sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Operação da Polícia Federal prende governador do Amapá e mais 17

G1, 10 de setembro de 2010

Pedro Dias (PP) é acusado de integrar grupo que desviava verbas públicas.
Assessoria do partido e do governo estadual não quiseram comentar.



A Polícia Federal (PF) prendeu nesta sexta-feira (10) o governador do Amapá, Pedro Paulo Dias (PP), durante a Operação Mãos Limpas. O governador é suspeito de participar de uma organização criminosa composta por servidores públicos, políticos e empresários que supostamente praticavam desvio de recursos públicos do Amapá e da União. O governador foi levado pelos agentes da PF para o quartel do Exército, em Macapá.

A assessoria do diretório do PP em Macapá confirmou ao G1 a prisão do governador, mas não quis comentar o assunto. A assessoria de imprensa do governador disse que vai acompanhar o caso e buscar mais informações sobre os motivos da prisão para poder se pronunciar a respeito.

Em 2002, Pedro Paulo se elegeu vice-governador na chapa liderada por Waldez Góes (PDT). Em 2006, foi reeleito como vice. Desde 3 abril de 2010, é governador do Amapá. Ele assumiu após Waldez Góes ter deixado o cargo para se candidatar ao Senado. Pedro Paulo disputa a reeleição pela chapa “O trabalho precisa continuar”, composta por PP, PRB, PDT, PSR, PL, DEM PHS, PCdoB e PTdoB.

O ex-governador do Amapá e atual candidato ao Senado, Waldez Góes, também foi preso pela Polícia Federal durante a Operação Mãos Limpas. A prisão foi confirmada ao G1 pelo advogado dele, César Caldas. "Ele foi preso, e ainda não temos nenhuma posição oficial a respeito da prisão", afirmou o advogado.

Operação - Foram mobilizados, segundo a PF, 600 agentes federais para cumprir 18 mandados de prisão temporária, 87 mandados de condução coercitiva e 94 mandados de busca e apreensão, todos expedidos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Além do Amapá, os mandados também estão sendo cumpridos no Pará, Paraíba e São Paulo. Participam da ação 60 servidores da Receita Federal e 30 da Controladoria Geral da União (CGU).

Segundo a Polícia Federal, as apurações revelaram indícios de um esquema de desvio de recursos da União que eram repassados à Secretaria de Educação do Estado do Amapá, provenientes do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef).

Foi constatado, de acordo com a PF, que a maioria dos contratos administrativos firmados pela Secretaria de Educação não respeitavam as formalidades legais e beneficiavam empresas previamente selecionadas.

Apenas uma empresa de segurança e vigilância privada, segundo a investigação, manteve contrato emergencial por três anos com a Secretaria de Educação, com fatura mensal superior a R$ 2,5 milhões, e com evidências de que parte do valor retornava, sob forma de propina, aos envolvidos.

Durante a apuração, a PF informou ter constatado que o mesmo esquema era aplicado em outros órgãos públicos. Foram identificados desvios de recursos no Tribunal de Contas do Estado do Amapá, na Assembleia Legislativa, na Prefeitura de Macapá, nas Secretarias de Estado de Justiça e Segurança Pública, de Saúde, de Inclusão e Mobilização Social, de Desporto e Lazer e no Instituto de Administração Penitenciária.

As investigações, que contaram com o auxílio da Receita Federal, da CGU e do Banco Central (BC), iniciaram-se em agosto de 2009, e se encontram sob a presidência do STJ.

Os envolvidos estão sendo investigados pelas práticas de crimes de corrupção ativa e passiva, peculato, advocacia administrativa, ocultação de bens e valores, lavagem de dinheiro, fraude em licitações, tráfico de influência, formação de quadrilha, entre outros crimes conexos.

Lula pediu votos ontem a candidatos presos pela Polícia Federal

O ESTADO DE S. PAULO, Alcinéa Cavalcante, especial

MACAPÁ - Mesmo o PT tendo candidato ao Senado, o presidente Lula apareceu ontem nos programas eleitorais dos candidatos Waldez Góes (PDT), que foi preso na Operação Mãos Limpas nesta sexta-feira, 10, pela manhã, e Gilvam Borges (PMDB). Góes é ex-governador e Borges tenta a reeleição. Nos programas, Lula pede votos para os dois e diz que Dilma Rouseff vai precisar deles.

O PDT de Góes é coligado com o PP, partido do governador do Amapá Pedro Paulo Dias, também preso hoje. O PMDB de Borges está coligado com o PSDB.

O PT está coligado com o PSB e tem como candidatos ao Senado Marcos Roberto (PT) e o ex-senador João Capibaribe (PSB). A coligação encabeçada pelo PT tece, no horário eleitoral e nos comícios, ácidas críticas a Góes e a Borges.

Desde o início da campanha eleitoral, a coligação PT-PSB vinha afirmando que Capiberibe e Marcos Roberto eram os candidatos de Dilma e Lula para o Senado pelo Amapá.

Veja aqui Lula pedindo votos para Walder Góes, ex-governador e candidato ao Senado preso pela PF

O maior coronel da história do Brasil

BLOG DO CONTRA, Gustavo Bezerra


Nem José Sarney. Nem Antônio Carlos Magalhães. Nem Odorico Paraguaçu. O maior coronel da política brasileira em todos os tempos chama-se Luiz Inácio Lula da Silva.

Nenhum outro político encarnou tão perfeitamente as velhas práticas mandonistas dos grotões. Lula daria farto material para vários livros de Jorge Amado e de Dias Gomes. Ele transformou o coronelismo, que muitos achavam desaparecido, numa forma de arte, uma verdadeira instituição nacional. Perto de Lula, os antigos oligarcas são meros chefetes de província, simples amadores. Mais que isso: são exemplos de moralidade e espírito republicano.

Assim como os velhos senhores de baraço e cutelo, Lula se gaba de ser popular. E, assim como aqueles, ele baseia sua popularidade numa vasta rede de assistencialismo e numa dedicada clientela, que se sente cada vez mais devedora e se torna cada vez mais estadodependente. Só que em escala federal.
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De certa forma, voltamos à República Velha. Sob Lula e o PT, as práticas coronelísticas foram ampliadas, atingindo um patamar muito mais elevado de sofisticação. Os coronéis dos grotões tinham/têm como principal arma eleitoral cestas básicas e dentaduras. Lula e o PT têm o Bolsa-Família, a reedição do voto de cabresto.

Não é por acaso que Luiz Inácio se sente tão à vontade ao lado de figuras como Fernando Collor, Sarney e Jader Barbalho, que antes deplorava e cujo palanque hoje partilha sem o menor constrangimento. É que uma prática comum entre os maiorais do sertão é a troca de farpas, ou tiros, para depois se reconciliarem e partilharem o poder, numa grande e alegre festa regada a muito forró, cachaça e buchada de bode.

À semelhança dos coronéis do interior, Lula também possui à sua disposição um exército leal de jagunços (ou melhor, de devotos). Com a diferença de que estes últimos raramente usam armas de fogo. Em vez do bacamarte e da peixeira, suas armas são os mensalões e dossiês fabricados para intimidar adversários. Assim como os coronéis de outrora mandavam espancar inimigos e empastelar jornais que lhes denunciavam os desmandos, Lula manda seus cabras violarem os sigilos bancários de seus opositores ou maneja a lei para tentar impor malandramente a censura à imprensa, contando, para isso, com o apoio ou a "neutralidade" de jornalistas amestrados. Se dependesse dos bate-paus do lulo-petismo, o Brasil seria sua fazenda, digo, seu sindicato.

"Deixo em suas mãos o meu povo", é o refrão da música de campanha da petista Dilma Rousseff, a criatura eleitoral de Lula, à Presidência da República (fabricar sucessores é outra característica do coronelismo). A frase é quase cândida em seu elogio desbragado do atraso. Passa a idéia, de forma inconfundível, de que o povo é propriedade de alguém, no caso, Lula, tanto que ele está agora "deixando" o povo de herança para Dilma, como se deixa em testamento um rebanho de bois ou de bodes. "Meu povo", aliás, é uma interjeição comum aos mandões locais, significando exatamente isso: o povo é dele, literalmente lhe pertence, como suas esporas e seu chicote. E ai do atrevido que tiver o topete de ameaçar-lhe a autoridade ou de empanar-lhe o brilho!
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Em outras épocas, o coronel local dizia a "seu" povo em quem ele deveria votar - geralmente, um parente ou amigo. "Vote em Chiquinho da Farmácia: ele é amigo do coronel Totonho". E assim se perpetuava o sistema, com a eleição de testas-de-ferro e nulidades. Hoje, a campanha eleitoral do PT diz: "Vote em Dilma: ela é amiga de Lula". O nome disso, em bom português, era (é) curral eleitoral. Hoje, o Brasil é um imenso curral eleitoral do lulo-petismo. Dilma é o Chiquinho da Farmácia do coronel Totonho-Lula.

Uma coisa, porém, separa Lula, o megacoronel de hoje, dos provincianos coronéis de antanho: ao contrário destes, Lula não tem diante de si uma oposição de verdade, intransigente e aguerrida. O que há, em vez disso, é um bando de socialites e galinhas-mortas, mais preocupado em posar de bons-moços e em não assustar o eleitorado do que em chamar as coisas pelo nome. Quando um deles foge à regra, como fez Indio da Costa, é apenas para ser quase linchado pela "tática do medo" e pelo "erro eleitoral". É que jogam no mesmo time ideológico do adversário, daí sua relutância em mirar em Lula: tendo participado também da construção do mito em torno de sua figura, e inclusive fornecido os instrumentos que lhe permitiram chegar aonde está, têm medo de que o tiro ricocheteie e os atinja. Só lhes resta tentar encostar em sua imagem, numa clara confissão de culpa.

Se Dilma Rousseff for eleita presidente da República, como parecem indicar as pesquisas, essa tradição coronelística da política brasileira, preservada e ampliada por Lula, será coroada. Dilma, aliás, parece reproduzir em tudo o figurino de manda-chuva do sertão, no que segue fielmente, caninamente, os passos do mestre. Quando não está declarando seu amor a outros caudilhos como Fidel Castro e Hugo Chávez, ou se comparando a Jesus Cristo e a Tiradentes (com desvantagem para estes, claro), sinhozinho Lula gosta de se apresentar como o "pai do povo". Dilma, por tabela, é a "mãe do povo". É outro traço, o paternalismo, inegavelmente coronelístico do lulo-petismo. Desse matrimônio está prestes a ser parida a maior fraude política da História brasileira.

Clima - ceticismo perde mais espaço

O ESTADO DE S. PAULO, Washington Novaes, 10 de setembro de 2010


Ficou muito mais difícil para os chamados "céticos das mudanças climáticas" continuarem a negar que elas se têm intensificado em consequência do aumento da temperatura na Terra, com forte contribuição das ações humanas para o processo. Um Comitê de Revisão dos Procedimentos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, órgão científico da Convenção do Clima), liderado pelo InterAcademy Council (o IAC, que reúne sociedades acadêmicas de vários países), concluiu que o processo dirigido pelo IPCC precisa aperfeiçoar seus procedimentos, como acentuou editorial deste jornal (5/9, A3). Mas que, no todo, "serviu bem à sociedade".

"O engajamento de muitos milhares dos mais destacados cientistas e outros pesquisadores no mundo no processo e na comunicação sobre a compreensão das mudanças climáticas, seus impactos e a possível estratégia de adaptação e mitigação é uma conquista considerável em si mesma", diz o parecer do IAC. "Da mesma forma, o compromisso dos governos para o processo e sua aceitação dos resultados são uma indicação clara do êxito. Através de uma parceria maior entre cientistas e governos, o IPCC ampliou a consciência do público sobre mudanças climáticas, elevou o nível do debate científico e influenciou a agenda científica de muitas nações."

O IAC critica alguns pontos da atuação do IPCC, principalmente a conclusão precipitada de que as geleiras do Himalaia se derreteriam até 2035. E entende que o painel precisa modernizar sua estrutura, trabalhar mais a complexidade de certos fenômenos, ter "mais transparência em seus procedimentos", instituir um comitê executivo, limitar a um mandato os poderes dos seus executivos. De modo geral, entretanto, reconhece o valor dos quatro relatórios do IPCC.

Os "céticos" enfrentam também, no mesmo momento, uma mudança radical de postura de Bjorn Lomborg, autor do livro O Ambientalista Cético, que tanto furor causou há poucos anos. Surpreendentemente, ele declara agora que vai começar a enfrentar o problema das mudanças climáticas - em lugar de negá-las. Junto com oito economistas, ele passa a liderar um movimento que sugere forte investimento em energias alternativas, principalmente solar, eólica e de marés. Embora achem que lobistas de empresas investidoras nessas energias "exageraram as mudanças climáticas", esses analistas sugerem agora um investimento de US$ 100 bilhões nesse campo. Coincidência ou não, nesses mesmos dias o jornal britânico Sunday Telegraph publicou um pedido de desculpas ao presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, a quem acusara de ter "conflitos de interesse", receber pagamentos de empresas interessadas na área de energias. Após auditoria da KGPM nas contas pessoais de Pachauri, o jornal afirmou que "não há nenhuma evidência de benefícios pessoais com as funções de consultor".

Na direção contrária à dos "céticos", o Instituto de Meio Ambiente da Suécia e o cientista Sivan Kartha publicaram trabalho de análise das intenções manifestadas na Convenção do Clima, em Copenhague, pelos países emissores. Segundo o parecer, se se concretizarem apenas as ações propostas ali pelos países emissores, até o fim do século a temperatura planetária se elevará em 3,5 graus Celsius, com "efeitos desastrosos para a produção agrícola, a disponibilidade de água e os ecossistemas em geral", além de elevação do nível do mar e possível desaparecimento de ilhas no Pacífico (O Globo, 31/8). Esse relatório foi reforçado por outro, da Administração Nacional dos Oceanos e Atmosfera, dos Estados Unidos, segundo o qual sete dos dez indicadores de aquecimento global "estão em ascensão".

Nada disso, entretanto, significa que se terá nestes próximos tempos mudança importante nos rumos dessa grave questão. As lógicas financeiras, que influenciam países e empresas, continuam a comandar o processo. De 4 a 9 de outubro, em Tianjin, na China, será realizada mais uma reunião preparatória da assembleia-geral da Convenção do Clima, prevista para novembro em Cancún, no México. Mas não se espera que aconteça em Tianjin nenhum milagre. Nem mesmo em Cancún. O próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, tem reiterado que não se prevê nenhum acordo importante para Cancún - no máximo, a definição de um "roteiro" para a discussão seguinte, na África do Sul, em 2011. Talvez se defina - na linha do relatório do IAC - que não seja renovado em outubro o mandato de Rajendra Pachauri, que pretendia ficar mais quatro anos no posto.

O governo brasileiro, que não contesta os relatórios do IPCC, anunciou na semana passada que já tem R$ 200 milhões para combater efeitos de mudanças climáticas, com projetos de pesquisas e ações específicas, que serão prioritárias no semiárido nordestino. Ali, como mostrou a recente Conferência sobre Desertificação, os problemas não cessam de avançar, com a contribuição do clima.

É importante, mas é pouco. Os eventos extremos entre nós têm-se intensificado - basta lembrar enchentes e desabamentos no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, inundações em São Paulo, eventos terríveis no Nordeste, elevação inédita de temperaturas no Centro do País , com nível inacreditável de queimadas, notícias de avanço do nível do mar e destruição de ocupações no litoral.

As informações são a cada dia mais contundentes, o ceticismo perde espaço. É preciso avançar rapidamente com políticas públicas. Só que nos faltam instrumentos eficazes. Ainda no começo desta semana, como lembrou este jornal (5/6), "os remédios para mudanças de microclimas são muito complexos". E a situação de emergência, de extrema secura do ar na capital no mês de agosto, não pôde ser enfrentada com eficácia, porque "envolve toda a parte de ocupação do solo e também uma política de mobilidade. E São Paulo não tem um Plano B" (6/9). É grave.


Washington Novaes é jornalista

Perda de biodiversidade custa até US$ 4,5 trilhões

GAZETA DO POVO, 10 de setembro de 2010

ONU lança em Curitiba estudo que relata casos mundiais de benefícios econômicos trazidos pela conservação ambiental


Nas Ilhas Maldivas, depois de anos de caça predatória do tubarão, o governo local percebeu que era mais rentável preservar os animais para estimular o turismo do que abatê-los. Esse e outros 120 exemplos de benefícios econômicos trazidos pela manutenação da biodiversidade foram divulgados ontem durante simpósio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnud), em Curitiba. Os estudos de caso integram a pesquisa A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (Teeb, na sigla em inglês) encomendada pelos países do G8+5 para servir de referência à formulação de políticas locais e regionais.

Segundo o economista Pavan Sukhdev, um dos autores do Teeb, a devastação ambiental representa perda de US$ 2 trilhões a US$ 4,5 trilhões em capital natural por ano à economia mundial. Os valores não foram divididos por regiões, mas o diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, salientou que a parte referente ao Brasil “certamente é importante”. “Temos as mais extensas florestas e convivemos com altas taxas de desmatamento”, diz.

O relatório explora e dá dicas práticas de como lidar com o desafio de perda de biodiversidade em nível local e regional, examina ações que os governos podem tomar quanto ao uso e gestão de recursos naturais, manutenção de biodiversidade e arquitetura urbana como também ferramentas de mercado como Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). “Se a ação não é tomada localmente não há ação”, comenta Sukhdev.

Responsável por 20% de toda a biodiversidade da Terra, o Brasil tem condições de se tornar a grande potência mundial dentro do novo paradigma de economia sustentável. Segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre, apesar de o país ser o maior exportador de carne, a lucratividade com Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) é quase três vezes maior do que com a pecuária. “Mas não podemos só pensar na valoração do produto”, diz.

Segundo Nobre, a produção do açaí na região amazônica, por exemplo, permite renda de US$ 206 a US$ 2.272 por hectare ao ano, contra US$ 100 a US$ 400 por hectare a cada 25 a 30 anos na exploração da madeira ou de US$ 100 a US$ 200 por hectare ao ano na lavoura de soja. Sem contar a pecuária, que renderia apenas US$ 20 a US$ 70 por hectare/ano. No entanto, o pesquisador ressaltou que o produto sai do campo por US$ 200 e chega a um supermercado na Califórnia por US$ 70 mil. O valor é agregado por outras empresas do Sudeste e Sul do Brasil ou de outros países e não resolve o problema do produtor. “Se não significa redução de pobreza não ajuda o desenvolvimento sustentável do meio ambiente”, pondera.

Comunidades - De acordo com Sukhdev, as comunidades pobres e rurais, que vivem em torno de florestas e dela retiram parte do sustento, são as que mais sofrem com a perda da biodiversidade. No Brasil, ele diz acreditar que 20 milhões de pessoas estão nessa condição. “A biodiversidade é uma necessidade para os pobres e não apenas uma ligação afetiva para os ricos”, afirma. “A biodiversidade no Brasil ainda é tratada como potencial, a gente tem que saber valorizar mais”, complementa Bráulio Dias.

O tema continuará a ser debatido hoje no evento, que está sendo promovido pelo Pnud simultaneamente em Nova Delhi (Índia), Cidade do Cabo (África do Sul) e Ghent (Bélgica). O relatório final do programa será apresentado na Convenção Sobre Diversidade Biológica (COP 10), em Nagoya, no Japão, em outubro deste ano.


Para mais informações sobre os casos acesse: www.teebweb.org

Ministério Público ajuíza ações por contratações irregulares em prefeitura paranaense

O DIÁRIO DE MARINGÁ, 10 de setembro de 2010


A 5ª Promotoria de Justiça de Umuarama, com atribuições na área de Proteção ao Patrimônio Público, ajuizou nesta quinta-feira (9) duas ações civis públicas (ACPs), contra o prefeito de Maria Helena, Osmar Trentini e outros agentes públicos daquele município.

Uma das ações visa combater o nepotismo na administração pública municipal. Com base nas previsões da Súmula Vinculante nº 13, do Supremo Tribunal Federal, que condena tal prática, o Ministério Público local requer o afastamento imediato da esposa, filhos e sobrinho do prefeito que ocupam cargos em comissão na Prefeitura. "É de se ressaltar que durante as investigações do caso constatou-se que de dez Secretarias do município, seis eram chefiadas por parentes do Prefeito", afirma o promotor de Justiça Fabio Hideki Nakanishi, que assina a ação junto com os promotores substitutos Wagner Zouian Vargas e Wilza M. Silva Lacerda. O MP-PR pede liminar para que o afastamento ocorra imediatamente, antes do julgamento definitivo da ação. A ACP também pede que não sejam contratados no futuro quaisquer parentes de autoridades públicas, até terceiro grau, em cargos em comissão na Prefeitura.

A outra ação objetiva a condenação do prefeito de Maria Helena e de seu sobrinho, Vagner Trentini, por improbidade administrativa, em função de contratação irregular. Segundo a Promotoria, o sobrinho do prefeito foi nomeado em março de 2008, pelo gestor municipal, para a função gratificada de coordenador do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo, sem a devida contraprestação do serviço. Ele ocupou a função até 25 de janeiro deste ano. A Promotoria pede ainda o bloqueio de bens dos dois requeridos, no valor de até R$ 39.978,53, para garantir, em caso de condenação futura, o ressarcimento dos valores recebidos por Vagner durante os 22 meses em que deveria ter trabalhado.

Alegando nepotismo, a ação também requer o imediato afastamento do esposo da sobrinha do prefeito, Robeson José de Souza, da mesma função gratificada de "controlador interno do Executivo". Em caso de condenação, os requeridos podem sofrer sanções previstas na Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92), como perda do cargo, suspensão dos direitos políticos, multa civil e ressarcimento ao erário.

MP vai investigar funcionamento de telefones públicos de Curitiba

GAZETA DO POVO, 10 de setembro de 2010

Consumidores relataram que cerca de 70% dos orelhões administrados pela Oi na capital paranaense não estariam funcionando


A Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Curitiba instaurou inquérito civil para apurar denúncias de supostas irregularidades envolvendo a operadora de telefonia Oi. De acordo com o Ministério Público do Paraná (MP-PR), consumidores relataram que cerca de 70% dos telefones públicos administrados pela empresa na capital paranaense não estariam funcionando.

Segundo nota divulgada pelo MP-PR, há suspeitas de que a operadora estaria interessada em “prestar o serviço de forma precária mesmo, para ‘obrigar’ os consumidores a fazerem uso de telefone celular em detrimento dos orelhões”. O inquérito foi aberto na última sexta-feira (3) e é conduzido pelos promotores de Justiça Maximiliano Ribeiro Deliberador e Cristina Corso Ruaro.

Em junho deste ano, a reportagem da Gazeta do Povo tentou solicitar o conserto de cinco orelhões no Centro de Curitiba, mas nenhum foi arrumado. Na ocasião, 220 de 458 orelhões testados em sete praças e três ruas com grande circulação de pessoas na capital estavam inutilizáveis. A Oi informou que iria reparar os aparelhos apontados, mas 209 continuavam quebrados uma semana depois.

O MP-PR destaca que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) determina que "as solicitações de reparo de telefone público poderão ser feitas diretamente à concessionária de telefonia. A Anatel exige que 98% delas sejam atendidas em até 8 horas e, em qualquer hipótese, esse prazo nunca poderá ultrapassar 24 horas". A Oi terá 15 dias para se manifestar oficialmente à Promotoria de Justiça.

A assessoria de imprensa da Oi informou que a empresa ainda não foi notificada sobre o assunto e por isso não prestaria maiores esclarecimentos.

Safra de grãos no PR deve passar de 31 milhões de toneladas

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO GOVERNO DO PR, 10 de setembro de 2010

A intensificação da colheita de trigo e a colheita do milho safrinha elevam as expectativas de uma safra cheia em 2010 no Paraná. A pesquisa mensal divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (09), referente ao mês de agosto, aponta que serão colhidas no Estado um volume total de 31,84 milhões de toneladas, a maior produção do País.

No Brasil, segundo o IBGE, a safra nacional de grãos indica uma produção de 148 milhões de toneladas, superior em 10,5% à obtida em 2009 (134 milhões de toneladas), 1,1% maior que a estimativa anterior e também 1,4% superior à safra recorde de 2008, que foi de 146 milhões de toneladas.

Nessa avaliação do IBGE para 2010 o Paraná mantém a liderança na produção nacional de grãos, ultrapassando em 2,4% o Mato Grosso que no ano passado ocupou essa posição, tendo em vista os prejuízos que a safra paranaense de 2009 sofreu devido às adversidades climáticas, como seca no início do ano, geadas em junho e chuvas excessivas no período final das culturas de inverno.

Para o secretário da Agricultura e do Abastecimento, Erikson Camargo Chandoha, a preocupação no Paraná neste momento é a normalização do tempo para o plantio da safra de verão 2010/11, a principal plantada no Estado. Segundo o secretário, existem muitas áreas preparadas aguardando o retorno das chuvas em volume expressivo que permita manter o plantio de milho e o encerramento do plantio de feijão da primeira safra.

Se por um lado a necessidade é manter o plantio da safra de verão, a escassez de chuvas está beneficiando o encerramento da colheita de café e a continuidade da colheita da safra de trigo. Por fim, a preocupação também se estende em relação às pastagens de inverno, que por estarem em final de ciclo, também estão prejudicadas pela falta de chuvas.

Segundo previsões meteorológicas, existe a possibilidade da entrada de uma nova frente fria pelo Sul do Brasil a partir deste sábado (11), a qual poderá modificar o clima com a possibilidade de chuvas na região Sul do País. Em relação ao mercado, os produtores também estão otimistas com possível melhora de preços para o trigo comandada pela reação ocorrida no mercado internacional.

Produção 2010 - A colheita do trigo e do milho safrinha, em andamento no Paraná, está apresentando rendimento elevado e o volume previsto está acima das expectativas preliminares. Segundo o IBGE, a segunda safra de milho é 42,3% maior que a anterior (2009) e a safra de trigo é 25,7% maior em relação ao ano passado.

Conforme a pesquisa mensal do Instituto, o Paraná está colhendo um volume total de 6,37 milhões de toneladas de milho da segunda safra. No mesmo período do ano passado colheu 4,48 milhões toneladas. Com esse volume, o Estado produziu 13,3 milhões de toneladas entre as duas safras (verão e safrinha), se destacando como o maior produtor nacional de milho.

O trigo deve atingir uma produção de 3,12 milhões de toneladas, conforme reavaliação do IBGE. No ano passado, foram colhidos 2,48 milhões de toneladas do grão.

A produção total de feijão no Estado ficou praticamente estável em relação ao ano passado, quando foi colhido um volume de 787.180 toneladas entre as três safras colhidas no Paraná. Este ano a previsão aponta para uma produção de 780 mil toneladas, uma ligeira queda de 1%. A produção de soja, com colheita já encerrada, é de 14 milhões de toneladas.

Planejamento conjunto para diminuir as diferenças

GAZETA DO POVO, 10 de setembro de 2010

Região metropolitana de Curitiba precisa de políticas integradas para melhorar a oferta de transporte e habitação


Na semana passada, Campo Largo foi informada que receberá investimentos de US$ 90 milhões da Caterpillar, líder mundial em máquinas para construção e mineração. A empresa vai fabricar na cidade retroescavadeiras e carregadeiras a partir de 2011 e deverá empregar 900 pessoas. Um pouco mais ao Norte, os comerciantes de Itaperuçu sonham em ter uma agência bancária, porque hoje precisam ir a Rio Branco do Sul ou Almirante Tamandaré para pagar uma conta ou fazer um depósito. A região metropolitana de Curitiba convive com os contrastes – a capital, por exemplo, tem a maior renda per capita do Paraná, com R$ 619,82, e convive com o oposto, a menor renda per capita do estado, de R$ 86, em Doutor Ulysses, segundo o Censo 2000.

Essas diferenças entre cidades próximas e às vezes vizinhas é reflexo da falta de planejamento integrado da região. Curitiba concentra os investimentos, a riqueza, as oportunidades e os confortos de uma grande cidade. Há alguns anos tem repartido um pouco dessa opulência com as cidades coladas, já em conurbação (quando já não existe uma divisão clara entre uma cidade e outra), como São José dos Pinhais, Araucária e Fazenda Rio Grande. Mas também tem exportado para os vizinhos os problemas que enfrenta, como a gestão do lixo e a violência.

Por isso, o futuro de Curitiba e dos municípios do entorno está em conseguir planejar em conjunto as áreas que serão ou não ocupadas e qual a forma dessa ocupação. Só assim o poder público terá condições de evitar o crescimento exagerado de uma parte apenas da região metropolitana. Se isso não for feito, os atuais problemas vão persistir: continuará a existir superlotação e demora das linhas de ônibus, problemas no atendimento de saúde e a ocupação irregular de terrenos, principalmente em áreas de manancial.

Um dos riscos é a possibilidade de faltar água. “O principal conflito se dá entre a expansão urbana e a preservação dos recursos hidrícos. Nos mananciais de abastecimento da região metropolitana de Curitiba registram-se rios do sistema do Iguaçu e Iraí com águas bastante comprometidas”, informa um estudo regional do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

Curitiba e os municípios do entorno concentram quase 30% de toda a população do Paraná, cerca de 3,1 milhões de pessoas. A região metropolitana será a que mais vai crescer nos próximos anos em todo o estado, 17,5% até 2020, com 3,7 milhões de pessoas. Dar condições dignas de moradia, transporte, saúde e educação é o desafio para uma região cheia de contrastes. “Uma maior participação dos poderes municipais e da sociedade civil organizada no processo de definição dos investimentos públicos dará maior noção de quais áreas que não podem ser ocupadas e, juntamente, com políticas sociais e com o crescimento organizado permitirão o desenvolvimento sustentável.” Essa é a receita proposta pelo coordenador da região metropolitana no governo do Paraná, Alcedino Bittencourt Pereira. O problema é fazer isso na prática.

Boom imobiliário - O crescimento da região metropolitana pode ser medido pelo volume de empréstimos imobiliários da Caixa Econômica Federal (CEF), responsável por 80% do mercado. O banco calcula que nesse ano os financiamentos chegarão a R$ 1,9 bilhão, pouco abaixo do valor emprestado durante todo o ano passado: R$ 2,1 bilhões.

E há espaço para um crescimento ainda maior. Basta ver a projeção de aumento de população e a confiança dos empresários do setor da construção civil. O curitibano Ademir Alves, 47 anos, é um deles. Há cinco anos ele tem uma empresa em Colombo e vende casas pré-fabricadas de madeira para famílias das classes C, D e E. Já ergueu cerca de 380 residências. Hoje, tem 36 casas em obras, dando emprego para 40 carpinteiros, e 18 já vendidas. A média de preço é de R$ 20 mil, que podem ser pagos em 60 vezes através de um financiamento da CEF. Ele estima que em cinco anos venderá 120 casas por mês. Atualmente são 30. “O município tem um potencial de crescimento enorme. Se confirmar a projeção, devo precisar de até 80 carpinteiros”, diz Ademir.

O problema dessa expansão é que as estruturas urbanas não acompanham. A maioria das casas vendidas pelo empresário está em um loteamento novo em Colombo, próximo ao terminal de ônibus do Guaraituba. Algumas ruas ainda não têm luz e não há linhas de ônibus no novo bairro. A vantagem é o terreno barato. O caso não é único e se repete em outras cidades da região metropolitana. “As famílias não conseguem se inserir no mercado formal de habitação e tendem a se afastar da capital e ocupar as áreas de preservação de manancial, que são desprovidas de infraestrutura urbana e têm dificuldades de se inserir no transporte coletivo”, comenta Bittencourt.

Integração - Em relação à região metropolitana, o próximo governo do Paraná terá como principal desafio liderar um processo de planejamento integrado, evitando que cada município administre apenas a sua área. A concentração de investimentos em Curitiba atrapalha o desenvolvimento das cidades do entorno. Repartir o conhecimento e a oferta de ensino especializado ajudaria a descentralizar. “Precisamos discutir melhorias no transporte público e sua integração. Outro desafio é a melhoria da infraestrutura dos municípios, principalmente da malha viária”, diz o prefeito de Campo Largo, Edson Basso, presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana (Assomec).

O principal desafio é garantir a mobilidade, segundo o ex-presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) e professor de Arquitetura e Urbanismo Luiz Henrique Fragomeni. “O transporte de massa deveria privilegiar o sistema perimetral de cidades. As pessoas estão morando e trabalhando neste anel metropolitano, formado pelos municípios de Campo Largo, Araucária, Fazenda Rio Grande, São José dos Pinhais e, em menor medida, Pinhais e Colombo”.

Fragomeni defende, por exemplo, um projeto de metrô ou trem para a região metropolitana, integrando-se ao transporte público da capital. “Isso [o trem metropolitano] comandaria o desenvolvimento dessas cidades e desafogaria Curitiba. Precisamos fazer isso logo, porque ainda existe terra barata na região metropolitana”, afirma. “Precisamos de uma companhia metropolitana de transporte, para que não se fale só de um metrô só de Curitiba.”