terça-feira, 16 de agosto de 2011

Em Cornélio Procópio, emenda coletiva propõe aumentar número de vagas na Câmara

INSTITUTO AME CIDADE, 16 de agosto de 2011


Será apresentado na sessão de hoje da Câmara Municipal de Cornélio Procópio um projeto de emenda coletiva à lei orgânica do município propondo um aumento do número de vereadores. A emenda eleva de nove para treze o número de vereadores.

A emenda coletiva é apresentada por sete vereadores, o que na prática garante sua aprovação. Assinam a proposta os vereadores Emerson Carazzai Fonseca (PRB), Edimar Gomes Filho (PPS), Sebastião Angelino Ramos (PTB), Vanildo Felipe Sotero (PR), Helvécio Alves Badaró (PTB), Sebastião Cristóvão da Silva (PP) e Ricardo Leite Ribeiro (PPS).

Os únicos vereadores que não assinam a emenda são Reinaldo Carazzai Filho (PP) e Aurora Fumie Doi (PMDB).

A alteração do número de vagas nas câmaras municipais nasceu da chamada “PEC dos vereadores”, uma emenda nascida de um lobby poderoso feito por vereadores e suplentes junto ao Congresso Nacional. A emenda à Constituição foi aprovada em 2009 como uma reação à decisão do Supremo Tribunal Eleitoral (TSE) que havia cortado cerca de oito mil vagas de vereadores em 2004 a partir de uma interpretação da Constituição.

A volta deste assunto à pauta política se deve ao fato de que as Câmaras Municipais têm até setembro desse ano para definir o número de vagas, para que a decisão tenha validade na eleição do ano que vem.

Os defensores do aumento das vagas costumam esconder parte da história da “PEC dos vereadores”, tratando o assunto apenas como se fosse um direito constitucional, sem relatar o lobby que foi feito para afrontar uma decisão do TSE.


Aumento de vagas se apóia
em falsas justificativas que
escondem os reais interesses
A argumentação favorável procura também convencer que com este aumento haveria um aumento de qualidade na representatividade, sem explicar de forma convincente qual seria a diferença de qualidade de uma Câmara, como no caso de Cornélio Procópio, ter treze e não nove vereadores.

Na exposição de motivos da emenda dos vereadores de Cornélio Procópio colocaram como justificativa até um evidente exagero, quando se afirma que “politicamente, a justificativa da mudança para aumentar de nove para treze o número de cadeiras é o aperfeiçoamento da própria democracia”. Não faz sentido algum este entendimento numérico do aperfeiçoamento da democracia em qualquer município. O que faz diferença de fato numa democracia é transparência e respeito ao dinheiro público, o que em cidade alguma do Brasil se resolve com mais vereadores.

Os vereadores apelam até para um argumento que não resiste a uma análise séria. Eles dizem que o aumento de vagas "garante a pluralidade e a representatividade das camadas mais humildes da cidade no parlamento". Por que colocar mais vereadores daria mais "representatividade aos mais humildes" não é explicado em nenhuma parte da exposição de motivos.

Outro argumento enganoso é o de que não haverá aumento de gastos nos municípios, já que o repasse de recursos às Câmaras permanecerá em 7%.

Ocorre que existe um entendimento bastante amplo no Brasil de que este percentual é alto. Uma parcela bem grande dos brasileiros é de opinião de que o legislativo em todas suas instâncias custa demais aos cofres públicos, o que é corroborado com a comparação até com os países mais ricos do mundo.

Na situação econômica em que vivem nossos municípios, com carências terríveis até em setores básicos como o da educação e saúde, este argumento contrário ao aumento de vagas tem ainda maior peso. Seria melhor baixar este percentual de gasto (os tais 7%) do que passar a considerá-lo de forma cínica como uma realidade justa e estável.

Um exemplo de como este argumento é falacioso é o recente aumento de salário aprovado por este mesmo grupo que propõe o aumento de vagas. Com o aumento salarial dos nove vereadores atuais o Município vai gastar mais 50 mil reais por ano. De algum lugar este dinheiro tem que sair. Numa cidade de orçamento apertado, é verba que vai faltar com certeza na saúde ou na educação.


Cornélio Procópio pode ter
mais vereadores que cidades
com o dobro de sua população
Uma decisão favorável ao aumento de vagas de vereadores em Cornélio Procópio também criaria uma contradição política e econômica bastante desconfortável, em razão da decisão de cidades como Cambé e Apucarana. Em Cambé, a Câmara já aprovou em primeira votação o número de vagas naquela cidade fique em dez vereadores e em Apucarana uma emenda coletiva propõe que a cidade tenha onze vereadores, o mesmo número atual.

Já apontamos essa possível incompatibilidade dias atrás aqui no blog do Instituto Ame Cidade. Ocorre que hoje a população de Cambé é de 96.427 e Apucarana tem 119.159 habitantes. Caso os vereadores aliados ao prefeito resolvam pelo aumento de vagas, Cornélio Procópio, que tem hoje 46.852 habitantes, ficará com mais vereadores que duas cidades com o dobro de população.