sábado, 9 de outubro de 2010

Marina Silva, a noiva do segundo turno

Apoio da senadora verde é cobiçado por Serra e Dilma. O desafio para eles: conquistar o voto de opinião

VEJA, 9 de outubro de 2010


Marina Silva perdeu ganhando. Derrotada no primeiro turno, a ex-candidata do PV tornou-se a protagonista desta largada do segundo turno. Mais do que o apoio de Marina - ela sinaliza opção pela neutralidade -, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) lutam para conquistar o eleitorado da verde. A tarefa é desafiadora pelo tipo de voto recebido por Marina na primeira rodada das eleições: o voto de opinião.

Apesar de formarem um grupo heterogêneo, que vai de conservadores evangélicos a jovens descolados, os marineiros têm características em comum. Escolheram Marina por conta de sua figura, trajetória e propostas, de forma desvinculada do PV - o que dificulta ainda mais a vida de Dilma e Serra. O apoio do partido, que tende para o tucano, não implica no apoio dos eleitores de Marina. Clique aqui e saiba quem é e para onde vai o eleitor verde.

Os marineiros sentem-se pouco à vontade para escolher entre os dois candidatos. Queriam, de fato, Marina presidente. Para ganhar a confiança deles, Dilma e Serra terão, antes, de entendê-los. “Não se pode tratar esses eleitores como idiotas”, alerta Roberto Romano, professor de Filosofia Política e Ética da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Justamente porque as pessoas pensam, teremos segundo turno." Um infográfico preparado pelo site de VEJA mostra o quanto das propostas formuladas pelo PV coincide com as ideias de Serra e Dilma.

Para Romano, Marina atraiu os eleitores por ter passado uma imagem ética e verdadeira, aliada a um discurso amplo, com argumentos políticos, econômicos e sociais, sem nunca esquecer o ponto de partida: a questão ambiental. "Dilma é extremamente dura, Serra tende à racionalidade. Marina irradia emoção", avalia o professor. Além disso, a votação de Marina mostra um eleitorado cansado da dicotomia PT versus PSDB, em busca de uma terceira via.

Aborto - Evangélica, a verde conseguiu se expressar de forma genuína sobre temas polêmicos. Combinou opinião pessoal com ponderações de estadista, como quando disse que, apesar de ser contra o aborto, convocaria um plebiscito sobre a descriminalização do procedimento. "A discussão sobre aborto surgiu nas redes miúdas das igrejas, tomou corpo e acabou sendo tão definidora para o segundo turno quanto foram os escândalos da Casa Civil", diz a cientista política Flávia Birolli, professora da Universidade de Brasília (UnB).

A presença de Marina no pleito colocou a religião como um dos tópicos das eleições e Dilma dá sinais de ter entendido o recado. O padrinho da petista deixou de ser Lula. Agora, é Deus. Dilma, que defendia antes da eleição a legalização do aborto em nome da saúde pública, mudou de ideia e virou "defensora da vida". Para Roberto Romano, a estratégia é arriscada. "O PT está colocando o pé na jaca, tratando os eleitores de Marina como bobos", afirma. "Esses não são votos conquistáveis com afagos, acenos e simulações."

Neutra - Marina Silva dá sinais de que vai optar pela neutralidade neste segundo turno. De olho nas eleições presidenciais de 2014, a verde evita, assim, comprometer-se com o fracasso de Dilma ou de Serra, avalia o sociólogo e doutor em Ciências Políticas pela Universidade de São Paulo (USP) Humberto Dantas. "A neutralidade é boa para Marina."

Além disso, ela mantém a coerência, já que passou a primeira rodada das eleições chamando os adversários de "representantes da velha política". "O PV pode estar dividido entre apoiar Dilma ou Serra, mas está unido em torno do nome de Marina para as próximas eleições. É o que importa para ela", explica Roberto Romano, da Unicamp.

Apesar da neutralidade da ex-candidata, os analistas veem uma tendência inicial de migração de parte dos votos dela para José Serra. Diz Romano: "Serra sai na frente na conquista desses votos, mas a migração depende da capacidade das campanhas de captarem a vontade desse eleitorado."

Nenhum comentário: