sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Assembléia Legislativa: STF volta atrás, anula decisão e Bibinho é preso novamente

GAZETA DO POVO, 27 de agosto de 2010

Despacho do ministro Toffoli determina a prisão de outros três ex-funcionários da Assembleia. Investigações do MP e da PF serão retomadas


O Supremo Tribunal Federal (STF) anulou a decisão que mantinha solto o ex-diretor-geral da Assem­­bleia Legislativa do Paraná Abib Miguel, o Bibinho, e outros três ex-servidores da Casa. Bibinho foi preso na noite de ontem em sua residência, em Curitiba. Ele foi levado à sede do Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), ligado ao Ministério Público do Paraná (MP). Depois, o ex-diretor seria transferido ao Quartel Central da Polícia Militar, no bairro Rebouças, onde deve cumprir a detenção.

Também foi preso o ex-diretor administrativo da Assembleia José Ary Nassiff. Cláudio Marques da Silva (ex-diretor de pessoal da Casa) estava sendo procurado pelas autoridades. Já o ex-funcionário da Casa Daor Afonso Marins de Oliveira é considerado foragido da Justiça.

A decisão, do ministro José Antonio Dias Toffoli, é do último dia 19, mas só foi cumprida pelas autoridades estaduais ontem. Toffoli ainda autorizou o Ministério Público do Paraná (MP) e a Polícia Federal (PF) a retomar a investigação criminal sobre as irregularidades na Assembleia mostradas pela Gazeta do Povo e pela RPC TV na série de reportagens Diários Secre­­­tos, publicadas a partir de março.

A apuração na esfera criminal estava suspensa desde junho – por determinação de Toffoli, que atendeu ao pedido do advogado José Roberto Batochio, que defende Bibinho. Na época, o ministro anulou os efeitos da investigação e a ordem de prisão de Bibinho, Nassiff, Marques e Oliveira.

Toffoli ainda determinou o trancamento do processo criminal que corria contra eles na Justiça Estadual do Paraná. O ministro acatou a tese de Batochio. O advogado argumentou que o escândalo dos Diários Secretos nada mais era que um desdobramento do chamado esquema gafanhoto, por meio do qual havia desvio de dinheiro da Assembleia.

Como o caso gafanhoto envolve ex-deputados estaduais que hoje são parlamentares federais, a investigação e o julgamento, pela lei, está sendo conduzida pelo STF. Ao atrelar os dois esquemas, Ba­­to­­chio conseguiu tirar a PF, o MP e a Justiça Estadual do caso dos diários.

Os dois esquemas, segundo as investigações, têm um objetivo comum: desviar dinheiro público. Mas a forma como isso era feito os distinguia. O gafanhoto consistia no depósito do salário de até 16 servidores na conta bancária de um único funcionário da Assem­­bleia. O titular dessa conta normalmente era o chefe de gabinete de um deputado ou um familiar dele, que passava a movimentar a verba como lhe fosse conveniente.

Já o escândalo dos Diários Se­­cre­­tos consistia na contratação de la­­ranjas e funcionários fantasmas para desviar recursos. Segundo o MP, era Nassiff quem procurava pessoas dispostas a fornecer a documentação para se tornarem fantasmas. Com os dados pessoais na mão, Marques da Silva providenciava a ingresso dos laranjas e fantasmas no quadro de pessoal da As­­sembleia. Segundo o MP, tudo era chefiado por Bibinho. O MP es­­tima que o desvio supere R$ 100 milhões.

Induzir ao erro - No recurso apresentado para que Tofolli revisse sua decisão anterior, a Procuradoria-Geral da República e o MP detalharam as duas formas empregadas para desviar dinheiro. No entendimento deles, a estratégia do advogado de Bibinho foi levar o ministro do STF ao erro.

“Analisando o pedido [de Batochio] verifica-se que o reclamante [Bibinho] não apresentou os fatos em sua integralidade, empresando-lhes versão destinada a induzir a erro esse Egrégio Supremo Tribunal Federal com o objetivo de ser beneficiado com liminar e consequente revogação de suas prisões preventivas”, diz um trecho do recurso. Diante dos novos argumentos, Toffoli suspendeu a própria decisão, considerando a ação reclamatória de Batochio improcedente.

O MP e a PF devem retomar a investigação a partir de hoje. Para o procurador de Justiça Leonir Ba­­tisti, que coordena a apuração do caso pelo MP, a suspensão da investigação por quase três meses prejudicou o trabalho. “Esse tempo parado foi ruim para a investigação, porque quebrou o ritmo de apuração das denúncias. O prejuízo, no entanto, é para a investigação, mas não aos eventuais processos”, disse Batisti.

Ele adiantou que uma nova denúncia deve ser concluída contra mais um núcleo de servidores fantasmas. “Antes da suspensão da investigação, estávamos trabalhando na denúncia contra mais um núcleo familiar [de desvio de dinheiro]”, explicou. Após investigação, o Gaeco identificou famílias que eram usadas, algumas com conivência, pela quadrilha.

Até a suspensão da investigação, o MP já tinha proposto duas ações criminais contra Bibinho, Nassiff, Marques – envolvendo as famílias dos ex-funcionários João Leal de Mattos e Daor Oliveira.

Sem comentários - A reportagem procurou o advogado Batochio para co­­mentar a decisão. Mas ele não re­­tornou as ligações. Outro advogado de Bibinho, Alessandro Silvério, disse que não teve acesso ao despacho de Toffoli e que não iria comentá-lo. Ele adiantou, porém, que irá estudar a decisão para pedir a soltura de seu cliente. Nassiff e Bibinho, abordados pela reportagem quando chegavam ao Gaeco, não quiseram comentar suas prisões.

Já o presidente da Associação Paranaense dos Juízes Federais (Apajufe), Anderson Furlan, disse que agora é importante que a in­­vestigação tenha rapidez. “Que se trabalhe com agilidade para que não ocorra a prescrição dos crimes.” Furlan ainda sugeriu que o caso motive o Tribunal de Justiça do Paraná a criar uma turma especializada no julgamento de casos de desvio de verbas públicas. A Apajufe é uma das entidades que fazem parte do movimento “O Paraná que Queremos”, que pede a moralização da Assembleia.


Linha do tempo

Confira os principais passos do escândalo dos Diários Secretos:

15 de março – Reportagem da Gazeta do Povo e da RPC TV revela que diários oficiais não numerados são usados para encobrir decisões da Assembléia.

16 de março – Reportagem mostra que Abib Miguel, então diretor-geral da Assembleia, montou uma rede de apadrinhados como funcionários da Casa, muitos sem trabalhar.

17 de março – A série Diários Secretos mostra que pelo menos R$ 59 milhões foram gastos pelo Legislativo com salários com valores acima do limite permitido pela lei.

18 de março – Bibinho, como o diretor-geral era conhecido, pede afastamento do cargo.

21 de março – Reportagem demonstra que 2.178 atos oficiais não foram publicados pela Assembleia. Eram secretos e encobriam decisões que o Legislativo queria esconder.

22 de março – O diretor administrativo, José Ary Nassiff, pede afastamento do cargo.

31 de março – O diretor de pessoal, Claudio Marques da Silva, pede afastamento.

23 de abril – O MP pede o bloqueio de bens dos envolvidos no esquema. O pedido é acatado pela Justiça.

24 de abril – Bibinho e mais nove pessoas são presas.

8 de maio – Nova operação prende outras nove pessoas e apreende documentos na Assembleia.

11 de junho – Beneficiado por liminar do STF, Bibinho e outros envolvidos deixam a prisão.

26 de agosto – Toffoli revoga a liminar que havia concedido e suspende todos os efeitos da decisão anterior.

O crime continuado do PT

O ESTADO DE S. PAULO, Editorial 27 de agosto de 2010


Foi preciso uma decisão judicial, tomada na terça-feira, para que o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, pudesse exercer o direito elementar de acesso ao inquérito instaurado na Corregedoria-Geral da Receita para apurar a devassa nas suas declarações de renda - cópias das quais foram parar em mãos de pessoas ligadas à campanha da candidata petista Dilma Rousseff. E só assim o País ficou sabendo, já tardiamente, que o sigilo fiscal de outros contribuintes também foi quebrado na mesma ocasião, com a mesma sórdida intenção de atingir o candidato tucano ao Planalto, José Serra.

Em 16 minutos, na hora do almoço do dia 8 de outubro de 2009, na delegacia do Fisco em Mauá, na Grande São Paulo, foram abertas e impressas as declarações do ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique, Luiz Carlos Mendonça de Barros; do arrecadador informal da campanha de Serra ao Senado em 1994 e em seguida diretor da área internacional do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira; e do empresário Gregorio Marin Preciado, casado com uma prima de Serra.

Os sistemas de controle da Receita identificaram como pertencendo à analista fiscal Antonia Aparecida Neves Silva a senha utilizada para a invasão no computador da servidora Adeilda Ferreira dos Santos. Antonia, contra quem foi aberto processo administrativo, admitiu ter passado a senha a Adeilda e a outra colega, Ana Maria Caroto Cano. Todas negam envolvimento no caso. O processo depende de uma perícia que não tem data para terminar. É incerto igualmente se aparecerão os nomes dos autores e mandantes do crime. Se aparecerem, não será antes da eleição.

O que parece fora de dúvida é que a devassa foi ordenada de dentro do apparat petista para a formação de um dossiê a ser eventualmente usado contra Serra, conforme revelado pela Folha de S.Paulo, que teve acesso ao material. Na campanha de 2006, quando ele concorria ao governo paulista, o coordenador da campanha do então candidato ao Senado pelo PT, Aloizio Mercadante, envolveu-se com a malograda tentativa de um grupo de companheiros de comprar uma papelada para atacar o tucano. Eles foram presos em flagrante com uma bolada de dinheiro. O presidente Lula limitou-se a chamá-los de aloprados.

Não se sabe se desta vez também há dinheiro envolvido na sujeira afinal desmascarada. Ainda que haja, deve ter prevalecido na montagem da operação o mais autêntico espírito partidário do vale-tudo para tomar e permanecer no poder, como, por palavras e atos, o próprio Lula ensina sem cessar à companheirada. Esse espírito está na origem do mensalão, do escândalo dos aloprados e das demais baixarias que vieram à tona nestes 8 anos. Do PT se pode dizer, parafraseando uma citação clássica, que nada esqueceu e nada deixou de aprender em matéria de vilania política.

Aprendeu, sobretudo, que os fins não apenas justificam os meios, mas dependem de meios eficazes para ser alcançados. O principal deles é o controle - no sentido mais raso do termo - da máquina pública. Dos muitos objetivos a que serve o aparelhamento do Estado, um dos mais importantes é criar um disseminado e leal "exército secreto", como já se escreveu nesta página, pronto para fazer os trabalhos sujos que dele se demandem. A ordem tanto pode partir dos mais altos escalões do governo ou do partido como resultar da iniciativa de indivíduos e grupos que conhecem as regras do jogo na casa e sabem a quem recorrer numa ou em outra circunstância.

No caso da violação do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB e a Serra, é até possível que Dilma só viesse a saber dela quando já estava em curso ou depois de escancarada. O que teria sido possível graças a inconfidências de membros da campanha em conflito com o setor de onde parece ter partido a decisão de arrombar o cofre de informações da Receita. Mas, na ordem das coisas que contam, o essencial, o assustador, é que se constituiu no governo uma rede de agentes que a qualquer momento pode funcionar como uma organização criminosa.

Essa estrutura, que se nutre do próprio Estado em que se encastelou, só deverá se fortalecer com a provável vitória da candidata presidencial do PT.

Prefeitura de Londrina reduz horário de atendimento e entidades temem prejuízo à população

JORNAL DE LONDRINA, 27 de agosto de 2010

A medida visa reduzir o custo com horas extras dos servidores, que hoje chega a R$ 18 milhões por ano.


O secretário de Gestão Pública, Marco Cito, anunciou nesta quinta-feira (26) que o horário de atendimento na prefeitura de Londrina será reduzido a partir do dia 1º de setembro, funcionando das 12 às 18 horas,. A medida visa diminuir o custo com horas extras dos servidores, que hoje chega a R$ 18 milhões por ano. Procon, Saúde e Acesf continuarão em horários estendidos. Entidades temem prejuízo no atendimento.

“A carga horária do servidor é de seis horas. E, por causa disso, tínhamos que trabalhar com escalas para atender das 8 às 18 horas”, explicou Cito. Segundo ele, a escala dificultava a integração necessária entre serviços.

O prefeito Barbosa Neto (PDT) admitiu, durante entrevista coletiva, que o recurso utilizado para o pagamento de hora-extra está fazendo falta aos cofres municipais. “Nós temos dificuldades de caixa na prefeitura. Isto não é segredo para ninguém”, afirmou. A expectativa é que o trabalho dos servidores e o atendimento à população seja mais eficiente. “Gostaríamos de ter o expediente atendendo em todos os setores [durante] 12, 10 horas por dia”, declarou.

Atendimento - Para Cito, a população não será prejudicada. “A praça de atendimento, que trabalhava com poucos funcionários por turnos, terá 100% dos servidores em um só horário, o que agilizará os serviços”, afirmou. Todo mês de setembro será considerado um período de adaptação e flexibilização para que os servidores se adéquem ao novo horário, principalmente aqueles que estudam ou tem outras atividades. “A partir de outubro, no entanto, todos deverão estar trabalhando no novo horário”, afirmou.

O secretário não soube estimar o valor que será economizado com a medida. “Ainda não temos este levantamento principalmente porque as horas extras geradas em trabalhos em campo continuarão a ser pagas”, disse.

Esta, no entanto, será uma medida a ser analisada pelo Observatório de Gestão Pública de Londrina. O presidente da entidade, Waldomiro Grade, admitiu que a redução no horário poderá ser prejudicial. “A princípio pode haver prejuízo à população. Vamos querer ver se a medida será eficiente do ponto de vista da prestação do serviço público.”

O presidente do Sindicato dos Servidores (Sindserv) de Londrina, Éder Pimenta, reconheceu que a redução no horário poderá gerar determinada economia. “Se formos analisar, gera economia de energia elétrica. Mas a prefeitura tem os outros cálculos”, disse. De acordo com ele, o atendimento ao público pode ser prejudicado. “Vai reduzir em quatro horas.”

Ainda segundo Pimenta, não há o que discutir em relação aos horários dos servidores. “A decisão do horário de trabalho, dentro da jornada de 30 horas semanais, é uma prerrogativa do empregador. Não temos como questionar. Estamos conversando com a prefeitura um período de adaptação, para quem trabalhava de manhã”, afirmou.

Grandes cidades
Entre as grades cidades do Paraná, somente Ponta Grossa, município menor que Londrina, localizado nos Campos Gerais, têm o expediente municipal em apenas um período, na parte da tarde. Em Curitiba, Foz do Iguaçu e Maringá, o atendimento da prefeitura se dá o dia todo, com algumas variações no horário, como o período do almoço.

Além de tucanos, até Ana Maria Braga teve o sigilo fiscal violado

O GLOBO, 27 de agosto de 2010


Na lista de pessoas que tiveram a declaração de Imposto de Renda acessada do terminal da Receita Federal em Mauá (SP) está até mesmo a apresentadora da Rede Globo Ana Maria Braga. A declaração do IR de 2009 da apresentadora foi acessada e impressa no dia 16 de novembro, às 11h15m, do terminal de Adeildda Ferreira Leão dos Santos, de onde também foram extraídas as informações sigilosas do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, e de outras três pessoas ligadas ao presidenciável José Serra (PSDB) : Luiz Carlos Mendonça de Barros (ex-ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso), Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-diretor do Banco do Brasil) e do marido da prima de Serra, Gregório Marin Preciado. Os tucanos acusam integrantes da campanha de Dilma Rousseff (PT) de usar as informações em um suposto dossiê .

Ana Maria Braga é uma das mais de cem pessoas que tiveram suas informações fiscais checadas em Mauá, mesmo que não tenha qualquer relação tributária com aquela região fiscal. Nem mesmo na lista de contribuintes que pediram informações ao Fisco no ABC consta o nome da apresentadora. Os acessos registrados no terminal ocupado por Adeildda entre agosto e dezembro de 2009 integram o processo administrativo instaurado pela Corregedoria da Receita para apurar supostas irregularidades cometidas por servidores da delegacia.

Na mesma lista de pessoas que tiveram suas informações fiscais acessadas também estão quatro integrantes da família Klein, entre eles, Samuel Klein, empresário dono de uma das maiores redes de varejo do Brasil. O acesso aos dados fiscais de Klein foi feito no dia 4 de agosto às 12h39m.

Todos os acessos foram feitos do terminal de Adeildda Ferreira Leão dos Santos, uma das três analistas tributárias investigadas pela Corregedoria. As três negaram em depoimento envolvimento com o episódio.

Ministro do Supremo vê 'golpe baixo' em quebra de sigilo de tucanos

O ESTADO DE S. PAULO, 27 de agosto de 2010


O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), classificou como "péssimo" o episódio da quebra ilegal de sigilo fiscal de integrantes do PSDB e disse que no campo eleitoral não cabe golpe baixo nem bisbilhotice.

"Num Estado Democrático de Direito, há de se preservar certos valores. E o valor coberto por sigilo é um valor maior", afirmou . "Não cabe bisbilhotice", disse.

Segundo o ministro, é "sintomático" que esse episódio tenha ocorrido durante o período eleitoral. "Vamos disputar. Que vença o melhor", afirmou. "No campo eleitoral, não há espaço para o golpe baixo."

Indagado se o fato seria típico de campanha, Marco Aurélio respondeu: "Se for, é um golpe baixo. Evidentemente não cabe, numa caminhada eleitoral visando ao sucesso, não cabe golpe baixo. Nós temos de disputar observando a ordem jurídica, observando os parâmetros fixados por essa ordem jurídica. É assim que se avança culturalmente."

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, disse que a entidade está "perplexa e indignada" com a notícia sobre a quebra de sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB. "O Estado brasileiro deve uma explicação convincente e rápida para demonstrar que não está conivente com esse tipo de procedimento ilegal e que fere o princípio constitucional do sigilo, essencial à segurança do próprio Estado Democrático de Direito", afirmou.

Ophir disse que a sociedade espera que o Ministério Público e a Polícia Federal apurem o caso. "A não-apuração e punição afetam a credibilidade do Estado brasileiro no que diz respeito ao cumprimento da Constituição e dos tratados internacionais", afirmou.

As enchentes paulistanas e a teoria do ''já que''

O ESTADO DE S. PAULO, Washington Novaes, 27 de agosto de 2010


São graves as preocupações manifestadas por editorial deste jornal (A proteção dos mananciais, 15/8, A3) em relação às modificações do Plano Diretor de São Paulo que permitirão a construção de novos conjuntos habitacionais verticais para 4 mil habitantes do entorno dos Reservatórios Billings e Guarapiranga. O primeiro abastece 1,2 milhão de paulistanos; o segundo, 3,8 milhões. Billings já perdeu, com as ocupações irregulares, 12 quilômetros quadrados de seu espelho d"água e recebe 400 toneladas diárias de lixo; Guarapiranga tem 1,3 milhão de moradores no seu entorno.

O Ministério Público estadual já considerou a decisão um "desastre administrativo". E ela segue a linha aberta pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que, com o pretexto de permitir a implantação de saneamento, admitiu a legalização de ocupações humanas em áreas de preservação permanente (APPs). É o que o autor destas linhas tem chamado de teoria do "já que": já que não se consegue impedir a ocupação ilegal, para evitar uma parte do problema - esgotos a céu aberto ou contaminando lençóis subterrâneos - permite-se o que é considerado o mal menor, a legalização, pois sem esta não seria possível implantar o saneamento; se este é concretizado ou não depois, é outra questão...

Não se pretende aqui minimizar o problema, que é imenso e dramático. Ainda há poucos dias, num simpósio promovido pelo Instituto de Engenharia de São Paulo para discutir a questão de enchentes na cidade, com a participação de secretários e subsecretários paulistas e paulistanos, além de professores universitários, ficaram patentes as dimensões gigantescas de todos os ângulos desse e de outros problemas de um conglomerado de quase 20 milhões de pessoas, das quais quase 2 milhões (400 mil famílias) vivem em favelas, 1,2 milhão em áreas de preservação (mais 38% em quatro anos).

Quem pensa (corretamente) em descentralização como forma de administrar mais de perto as questões esbarra em números como o de subprefeituras que já têm em sua área quase 800 mil pessoas - população de muitas capitais brasileiras. Quem tenta resolver os problemas aparentemente gerados por determinados rios ou córregos logo verifica que esses problemas nascem a montante, em outras subprefeituras, ou até muito longe (na região metropolitana há 300 córregos e 70 rios sepultados sob o asfalto). A limpeza de córregos exigiu, pelo último balanço, trabalhos em mais de 2.600 quilômetros - e três anos depois o trabalho teve de ser executado de novo em muitos lugares . Para limpar pelo menos três vezes por ano as 1.117.086 bocas de lobo existentes na capital é preciso trabalhar em pelo menos 3.060 delas a cada dia do ano. A varrição de ruas exige que se trabalhe em 17 mil quilômetros. No corte de grama são 63,4 mil metros quadrados. É preciso coletar 16 mil toneladas diárias de lixo, mais 3 mil toneladas de entulhos. A Operação Cata-Bagulho recolheu em 2009 mais de 100 mil toneladas. A área de saneamento tem avançado, mas quase um terço dos esgotos coletados de habitantes da capital não é tratado e 6% da população ainda não tem suas casas ligadas às redes coletoras. Mais de 20% da água que sai das estações de tratamento continua a se perder em furos e vazamentos na rede de distribuição. Buscar mais água só seria possível a distâncias enormes, com custos estratosféricos.

Num quadro com essas dimensões, é tarefa descomunal o enfrentamento de enchentes, embora já se disponha de um sistema integrado de alerta, com 180 estações de monitoramento, capazes de observar a sequência de dias chuvosos e emitir avisos prévios do risco de inundações. Principalmente nestes tempos de "eventos extremos" intensificados por mudanças climáticas - como os de dezembro de 2009, quando caíram 90 milímetros de chuva em 18 horas (8/12) e duas semanas depois (21/12) mais de 60 milímetros em seis horas. O solo impermeabilizado, redes de drenagem insuficientes, inexistentes ou entupidas não dão conta de tal volume de água (90 milímetros de chuva significam quase 100 litros de água por metro quadrado de solo).

Está cada vez mais claro que são indispensáveis mudanças radicais. Embora não resolva toda a questão, a descentralização administrativa é imperiosa, para estar mais perto dos problemas. Mas a resistência da corporação política é muito forte. Pode-se lembrar o episódio, já mencionado neste espaço, de quando a Universidade de São Paulo fez um projeto nessa direção e o ofereceu à Câmara Municipal. Previa a criação de várias regiões, cada uma delas com orçamento autônomo, e sua gestão - inclusive o poder de decidir que obras ou programas executar - caberia a um conselho distrital, com a participação de representantes diretos da sociedade. Foram aprovadas apenas a descentralização e a criação de cargos - não o orçamento autônomo nem a participação da sociedade.

É preciso tomar consciência da urgência das decisões. A população crescente, a complexidade progressiva das questões indicam com clareza que tudo se agravará com o tempo. Não há soluções mágicas. Mas o enfrentamento positivo exigirá que a sociedade deixe apenas de reclamar e participe das decisões. Fazendo opções, inclusive sobre a geração de recursos por meio do pagamento de impostos - e fiscalizando também a arrecadação e a aplicação.

Infelizmente, a atual campanha eleitoral mostra que estamos distantes até da discussão dessas dimensões do problema, quanto mais da proposta de soluções. Só que a população pagará o preço - quanto mais demorar, mais difícil será. Nem adianta sonhar os sonhos que duas pesquisas de opinião na Grande São Paulo já mostraram, com dois terços da população dizendo-se desejosos de se mudar para outros lugares - exatamente por causa dos problemas comentados linhas atrás.

Que lugares poderiam receber 12 milhões de pessoas?

Paraná registra mais de 700 incêndios só nesta semana

GAZETA DO POVO, 27 de agosto de 2010

Só em agosto, o Corpo de Bombeiros do estado já recebeu mais de 1.329 chamadas alertando para incêndios florestais. Quase o dobro do registrado no mesmo período do ano passado



O Paraná registrou mais de 737 incêndios de campo nesta semana. Além do clima seco, os balões também contribuem para o crescimento do número. Este ano, 27 balões foram apreendidos em Curitiba e 17 pessoas foram levadas para a delegacia. Mas, de acordo com o Corpo de Bombeiros, a maioria dos incêndios é provocada pelas pessoas que limpam terrenos com queimadas ou jogam cigarros pelas janelas.

Em entrevista ao telejornal ParanáTV 2 ª edição, da RPC TV, o coordenador da Defesa Civil, tenente Leonardo Pinheiro, lamenta que as pessoas insistam nestas atitudes mesmo sabendo dos riscos. Em agosto deste ano, os bombeiros já receberam 1.329 chamadas de incêndios florestais. O número é quase o dobro do registrado no mesmo período do ano passado.

O risco de incêndio é elevado em praticamente todo o estado. Nas regiões mais próximas da divisa com o estado de São Paulo o risco é extremo.