quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Dia mundial de combate à corrupção vem lembrar que na Câmara Municipal de Cornélio Procópio ética é uma palavra que ofende

INSTITUTO AME CIDADE, 9 de dezembro de 2009

Hoje é o Dia Mundial do Combate à Corrupção. É uma data importante. É certo que em um país como o Brasil, onde a ética tem sido desrespeitada de forma tão abusada, temos que ter todos os dias como de combate à corrupção. Mas o dia vem lembrar que o Brasil assinou um importante documento que saiu da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, de deu origem à comemoração.

A comemoração da data vem em um momento interessante de Cornélio Procópio. No momento tramita na Câmara Municipal um processo que pode levar à cassação da vereadora Aurora Fiume Doi (PMDB). Se isso vier de fato ocorrer, estará concretizada uma das situações mais absurdas da política brasileira: a cassação de alguém que levantou em uma sessão plenária um tema ético, cobrando de seus pares uma ação efetiva para esclarecer a questão das diárias dos vereadores, objeto de representação do Instituto Ame Cidade junto ao Ministério Público pedindo investigações.

O documento da ONU, como relatamos mais abaixo, contradiz totalmente os argumentos deste processo contra a ética e que veio agredir uma respeitada vereadora e a independência do Legislativo.

O processo é movido pelo Partido Progressista, o conhecido PP, do escândalo do mensalão e de tantas denúncias de corrupção pelo país afora. Para pedir a cassação, o PP baseia-se em um artigo do Código de Ética e Decoro da Câmara que contraria totalmente a liberdade de opinião do parlamentar. Dependendo da interpretação do tal artigo o vereador fica impedido de fazer qualquer denúncia de corrupção e nem sequer opinar sobre questões levantadas pela opinião pública.

O que se pretende evidentemente é por meio da pressão sobre a vereadora atingir a própria instituição do Legislativo procopense, sujeitando ainda mais os vereadores ao poder do Executivo municipal. O partido que entrou com o processo contra Aurora é chefiado no Paraná pelo ex-deputado mensaleiro José Janene, que tem uma clara ascendência política sobre o prefeito Amin Hannouche, também do PP.

A única base do processo do PP é um pronunciamento de Aurora, no qual ela pede a seus pares que a Casa investigue as denúncias apresentadas ao MP. Em um trecho de sua fala a vereadora, bastante conhecida na região tanto por sua integridade quanto pela extrema educação com os outros, diz o seguinte: "Eu sigo o Regimento, eu sigo a legislação, nada mais do que isso. Então não vem dizer que a gente está atrapalhando não: nós queremos a coisa certa. Queremos sim coisa certa, coisa dentro da legislação".

Aurora tem trabalhado intensamente pela independência do Legislativo municipal. A agressão ao seu mandato parece ter também como objetivo também avançar sobre a Câmara de Vereadores e fazer da casa um simples departamento da Prefeitura.

O Dia Mundial da Corrupção nasceu da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, que aconteceu no México em 9 de dezembro de 2003. Na ocasião, mais de 100 países assinaram um tratado sobre o tema que está em vigor internacionalmente.

No Brasil, o texto foi aprovado pelo Congresso Nacional em maio de 2005. Trata-se de um instrumento jurídico internacional que permite a recuperação de dinheiro desviado dos cofres públicos e prevê a criminalização do suborno, lavagem de dinheiro e outros atos criminosos ligados a corrupção. Aliás, pelo menos quatro personalidades do PP, o partido que processa a vereadora Aurora, respondem a vários desses crimes no Supremo Tribunal Federal. O ex-deputado Janene, por exemplo, é réu nos crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Convenção da ONU contra a corrupção dá razão ao Instituto Ame Cidade e ao trabalho parlamentar da vereadora Aurora

INSTITUTO AME CIDADE, 9 de dezembro de 2009

Mas voltando à Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, este documento assinado pelo Brasil contém medidas que demonstram como é contrário à razão o processo iniciado contra a Aurora. A Convenção afirma que a sociedade civil e o setor privado desempenham um papel importante na exigência de que “a administração pública seja mais transparente e aberta a mecanismos de fiscalização e controle”.

Noutro ponto, o documento determina que sejam adotadas medidas "para fomentar a participação ativa de pessoas e grupos que não pertençam ao setor público, como a sociedade civil, as organizações não-governamentais e as organizações com base na comunidade, na prevenção e na luta contra a corrupção, e para sensibilizar a opinião pública a respeito à existência, às causas e à gravidade da corrupção, assim como a ameaça que esta representa".

Mais ainda, nele está expressa a determinação de “respeitar, promover e proteger a liberdade de buscar, receber, publicar e difundir informação relativa à corrupção”.

E para provar que certos vereadores de Cornélio Procópio e também seu prefeito estão totalmente na contramão quanto ao tratamento que se deve dar à este assunto, ainda está dito que os Poder Público deve adotar “medidas apropriadas para garantir que o público tenha conhecimento dos órgão pertinentes de luta contra a corrupção”, além de “facilitar o acesso a tais órgãos, quando proceder, para a denúncia, inclusive anônima, de quaisquer incidentes que possam ser considerados constitutivos de um delito”.

Isto é exatamente o que o Instituo Ame Cidade vem fazendo não só na questão das diárias dos vereadores, mas em todos os assuntos relativos à ética. E os termos da Convenção da ONU também dão total sustentação ao modo íntegro que a vereadora Aurora vem exercendo o seu mandato.