quarta-feira, 20 de abril de 2011

Em cidade malcuidada o vandalismo prospera

INSTITUTO AME CIDADE, 20 de abril de 2011


Anteontem publicamos aqui no blog um texto sobre uma ação exemplar da Guarda Municipal de Curitiba que, em conjunto com a Polícia Militar, prendeu trinta pichadores e desmobilizou um encontro nacional de pichadores planejado para acontecer na capital do estado.

A população sabe bem os danos que os pichadores causam nas cidades, tanto no patrimônio público quanto nas propriedades particulares, que têm seus muros e à vezes até fachadas sujadas com tinta, muitas vezes depois de uma pintura nova feita após meses de muita economia. As pichações enfeiam nossas cidades e exigem gastos das prefeituras para a reparação do malfeito, com um dinheiro que poderia ser muito melhor aproveitado em áreas essenciais dos serviços públicos.

As prefeituras contam com o respaldo da lei para reprimir os vândalos. Em Curitiba os menores de idade, que compunham dois terços dos presos, só foram soltos com a presença dos pais e pagando multa de R$ 714,20. Os pais também serão responsablizados pelos atos dos filhos. A mesma multa vale para os adultos e todos vão responder pelo crime de pichação, previsto no artigo 65 da Lei de Crimes Ambientais.

Os estragos causados pela pichação e mais os altos custos para consertar o estrago estético não permitem que os que praticam esse crime sejam tratados como meninos travessos. É preciso aplicar a lei com rigor contra a pichação, mas, mais que isso, é preciso prevenir para que o dano não ocorra.

Cornélio Procópio sofre bastante com esse problema. Comentamos aqui sobre os danos causados por pichações até no monumento do Cristo Rei, um local de significado especial para a cidade. Veja acima um panorama do monumento, com seu entorno bastante frequentado, principalmente no fim de semana. Na foto dá para perceber a dimensão da estátua. Da base ao topo, o monumento tem 28,8 metros de altura. Como as pichações são feitas na base feita em pedra, com o tempo existe o risco de um desgaste que pode comprometer a obra.


Falta de manutenção do
patrimônio público e desmazelo
com obras só incentiva os vândalos


Por enquanto, a Prefeitura tem perdido a batalha contra os pichadores. Neste aspecto, aliás, a campanha recente da Prefeitura sobre o tema é de uma infelicidade conceitual que ajuda pouco nesse combate. A idéia central é a seguinte: “Este ano a Prefeitura vai limpar o que o vandalismo sujou”.

Veja ao lado o logotipo da campanha, extraído do site da Prefeitura. Não há nenhuma outra informação no site além desse logotipo, que não abre link para coisa alguma.

O erro começa em não acentuar a necessidade de que a pichação não ocorra, com um conceito de prevenir e evitar o crime da pichação. Ao contrário, o que é claro no conceito da Prefeitura é de que os vândalos sujam e depois ela limpa.

Outro ponto importante no combate à pichação e até em crimes graves como o tráfico de drogas é a manutenção dos espaços públicos em boas condições de uso. Já é uma constatação científica antiga a de que o desmazelo nos ambientes públicos incentiva o vandalismo e outros tipos de crimes. Quando o ambiente é limpo e tem manutenção constante fica mais difícil até jogar um papel no chão.

E neste caso a administração do prefeito Amin Hannouche dá um mau exemplo em todos os sentidos. A manutenção dos espaços públicos em Cornélio Procópio é precária desde o primeiro mandato do prefeito, com um desmazelo que já cria inclusive problemas graves em prédios e locais importantes do município.

O prefeito tem também uma grave dificuldade com as obras a cargo da sua administração, como aconteceu com a construção do Calçadão central, que levou cerca de um ano para ser concluído. Comerciantes e a população sofreram por meses com os atrasos na obra, que teve até problemas trabalhistas, inclusive com o pagamento de salários dos operários feito com cheques sem fundos.

Comerciantes sofreram o diabo e até tiveram prejuízos. A obra atravessou datas importantes para os empresários, como o Dia das Crianças e o Natal, com o centro tomado por poeira ou lama e as lojas cercadas por tapumes mal planejados.

A cidade também está pelo menos dois anos esperando a finalização de obras que atravancam locais importantes de lazer, como nas intermináveis reformas nas praças Botafogo e Brasil.

A dificuldade do prefeito em tocar qualquer obra dentro do prazo e a falta de manutenção dos espaços públicos acabam criando um clima urbano que favorece o vandalismo. O Clube do Povo, outra obra perpetuamente inacabada desta administração, chegou até a virar ponto de tráfico de drogas e prostituição, conforme foi denunciado na Rádio Cornélio, emissora de maior audiência da cidade.

E agora também no monumento do Cristo Rei o prefeito começou um de seus lentos processos que cansam a população, que é o de começar uma obra e não ter um planejamento eficaz para a execução, com uma meta de conclusão razoável. A Prefeitura retirou todo o calçamento em torno da estátua do Cristo e o serviço mantém-se parado, criando uma situação de desconforto num espaço público de uso cotidiano.

Pelo aspecto da obra até agora, já existem indicativos de que pode vir por aí mais uma descaracterização de um local significativo na memória urbana de Cornélio Procópio. E o que o procopense já sente é a dificuldade da falta do passeio antigo para freqüentar um dos pontos mais belos da cidade. Não existe mais a calçada antiga feita em mosaicos e a nova deve demorar, conforme a experiência comprova. Enquanto isso, o procopense terá que transitar entre montes de entulho se quiser desfrutar de mais este lugar especial de sua cidade.