terça-feira, 7 de junho de 2011

Romanelli, o nome mais citado por vereadores para viajar para Curitiba com diárias pagas pela Câmara Municipal de Cornélio Procópio

INSTITUTO AME CIDADE, 7 de junho de 2011


A análise dos documentos transcritos pelo Ministério Público e anexados como prova na Ação Civil Pública que acusa vereadores da Câmara Municipal de Cornélio Procópio de uso irregular de diárias de viagens revela que Luiz Cláudio Romanelli é um recordista em visitas feitas por vereadores procopenses ao seu gabinete em Curitiba.

No ano de 2009, quando era deputado estadual e líder do governo de Roberto Requião (PMDB) na Assembleia Legislativa, Romanelli foi citado por vários vereadores e também por funcionários da Câmara como justificativa para viagens a Curitiba. E não foram viagens baratas. Numa dessas idas a Curitiba em que foi incluída uma visita ao deputado, um vereador recebeu R$ 1.100 de uma só vez em diárias.

Romanelli é deputado estadual reeleito e atualmente está licenciado e ocupando o cargo de secretário do Trabalho do governo Beto Richa. Mesmo tendo sido líder do governo anterior, que foi um período de troca de críticas agressivas entre o então governador Requião e Beto Richa (PSDB), ele aderiu ao tucano assim que o nome de Richa começou a mostrar força eleitoral nas pesquisas. Com a vitória do tucano, que até hoje é adversário de Requião, Romanelli foi escolhido para ser o secretário do Trabalho.

O político tem Cornélio Procópio como um de seus alvos eleitorais, que atinge em conjunto com o prefeito Amin Hannouche (PP) e o grupo de vereadores que domina a Câmara Municipal. Na foto, Romanelli (ao centro) faz campanha na cidade para a reeleição como deputado, acompanhado do prefeito Hannouche e o vereador Helvécio Alves Badaró (à esquerda), presidente da Câmara no período em que foram pagas as diárias denunciadas como irregulares pelo Ministério Público.

O fato mais marcante da carreira de Romanelli foi quando ele virou notícia nacional em 2008 depois de passar sem pagar por três pedágios em estradas paranaenses, até ser parado por um policial rodoviário. A atitude repercutiu muito mal, mesmo levando em conta as pendengas de Requião com empresas que exploram os pedágios no Paraná.

Na ocasião, Romanelli bravateou para a imprensa que iria “continuar” furando pedágios, mas na verdade nunca mais teve essa atitude, que soou apenas como uma autopromoção para o aproveitamento político da polêmica dos pedágios no estado.

No entanto, jornalistas que cobriram o fato acabaram descobrindo que o carro que o atual secretário do Trabalho usou para cometer a transgressão já havia sido multado 10 vezes, tendo recebido notificação em seis delas. O veículo estava no nome da empresa Generali Comércio e Transporte Internacional Ltda, cujos donos são Romanelli e o irmão Ricardo Romanelli Filho.

Quatro dessas multas eram por transitar em alta velocidade, todas aplicadas em Curitiba e algumas durante a madrugada. Quando foi questionado sobre as multas, Romanelli respondeu o seguinte: “O que? 10 multas? Os meus assessores e motoristas devem estar andando com esse carro".


Uma passadinha no gabinete
de Romanelli era a alegação
de muitos para justificar
diárias de viagens a Curitiba


No caso das diárias irregulares na Câmara procopense, conhecido entre a população como “Farra das Diárias”, a justificativa campeã para o recebimento de diárias é o encontro em Curitiba com Romanelli.

Em 2009, quando o Instituto Ame Cidade encontrou indícios de irregularidade na análise de documentos da Câmara, já era possível detectar o nome de Romanelli em grande parte dos recibos de diárias. Ainda em 2009 o Instituto Ame Cidade encaminhou uma representação ao Ministério Público que abriu uma investigação. Na semana passada uma ação por improbidade contra seis vereadores e um suplente foi acatada pela Justiça. Funcionários da Câmara também são acusados pelo uso indevido do dinheiro público. Na ação, o MP define a justificativa para o recebimento do pagamento de diárias como "fantasiosas viagens". Entre os acusados estão o atual presidente da Câmara, Vanildo Felipe Sotero (PP), e o anterior, Helvécio Alves Badaró (PTB).

Nos documentos aos quais o Instituto Ame Cidade teve acesso de início, as visitas a Romanelli já eram um destaque entre as justificativas de diárias, mas com a documentação mais farta tornadas públicas pelo MP, os supostos encontros com o então líder de Requião adquiriram um volume que salta à vista. Nos documentos anexados à ação do MP as visitas a Romanelli consomem quase 20 mil reais em diárias. E isso sem contar as rubricas genéricas que falam apenas em “viagem à Assembleia Legislativa”, que pode ser também para encontros com Romanelli, já que não é citado o nome de nenhum outro deputado.


Quase 20 mil reais para
encontros em Curitiba com um
deputado que estava sempre
passando por Cornélio Procópio


A série de encontros de vereadores e funcionários com Romanelli em Curitiba já seria de estranhar em razão até de uma lógica administrativa que exigiria um ordenamento dessas reuniões, já que todos os que alegam terem viajado para a capital são de um mesmo grupo político na Câmara. Porém, ainda mais esquisito é o fato de todos irem até Curitiba se encontrar com um deputado que está sempre em Cornélio Procópio, o que é o caso de Romanelli.

Algumas dessas viagens são exatamente numa sequência em que um ou mais vereadores voltam do gabinete de Romanelli e outros partem de Cornélio Procópio com o mesmo destino.

Na foto acima, o deputado Romanelli, que é do PMDB, faz campanha em Cornélio Procópio acompanhado do prefeito Amin Hannouche (PP) e de dois vereadores apontados na ação do MP. À frente, à esquerda, está o vereador Helvécio Alves Badaró, do PTB. Logo atrás de Badaró está o vereador Ricardo Leite Ribeiro, que é do PPS. Leite Ribeiro sofreu um processo por infidelidade partidária no Conselho de Ética de seu partido.

A ligação de Romanelli com o prefeito Hannouche e seu grupo de vereadores é muito forte. Existe até uma viagem feita entre 27 e 29 de maio com uma justificativa muito curiosa, quando foram para Curitiba dois vereadores, Edimar Gomes Filho e o então presidente da Câmara, Helvécio Alves Badaró. Conforme pode ser lido na justificativa, ambos foram até lá “para acompanhar o prefeito ao Gabinete do Líder do Governo [Requião]”, que era o Romanelli, é claro. Para a viagem, cada um recebeu 800 reais em diárias.


O deputado que mais recebeu
visitas de vereadores procopenses
deve manter o título de campeão
também como secretário do Trabalho


Os primeiros meses de 2009 dão a impressão de que o deputado Romanelli não fez outra coisa em Curitiba senão receber vereadores de Cornélio Procópio. No dia 20 de janeiro o então presidente da Câmara, Helvécio Badaró, partiu para Curitiba às 7 da manhã, com a volta programada para o dia seguinte às 12 horas. Foi visitar o deputado Romanelli.

No mesmo dia em que Badaró voltava para Cornélio Procópio, partia para Curitiba o vereador Edimar Gomes Filho. Ele saiu às 18 horas para retornar às 19 horas do dia 22. Também se encontrou com o deputado Romanelli.

Três dias depois foi a vez do vereador Ricardo Leite Ribeiro ir a Curitiba atrás do deputado Romanelli. Ele saiu da cidade às 10 horas da manhã e voltou de Curitiba no dia 27, às 19 horas.

Em fevereiro as visitas recomeçaram cedo, quando foi a vez do vereador Sebastião Angelino Ramos visitar o deputado em Curitiba. Ele foi de Cornélio Procópio para a capital no dia 4 às 16 horas e voltou no dia 6 às 19 horas.

Do dia da visita de Sebastião Angelino Ramos até o dia 15, Romanelli recebeu também três funcionários da Câmara de Cornélio Procópio. E no dia 15 três vereadores (Badaró, Gomes Filho e Sebastião Angelino Ramos) foram para Curitiba para novamente ver o deputado. Os três saíram no dia 15 e voltaram no dia 17.

Estes são apenas alguns exemplos, entre muitas das alegadas visitas a Curitiba que tornam o nome de Romanelli imbatível nas justificativas de pagamentos de diárias.

Na ação do MP tem certas viagens que são até bem curiosas, como a de 27 ao dia 29 de maio de 2009, quando foram para Curitiba dois vereadores, Edimar Gomes Filho e Helvécio Alves Badaró. Conforme pode ser lido na justificativa, ambos foram à Curitiba “para acompanhar o prefeito ao Gabinete do Líder do Governo [Requião]”, que era o Romanelli, é claro.

O então líder de Requião foi muito citado durante todo o ano de 2009 e até em 2010. E mesmo agora em 2011, com a gastança em diárias sendo mantida a todo o vapor, a justificativa ainda parece ser a preferida na Câmara. No mês passado um vereador pediu quatro diárias para visitar Romanelli, agora na secretaria do Trabalho.