sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Prisão de chefão do tráfico no Rio traz a revelação da corrupção fortalecendo o crime organizado

INSTITUTO AME CIDADE, 11 de novembro de 2011


A prisão do traficante Nem, ocorrida esta semana no Rio de Janeiro, vem tornando públicas revelações sobre a grande influência da corrupção policial no fortalecimento do crime organizado no Brasil. Antônio Bonfim Lopes, o Nem, é o chefe do tráfico na Rocinha. O criminoso comanda uma holding criminosa que fatura cerca de R$ 10 milhões por mês, vendendo no atacado e no varejo desde maconha até ecstasy. Nem responde a uma dezena de processos por tráfico e formação de quadrilha, além de 20 inquéritos, inclusive por lavagem de dinheiro. O traficante também é apontado como responsável por uma série de espancamentos e assassinatos.

A quadrilha de tráfico de drogas chefiada por Nem é de tal forma bem estruturada que o jornal O Globo a identifica ironicamente numa reportagem como “firma”. O tráfico tinha até um sistema “delivery”, que entregava drogas em domicílios da Zona Sul e da Barra da Tijuca.

Os traficantes também chegaram a possuir um laboratório de refino de cocaína numa favela carioca, capaz de produzir meia tonelada de droga para o abastecimento de 13 morros. Este laboratório foi descoberto pela polícia em 2007. Segundo a polícia, vários laboratórios estariam instalados no Rio. A pasta-base para o refino da cocaína vem da Bolívia.

É evidente que um negócio que gira esta fortuna em dinheiro e demanda tamanha estrutura só pode ser mantido em atividade com a conivência e colaboração de setores da polícia, inclusive em nível de chefia. E é isso que começa a aparecer nos interrogatórios que a Polícia Federal vem fazendo com o criminoso.

Num depoimento na sede da PF na madrugada de ontem o traficante afirmou que metade de tudo que faturava com a venda de drogas era entregue a policiais corruptos. A propina era entregue a policiais civis e militares e outros agentes públicos. Segundo estimativas da polícia carioca, a quadrilha de Nem faturava mais de R$ 100 milhões por ano.

“Metade do dinheiro que eu ganhava era para o ‘arrego’", disse o chefe do tráfico. Arrego é a gíria para propina na linguagem da bandidagem.

Segundo O Globo, o bandido contou no depoimento que uma parte do seu lucro com a venda de drogas era gasta em assistencialismo na Rocinha, com pagamento de enterros, fornecimento de cestas básicas, compra de remédios e realização de obras. Nem se envolvia também com a política, a começar pela influência na eleição para a associação de moradores.

Na operação da PF que localizou e prendeu o chefe do crime, foram presos também cinco agentes civis e militares que escoltavam cinco traficantes que estariam fugindo da Favela da Rocinha. Uma alta fonte da Polícia Civil revelou ao jornal que o pagamento pela escolta era de cerca de R$ 2 milhões.