segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Amizades que falam por si

INSTITUTO AME CIDADE, 28 de dezembro de 2009


Diga-me com quem andas e eu te direi quem és. Chega a ser impressionante a reação causada nos setores da situação em relação a associação histórica entre o prefeito Amin Hannouche (PP) e seu grupo com o ex-deputado José Janene, processado no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento no notório escândalo do mensalão.

A ascendência de Janene sobre Amin Hannouche já bem conhecida em toda a região. A novidade para a população é a entrada em cena do deputado estadual Luiz Romanelli (PMDB). Romanelli é líder do governo Requião na Assembléia paranaense, o que fazia crer que, caso ele fosse visto abraçado com Janene a providência mais sensata seria apartar.

Mas não é o que os fatos mostram. Romanelli tem uma ligação fraternal com Janene. Tivemos informação de que o deputado peemedebista até ficou muito bravo com esta informação que agora corre por Cornélio Procópio e região, mas nos baseamos apenas em fatos.

Vamos a eles. Parece coisa de inimigo político, mas foi o próprio deputado Romanelli quem disse que se orgulha de ser comparado a José Janene. E Romanelli fez a afirmação carinhosa em um reduto pepista das comunicações no Paraná, o programa do radialista José Leite, na rádio Graúna.

Vamos à fala do radialista em um programa de junho deste ano, transcrita literalmente: “O Romanelli, ontem dando uma entrevista pra nós aqui, o Romanelli disse o seguinte, que um dos orgulhos que ele tem, é quando ele chega nas cidades e o comparam ao Janene: olha, ser comparado como o Janene, Zé Leite, pra mim é uma honra”.

O mais interessante é que a revelação de José Leite foi feita no meio de uma conversa amigável entre ele, o próprio Janene e o prefeito Amin Hannouche. Estavam tão em casa que chegaram a dizer até que Janene estava "mais bonito". Para falar bem do ex-deputado federal, o radialista usou como exemplo a suposta visita de um suposto candidato a deputado, sem dar o nome, que teria buscado seu apoio. José Leite garantiu que não deu o apoio porque o candidato disse que não faria assistencialismo − que o radialista chama erradamente de “área social”, mas que consistiria, segundo ele mesmo, em dar cadeiras de roda para necessitados em seu programa de rádio.

No mesmo programa de rádio, Janene fez questão de retribuir os elogios feitos por Romanelli. Vamos transcrever novamente de forma literal: “Quero aproveitar aqui também para deixar um abraço muito forte ao Romanelli, porque o Romanelli é um grande amigo. Ele faz as coisas do fundo do coração. Sempre me dei muito bem com o Romanelli. O Romanelli sempre foi uma pessoa muito prestativa. Tanto quanto (sic) foi deputado, que é deputado hoje, tanto quanto (sic) exerceu cargo público, especialmente na área da Habitação”.

Fatos que também falam por si

INSTITUTO AME CIDADE, 28 de dezembro de 2009


O Instituto Ame Cidade vem lembrando esta parceria histórica do prefeito e seu grupo com Janene até porque seu partido, o Partido Progressista, o PP de Paulo Maluf, assina a autoria de um ataque à transparência e ao Legislativo procopense na forma do pedido de cassação do mandato da vereadora Aurora Fumie Doi, apenas porque ela pediu transparência política aos colegas vereadores.

O PP tem uma boa porção de seus dirigentes nacionais acusados de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, envolvidos no caso de mensalão. São políticos acusados de receber dinheiro para votar a favor do governo. Na época do escândalo, o presidente nacional do PP, Pedro Corrêa, foi cassado por falta de decoro.

O chefe pepista José Janene também é um dos processados no STF. Responde pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Sua ascendência política sobre o prefeito Amin Hannouche é bem conhecida. São fatos políticos sobre os quais o Instituto Ame Cidade não coloca nenhum adjetivo, sendo esta, aliás, uma condição política essencial do nosso trabalho e que os procopenses conhecem bem: acreditamos que, como acontece na vida, na política também a realidade fala por cima si, sem a necessidade a manipulação ou a desqualificação de quem quer que seja.

Agimos exatamente de forma contrária ao que fazem certos políticos que imprimiram e fizeram distribuir nos últimos dias por toda Cornélio Procópio jornais com cara de apócrifos atacando pessoas da oposição e também este Instituto Ame Cidade. De cunho eleitoreiro bem agressivo, felizmente acabaram sendo repudiados por toda a população. São tentativas de desqualificação que obviamente não foram assumidas, mas cujo estilo grosseiro não disfarça a assinatura oculta.

As companhias permitem mesmo identificar o caráter de uma pessoa. O que fazemos é cumprir nosso papel ético de informar a população sobre as influências que a cidade pode sofrer com certo tipo de aliança política pouco transparente e que, pelas reações surgidas, parecm causar certa vergonha.

Mas fatos são fatos. Ainda mais quando eles esclarecem seu próprio funcionamento e objetivo.

Governabilidade que dá em prejuízo

INSTITUTO AME CIDADE, 28 de dezembro de 2009

Ainda sobre a frase “Diga-me com quem anda e te direi quem és”, o antigo ditado ajuda bastante a entender o que acontece atualmente na política brasileira. Basta dar uma olhada na Europa e nos Estados Unidos, para notar que o que se faz no Brasil é bem diferente. E uma diferença pra pior. Não se viu o Partido Republicano aderir de imediato ao governo depois do democrata Barack Obama ser eleito. Da mesma forma, na França ou em qualquer outro país europeu não se vê os partidos fazendo alianças apoiadas em interesses pessoais de suas lideranças.

Neste lugares, depois das eleições os partidos mantêm a fidelidade a seus programas e respeitam a posição de seus eleitores depositada nas urnas.

No Brasil, o comportamento político é outro e começa até antes da abertura final das urnas. Aqui, as regras permitem aderir ao mais forte ainda durante o segundo turno. E depois de definido o vencedor, a maioria dos políticos junta-se ao vitorioso. É claro que esta política agrega em primeiro lugar o que há de pior na política e depois cria uma cultura que desmobiliza a sociedade civil e combate qualquer idéia que não sirva expressamente aos interesses em torno do poder.

A desculpa esfarrapadíssima, tanto do lado do poder quantos dos que grudam no governo é a de garantir a “governabilidade”.

Esta “governabilidade”, no entanto, se dá em prejuízo dos compromissos com o eleitor. E quase sempre também a transparência e a ética acabam sendo atropeladas, pois o método elimina as funções básicas do Legislativo: fiscalizar e fazer leis.

Neste caso, observar o que ocorre nos países desenvolvidos também ajuda a entender nossos problemas. Os Estados Unidos e os países modernos da Europa sempre tiveram partidos com posições políticas bem definidas. São países onde oposição e governo não abolem idéias próprias apenas para garantir poder.

E é claro que não há dúvida de que isso é um elemento forte para que estes países estejam sempre na frente do Brasil em todos os índices sociais. É uma verdade científica de que sem o conflito de idéias não existe criação. E que sem discussão clara e democrática não se chega à qualidade técnica.

Isto se dá em qualquer situação e não é uma questão apenas pública, pois atinge também a iniciativa privada. Imaginem uma empresa onde é feito apenas o que o chefe manda, sem respeito aos empregados e sem dar importância à opinião do cliente. O resultado será, sem dúvida, a falta de empenho dos funcionários e a falta de idéias novas. Com isso a tendência é de sempre piorar a qualidade do serviço. Não precisa ser economista para saber que esta empresa irá sempre mal, podendo até falir. Tanto na iniciativa privada quando na gestão pública é importante saber ouvir e atender também as críticas, pois muitas vezes só com os problemas devidamente apontados é que se pode avançar.

E nas cidades a situação pode até ficar pior quando o personalismo se coloca acima da opinião pública. Cornélio Procópio sofre hoje com este problema, pois convive nos últimos meses com obras que não andam e que podem ainda dar muitos problemas mesmo depois de concluídas, pois começaram de forma errada e sem um bom planejamento, o que força a Prefeitura a tocar as obras com pressa e descuidando da qualidade. O estado geral da cidade é o de demolição, com praças quebradas à espera da reforma e um calçadão central que já apresenta defeitos antes de ser inaugurado.

A qualidade técnica nasce da transparência, do conflito de idéias, da discussão democrática. Um governo que passa por cima da opinião pública e desrespeita a sociedade civil acaba fazendo uma administração de má-qualidade.

Esta é uma forma de fazer política que afasta os melhores cidadãos e beneficia somente quem nada tem a ver com o respeito às coisas públicas e ao bem comum.

Na verdade, o objetivo destas atitudes que forçam a cidade às más companhias não é de governabilidade alguma, pois o melhor governo se faz é com transparência e abertura à população. A verdadeira intenção desta politica é desmontar outro velho adágio, que está na raiz da democracia ocidental. É a frase de Abraham Lincoln, a que consagra o governo “do povo, pelo povo e para o povo”. Com a lorota de ampliar alianças para garantir governabilidade, na verdade destrói-se a transparência, a ética e a discussão crítica, sem os quais a administração pública no Brasil piora cada vez mais.