sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ficha Limpa e indecisão do Supremo deixam 1.248 candidatos na berlinda

O ESTADO DE S. PAULO, 1 de outubro de 2010

Indefinição sobre aplicação da lei neste ano e recursos à espera de julgamento afetam formação de bancadas na Câmara e no Senado


A "navalha" da Lei da Ficha Limpa atingiu boa parte dos 1.248 candidatos que até a tarde de ontem, segundo levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tiveram seus registros de candidatura negados. Somado à indecisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que adiou o julgamento dos recursos dos candidatos, o número de barrados criou um quadro de indefinição no resultado eleitoral com impacto nas futuras bancadas na Câmara e no Senado.

Amanhã, 336 candidatos a deputado e 29 concorrentes ao Senado em todo o País poderão receber votos que, no entanto, não serão contabilizados até a palavra final da Justiça.

Nem todos foram barrados pela Lei da Ficha Limpa. Há, por exemplo, casos de prestação de contas rejeitadas pelos tribunais. O TSE poderá analisar casos pendentes ainda hoje.

Entre os 172 candidatos a governador, 15 estão em situação indefinida. Dos 14.387 candidatos a uma cadeira de deputado estadual, 769 terão seus votos colhidos, mas podem ficar sem a diplomação, segundo posição manifestada pelo Supremo. No Distrito Federal, 28 dos 883 candidatos a deputado distrital esperam julgamento de recurso.

Os partidos elegerão um número maior ou menor de representantes dependendo da posição a ser tomada pelos ministros, em data ainda indefinida, sobre a validade ou não da lei para estas eleições. "O País está vivendo uma enorme insegurança jurídica", afirmou o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP). "É evidente que o resultado do julgamento vai alterar a contagem dos votos e a formação das bancadas partidárias."

Os ministros do STF vão decidir se aceitam o recurso dos candidatos, permitindo seus registros e convalidando seus votos, e se esses votos irão para a legenda ou serão anulados, na hipótese de a candidatura ser negada.

Futuro ministro. Sem prazo para o julgamento dos recursos, há setores na Câmara que apostam na consolidação do resultado que sairá das urnas. Segundo esse entendimento, dificilmente os ministros derrubarão a Lei da Ficha Limpa até 17 de dezembro, último dia para a diplomação dos eleitos. A avaliação leva em conta que caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a definição do resultado, que terminou em empate de 5 a 5, quando indicar o 11º ministro do Supremo. Nesse raciocínio, Lula indicará um nome para a vaga já sabendo de sua posição sobre a lei.

Com a manifestação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de quinta-feira, o futuro dos votos dos candidatos Paulo Maluf (PP) e Beto Mansur (PP) mudará, por exemplo, a composição da bancada paulista. Segundo estimativas, os dois candidatos poderão somar em torno de 800 mil votos. Esses votos não irão para o PP, nesse primeiro momento, diminuindo o número de eleitos pelo partido.

Políticos experientes em análise das eleições em São Paulo estimam que os votos de Maluf e de Mansur ajudariam a eleger outros seis deputados do PP. Sem esses votos, o PT, o PSB, o PV, o PMDB e o PSDB deverão ser beneficiados com mais um parlamentar cada.

Na disputa pelas cadeiras do Senado, a decisão do Supremo atinge principalmente as candidaturas no Pará. Os dois líderes nas pesquisas, Jader Barbalho (PMDB) e Paulo Rocha (PT), integrantes da base governista, renunciaram aos mandatos de senador e de deputado para fugir de processo de cassação e foram enquadrados na lei. Sem Jader e Rocha, o oposicionista Flexa Ribeiro (PSDB) fica em situação confortável. Na Paraíba, o ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB), favorito a uma vaga no Senado, também foi barrado pela Lei da Ficha Limpa.

Ficha Limpa: impasse cria caos no processo eleitoral

VEJA ONLINE, 1 de outubro de 2010


A indefinição do Supremo Tribunal Federal (STF) – que não conseguiu desatar o nó da Ficha Limpa e manteve o impasse em torno da validade e abrangência da lei que barra a candidatura de políticos com pendências judiciais - faz com que, às vésperas das eleições, o brasileiro se depare com um cenário nebuloso diante das urnas.

A Suprema Corte, a quem caberia bater o martelo sobre o imbróglio, não o fez. Depois de mais de 15 horas de julgamento e um inusitado racha de 5 a 5 sobre a constitucionalidade da lei, arquivou o processo do ex-candidato ao governo do Distrito Federal (DF) Joaquim Roriz sem decidir se a Ficha Limpa, afinal, deve ou não ser aplicada nas eleições de domingo.

Diante da confusão, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, aliás, considera a lei válida, tenta contornar a situação. Mas há muitas dúvidas. Segundo a corte eleitoral, os votos de políticos que tiveram as candidaturas barradas com base nos filtros da Ficha Limpa serão considerados nulos no domingo. No entanto, se no futuro eles saírem vencedores na batalha judicial, os votos passarão a valer. Nova proclamação de resultado terá de ser feita.

A situação pode se agravra ainda mais. É improvável que o TSE e o Supremo consigam julgar todos os casos duvidosos até a diplomação dos novos ocupantes de cargos públicos. Se um suposto “ficha suja” for inocentado nos tribunais e tiver seus votos validados, emergindo como vencedor do pleito, o que acontecerá com o mandato do deputado ou governador que foi diplomado em seu lugar?

Bagunça – “O problema cai no colo do eleitor, que não sabe se o seu voto será válido ou mesmo se vai conseguir votar em determinada legenda para o Congresso”, diz Fernando Dias Menezes de Almeida, especialista em direito constitucional da Universidade de São Paulo (USP).

No Congresso, é provável que novos cálculos sobre as bancadas tenham de ser feitos, a depender da inclusão ou exclusão de candidados. As maiores preocupações pairam sobre a composição da Câmara. Alguns partidos poderão ver despencar seu número de cadeiras se os chamados “puxadores de votos” ficarem de fora. “As legendas são as mais prejudicadas, será muito difícil recuperar o tamanho da bancada do partido político no Congresso”, diz Almeida.

Nos estados, o segundo turno de eleições para governador corre o risco de ser invalidado. As votações teriam de ser refeitas. “Podemos esperar uma grande bagunça”, diz o advogado Alberto Rollo, especialista em legislação eleitoral.

Supremo pede que Procuradoria investigue genro de Ayres Britto

G1 , 1 de outubro de 2010

Joaquim Roriz teria negociado com genro de ministro do STF.
Objetivo seria impedir Ayres Britto de votar contra ex-governador.



O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, encaminhou nesta sexta-feira (1º) pedido à Procuradoria Geral da República para que seja investigada a denúncia de uma negociação entre o advogado Adriano Borges, genro do ministro do STF Carlos Ayres Britto, e o ex-governador Joaquim Roriz.

Roriz teria negociado com Borges a participação dele na banca de advogados que o defenderia no julgamento sobre a validade da Lei da Ficha Limpa nas eleições deste ano. A contratação do genro de Ayres Britto provocaria o impedimento do ministro do STF, devido ao parentesco. Se Ayres Britto não tivesse participado da votação, o resultado do julgamento poderia ter sido diferente.

Um vídeo gravado no dia 3 de setembro mostra uma conversa entre Roriz e Borges, na qual o ex-governador expõe o objetivo de impedir a participação de Ayres Britto no julgamento. (Veja acima um trecho desse vídeo, com a conversa entre os dois.

Ayres Britto foi nomeado relator do caso em 15 de setembro. O julgamento ocorreu nos dias 22 e 23 de setembro e Ayres Britto votou contra o interesse de Roriz.

O placar terminou em 5 a 5, sem o STF declarar um resultado. Se Ayres Britto não tivesse votado, o julgamento poderia ter terminado em 5 a 4 em favor de Roriz.

No dia seguinte ao julgamento, sem a vitória no STF, Roriz renunciou à candidatura pelo PSC ao governo do Distrito Federal.

Pedido de investigação - O requerimento do STF ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi feito a pedido de Ayres Britto, que se referiu ao episódio como “atos supostamente ilícitos relacionados a processos” do Supremo.

Durante parte do vídeo, que tem duração de 1 hora e 11 minutos, Roriz e Borges entram em uma sala e iniciam uma conversa. Roriz só aparece entrando na sala. Depois disso, ele senta em uma cadeira, mas não aparece mais na imagem. Borges aparece o tempo todo de costas, supostamente conversando com o ex-governador. No áudio, uma das vozes seria a de Roriz.

De acordo com o vídeo, Roriz perguntou: "Eu gostaria da sinceridade sobre o voto do seu sogro". Após balbuciar palavras desconexas, Borges responde: "Com isso aí ele não vai participar. Tá impedido". Roriz continua: "Então é o êxito". E o advogado responde: "É um êxito de certa forma". O ex-governador afirma: "Com isso, eu ganho folgado".

Durante a conversa gravada, Borges fala sobre honorários e diz que já havia contratado uma equipe para trabalhar no processo. Na gravação, Adriano Borges sugere um valor de R$ 4,5 milhões pelos serviços. Roriz disse que não tinha tal quantia e que não havia possibilidade de pagar o que o advogado pedia.

No final da conversa, Roriz oferece R$ 1 milhão para que Borges apenas conste na lista de seus advogados. Não houve acordo porque o genro de Ayres Britto insistiu em ser o principal advogado da ação. Estando na lista ou assinando como defensor principal, a sua atuação levaria Ayres Britto a se declarar impedido. Em um caso anterior semelhante com o genro no Supremo, ele havia procedido desta forma.

Barrado pela Justiça Eleitoral, com base na Lei da Ficha Limpa, Roriz recorreu ao STF, questionando a aplicação da lei nestas eleições. No julgamento do recurso, Ayres Brito votou a favor da aplicação da Lei da Ficha Limpa e contra a liberação do registro de Roriz. O resultado do julgamento foi um empate em 5 a 5, que fez Roriz desistir de sua candidatura e indicar sua mulher, Weslian Roriz, como substituta na chapa.

O que dizem Ayres Britto e Borges
O ministro disse ao G1 que, para ele, o genro “entrou numa armadilha sem perceber”. Ayres Britto afirmou que Borges jamais assinou contrato ou recebeu dinheiro de Roriz. Ainda segundo o ministro, o genro teria sido procurado pelos advogados da coligação “Esperança Renovada” para atuar no caso, mas não teria aceitado a proposta ao perceber o interesse no impedimento do sogro.

“Tudo isso foi para tirar da causa um juiz honrado, estudioso, independente e imparcial. Infelizmente, o Adriano percebeu muito tarde a manobra. É possível que isso seja vingança, revanchismo, porque eu julguei contra ele. Estou ótimo com minha consciência. A biografia de uma pessoa não se constrói num estalar de olhos”, disse o ministro do STF.

Adriano Borges negou que tenha negociado o impedimento ou o voto do sogro. Ele diz que foi pego de surpresa com a proposta de Roriz de apenas participar da causa sem trabalhar.

Disse que Roriz ofereceu R$ 1 milhão somente para que ele colocasse o nome como advogado da causa. Ele afirmou ter respondido que queria R$ 1,5 milhão, mas para trabalhar.

Disse que já atuou no TSE , que não há problema com o grau de parentesco. Afirmou que sabia que, se assumisse a causa, o Ayres estaria impedido, mas disse que não há impedimento para o advogado e sim para o juiz.

"Vejo isso como algo absolutamente normal. Existe uma independência muito grande entre eu, Adriano, advogado, e o ministro Ayres Britto. É uma questão de respeito. Eles armaram uma grande arapuca."

"Sabe onde que foi que eu errei? Foi quando aceitei cogitar analisar esse caso", disse.

O que dizem os advogados ligados a Roriz - O advogado da coligação pela qual Roriz era candidato, Eladio Carneiro, negou que Adriano Borges tenha sido sondado para trabalhar na causa. Segundo Carneiro, Adriano teria procurado a coligação e o candidato para oferecer seus serviços.

“Ele [Adriano Borges] ofereceu os serviços dele, prometeu fazer a peça do recurso, mas ele e o governador [Roriz] não acordaram nos valores”, disse Eladio Carneiro. Ele afirmou ainda que esteve na casa do genro de Ayres Britto, em Brasília, mas teria sido convidado para discutir questões técnicas do processo.

Eládio confirmou também que Adriano Borges chegou a ser cadastrado no TSE como advogado do caso Roriz, mas a procuração foi cancelada no mesmo dia da gravação dos vídeos.

Ao advogado da coligação, o genro do ministro teria encaminhado, às 17h56, do dia 1º de setembro, e-mail – à cuja cópia o G1 teve acesso – informando os próprios dados e os da mulher, Adriele Pinheiro Reis Ayres de Britto, filha do ministro do STF, para “subestabelecimento”. Isso quer dizer que os dados serviriam para que os advogados da coligação pudessem incluir Adriano e Adriele no caso.

“Favor encaminhar ao Governador, pois é necessária uma reunião para explicarmos a estratégia e colocá-lo a par acerca dos colaboradores envolvidos”, teria escrito Adriano Borges no e-mail.

O advogado que defendeu Roriz no STF, Pedro Gordilho, disse que ao saber da negociação com o genro do ministro, afirmou que não continuaria no caso se Borges fosse contratado. Em mensagem enviada pelo celular ao sócio e também advogado da banca que trabalhou no caso, Alberto Pavie, Gordilho reforçou a posição contrária à entrada de Borges na causa.

“Pavie está me falando de uma procuração que teria sido outorgada ao Dr. Adriano. Esse assunto já havia sido explicitamente repudiado por mim. Peço que o tema seja sepultado definitivamente. Não podemos trabalhar com tal expediente incondizente com nossa tradição”, teria escrito Gordilho em mensagem ao sócio.

OAB determina apuração de denúncia contra advogados no caso Roriz, que tentou contratar genro de Ayres Britto

O GLOBO, 1 de outubro de 2010


O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, determinou apuração sobre a negociação de contrato envolvendo o advogado Adriano Borges, genro do ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal (STF) , e o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PSC). A negociação foi registrada em vídeo gravado pelo próprio Roriz. A OAB quer saber se os advogados incidiram em conduta incompatível com o exercício ético da advocacia. O caso será apurado pelo Tribunal de Ética e Disciplina da Seccional da OAB do DF. (Leia também: STF extingue processo contra Roriz)

As imagens mostram o candidato se dizendo disposto a pagar pelo serviço que o advogado Adriano Borges Silva pretendia vender. Preço: R$ 4,5 milhões. Produto: um voto favorável de Britto para Roriz, ou o impedimento do ministro na votação.

A negociação garantiria vitória do ex-governador. Borges é marido e sócio de Adrielle Ayres Britto, filha do ministro, também citada na negociação. O ministro nega participação e diz que, quando soube da tentativa de contratação, orientou o genro a "pular fora" porque era uma manobra de Roriz.

O presidente nacional da OAB manifestou solidariedade a Ayres Britto. Segundo ele, Britto é "um dos maiores defensores da aplicação da Lei da Ficha Limpa nas eleições deste ano" .

- Pela forma como tem se posicionado ao longo de sua trajetória no Judiciário, estou convencido que o ministro Ayres Britto não teve conhecimento das negociações - diz o presidente da OAB.

Um ano após lei antifumo, metade dos fumantes reduziu consumo de cigarro

O ESTADO DE S. PAULO, 1 de outubro de 2010

Pesquisa feita pelo Ibope, a pedido da Secretaria de Estado de Saúde, mostra também que 92% dos fumantes aprovam a proibição


Metade dos fumantes paulistas está fumando menos. Pesquisa do Ibope mostra que 49% admitem ter reduzido o consumo de cigarros desde o início da vigência da lei antifumo, em agosto de 2009. O estudo, inédito, também apontou alto índice de satisfação com a regra - 92% dos fumantes a aprovam, ante 97% dos não fumantes.

A pesquisa, encomendada pela Secretaria de Estado da Saúde, foi a primeira a medir a receptividade da lei antifumo. Foram ouvidas 800 pessoas com mais de 16 anos entre os dias 22 e 27 de julho, pouco antes de a norma completar 1 ano em vigor.

"Foi importante para vermos como a população vê a ação do Estado", diz a diretora do Centro de Vigilância Sanitária, Cristina Megid.

São vários os motivos de satisfação. O maior deles, mesmo no caso dos fumantes, foi a saúde - 26% acreditam que a medida protege o organismo até de quem fuma. Os tabagistas também aprovaram a diminuição do fumo passivo (23%), o menor consumo de tabaco (17%) e a melhora no ar dos bares e restaurantes (16%). A nota média dada à lei pelos fumantes foi de 9,2.

Entre os não fumantes, os índices de aprovação são superiores: 33% dizem que respirar fumaça incomoda muito, 32% sentem-se menos incomodados com a fumaça de cigarros alheios e 27% apontam que a qualidade do ar nos locais públicos melhorou. Nesse grupo, a lei obteve nota média de 9,5.

Polêmica. A lei antifumo proíbe o consumo de cigarros, charutos e cachimbos em qualquer ambiente fechado de uso coletivo. A medida teve início turbulento e motivou contestações judiciais - ainda sem sentença em última instância -, sobretudo de bares e restaurantes.

O auxiliar de cobrança Vladimir Violin, de 27 anos, foi um dos que reclamaram no começo, quando fumava um maço de cigarros por dia. Hoje, fuma apenas três ou quatro unidades. "Sempre tinha de sair do prédio onde trabalho para fumar, porque nunca tivemos fumódromo. Mas, como todo mundo está fumando menos, acabei me conscientizando", afirma.

A designer Carina Bruno Gischewski, de 27 anos, também aprova a legislação. Ela é mineira e se mudou para São Paulo quando a legislação restritiva já estava em vigor. "A melhor parte é poder ir para a balada e não ter ninguém "baforando" na sua cara", comemora. Por outro lado, observa que várias casas desrespeitam os fumantes. "Algumas têm um chiqueirinho bem porco ou aquele esquema de ter de pagar a comanda para sair."

Enquete. O portal estadão.com.br realizou uma enquete para saber se o internauta fumante também reduziu o consumo. Até meia-noite, 51% dos participantes afirmaram ter diminuído o consumo de cigarro desde que a proibição entrou em vigor.


TRÊS PERGUNTAS PARA CRISTIANA MEGID
Diretora do Centro de Vigilância Sanitária


1. Como o governo avaliou os dados da pesquisa do Ibope?
Pelas nossas ações de campo, tínhamos a expectativa de que a legislação seria bem avaliada. Para nós foi muito bom, principalmente, saber que os fumantes estão fumando menos após a vigência da lei.

2. Houve um afrouxamento na fiscalização?
De maneira alguma. Nossos fiscais continuam os mesmos 500 profissionais. E 99,98% dos municípios paulistas já tiveram equipes treinadas pela Secretaria de Estado da Saúde para a aplicação da lei. Em São Paulo, continuamos esclarecendo as dúvidas e atendendo às denúncias recebidas. Constatada a irregularidade, o estabelecimento é multado.

3. Já estão definidos os próximos passos?
A lei já está incorporada à Vigilância Sanitária. Agora, programamos continuar com o trabalho intenso de fiscalização e conscientização até o fim deste ano. Em seguida, devemos avalizar as maneiras mais adequadas para continuar o trabalho, depois da consolidação.

Os passos miúdos da dança global

O ESTADO DE S. PAULO, Washington Novaes, 1 de outubro de 2010


Durante a Rio 92 - que levou à aprovação das Convenções do Clima e da Diversidade Biológica - o secretário-geral do encontro, Maurice Strong, foi dramático: disse que era a última oportunidade de os governos encaminharem soluções para os gravíssimos problemas naquelas duas áreas e para a questão da miséria no mundo. Por isso, além de criarem as duas convenções, os chefes de Estado aprovaram a Agenda 21 Global. E ela fornecia um roteiro para enfrentar os dramas do subdesenvolvimento e da pobreza. Incluía a decisão de os países industrializados aumentarem de 0,36% para 0,70% de seu produto interno bruto (PIB) a contribuição anual para os países mais pobres. Com isso, doariam US$ 120 bilhões anuais, a que se somariam US$ 480 bilhões em recursos dos países receptores. E com US$ 600 bilhões anuais seria possível avançar em todas as áreas.


Só a Suécia cumpriu a sua parte. Os demais países industrializados reduziram porcentualmente sua contribuição média para uns 0,3% do PIB anual. E passadas duas décadas, ao fazer a avaliação dos Objetivos do Milênio, diz a ONU que, embora tenha havido progresso, é "um escândalo" que 952 milhões de pessoas no mundo continuem a enfrentar a miséria e que morra uma criança a cada oito segundos por problemas relacionados com a desnutrição. Um quadro ainda tão grave que levou o presidente da França, Nicolas Sarkozy, a ressuscitar outra proposta da década de 90, do economista James Tobin, que sugeria criar uma taxa mundial sobre transações financeiras e destinar o resultado ao combate à pobreza. Porque esta ainda atinge 19% da população mundial, segundo a ONU; 1 bilhão de pessoas vive com menos de US$ 1,25 (pouco mais de R$ 2,10) por dia.

Mesmo nos Estados Unidos, onde a crise econômica eliminou 5 milhões de empregos (a taxa de desemprego está em 14,3%), há 43,6 milhões de pobres, considerado o padrão de lá, que classifica como pobre quem tenha renda anual bruta de até US$ 10.830 (uns R$ 18,5 mil, pouco mais de R$ 1.500 mensais, mais do que a renda média de quem trabalha no Brasil, quase três salários mínimos nossos). Por aqui, a renda média do trabalho chegou a R$ 1.472. Ainda temos 28,8% dos que trabalham recebendo até meio salário mínimo mensal - sem considerar as graves condições de moradia e saneamento dos lugares que habitam.

Sobre a situação da biodiversidade no mundo e no País duas décadas depois, este espaço já foi ocupado na semana passada com números estarrecedores. E quanto ao clima, avança-se para a reunião da convenção, daqui a poucas semanas, no México, sem vislumbrar acordo algum. Numa reunião preliminar de 17 países, em Nova York, o delegado norte-americano, Todd Stern, foi claro: sem a adesão da China, da Índia e de outros países "em desenvolvimento" (o Brasil incluído), não haverá, nem em Cancún nem depois, nenhum acordo "vinculante", que obrigue as nações a reduzir suas emissões de poluentes. Já o delegado russo deixou claro que, se Estados Unidos e China não aderirem a uma nova etapa do Protocolo de Kyoto, este expirará.

Nos mesmos dias, numa reunião da Clinton Global Initiative - que tenta romper impasses nessa área -, a nova secretária da Convenção do Clima, a costa-riquenha Christiana Figueres, foi surpreendentemente direta. As negociações não avançam por dois motivos, disse ela: 1) Tensões e desacordos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento; e 2) "business" (UN Dispatch, 22/9). O "business" porque fica à espera de que os governos criem marcos regulatórios. E os governos, "enquanto olham nervosos para os próprios pés, dizem que o business não os está pressionando. É uma espécie de dança, em que cada um diz: "Você primeiro! Você primeiro!"" Na opinião dela, as áreas de negócios deveriam assumir a iniciativa e a liderança, porque têm muito a perder.

Não é muito diferente em qualquer lugar, inclusive no Brasil. Em meio ao fogo que tomou conta de metade do País, em meio à estiagem que secou rios na Amazônia, em meio à perda de parte das colheitas, continua-se a olhar passivamente o panorama. No lançamento de um programa de emergência para o fogo no Cerrado, na presença do presidente da República e da ministra do Meio Ambiente, por três vezes faltou energia no recinto, com os incêndios no Cerrado do Distrito Federal interferindo nas linhas de transmissão. Enquanto isso, dizia o boletim do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) (23/9) que desmatamentos e queimadas causam 75% das emissões de carbono no País. Que os problemas nessa área poderão levar a perdas consideráveis no produto bruto nacional. E que o aquecimento global "poderá elevar a temperatura no Norte e Nordeste até 8 graus, em consequência do desmatamento da floresta amazônica".

Há quem esteja perdendo a esperança. Um deles é o famoso cientista James Lovelock, autor da "Teoria de Gaia". Há algum tempo, afirmou ele que não haveria tempo para esperar que acordos entre países levassem a uma redução de emissões, dada a gravidade da situação. Por isso, ele, que durante décadas se opusera à utilização da energia nuclear, passou a defendê-la, por não emitir poluentes que se concentram na atmosfera e por entender que o problema de resíduos por ela gerados é menor. Os resíduos de uma usina cabem num pequeno veículo, passou a dizer.

Agora, Lovelock vai, perigosamente, ainda mais fundo. Como cita o ex-secretário do Meio Ambiente do Espírito Santo Luiz Prado (Portal do Meio Ambiente, 18/9), Lovelock agora diz: "Eu tenho a sensação de que mudanças climáticas são um evento tão grave quanto uma guerra; talvez seja necessário suspender a democracia por algum tempo."

Certamente não é o caso de concordar. Mas é preciso ter urgência, antes que a tese ganhe muitos defensores. Nunca faltam partidários da força.