terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Brasil precisa saber se o ministro do Esporte é ou não um bandido

INSTITUTO AME CIDADE, 18 de outubro de 2011


O governo do PT está com mais um ministro encalacrado em graves denúncias de corrupção. A presidente Dilma Rousseff tem agora o ministro do Esporte, Orlando Silva, no foco de mais uma crise política em menos de um ano de governo. Silva foi acusado por um militante de seu próprio partido, o PCdoB, de ter criado um esquema de corrupção que estaria desviando dinheiro público, usado até para alimentar caixa de campanha eleitoral. A denúncia apareceu na edição desta semana da revista Veja, que está nas bancas.

Em dez meses de governo Dilma já perdeu cinco ministros. Quatro deles caíram por corrupção: Wagner Rossi (PMDB-SP) da Agricultura, Antonio Palocci (PT-SP) da Casa Civil, Alfredo Nascimento dos Transportes (PR-AM), Nelson Jobim da Defesa (PMDB-RS) e o ministro do Turismo, Pedro Novais. O único que não saiu em meio à denúncias de corrupção foi Jobim, da Defesa, mas caiu também por causa de uma polêmica entrevista, quando disse que estava "cercado de idiotas" no governo petista. O último a cair foi Novais, do Turismo, após a publicação de diversas reportagens denunciando um esquema de corrupção comandado por ele dentro da pasta.

A denúncia contra Orlando Silva, do Esporte, partiu do policial militar João Dias Ferreira, que é militante do PCdoB, o partido da base aliada do governo petista que tem o comando do ministério do esporte desde o primeiro mandato do ex-presidente Lula. O denunciante Ferreira foi candidato a deputado em Brasília pelo partido que tem o ministro Silva como um de seus mais altos dirigentes.

Em entrevista a revista Veja, Ferreira disse que funciona dentro do ministério do Esporte uma estrutura organizada pelo partido para desviar dinheiro público usando ONGs amigas como fachada. Na denúncia, o ministro é apontado como mentor e beneficiário do esquema. Ferreira diz que o ministro recebeu propina pessoalmente na garagem do ministério.

Segundo a Veja, o esquema pode ter desviado mais de 40 milhões de reais nos últimos oito anos, dinheiro que “acabou no bolso de alguns figurões e no caixa eleitoral do PCdoB”. Leia aqui a transcrição na íntegra da reportagem.

Orlando Silva foi procurado pela revista durante a confecção da matéria, mas havia se negado a dar entrevista. Ele se manifestou só depois da repercussão do fato. Em Guadalajara, onde participava da cerimônia de abertura dos Jogos Panamericanos, o ministro classificou seu acusador como “bandido”.

A fala do ministro: “Confesso que eu estou chocado. Estou estupefato, perplexo. Um bandido fala e eu que tenho que provar que não fiz, meu Deus?”

A resposta do denunciante veio em seguida. João Dias Ferreira publicou em seu blog na internet uma mensagem em que chama o ministro Orlando Silva de bandido.

De forma direta, o PM aconselhou o PCdoB a não sair em defesa de Silva. Num texto endereçado ironicamente ao “ministro do desesporte”, Ferreira pergunta inclusive por que o secretário nacional do Ministério, Ricardo Leyser, foi procurá-lo na sexta-feira, quando soube que a matéria sairia na revista. No blog, ele também diz que outras denúncias vão surgir.

Um trecho da mensagem endereçada ao ministro do Esporte: "Eu não sou bandido, bandido é você e sua quadrilha que faz e refaz qualquer processo do ministério de acordo com sua conveniência e você sabe muito bem disso!".

Noutro trecho do recado direto ao ministro postado em seu blog, Ferreira deixa clara a motivação de suas denúncias: "E se tu não deves nada, por que mandou seu secretario (sic) nacional Ricardo Leiser tentar me localizar na sexta feira, quando soube da matéria, o que ele queria comigo? Fazer mais um daqueles acordos nao cumpridos?"

O policial militar e militante do PCdoB parece ter sido abandonado pelos companheiros em meio a sérias complicações pessoais com seu envolvimento nas irregularidades. Segundo a Veja, ele também é dono de uma ONG que sumiu com 2 milhões de reais que deveriam ter sido usados na compra de material esportivo e alimentos para crianças carentes.


Revista afirma que o denunciante
tem provas gravadas sobre o
esquema de corrupção no ministério
O assunto continua crescendo e deve ter muitos desenlaces até a próxima edição de Veja, cuja redação deve ter em mãos mais material para oferecer aos leitores. Ainda na segunda-feira, o ministro voltou correndo do México ao Brasil. Antecipou sua volta convocado, como de praxe pela presidente Dilma.

No encontro em Brasília, que teve além de Dilma a presença da ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Silva fez também as declarações de praxe; Disse que “vai às últimas conseqüências” para provar que não compactou com nenhuma irregularidade.

É difícil que Orlando Silva permaneça no governo, até porque como ministro do Esporte ele comanda dois eventos internacionais do peso de uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, que envolvem muito dinheiro. São eventos onde as experientes lideranças internacionais do mundo esportivo não devem querer ter um político sob o foco permanente da investigação da imprensa, como deve ser daqui pra diante.

A Veja já adiantou que o denunciante afirmou que tem gravações que comprovam o esquema de corrupção no Ministério do Esporte. E não é improvável que a própria revista publique essas gravações numa próxima edição, já que esta é uma forma técnica usual do jornalismo em casos de grandes denúncias. O assunto é sempre trabalhado de forma gradativa.

Depois de perder quatro ministros em menos de um ano de governo, todos eles por causa de denúncias de corrupção, Dilma tem que dar mais uma resposta pública, desta vez à dura acusação feita contra um ministro seu que está à frente de eventos de visibilidade internacional. O Brasil precisa saber se o ministro do Esporte é ou não um bandido.