segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Ministro Paulo Bernardo foge de revista que quer saber uma coisa simples sobre suas viagens

INSTITUTO AME CIDADE, 22 de agosto de 2011


A revista Época desta semana informa que espera há mais de 40 dias uma resposta do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, para uma questão muito simples. A revista perguntou a 30 ministros da presidente Dilma se eles já viajaram em algum jato particular desde que assumiram seus cargos.

28 ministros responderam prontamente que não. O ministro das Cidades, Mario Negromonte, disse que já viajou, mas com o pagamento do fretamento do avião por sua conta.

Já Paulo Bernardo nada respondeu, mesmo a revista tendo insistido com a pergunta por quatro vezes nos últimos 40 dias. Época perguntou ao ministro de Dilma sobre suas eventuais viagens em um avião particular quando exercia o cargo de ministro do Planejamento no governo Lula.

É claro que a questão não vem à toa. A revista tem a informação de que o ministro paranaense embarcou no ano passado em um avião da construtora Sanches Tripoloni em um terminal de Brasília, usado por empresas particulares. Foi um parlamentar da base aliada de Dilma que viu Bernardo embarcando.

E um parlamentar da oposição contou aos jornalistas da Época que a chefe da Casa Civil da Presidência da República, a ministra Gleisi Hoffmann, mulher de Paulo Bernardo, usou o avião da Construtora Sanches Tripoloni em sua pré-campanha ao Senado Federal pelo Paraná.

A revista explica que, na ocasião, Gleisi era presidente regional do PT e não ocupava cargo público. Mas o ministro era o responsável pelo Orçamento da União e por definir verbas públicas.

A Construtora Sanches Tripoloni é responsável pela Construção do Contorno Norte de Maringá, uma obra que já está famosa em todo o Paraná não pelos benefícios que pode trazer à cidade, mas pela impressionante demora. A obra já está custando o dobro de seu preço original.

Na reportagem, Época diz que como ministro do Planejamento de Lula, Paulo Bernardo “mostrou um empenho especial na construção do Contorno Norte”, conseguindo liberar verbas por meio de emendas parlamentares ao Orçamento da União.

Mesmo depois do Tribunal de Contas da União (TCU) encontrar problemas graves na obra, como superfaturamento de preços pela construtora Sanches Tripoloni, Bernardo conseguiu incluir a obra no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o que livrou o empreendimento da dependência de emendas parlamentares, sempre sujeitas a contingenciamentos e cortes orçamentários.

O TCU também declarou a construtora Sanches Tripoloni como “inidônea” em 2009 por causa de outra obra no Paraná, também um contorno rodoviário, este em Foz do Iguaçu. Porém, mesmo assim a empreiteira não deixou de receber dinheiro público

Mas a atenção de Bernardo foi ainda mais especial com o Contorno Norte de Maringá. Graças a seus diligentes esforços, a obra entrou num regime especial no PAC que assegura transferências obrigatórias de dinheiro público para o empreendimento.

Hoje a construtora Sanches Tripoloni é uma das empreiteiras que mais recebem verbas públicas. Segundo Época, no ano passado, ela recebeu R$ 267 milhões do governo federal. É uma empresa muito bem capitalizada, bem diferente da sua má situação em 2006, quando seus sócios chegaram a registrar uma redução de capital.

A Sanches Tripoloni foi também uma grande doadora do PT na campanha eleitoral de 2010. Eles doaram R$ 510 mil para a campanha de Gleisi Hoffmann ao Senado. Também doaram dinheiro para a campanha do deputado estadual Ênio Verri, que foi chefe de gabinete de Paulo Bernardo no Ministério do Planejamento, e pretende disputar a prefeitura de Maringá no ano que vem.

A viagem de Paulo Bernardo nos jatinhos da Sanches Tripoloni pode configurar um grave conflito de interesses, parecido com o que já fez cair membros do alto escalão do governo Dilma. A revista destaca na reportagem que um dos motivos da demissão do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, foi a divulgação de que ele viajou em um jatinho de uma empresa beneficiada por decisões do ministério.

Época também avisa que nos próximos dias será encaminhado à Mesa da Câmara um pedido de informação sobre quem viajou no avião PR-AJT desde que ele foi comprado pela empreiteira, em abril de 2009. O pedido será feito por parlamentares da oposição.

Enquanto isso, fica no ar a pergunta da qual o ministro Paulo Bernardo foge há mais de 40 dias. Ele já viajou em algum jato particular nesses mais de oito anos que está no governo federal? A revista também perguntou para a ministra Gleisi Hoffmann se ela viajou no avião da Sanches Tripoloni nos últimos três anos. O casal de ministros se mantém no mais rigoroso silêncio.