segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Com mais denúncias de corrupção, apenas o grupo do ministro Lupi defende que ele seja mantido no cargo

INSTITUTO AME CIDADE, 28 de novembro de 2011


Acossado por várias denúncias de corrupção nas últimas semanas, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, tem revelado uma surpreendente capacidade de sobrevivência, permanecendo no cargo mesmo com o evidente estrago da sua presença no governo até para a imagem da presidente Dilma Rousseff.

O ministro já havia cometido uma tremenda gafe política no início do mês, logo que apareceram as primeiras denúncias contra ele, quando disse que só saía do governo se fosse “abatido a bala”. “Duvido que a Dilma me tire! Ela me conhece bem”, disse o ministro num tom de desafio que foi visto como uma ameaça à presidente.

Não se sabe de fato qual é o poder de fogo de Lupi junto ao governo para que sua saída seja apenas no limite de ser “abatido a bala”, mas é evidente que hoje sua permanência no governo não interessa nem ao seu partido, o PDT. Até parlamentares já revelaram publicamente que o mlehor é que ele saia do cargo.

No dia 17 deste mês, durante depoimento de Lupi na Comissão do Senado que discutia as denúncias, os senadores Pedro Taques (MS) e Cristovam Buarque (DF)pediram diante do ministro sua saída.

Para o governo seria péssimo entrar no ano que vem com o ministro como alvo das denúncias que vem aparecendo de forma sucessiva. E para o PDT seria muito pesado entrar num ano de eleições municipais com um ministro respondendo a várias acusações de corrupção.

Os problemas de Lupi começaram no mês passado com denúncias sobre estranhas relações com ONGs que ganharam quantias milionárias em contratos com o Ministério do Trabalho. O ministro inclusive usou de forma irregular um avião da Pró-Cerrado, entidade que já recebeu R$ 13,9 milhões dos cofres do Ministério do Trabalho para convênios destinados a qualificação profissional. A Pró-Cerrado é suspeita de desvio de dinheiro recebido do ministério e de não executar metas acertadas em contratos.

Neste final de semana a Folha de S. Paulo veio com uma nova denúncia, em reportagem com a revelação de que o ministro foi funcionário fantasma da Câmara dos Deputados durante cerca de seis anos. A Folha mostrou na sua edição de sábado que o ministro foi funcionário da Câmara de 2000 a 2006, lotado na liderança do PDT como assessor técnico. Nesse período ele foi vice e presidente nacional do partido.

E a revista Veja desta semana também traz outra grave denúncia de corrupção no ministério comandado por Lupi, com o testemunho em que o sindicalista Irmar Silva Batista, filiado ao PT há 20 anos, afirma que Eudes Carneiro, assessor do ministro, cobrou R$ 1 milhão em propina para liberar o registro de um novo sindicato. Veja no post abaixo a íntegra da matéria.

Em 2008, Irmar foi ao Ministério do Trabalho tratar do assunto com o então secretário de Relações do Trabalho, o ex-deputado Luiz Antonio de Medeiros. Medeiros encaminhou o sindicalista ao assessor de Lupi, dizendo que “o que o Eudes acertar, está acertado".

Eudes trancou-se com Irmar em uma sala e pediu que todos desligassem o telefone celular. Em seguida cobrou do sindicalista R$ 1 milhão para liberar o registro do sindicato.

Antes de chegar à Veja o processo teve todo um percurso sem que houvesse nenhuma resolução do caso do pedido de propina. Irmar denunciou o caso a políticos do PT – entre eles o senador Eduardo Suplicy e a senadora Marta Suplicy, além de deputados petistas, sem obter resposta.

O sindicalista escreveu carta denunciando a corrupção até para o então presidente Lula, que ficou também sem resposta.

Um mês depois da posse de Dilma, o sindicalista enviou para a presidente um e-mail contando em detalhes tudo sobre a tentativa de extorsão. O e-mail foi enviado com cópia para Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência. No dia 9 de março último, houve a confirmação do recebimento do e-mail.

É aí que surge algo muito estranho e que coloca em xeque a atuação do secretário-geral da Presidência. A assessoria de imprensa da presidência informou que não foi tomada nenhuma providência porque o trecho do e-mail que narrava o pedido de propina foi cortado da mensagem.

Sumiu do texto exatamente o trecho onde Irmar denunciava o grupo corrupto que usava o Ministério do Trabalho para pedir dinheiro para liberar registro sindical. A dúvida é se o e-mail chegou às mãos de Gilberto Carvalho com o mesmo corte.

Diante de tantas denúncias, o desconforto com a presença de Lupi no governo atinge tanto a oposição quanto seu próprio partido. Líderes da oposição cobram a demissão do ministro. E setores cada vez mais amplos do PDT também querem ver Lupi fora do governo. Neste último caso, a reação vem de pedetistas que estão preocupados com o desgaste do partido.

Um grupo de pedetistas ilustres, capitaneado pelo brizolista histórico Vivaldo Barbosa, cobra a convocação imediata da Executiva Nacional para discutir oficialmente a demissão de Lupi. Na semana passada, Lupi fez uma reunião fora do estatuto pedetista para forjar para a imprensa um apoio oficial do partido à sua permanência no cargo. O grupo de pedetistas está colhendo assinaturas para obrigar a realização de uma reunião legítima. Pelo estatuto do PDT, com cem assinaturas dos 300 integrantes da Executiva a cúpula pode ser convocada.