parece ter-se esquecido de que o que ganha votos são mensagens positivas, simplicidade e um estilo "Lulinha paz e amor".

O terceiro erro foi em torno do polêmico tema do aborto. Inicialmente, documentos do PT o declararam a favor do aborto. Dilma manteve uma posição ambígua sobre o assunto até que, na véspera das eleições, no contexto de perda de votos por causa das dúvidas sobre sua posição, ela se manifestou contra o aborto. Mas já era tarde. Aqui também há uma falta de aprendizado com a História. Temas morais, altamente sensíveis para a maioria das pessoas comuns, merecem todo o cuidado no trato dispensado por candidatos majoritários. Um presidente da República deve ser o símbolo da unidade da Nação. Os temas morais polêmicos devem ficar no âmbito do Legislativo.

Dilma e Serra precisam extrair uma bela lição da campanha de Marina. Não são apenas cimento, ferro, estradas e obras que rendem votos. O "eu fiz" ou "fiz mais" também não resolve tudo. Uma campanha para a Presidência precisa irradiar valores vinculantes, uma perspectiva de civilização. Os dois candidatos mais votados pouco falaram de valores.

Uma eleição presidencial é também uma promessa de futuro, uma visão de destino que a sociedade quer e precisa se dar. O futuro não se define apenas no factível em termos de obras, mas também na regulação social pelo metro dos valores. A política é um dos fatores sociais nos quais os indivíduos querem encontrar uma razão de vida. A política é a atividade que consegue configurar de forma mais abrangente um sentido de pertencimento a uma comunidade de destino. Uma disputa presidencial apartada de valores e de sentido civilizador perde a sua razão principal de ser.

País dividido

O GLOBO, Merval Pereira, 5 de outubro de 2010


Se fizermos a conta de quantos brasileiros serão governados juntando os estados em que venceram PSDB e DEM e os que os tucanos disputam com boa chance de vencer, poderemos ter a oposição governando metade do país, o mesmo em relação às receitas tributárias. O DEM venceu no primeiro turno em Santa Catarina e Rio Grande do Norte, justamente dois dos estados em que Lula se dedicou a tentar exterminar seus adversários

O PSDB é o partido que elegeu mais governos no primeiro turno: Paraná, São Paulo, Minas e Tocantins. E disputa o segundo turno em cinco outros estados, com chances de vencer: Alagoas, Goiás, Pará, Roraima e Piauí. Mais uma vez o país está dividido, sem que a popularidade do presidente Lula se expresse em dominação política sobre o território.

Dilma Rousseff só venceu a soma dos votos oposicionistas de Marina e Serra em dez estados, e é enganoso acreditar que a vitória em 18 estados representa a hegemonia governista.

Na verdade, a oposição foi majoritária na maior parte do país. O estado de Minas Gerais, por exemplo, que aparece em vermelho no mapa da eleição, dificilmente pode ser considerado um território petista, ainda mais que Marina teve uma votação expressiva por lá, e a soma dos votos oposicionistas supera os da candidata oficial, ao contrário do que acontecia nas últimas eleições, onde Lula prevalecia claramente. A ida para o segundo turno significa que a vitória avassaladora do governo, a chamada onda vermelha, não se concretizou.

A candidata Dilma Rousseff teve mais ou menos o mesmo tamanho de votação que Lula vem tendo desde 2002, o que significa que o PSDB, se quiser vencer a eleição, terá que ampliar suas alianças eleitorais, o que o PT de Lula vem fazendo com êxito.

O PSDB tem tido regularmente cerca de 40% dos votos no segundo turno, enquanto o PT de Lula vai a 60%. Lula incorporou no segundo turno a maioria dos votos de Ciro Gomes e Garotinho em 2002, e os de Heloisa Helena e Cristovam Buarque em 2006.

Dilma entra no segundo turno como a grande favorita, precisando de pouco mais de quatro pontos percentuais para vencer. O objetivo de Serra será, por outro lado, tirar votos de Dilma, além de receber a maioria da votação de Marina.

Mesmo que receba cerca de 80% dos votos que foram para a candidata verde, Serra não ganha se não conseguir roubar eleitores de Dilma.

É mais fácil para o PSDB fazer um acordo com o PV para governar do que esse acordo sair com o governo. Afinal de contas, Marina saiu do governo porque não conseguiu convencer Lula de que a questão do meio ambiente é essencial para um crescimento sustentável rumo ao futuro, e um dos principais obstáculos que encontrou pela frente sempre foi a visão desenvolvimentista de Dilma Rousseff.

Não há nenhum razão para que acredite que num futuro governo Dilma a coisa seja diferente.

Por isso a tentativa do PT é para que ela fique neutra na disputa do segundo turno.

Serra pode tirar votos de Dilma especialmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais.

No seu estado, embora tenha vencido a eleição que parecia perdida apenas poucos dias atrás, Serra venceu Dilma por cerca de 700 mil votos, o que é pouco para a tradição tucana, que governa o estado há 16 anos e tem pelo menos quatro anos mais pela frente.

Desde 1994 que o PSDB vence a eleição presidencial em São Paulo por uma diferença mínima de 3,5 milhões de votos, e que pode chegar até a 5 milhões de votos. Isso quer dizer que Serra tem entre 3 e 4 milhões de votos para ganhar em São Paulo.

Em Minas, Lula sempre venceu as eleições presidenciais por uma diferença semelhante à que Dilma teve este ano, cerca de 2 milhões de votos.

O ex-governador Aécio Neves, tendo saído da eleição como o grande líder político do estado e do PSDB no país, tem condições para tentar reverter esse quadro, pois tanto em São Paulo quanto em Minas o Partido Verde faz parte da coligação do PSDB local.

Era razoável que no primeiro turno o grupo do governador Aécio Neves não pudesse se empenhar tanto na campanha presidencial, pois a prioridade era mesmo reeleger Antonio Anastasia, e as implicações políticas regionais dificultavam esse trabalho.

A coligação regional abrigava diversos partidos que apoiam o governo Lula e estavam comprometidos com a candidatura de Dilma, e por isso o voto Dilmasia teve grande aceitação entre os mineiros.

Mas agora, vencida com êxito esta etapa já no primeiro turno, Aécio está liberado para tentar reverter essa situação.

É claro que o favoritismo de Dilma neste segundo turno está mantido, e, sobretudo, a presença do presidente Lula na campanha fará com que a manutenção da votação que Dilma teve no primeiro turno seja possível, e até mesmo provável.

Mas este será um segundo turno muito diferente de quantos já aconteceram, todos com Lula liderando a disputa.

Inclusive porque Dilma é uma candidata frágil politicamente e despreparada para uma maratona eleitoral como a que terá que continuar enfrentando.

Sobretudo se levarmos em conta que o capa preta do petismo José Dirceu revelou em sua já famosa palestra a sindicalistas baianos que Dilma ainda se ressente do tratamento do câncer linfático e está debilitada fisicamente.

Disse Dirceu a respeito do cancelamento de vários compromissos de campanha nesse primeiro turno: (...) nossa candidata estava num momento muito difícil, muito cansada, tendo que se dedicar aos programas de televisão. (...) Ela praticamente não foi ao Norte do país, vocês perceberam isso? (...) Porque primeiro nós temos mais de 40 anos de idade, segundo porque ela passou por um câncer. Ela sente muito isso ainda. O presidente Lula continuará comandando a campanha de seu laranja eleitoral, mas deve ter sentido o tranco das urnas, e a tendência é alterar o comportamento neste segundo turno. Ele claramente errou a mão no último mês de campanha, achando que estava tudo decidido, e perdeu a noção da realidade.

O recado maior das urnas é que a sociedade não aceita que, mesmo um presidente tão popular quanto Lula, se sinta dono do país, em condições de fazer o que quer e dizer o que as pessoas devem fazer, de escolher inimigos pessoais para exterminar.

Lula inventou sua criatura eleitoral do nada e corre o risco de inviabilizá-la politicamente se se deixar dominar pela arrogância.