sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Justiça afasta prefeito e quatro servidores municipais por obstruirem investigações

O DIÁRIO DE MARINGÁ, 18 de dezembro de 2009

A pedido do Ministério Público, que tem 46 inquéritos em andamento para apurar possíveis irregularidades na administração municipal, juiz retira Martini do cargo e empossa o vice


O juiz Loril Leocádio Bueno Júnior, da Vara Cível de Sarandi, determinou nesta quinta-feira (17) a tarde o afastamento do prefeito de Sarandi, Milton Martini (PP), e a posse imediata do vice-prefeito, Carlos Alberto de Paula Júnior (PDT). O afastamento havia sido pedido segunda-feira pelo promotor de Justiça, Alexandre Misael Souza. Segundo o pedido do promotor, Milton Martini e quatro servidores municipais do primeiro escalão estavam obstruindo as investigações do Ministério Público (MP).

Segundo o despacho do juiz, o afastamento é por tempo indeterminado, até que o MP conclua as investigações. Loril Bueno Junior explica no documento que tomou a decisão acatando pedido do MP que propôs uma ação de improbidade administrativa contra o prefeito e os quatro funcionários por estarem usando os “cargos públicos municipais de uma forma que representa risco à instrução processual”.

O que determinou a decisão do juiz foi que na ação de improbidade, o promotor Misael Souza narra três “tentativas de direcionamento ilícito do resultado de licitação”, contratação irregular de funcionários e manipulação de documentos “visando a gerar aparência de legalidade”. Além disso, o promotor apurou que o prefeito havia determinado a todos os servidores que, antes de dar qualquer depoimento, comparecessem na Procuradoria Jurídica do Município para serem orientados sobre o que declarar. E, depois de depor, o servidor deveria providenciar uma cópia do depoimento.

Ainda de acordo com o despacho do juiz, o advogado Washington Luiz Knippelberg Martins, irmão de um dos servidores convocados a depor, denunciou na promotoria ter sido procurado pelo prefeito, que queria saber o que o irmão dele havia dito ao promotor. Milton Martini, segundo o advogado, “advertiu que ambos deveriam ponderar a respeito do assunto (depoimento), fazendo ameaças indiretas”, de que o funcionário poderia ser exonerado ou “sofrer outros tipos de reprimenda, caso alguma declaração fosse prejudicial ao prefeito”.

Apesar de frisar ter respeito pela figura de Milton Martini, que inclusive era advogado militante na comarca antes de ser prefeito, “o modo de administrar, autoritário, impositivo e centralizador, inclusive tentando orientar o depoimento de seus subordinados, coagi-los com ameaças e exigindo cópias das declarações”, justifica o afastamento para que as investigações não sejam prejudicadas. No despacho, Bueno Junior determinou a notificação e posse do vice-prefeito.


Populares ‘lavam’ a Prefeitura

Munidas de tambores de água, vassouras e sabão em pó, cerca de 40 pessoas — ainda sem saber que o prefeito havia sido afastado do cargo — lavaram a calçada e paredes da frente da prefeitura de Sarandi na manhã desta quinta-feira (17), o que, para elas, simbolizou “a limpeza da sujeira e da corrupção”.

O protesto foi organizado por entidades e uma comissão suprapartidária que pediram a cassação do mandato do prefeito Milton Martini (PP), alvo de 46 inquéritos no Ministério Publico e de uma Comissão Processante na Câmara de Vereadores.

“Nosso interesse não era reunir uma grande quantidade de pessoas, mas sim chamar a atenção para uma situação que se tornou insustentável”, disse o presidente da União das Associações de Moradores de Sarandi (Unisam), Alfredo Peres de Souza.

Segundo ele, com esse tipo de trabalho a população vai sendo informada sobre as possíveis irregularidades que resultaram em dezenas de inquéritos na Justiça. “A partir de janeiro vamos intensificar as manifestações de protesto, o que, além de informar ao povo, dará a sustentação popular para que os vereadores tenham coragem para cassar o mandato do prefeito”.

Um dos manifestantes, Adalto da Silva, militante do Partido dos Trabalhadores, compareceu vestindo traje de aplicador de defensivo em lavouras, afirmando que a roupa arremetia ao fato de a prefeitura ter adquirido 10 bombas costais para a aplicação de veneno, comercializadas por uma empresa de propriedade do então chefe de Gabinete da prefeitura.

De acordo com Silva, essa compra irregular — Sarandi tem uma lei que proíbe a aplicação de veneno na área do município – é um indício claro de corrupção na prefeitura e foi motivo de instauração de uma Comissão Processante pelos vereadores.

Os manifestantes pediram aos gritos que também o vice-prefeito Carlos Alberto de Paula Filho (PDT) deixe o cargo, mesmo que não seja cassado pela Câmara ou pela Justiça. “Embora não haja qualquer acusação contra ele, entendemos que De Paula faz parte dessa administração e de tudo o que ela representa”, diz o presidente da Unisam.

De Paula, que é ex-secretário de Planejamento, disse que estão tentando atingi-lo para forçar a realização de uma nova eleição. Ele bateu boca com alguns manifestantes e diz não existir qualquer sua pessoa na Justiça.

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SOBRE O CASO DE SARANDI

Vereador de Londrina é investigado pelo MP por suposta compra de votos em 2008

JORNAL DE LONDRINA, 17 de dezembro de 2009

Operação do MP, realizada na noite de quarta-feira, apreendeu duas listas com nomes de eleitores que teriam recebido dinheiro para votar no vereador


A Câmara Vereadores de Londrina está envolvida em mais um escândalo. O Ministério Público Eleitoral (MPE) está investigando o vereador Joel Garcia (PDT) sobre uma suposta compra de votos durante as eleições de 2008. Na noite de quarta-feira (16), o MP cumpriu mandados de busca e apreensão de duas listas com nomes de pessoas que teriam recebido para votar em Garcia no distrito de São Luiz. O vereador foi o 12º mais votado, recebendo 2.370 votos.

As listas foram encontradas em posse de três cabos eleitorais de Garcia, que assumiram o compromisso de “arregimentar” os eleitores. Cada voto no vereador valia entre R$ 20 e R$ 30. Segundo o promotor eleitoral Renato Lima Castro, duas pessoas confirmaram o esquema de compra de votos. O terceiro envolvido não cooperou com o MP, pois teria parentesco indireto com o pedetista.

De acordo com o promotor, em uma lista constatava o nome de 25 eleitores e na outra 23, uma terceira lista não foi encontrada. Nos papéis cada pessoa era registrada com o número do título de eleitor e um documento de identificação, além do valor a ser recebido. “Pelo que constatamos, o pagamento era efetuado depois que os eleitores votavam e a compra estava restrita ao distrito São Luiz”, explicou Castro.

Como as investigações ainda estão em curso, o promotor não quis adiantar quais serão os próximos passos a serem tomados. Contudo, ele disse que medidas judiciais serão analisadas. Um dos resultados da ação pode ser o pedido de cassação do mandato do vereador, uma vez que a compra de votos infringe o art. 299, do Código Eleitoral, pois é uma violação do processo de direito democrático.

Como ainda não teve acesso aos documentos do Ministério Público, Joel Garcia se limitou a dizer que as acusações são infundadas e se tratavam de uma “armação política”. “Essas acusações não políticas, tanto que a denúncia partiu de uma pessoa que tem parentesco com um assessor do vereador Roberto Fú”, disparou.

O vereador Roberto Fú (PDT) disse que a mulher com quem o assessor é casado tem uma relação de parentesco com um dos cabos eleitorais de Garcia. Contudo, ele negou que a denúncia tenha partido do seu gabinete. “É sempre assim, quando há uma denúncia tudo se transforma em questão política. Tenho certeza que meu assessor e sua mulher não têm envolvimento com o caso”, disse.

Tráfico de influência

O vereador Joel Garcia (PDT) deixou de prestar depoimento no Ministério Público (MP) de Londrina, na última terça-feira (15), pela terceira vez. Ele é acusado pelo prefeito Barbosa Neto de tentar direcionar o resultado da licitação para merenda escolar com o objetivo de beneficiar a empresa de propriedade de sua família. Os dois outros depoimentos cancelados estavam marcados para segunda-feira (14) e sexta-feira (11).

O promotor Cláudio Esteves, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), explicou que na sexta-feira um dos advogados cancelou o depoimento alegando ter uma audiência, embora a reunião havia sido marcada com anuência da defesa. Na segunda-feira, os advogados disseram que ainda havia documentos para serem apresentados e o vereador, que ficou reunido com o promotor durante mais de uma hora, saiu sem falar com a imprensa.

Desta vez, o depoimento foi desmarcado pela defesa, que justificou a ausência do vereador, que nem compareceu ao Ministério Público, apontando que os advogados não tiveram acesso à documentação do patrimônio público. O MP ainda não sabe se deve marcar outro encontro. “Agora vamos analisar as medidas pertinentes. Haverá prejuízo para a sequência da investigação”, declarou Esteves.

Garcia foi acusado pelo prefeito Barbosa Neto (PDT) e pelo secretário de Gestão Pública, Marco Cito, de tentar direcionar a licitação de um dos cinco lotes de fornecimento de alimentos para a merenda escolar, realizada em outubro. Prefeito e secretário já foram ouvidos no procedimento investigatório aberto pelo MP e confirmaram o que já tinha sido dito publicamente. Eles citaram testemunhas que teriam presenciado a conversa de Garcia com Cito, na qual o vereador teria pedido ajuda no processo licitatório. A empresa da família do pedetista contesta o resultado da licitação na Justiça.