quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Na Semana da Pátria, a cena vergonhosa do deputado jogando paciência na hora do trabalho

INSTITUTO AME CIDADE, 8 de setembro de 2011


Para atiçar ainda mais a indignação dos brasileiros com a atuação da maioria dos nossos políticos apareceu nesta Semana da Pátria um vídeo que mostra o deputado paranaense Nelson Meurer (PP) jogando paciência em seu computador enquanto se desenrolava a sessão da votação da cassação da deputada Jacqueline Roriz (PMN-DF). A deputada acabou sendo absolvida pelos seus colegas, com a votação de 265 a 166.

A deputada é filha do ex-senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), que teve que renunciar em julho de 2007 para escapar da cassação de seu mandato, após a divulgação de conversas telefônicas que o mostraram negociando a partilha de R$ 2,2 milhões com o ex-presidente do BRB (Banco de Brasília), Tarcísio Franklin de Moura. A negociação seria feita no escritório do empresário Nenê Constantino, presidente do Conselho de Administração da Gol.

Jaqueline Roriz foi flagrada em vídeo, recebendo em 2006 um maço de dinheiro de Durval Barbosa, um dos participantes do escandaloso esquema de corrupção do Distrito Federal que levou à prisão do então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, que teve o mandato cassado.

Já o deputado paranaense Meurer foi flagrado jogando paciência pelo programa CQC, da TV Bandeirantes. O vídeo vem sendo publicado em blogs e sites da internet e sendo repassado junto com a notícia em emails, como mais um exemplo da falta de vergonha e aplicação ao trabalho de grande parte dos políticos brasileiros.


Ao lado, o flagra no deputado paranaense Nelson Meurer, do PP, que foi filmado jogando paciência, enquanto sua colega Jaqueline Roriz (PMN-DF) era julgada por ter aparecido em vídeo recebendo propina


O deputado que joga paciência em vez de trabalhar é chefe do PP no Paraná, partido que no Brasil tem como símbolo especial o deputado Paulo Maluf. Não é a primeira vez que Meurer desrespeita uma importante votação do Congresso Nacional. Em junho deste ano ele também faltou à votação do Regime Diferenciado de Contratações (RDC), que acabou sendo aprovado e na semana passada teve seus pontos essenciais questionados como inconstitucionais pela Procuradoria-Geral da República.


Deputado é presidente
do PP paranaense e um dos
chefões nacionais do partido
O deputado Meurer integra a executiva nacional do PP e é membro efetivo do diretório nacional. Foi também líder da bancada pepista na Câmara até recentemente. No Paraná, ele é chefe deste partido que tem no deputado Paulo Maluf sua máxima simbologia histórica. Na região de Cornélio Procópio, quem chefia o PP é o prefeito procopense Amin Hannouche, eleito duas vezes consecutivas pelo partido.

Na sessão que julgou a deputada que recebeu propina, Meurer se entretinha com as cartas do baralho enquanto o relator do caso, Carlos Sampaio (PSDB-SP), pedia a cassação de Jaqueline por quebra de decoro parlamentar. Sampaio desconstruiu a tese da defesa, que alegava que a deputada não pode ser processada por conta de um fato ocorrido antes de tomar posse.

Sampaio, que é promotor de Justiça em São Paulo, afirmou que a tese de que “fato pretérito não pode ser julgado” não se aplicava ao caso de Jacqueline Roriz, que só tornou-se conhecido em março deste ano.

Na visão do relator, essa é a diferença que comprova que ocorreu a quebra de decoro. Segundo o deputado, o vídeo veio à tona somente em março de 2011, e mostra alguém que naquele momento era deputada federal. Dessa forma, a imagem da Câmara fica prejudicada.

Na tentativa de amenizar o temor de grande parte dos deputados, o relator ainda disse que a cassação não abriria precedente para outros casos, com punição para atos ocorridos antes do mandato. “Isso é uma falácia”, afirmou Sampaio.

Um trunfo da defesa de Jaqueline, que parece ter prevalecido na votação final que resultou na absolvição, era que parte expressiva dos deputados temia ver seu passado também julgado de forma semelhante ao da deputada.

Meurer passou toda a sessão de olho no jogo: o deputado que joga paciência em vez de trabalhar é chefe do PP no Paraná, partido que no Brasil tem como símbolo especial o deputado Paulo Maluf


Porém, o deputado Nelson Meurer, não estava nem um pouco interessado na argumentação do relator e nem de qualquer outra manifestação exposta no decorrer do trabalho legislativo. O político paranaense permaneceu dando sua atenção às cartas durante todo o desenrolar da sessão.

Na absolvição da deputada que recebeu propina, deputados como Meurer acabam levando o Legislativo a uma condição de descrédito, que vem crescendo de forma cada vez mais perigosa para a democracia. É o tal prejuízo para a Câmara, exposto com precisão no voto do relator da cassação e no final desconsiderado pela maior parte dos deputados.