quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O exemplo do trabalho ético de Zilda Arns

INSTITUTO AME CIDADE, 14 de janeiro de 2010

O ano começa com um acontecimento muito ruim, o terremoto que atingiu o Haiti. O país é o mais pobre do Ocidente. Acumula impressionantes índices de miséria e acabou sendo atingido também por um desastre natural de grande proporção.

Além da morte de vários brasileiros que estavam em missão oficial no país, o Brasil perdeu Zilda Arns, mulher de uma capacidade de trabalho admirável e um símbolo ético brasileiro.

A fundadora da Pastoral da Criança estava no Haiti para participar da Conferência Nacional dos Religiosos do Caribe. Estava como sempre trabalhando com seriedade pelos mais pobres, exercendo a solidariedade humana com integridade. Este é o grande exemplo que ela deixa para nós, brasileiros.

O Brasil é um país de enormes desigualdades, o que faz da assistência social uma necessidade indispensável para milhões de brasileiros pressionados até pela falta de ter o que comer. Esta carência social infelizmente é utilizada por muitos políticos de forma demagógica como instrumento eleitoreiro para alavancar suas carreiras e interesses pessoais.

Com seu trabalho na Pastoral da Criança, Zilda Arns mostrou entre outras coisas que a ajuda aos mais pobres pode ser feita de forma ética, sem fazer uso político da condição desprotegida dos necessitados. Este é um legado de Zilda Arns, que antes de viajar para o Haiti enviou uma carta aos líderes das Pastorais. No texto está presente seu espírito humanitário e dedicação ao trabalho, como a preocupação de encaminhar bem a assistência às mães que começa este ano.

"No mês que vem [janeiro] tem mutirão em busca das gestantes. Comece desde já a organizar o mutirão em sua comunidade. Fique sempre de olho nas novas gestantes. Seu apoio é muito importante para que elas tenham uma gravidez saudável e feliz", ela diz em um trecho da carta escrita no final do ano passado.

Noutro ponto, ela demonstra sua felicidade pelo fato do belo trabalho da Pastoral começar a fincar bases em países como o Haiti: "Neste mês estarei visitando um país onde há muita violência. Vou participar da Assembleia dos Religiosos do Haiti e tenho esperança que eles ajudem na expansão da Pastoral em todo o país. Veja como a Pastoral da Criança está crescendo e fincando suas bases em outros países! Já estamos em 20 países. Com a sua ajuda e a grandeza de Deus, a Pastoral da Criança ajuda a construir um mundo mais justo".

A palestra que ela preparou para apresentar no Haiti também tem importantes lições de vida, por isso publicamos na íntegra em nosso arquivo. Existem informação de que ela estava dando esta palestra quando ocorreu o desabamento que provocou sua morte. Um trecho nos toca especialmente, pois expressa com clareza como atuar tendo por base o sentimento do amor, este verbo essencial da nossa língua e que deveria estar presente no cotidiano dos brasileiros.

“Como discípulos e missionários, convidados a evangelizar, sabemos que força propulsora da transformação social está na prática do maior de todos os mandamentos da Lei de Deus: o amor, expressado na solidariedade fraterna, capaz de mover montanhas: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos” significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça; significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos em favor da vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para alcançar os objetivos, servir com humildade e misericórdia, sem perder a própria identidade. Todo esse caminho necessita de comunicação constante para iluminar, animar, fortalecer e democratizar nossa missão de fé e vida.”

Zilda Arns é uma dessas personalidades que a morte não faz desaparecer. Para ler a íntegra de sua última palestra, clique aqui.