quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

De volta oficialmente os chefes do mensalão

INSTITUTO AME CIDADE, 28 janeiro de 2010

Entramos em um ano político de extrema importância, quando teremos, além da eleição presidencial, a renovação da Câmara Federal e de parte do Senado brasileiro. Pois exatamente neste período tão especial, quando os partidos políticos deveriam estimular o apreço pela política e o envolvimento cívico dos brasileiros, o PT anuncia que voltam à direção do partido seus membros envolvidos com o mensalão, o escandaloso esquema de compra de votos de parlamentares no Congresso Nacional. Veja abaixo a notícia completa.

O PT oficializou a medida no último sábado. José Dirceu, João Paulo Cunha e José Genoíno irão compor o novo Diretório Nacional. A justificativa do presidente do partido, José Eduardo Dutra, para a volta dos mensaleiros parece até ironia. “Não tem sentido prescindir da experiência desses companheiros num momento tão importante como este”, ele disse, referindo-se à pré-campanha da ministra Dilma Rousseff à presidência da República.

Também na campanha de Dilma, o setor responsável pela arrecadação e gestão dos recursos será composto pelo grupo que comandou a reeleição de Lula em 2006 e de onde surgiram os “aloprados”, apelido dado pelo próprio Lula a seus companheiros encarregados da compra de um dossiê contra seu então adversário José Serra. Este foi outro escândalo que envolveu o PT e que está inscrito na história política brasileira como uma grande sujeira eleitoral.

José Dirceu, que acabou sendo cassado por falta de decoro, e José Genoíno, que teve que renunciar à presidência do PT, são acusados pelo Ministério Público de compor o “núcleo principal da quadrilha” do mensalão. O escândalo gerou a maior crise dos dois mandatos de Lula. Seu círculo mais próximo de colaboradores chegou até a cogitar de sua renúncia ao cargo de presidente da República.

Na denúncia do Procurador-Geral da República, Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, que tornou réus no Supremo Tribunal Federal (STF) os três dirigentes do PT, a experiência deles é definida como criminosa. Segundo o procurador, José Dirceu, que integrava o governo Lula e a cúpula do PT, foi o principal articulador da engrenagem criminosa do mensalão, pois detinha a decisão final sobre a indicação de cargos e funções estratégicas na administração federal, o que garantia a “habitualidade e o sucesso” do esquema.

“Dirceu inegavelmente era a segunda pessoa mais poderosa do Estado brasileiro, estando abaixo apenas do Presidente da República”, escreveu o procurador. Os colegas do então deputado levaram à sério a denúncia do Ministério Público e cassaram o mandato do líder petista por falta de decoro. Na denúncia da Procuradoria-Geral da República, que está para ser julgada no STF, Dirceu é apontado como chefe da quadrilha do mensalão.

PT resgata seus mensaleiros em novo Diretório Nacional

FOLHA DE S. PAULO, 24 de janeiro de 2010

O PT oficializou ontem (23) a volta de nomes envolvidos no escândalo do mensalão à direção do partido. Conforme indicação da corrente majoritária da legenda, a CNB (Construindo um Novo Brasil), José Dirceu, João Paulo Cunha e José Genoino irão compor o novo Diretório Nacional, que tomará posse no mês que vem.

A campanha da candidata do partido à Presidência, ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), promoverá outra reedição: a do grupo de sindicalistas bancários que originou os "aloprados" e desempenhará funções estratégicas, como a centralização da captação de recursos.

"Não tem sentido prescindir da experiência desses companheiros num momento tão importante como este [pré-campanha da ministra Dilma Rousseff à Presidência]", disse o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra (SE), à frente da CNB. As indicações foram aclamadas em plenário no congresso da chapa que venceu as eleições em novembro de 2009.

Outras duas correntes, Novo Rumo e PT de Lutas e de Massas, participaram do evento, em São Roque (SP), e apoiaram as indicações da CNB. Dirceu, Genoino e João Paulo foram afastados das instâncias partidárias no final de 2005, ano em que o caso do mensalão veio à tona.

Dirceu, ex-ministro da Casa Civil que deixou o cargo no ápice do escândalo, e os deputados federais Genoino e João Paulo são réus no processo do Supremo Tribunal Federal que julgará o mensalão --transferência de verbas supostamente públicas para congressistas da base aliada ao presidente Lula no Congresso. Eles negam a participação no esquema.

"Primeiro, para mim, não existe esse termo, mensaleiros. Depois, é um orgulho fazer parte da chapa ao lado de Dirceu, Genoino e João Paulo", disse Dutra. Na próxima terça, as três correntes, que formaram uma só chapa, apresentarão ao atual comando do partido seus 45 indicados ao Diretório Nacional.

Nem as demais correntes nem o atual comando têm direito de vetar as indicações se os militantes estiverem em dia com suas obrigações estatutárias. Assim, é praticamente certo que Dirceu, Genoino e João Paulo terão direito a voto entre os 81 membros do Diretório.

Serão apresentados também os nomes do deputado federal José Nobre Guimarães (CE), que teve um ex-assessor detido com US$ 100 mil na cueca em 2005, e de Mônica Valente, mulher do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, pivô do mensalão e hoje afastado do partido.

Dilma
Já na campanha de Dilma, o núcleo responsável pela arrecadação e gestão dos recursos será formado por petistas egressos do sindicalismo bancário. Foi esse o grupo que comandou a reeleição de Lula em 2006 e originou os chamados "aloprados" --encarregados da compra de um dossiê contra José Serra, então postulante ao governo paulista e provável adversário da ministra agora.

Saíram do sindicalismo bancário os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e José Pimentel (Previdência), os presidentes dos dois maiores fundos de pensão do país, Sérgio Rosa (Previ) e Wagner Oliveira (Petros), o atual presidente do PT, Ricardo Berzoini, e o provável tesoureiro da sigla, João Vaccari Neto, entre outros.

Berzoini coordenou a reeleição de Lula até ser afastado, após o escândalo dos "aloprados". Jorge Lorenzetti, o "centralizador" da negociação do material em favor da campanha do então candidato Aloizio Mercadante, reportava-se ao atual presidente do PT.

Berzoini e Vaccari, também investigado pela Polícia Federal no inquérito dos "aloprados", terão papel fundamental na campanha de Dilma.

No mês que vem, Berzoini será substituído por Dutra na presidência do PT. Não deve integrar a coordenação central da campanha, mas será um dos articuladores em São Paulo, por onde tentará se reeleger deputado federal. Além disso, deve conseguir emplacar Vaccari como novo tesoureiro do PT.

Dutra e Berzoini ressaltam que Vaccari não necessariamente será o responsável pelas finanças da campanha. "Ele vai administrar o dinheiro do partido e aplicá-lo de acordo com as orientações. E estará em contato com o comitê financeiro de campanha", disse Dutra.

Hoje, é quase impossível separar a conta eleitoral dos recursos do partido, pois os empresários priorizam as contribuições às siglas, o que impede a identificação de beneficiários.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Comentando, Anônimo disse...

Muito feliz o comentário anterior que mostra claramente que o Instituto Ame Cidade não possui vínculo politico com pessoas ligadas a política local (embora possua pessoas ligadas a grupo politico como filiados ), como afirmam as pessoas a quem o Instituto causa incômodo no momento por denunciar atos corruptos na administração publica.

Os membros do Instituto Ame Cidade são chamados de derrotados politicos, enquanto na verdade são defensores dos direitos dos cidadãos, principalmente aqueles mais carentes, os quais são enganados diariamente com falsas promessas e mentiras, pelos atuais administradores do patrimônio publíco.

E com certeza o Instituto continuará fazendo seu trabalho em prol da comunidade no futuro, independentemente de quem for o próxímo prefeito e vereadores.

O que queremos para o nosso povo é dignidade e respeito, coisa que há muito tempo está em falta no nosso municipio.

Uma pena o Instituto Ame Cidade não existir há pelo menos vinte anos, assim teríamos uma cidade bem melhor com certeza.

E não se esqueçam que os senhores José Leite e Luiz Carlos Amâncio [presidente do PP, partido conhecido pelo envolvimento no mensalão, e que assina o pedido de cassação da vereadora Aurora Fumie Doi, sempre foram e ainda são, os verdadeiros cabos eleitorais do ex-deputado José Janene.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Que o Haiti não seja aqui

INSTITUTO AME CIDADE, 18 de janeiro de 2010


A devastação causada pelo terremoto no Haiti mostrou ao mundo cenas de um país em colapso. O Haiti é o país mais pobre do mundo. Em qualquer índice social ou econômico está sempre em último lugar. Atingido por um desastre natural, o país não tem capacidade alguma de reação porque antes desta tragédia provocada pela natureza vem sofrendo por muitos anos de outras violências, como a falta de democracia e a corrupção, de responsabilidade de seus governantes e de países estrangeiros que tomaram as riquezas haitianas até o esgotamento.

Mais da metade da população vive com apenas 1 dólar por dia. Evidentemente este é um número estatístico, pois a maioria dos haitianos não deve por a mão em dinheiro algum, vivendo de trocas, ganhando alimentos ou bens materais por pequenos trabalhos. Ou fazendo coisas piores.

Já faltava tudo no Haiti antes deste terremoto. Saneamento, água potável, comida, casa, luz elétrica, telefone, hospitais, segurança, educação, qualquer traço do que pode se chamar de conforto urbano sempre foi um luxo para os haitianos. As dificuldades enfrentadas após o terremoto vêm desta situação anterior, pois se antes já não havia acesso algum a qualquer tratamento de saúde, com a destruição trazida pela natureza as coisas pioraram ainda mais.

A origem do problema haitiano vem de uma questão que hoje em dia causa preocupação até entre nós: a corrupção. O Haiti é um país destruído pela corrupção. Para a organização Transparência Internacional é o país mais corrupto do mundo. As instituições de Estado foram destruídas ou impedidas de florescer por governos sucessivos que oprimem o povo haitiano desde a década de 1940.

Governos centralizadores, falta total de transparência e convívio democrático, na origem do drama haitiano está a destruição de qualquer manifestação da sociedade civil. Ditaduras sanguinárias, como a de Papa Doc, dominaram o país durante toda a segunda metade do século 20, impedindo o estabelecimento de qualquer tecnologia ou serviço.

No Haiti, a exemplo do que certos governantes fazem em municípios brasileiros, a política de governo foi a de impedir a transparência e destruir qualquer manifestação da opinião pública. Com isso e a instalação da corrupção, o país perdeu todo vigor social.

A corrupção instalada no poder levou o Haiti a uma situação que deve ser objeto de muita reflexão de nós, brasileiros, que vemos o mesmo problema ocorrendo atualmente na administração pública. Nosso país ainda tem um suporte econômico e social considerável, mas aqui também já há algum tempo a corrupção vem minando nossas instituições e desviando recursos públicos que começam a fazer falta para a população carente de serviços de saúde, educação, moradia e outros direitos.

Se este procedimento prevalecer no Brasil, a situação pode ficar parecida com a famosa canção: aí então, o Haiti será aqui. Vários municípios paranaenses estão em situação de miséria em boa parte porque instalou-se de tal forma a corrupção que até a verba do Fundo de Participação dos Municípios acaba indo para o bolso de particulares. Isso quando não é usada para manter oligarquias eternas no poder.

O problema é que a corrupção faz bem mais do que transferir o dinheiro público para o bolso de governantes corruptos. A falta de ética vai criando uma cultura que no médio prazo pode arruinar todos os serviços de qualquer município e também acaba impedindo que o orçamento da prefeitura reverta em aumento de qualidade tecnológica no setor privado, aprimoramento profissional e a instalação de uma cultura administrativa que amplie a qualidade em todas as áreas.

Onde falta a ética também desaparece a qualidade política e técnica

INSTITUTO AME CIDADE, 18 de janeiro de 2010

A corrupção acaba sendo determinante em nossos municípios no pior sentido. Cada vez mais se sente que a queda de qualidade dos serviços públicos aproxima-se de um abismo que faz das cidades brasileiras lugares cada vez mais difíceis de se morar.

É que o orçamento de uma prefeitura tem sempre um grande peso na economia local. Quando falta a ética, instala-se a cultura da corrupção. Com a cultura da corrupção vai-se direcionando o dinheiro público para o aumento de fortunas particulares e privilegiando empresas privadas montadas apenas para ganhar as licitações e se apossar das verbas. Fazer o serviço é sempre o de menos, mesmo porque este tipo de empresa não tem tal capacidade.

Instalada a cultura da corrupção fica impossível surgir nos municípios empresas prestadoras de serviços de qualidade. Como a administração pública passa a ser um jogo de cartas marcadas em que se ganha não pelo serviço em si, mas pelo que se pode oferecer de facilidade para o roubo dos cofres públicos, os empresários honestos e competentes são imediatamente eliminados do processo. Empresas de qualidade também evitam se instalar nestas cidades.

Dessa forma, do mesmo modo que a corrupção afasta da política as pessoas de bem deixando espaço para construção das carreiras de políticos medíocres, também empresários e profissionais de qualidade deixam de prestar serviços para a administração pública.

A corrupção não deixa espaço para a iniciativa privada de qualidade. Por isso o empresário honesto deixa de participar do setor de serviços públicos. E nossa administração pública vai gradativamente perdendo qualidade e sendo ocupada por empresas que na verdade não tem capacidade tecnológica alguma para prestar os serviços contratados.

Baixa qualidade é sentida quando mais se precisa do Estado

INSTITUTO AME CIDADE, 18 de janeiro de 2010

Em tragédias naturais de peso bem menor que o terremoto haitiano os municípios brasileiros vem mostrando uma dificuldade imensa de reação. Os recentes deslizamentos de terra no Rio de Janeiro mostram isso de forma comprovada até pelo fato de as dezenas mortes trazerem a revelação de que municípios e o governo do Estado já vinham facilitando a ocupação de áreas perigosas.

Em Santa Catarina, por exemplo, donativos enviados para vítima de enchentes no ano passado foram desviados para pessoas que deles não tinham necessidade ou acabaram sofrendo deterioração. Toneladas deles se perderam. Isso é fruto da falta de ética, já que princípios básicos como o respeito ao próximo e o trabalho bem feito acabam sendo abandonados.

A verdade é que também no Brasil a corrupção já começa a criar na administração pública uma incapacidade de zelar até para a manutenção de serviços básicos e dos bens públicos. A falta de ética acaba resultando em dificuldades administrativas graves. Basta sair para um passeio em várias cidades e ver o estado do asfalto nas áreas urbanas.

O total abandono de muitas áreas urbanas também pode ser visto como resultado dessas dificuldades que em parte é resultado direto do desvio de verbas, mas também pela instalação no poder de gente sem capacidade política e profissional para administrar qualquer coisa.

É claro que o nosso drama ainda está longe do vivido pelo Haiti, ainda mais que para felicidade dos brasileiros os terremotos passam longe daqui. Mas a tragédia haitiana é um bom momento para pensar sobre o problema da corrupção em nosso país, que vai minando gradativamente e em variadas escalas a qualidade da administração pública.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Zilda Arns: Viveu como santa, morreu como mártir

REVISTA VEJA, semana de 20 de janeiro de 2010


Nascer mulher em Forquilhinha, Santa Catarina, nas primeiras décadas do século passado significava ser, no futuro, professora ou religiosa. Zilda Arns, 13ª filha de uma família descendente de alemães, contrariou esse destino por amor. Aos 21 anos de idade, apaixonou-se pelo futuro marido, o então marceneiro Aloysio Neumann, que, chamado para um conserto na casa dos Arns, encantou-se com a jovem que viu na sala tocando piano. Foi também em nome de outra forma de amor, aquele mais sublime que se devota ao próximo, que Zilda enfrentou a resistência paterna e insistiu em estudar medicina, num tempo em que ser doutor era coisa de homem. O apoio do irmão, o hoje arcebispo emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, foi fundamental para dobrar a família. "Ele havia estudado na Sorbonne e convenceu o pai de que estavam começando a formar mulheres médicas lá fora", conta Rogerio Arns Neumann, de 39 anos, um dos seis filhos que Zilda teve com Neumann, morto em um acidente no mar aos 46 anos de idade. Desde que alterou o curso do próprio destino, Zilda Arns não parou mais de mudar o dos outros, a começar por aqueles que a miséria e a ignorância haviam fadado a ter curta duração.

Nos anos 80, por sugestão de dom Paulo, a pediatra e sanitarista aceitou formular um projeto para disseminar o uso do recém-criado soro caseiro, aproveitando a imensa influência da Igreja Católica entre os pobres, e com isso combater o flagelo da mortalidade infantil. Assim nasceu a Pastoral da Criança, um projeto tão singelo na sua concepção quanto na execução. Consistia em identificar, nas paróquias e comunidades católicas, lideranças que treinariam voluntárias para ensinar mães pobres a adotar o soro. Essa e outras medidas igualmente simples ajudariam a evitar que seus filhos morressem de diarreia, desidratação, contaminação e outros males fáceis de vencer com quase nada de dinheiro e um pouco de informação. O local escolhido para iniciar o trabalho foi a pequena Florestópolis, no Paraná.

LEIA MAIS AQUI

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O exemplo do trabalho ético de Zilda Arns

INSTITUTO AME CIDADE, 14 de janeiro de 2010

O ano começa com um acontecimento muito ruim, o terremoto que atingiu o Haiti. O país é o mais pobre do Ocidente. Acumula impressionantes índices de miséria e acabou sendo atingido também por um desastre natural de grande proporção.

Além da morte de vários brasileiros que estavam em missão oficial no país, o Brasil perdeu Zilda Arns, mulher de uma capacidade de trabalho admirável e um símbolo ético brasileiro.

A fundadora da Pastoral da Criança estava no Haiti para participar da Conferência Nacional dos Religiosos do Caribe. Estava como sempre trabalhando com seriedade pelos mais pobres, exercendo a solidariedade humana com integridade. Este é o grande exemplo que ela deixa para nós, brasileiros.

O Brasil é um país de enormes desigualdades, o que faz da assistência social uma necessidade indispensável para milhões de brasileiros pressionados até pela falta de ter o que comer. Esta carência social infelizmente é utilizada por muitos políticos de forma demagógica como instrumento eleitoreiro para alavancar suas carreiras e interesses pessoais.

Com seu trabalho na Pastoral da Criança, Zilda Arns mostrou entre outras coisas que a ajuda aos mais pobres pode ser feita de forma ética, sem fazer uso político da condição desprotegida dos necessitados. Este é um legado de Zilda Arns, que antes de viajar para o Haiti enviou uma carta aos líderes das Pastorais. No texto está presente seu espírito humanitário e dedicação ao trabalho, como a preocupação de encaminhar bem a assistência às mães que começa este ano.

"No mês que vem [janeiro] tem mutirão em busca das gestantes. Comece desde já a organizar o mutirão em sua comunidade. Fique sempre de olho nas novas gestantes. Seu apoio é muito importante para que elas tenham uma gravidez saudável e feliz", ela diz em um trecho da carta escrita no final do ano passado.

Noutro ponto, ela demonstra sua felicidade pelo fato do belo trabalho da Pastoral começar a fincar bases em países como o Haiti: "Neste mês estarei visitando um país onde há muita violência. Vou participar da Assembleia dos Religiosos do Haiti e tenho esperança que eles ajudem na expansão da Pastoral em todo o país. Veja como a Pastoral da Criança está crescendo e fincando suas bases em outros países! Já estamos em 20 países. Com a sua ajuda e a grandeza de Deus, a Pastoral da Criança ajuda a construir um mundo mais justo".

A palestra que ela preparou para apresentar no Haiti também tem importantes lições de vida, por isso publicamos na íntegra em nosso arquivo. Existem informação de que ela estava dando esta palestra quando ocorreu o desabamento que provocou sua morte. Um trecho nos toca especialmente, pois expressa com clareza como atuar tendo por base o sentimento do amor, este verbo essencial da nossa língua e que deveria estar presente no cotidiano dos brasileiros.

“Como discípulos e missionários, convidados a evangelizar, sabemos que força propulsora da transformação social está na prática do maior de todos os mandamentos da Lei de Deus: o amor, expressado na solidariedade fraterna, capaz de mover montanhas: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos” significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça; significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos em favor da vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para alcançar os objetivos, servir com humildade e misericórdia, sem perder a própria identidade. Todo esse caminho necessita de comunicação constante para iluminar, animar, fortalecer e democratizar nossa missão de fé e vida.”

Zilda Arns é uma dessas personalidades que a morte não faz desaparecer. Para ler a íntegra de sua última palestra, clique aqui.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sem liberdade de expressão e transparência a corrupção acaba prevalecendo

INSTITUTO AME CIDADE, 7 de janeiro de 2010

Em Maringá, a vereadora Marly Martin (DEM) teve julgada como improcedente uma ação sua movida contra o colega John Alves Correa (PMDB), jornalistas e órgãos da imprensa. A ação é de novembro de 2006. A decisão da Justiça de Maringá também condena a vereadora a pagar a seu ex-assessor, Maurício Lopes, igualmente acusado no processo feito por ela, uma indenização equivalente a cem salários mínimos, o que representa R$ 51 mil em valores atualizados.

Os outros acusados deverão receber indenização de R$ 2 mil cada. A vereadora ainda foi condenada a pagar as custas e despesas processuais, além de honorários advocatícios arbitrados em 15% do valor da condenação. O advogado de defesa é seu marido, Wanderlei Rodrigues. Ele disse que vai recorrer da sentença ao Tribunal de Justiça do Paraná.

A ação de Marly Martin refere-se a uma denúncia de que ela se apropriava de parte dos vencimentos de seus assessores parlamentares. O jornal O Diário de Maringá explica o caso assim: “Na decisão, emitida em dezembro passado, o juiz Alberto Marques dos Santos, da 4ª Vara Cível de Maringá, afirmou que a vereadora não provou as acusações contra os réus. John era acusado de ter elaborado uma carta anônima denunciando que Marly se apropriava de parte dos vencimentos de seus assessores parlamentares. Contra a imprensa maringaense, Marly dizia que jornais e programas de televisão deram divulgação às afirmações de John com o intuito de prejudicá-la. A vereadora acusou a imprensa por injúria, calúnia e difamação”.

Deixemos de lado qualquer juízo de valor sobre o caso que envolve Marly Martin, mas a decisão do juiz Alberto Marques dos Santos, da 4ª Vara Cível de Maringá, é muito importante porque fixa de maneira clara o respeito à liberdade de expressão e até o dever de informar sobre denúncias de desvios éticos.

O criminoso de colarinho branco é evidentemente, na maioria dos casos, muito mais ladino que um criminoso comum. Também conta com assessoria mais experimentada. Além disso, se prevalece do fato de sua ilegalidade transitar no plano político, uma situação que pode ser usada para aparentar menor gravidade.

Isto não é verdade, é claro, pois apropriar-se do dinheiro público é, na maioria das vezes, mais danoso que qualquer roubo comum. O dinheiro ilícito que vai para o bolso do político acaba faltando nas creches, na saúde, na educação, e tantos outros serviços, alguns até vitais para a população. Mas quando dá certo a artimanha de desqualificar politicamente a denúncia ou o denunciante, muito corrupto acaba passando por vítima de inimigos políticos e se livra de punição.

Uma das argumentações correntes de acusados de roubo do dinheiro público é a de que, como não existem provas, nada deveria ser noticiado sobre o assunto. A argumentação nada mais é que um artifício para evitar qualquer debate sobre ética e transparência. Provas só podem aparecer mediante investigação. E isso não é função de qualquer cidadão. Seu dever ético é não fechar os olhos para irregularidades. Promover investigação e buscar provas é função de várias instituições e um dever do Legislativo.

Se fossemos por este raciocínio de esperar provas para debater supostas irregularidades, até hoje a imprensa brasileira não poderia ter noticiado muitas denúncias de corrupção, como é o caso do mensalão, o esquema de compra de votos de parlamentares no Congresso Nacional. Visto desse modo, seria necessário esperar a decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF), aliás a única instância que pode julgar grande parte dos acusados.

Casos de corrupção de projeção internacional só foram adiante devido ao respeito a liberdade de expressão. Não é possível estabelecer ética sem a transparência. E transparência só possível existir havendo iberdade de expressão.

O famoso caso Watergate, por exemplo, ocorrido nos Estados Unidos na década de 1970 e que terminou com a renúncia do presidente Richard Nixon (1913-19940) para evitar o impeachment, começou como uma simples denúncia de arrombamento no edifício Watergate, sede do partido Democrata. Bob Woodward e Carl Bernstein, repórteres do jornal Washington Post, tanto vasculharam que acabaram revelando os aspectos políticos do que à princípio parecia ser um crime comum.

Isso resultou na renúncia à Presidência de um dos maiores canalhas da história dos Estados Unidos. Para isso foi essencial o respeito à liberdade de expressão, que é muito forte nos Estados Unidos. Se não fosse isso, um patife estaria até hoje sendo lembrado com respeito na história dos Estados Unidos.

Falando nisso, o ex-presidente Collor jamais foi condenado. E ninguém apostaria em sua inocência nem um aparelho de som usado.

O argumento de que a discussão ética depende antecipadamente de provas é vazio. Desse modo nenhum cidadão poderia fazer qualquer denúncia, mesmo em assuntos mais simples da administração pública.

Provas costumam ser colhidas no decorrer de uma investigação, algo que é impossível de começar sem uma prévia denúncia. A menos que o meliante seja pego em flagrante, algo bem difícil de acontecer na corrupção política até pela natureza do crime, não há como desvendar o roubo aos cofres públicos sem que haja uma denúncia.

E neste caso é de suma importância o papel do Legislativo. Senadores, deputados federais e estaduais, vereadores, todos eles tëm de ter assegurado a plena liberdade de expressão. Este é um direito básico do parlamentar. Com o parlamentar impedido de emitir livremente sua opinião o Legislativo deixa de ter função.

O raciocínio vale também para a imprensa. Sem liberdade de expressão, teríamos uma volta ao tempo da ditadura, quando denúncia alguma podia ser publicada.

Um país desse jeito, sem nenhuma discussão ética na imprensa e no qual até parlamentares estariam impedidos de comentar qualquer denúncia contra colegas, bem, este é o país dos sonhos de qualquer corrupto. Nele, a ética e a transparência estariam de vez anuladas.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Novo ano em Cornélio Procópio começa com obras atrasadas ou totalmente paradas


INSTITUTO AME CIDADE, 4 de janeiro de 2010

O prefeito Amin Hannouche (PP) adentra o ano de 2010 com bastante serviço atrasado. São várias obras iniciadas no ano passado e que estão sendo tocadas de forma muito lenta e atrapalhada, causando bastante preocupação entre a população não só pelos prazos que não se cumprem, mas também pelo estado em que essas construções serão entregues.

Os procopenses temem que a necessidade de acelerar o serviço acabe prejudicando a qualidade e a segurança desses bens públicos. As dificuldades de execução mostram falhas graves de planejamento e por isso um dos temores da população é que mesmo depois de concluídas essas obras apresentem falhas que exijam mais investimento.

O novo Calçadão, situado em um setor comercial da cidade, simboliza bem a dificuldade demonstrada pela prefeitura na concepção e administração de suas obras. Os trabalhos começaram em agosto, tomando quase metade do ano e tornando difícil para comerciantes e pedestres principalmente o último trimestre de 2009. Em alguns dias as obras ficaram totalmente paradas.

O comércio da região chegou a sofrer prejuízo, com alguns comerciantes avaliando as perdas em até 30%. Quando as obras ainda não haviam sido iniciadas, algumas pessoas já alertavam o prefeito Amin Hannouche sobre o risco em iniciar obras em data tão próxima do Natal, época vital para o comércio. Mas é claro que ele não deu atenção.

Mais adiante, em outubro, com a morosidade das obras já causando queda nas vendas e temendo que os problemas não terminassem antes do Natal, comerciantes e o Sindicato do Comércio Varejista procuraram a Prefeitura, onde foram recebidos pelo secretário municipal da Indústria e Comércio, Iran de Resende. Mas também nada foi resolvido.

Enquanto a cidade vivia este clima de dificuldades e preocupações, o prefeito Amin Hannouche estava em viagem ao Oriente Médio, de carona na caravana do prefeito curitibano Beto Richa (PSDB).

Na origem dos transtornos com tantas obras atrasadas evidentemente estão graves dificuldades de gestão, incapacidade que é ainda mais estranha em um prefeito reeleito. Mas boa parte dessas adversidades vem também do perfil autoritário e centralizador do prefeito. E o pior é que este traço parece ter contaminado seus colaboradores, como funcionários nomeados e secretários, que demonstram uma grande dificuldade de diálogo com a sociedade civil. Mesmo quando recebem os cidadãos, como no encontro entre os comerciantes e Iran de Resende, as sugestões não são encaminhadas de forma prática.

O drama da questão do calçadão até obrigou comerciantes a fazerem uma manifestação pública de protesto contra a demora nas obras e a falta de diálogo das autoridades municipais. Foi aí que se viu com mais clareza o caráter impositivo de uma administração que parece não admitir a convivência democrática com a divergência de opinião.

O protesto aconteceu de forma pacífica no dia 12 de novembro. Comerciantes e funcionários estenderam faixas próximo às obras que prejudicavam seu trabalho. O secretário municipal da Indústria e Comércio, Iran de Resende, esteve no local durante a manifestação e em vez de dialogar fez críticas agressivas e exigiu a retirada das faixas. A faixa da imagem acima foi a que mais irritou o secretário.

Os manifestantes reclamavam principalmente do período inoportuno das obras e pediam mais empenho na conclusão. Além de não serem ouvidos novamente, desta vez ainda foram tratados com agressividade por um secretário de Amin Hannouche.

O caso do Calçadão é a marca simbólica de uma administração que termina seu primeiro ano de forma atrapalhada e mostrando graves dificuldades de gestão.

Várias outras obras estão bem atrasadas ou totalmente paradas, como é o caso da revitalização da Praça Brasil, um dos locais mais importantes da cidade e que passou este período de festas toda quebrada para o início de reformas que não avançaram até agora.

Outras obras, como o Frigorífico do Peixe e o Clube do Povo, também sofrem da mesma dificuldade de execução. Por coincidência, todas elas estão a cargo da mesma empreiteira, a ILB Construções, que deve receber cerca de 3 milhões de reais pelo pacote.

A data de entrega dessas obras veem sendo mudada várias vezes. Para o Calçadão, a última promessa de Amin Hannouche foi de que tudo seria concluído no final de novembro “devido às festividades alusivas ao Natal”. Mas as obras se arrastaram por dezembro todo, prejudicando a população e comerciantes, e entram neste ano ainda sem a conclusão. Nesta primeira semana de 2010 provavelmente já deve vir da prefeitura novas datas para a inauguração.

Mas pelo visto a população não tem mais confiança alguma. Na última enquete de 2009 feita pela Rádio Cornélio — emissora mais ouvida em Cornélio Procópio e a de maior credibilidade —, em resposta à pergunta “O Novo Calçadão da Massud Amin fica pronto ainda em 2009?”, apenas 15,69% disseram sim. 84,31% responderam que o Calçadão não ficaria pronto. E o tempo mostrou que eles estavam certos.

PARA VER MAIS FOTOS DA MANIFESTAÇÃO, CLIQUE AQUI