segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Acossado por muitas denúncias de corrupção, Lupi finalmente sai do Ministério do Trabalho

INSTITUTO AME CIDADE, 5 de dezembro de 2011


Enfim o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, pediu demissão. O pedido foi entregue ontem à presidente Dilma Rousseff. Ao que tudo indica, Lupi procurou se antecipar à decisão da presidente, que havia convocado para esta segunda-feira reunião da coordenação política de seu governo para tratar especificamente do caso do ministro, que responde a várias denúncias de corrupção.

Lupi é o sexto ministro de Dilma a cair envolvido em denúncias de corrupção. Sua queda começou no início do mês passado, com denúncia de desvio que estaria sendo feito por ONGs com convênios com o Ministério do Trabalho. Um esquema de propinas operado dentro do ministério foi denunciado pela revista Veja, que logo após publicou uma denúncia de que o ministro teria usado em viagem oficial um avião cedido pelo presidente de uma ONG acusada desviar dinheiro de convênios com o ministério. O ministro negou tudo, mas logo depois apareceram imagens dele descendo do avião. Em 1o de setembro o jornal Folha de S. Paulo publicou reportagem que com denúncia de que ele foi funcionário fantasma da Câmara dos Deputados. Durante a crise Lupi chegou a dar declarações em público que soaram como desafios à autoridade de Dilma. Numa dessas declarações, ele disse que duvidava que fosse demitido. “Pela relação que tenho com Dilma, não saio nem na reforma", ele disse. A presidente tem anunciado que fará em janeiro uma reforma ministerial.

Outros ministros importantes de Dilma também caíram depois de denúncias de corrupção e prolongadas crises que foram minando a imagem da presidente. Assim como Lupi, a maioria dos demitidos participou do quadro de ministros do governo Lula, permanecendo nos cargos a pedido do próprio ex-presidente depois que Dilma assumiu.

Antonio Palocci, ministro-chefe da Casa Civil deixou o cargo em 7 de junho, depois que a imprensa revelou um fantástico crescimento de seu patrimônio entre 2006 e 2010. Já o ministro dos transportes, Alfredo Nascimento saiu em 6 de julho depois que a revista Veja mostrou um esquema de superfaturamento e propina no ministério. Vagner Rossi, da Agricultura, pediu demissão em 17 de agosto depois da Veja denunciar diversas irregularidades. Havia até um lobista com um escritório clandestino na Agricultura. No dia 14 de setembro foi a vez de Pedro Novais, do Turismo, ter de pedir demissão. Foi revelado até que o ministro havia usado dinheiro da Câmara Federal para pagar uma conta de motel na época em que foi deputado. Uma operação da Polícia Federal prendeu 36 pessoas suspeitas de desviar recursos do Turismo por meio de emendas parlamentares. E no dia 26 de outubro ocorreu a demissão do ministro do Esporte, Orlando Silva. Entre as muitas denúncias contra Silva, pesou bastante a entrevista de um militante do PCdoB, partido do ministro, que contou como funcionava um esquema dentro do Esporte que teria desviado R$ 46 milhões. Conforme a denúncia, o ministro teria recebido uma caixa com dinheiro entregue por participante do esquema na garagem do ministério. Silva caiu depois do Supremo Tribunal Federal (STF) abrir inquérito para investigar as denúncias.

Com a queda de Lupi, já surgem desconfianças de que pode acontecer o mesmo que ocorreu com os outros ministros, que caíram em desgraça, mas permanecem impunes em relação ás inúmeras denúncias de corrupção. Também quanto ao Ministério do Trabalho, os indicativos são de que a queda do ministro não interrompe o esquema dentro da Pasta.

Até janeiro pelo menos quem responde pelo ministério é um pedetista envolvido nas irregularidades que levaram à demissão de Lupi. Paulo Roberto Santos Pinto assume a pasta. Ele é ligado ao esquema de extorsão que era operado por pedetistas dentro do ministério. A revista Veja informa que durante a crise ele também tentou salvar a pele de Lupi depois da denúncia da viagem do ex-ministro no avião do empresário denunciado por fraudes. Quem confirmou a história para Veja foi o ex-secretário de Políticas Públicas de Emprego, Ezequiel Nascimento. O ministro interino que fica no lugar de Lupi tentou fazer Nascimento mudar a versão.