O GLOBO, Merval Pereira, 9 de outubro de 2010
O resultado das eleições presidenciais mostrou que a distribuição regional dos votos continuou basicamente a mesma da eleição de 2006, com as regiões mais pobres do país, inclusive na região sudeste, votando no Governo, e o sul (com exceção do Rio Grande do Sul), sudeste e centro-oeste indo para a oposição.
A influência dos católicos e evangélicos devido à polêmica sobre o aborto não teve tanta importância quanto atribuem no resultado final.
As conclusões são do cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, especialista em geografia eleitoral. Ele comemora que já está se tornando comum o uso de mapas para definir melhor o que aconteceu nas eleições:
“Há uns dez anos lançamos um livro chamado “Comunicação Cartográfica” em que chamávamos a atenção para a importância do mapa como forma de comunicar a informação. Hoje, os grandes jornais estão dando destaque aos mapas mostrando a distribuição dos votos de cada candidato, o que é muito bom para entendermos o que está acontecendo no país”, diz ele.
Existem 9 estados que detém 75% do eleitorado brasileiro. Desses, Dilma ganhou em cinco: Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio e Rio Grande do Sul, e agora terá governadores eleitos para ajudá-la no segundo turno.
Em contrapartida aliados de Serra ganharam em 4 desses estados: Minas, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Dilma ficou num número intermediário entre a votação de Lula em 2002 – quando teve 46% - e em 2006, quando teve 48%. Nesta eleição ela teve 47%, o que demonstra que o PT estabeleceu nas últimas 3 eleições um patamar.
Já o Serra, que teve 33% dos votos este ano, teve mais votos que em 2002 - quando obteve 23% - mas menos do que o PSDB teve em 2006 com Alckmin, que foram 42%.
Esses 9 pontos percentuais foram para a Marina, já que Dilma ficou no mesmo nível das eleições anteriores do PT. Marina recebeu também os 9 pontos que em 2006 foram dados a Heloisa Helena (6%) e Cristovam Buarque (3%).
Isso quer dizer que a Marina com certeza, além dos votos “verdes” que em eleições anteriores foram para esses três candidatos, já que o PV não apresentou candidato próprio, foi o estuário desaguadouro de muitos votos, estimulados pelo seu discurso de que queria governar com o melhor do PT e do PSDB, quebrando a polarização: tucanos insatisfeitos com a campanha de Serra; petistas desapontados com o governo Lula; “verdes” propriamente ditos, e o voto religioso de evangélicos e católicos contra o aborto.
Romero Jacob, um estudioso da influência do voto religioso, vai contra a corrente e não considera que esse voto tenha sido decisivo, mas apenas mais um dos muitos fatores que impediram a eleição de se definir no primeiro turno.
Nas três primeiras eleições, os evangélicos estiveram ao lado de Collor e Fernando Henrique, por que entenderam que o PT tinha o apoio das Comunidades Eclesiais de Base (CEB), de onde eram originários muitos dos fundadores do partido, explica Cesar Romero Jacob.
Em 2002, no primeiro turno, foram todos para o “irmão” Garotinho, cuja distribuição de votos no território nacional naquela eleição é muito parecida com a localização das igrejas pentecostais e as repetidoras da Rede Record de televisão, comandada pelo Bispo Edir Macedo, como mostram estudos da equipe da PUC que Romero Jacob coordena.
No segundo turno, eles se dividiram: a Igreja Universal ficou com Lula e a Assembléia de Deus ficou com Serra. Em 2006 houve certa onda de que o Alckmin era da Opus Dei, um grupo católico mais conservador, e de novo o voto evangélico se dividiu.
Mas, adverte Romero Jacob, o fato é que, tirando a candidatura de Garotinho em 2002 e a do Crivela no Rio de Janeiro, esses votos se diluem.
De qualquer maneira, Romero Jacob diz que mesmo que sem querer, os grupos católicos e evangélicos ganharam a certeza de que nenhum dos candidatos levará adiante projetos de descriminalização do aborto e ao casamento gay, independentemente do que eles pensem.
Mas também aí esse movimento não é uniforme. Existe um grupo chamado “Católicas pelo direito de decidir”, um grupo minoritário, mas que defende o direito da mulher decidir sobre o aborto.
Do mesmo modo existe um movimento católico chamado “Diversidade católica”, pela não discriminação dos gays no mundo católico, e entre os evangélicos existe a Igreja Cristã Contemporânea, dissidentes da Igreja Universal, que aceita o casamento gay.
É claro, diz Romero Jacob, que para os líderes religiosos é bom que se diga que foi a polêmica que causou o segundo turno, pois isso aumenta o cacife político deles nesse jogo de pressões.
Entre os fatores que influíram no resultado final, Romero Jacob inclui a abstenção mais alta, com maior incidência nas regiões norte e nordeste, onde Dilma teve um desempenho melhor. E a abstenção foi menor justamente nas regiões sul, sudeste, onde Serra foi mais bem votado.
Romero Jacob acha inclusive que os institutos de pesquisas erraram ao não perceber que a abstenção iria aumentar – de 16% para 18% - devido a questões climáticas, como a seca na Amazônia, que impede o ribeirinho de sair de casa, ou no nordeste por causa da exigência do documento com foto para votar ou a dificuldade de votar em seis candidatos, deixando o voto para Presidente em último lugar.
A distribuição dos votos pelo território nacional é muito semelhante à eleição de 2006, constata Romero Jacob: o norte e o nordeste, a metade norte de Minas e o sul do estado, Rio de Janeiro e Espírito Santo e o Rio Grande do Sul com Dilma, mais o sul do Brasil, o centro-oeste, parte de Minas e São Paulo com Serra.
Mais uma vez o bolso influiu na eleição, ressalta Romero Jacob, com as regiões exportadoras votando contra o governo por causa da valorização do Real, e as regiões beneficiadas pelo Bolsa-Família e outros programas assistencialistas, a parte mais pobre do país, ficando com Dilma.
Os reflexos econômicos em ambos os casos perpassam toda a cadeia produtiva local, e o mercado interno das regiões, beneficiados ou prejudicados pelas ações do governo.
Em linhas gerais, onde o governador ganhou o candidato a presidente daquela base ganhou também. A única exceção foi Minas, onde o candidato tucano Antonio Anastásia teve 60% dos votos e o Serra teve 30%.
O resultado das eleições presidenciais mostrou que a distribuição regional dos votos continuou basicamente a mesma da eleição de 2006, com as regiões mais pobres do país, inclusive na região sudeste, votando no Governo, e o sul (com exceção do Rio Grande do Sul), sudeste e centro-oeste indo para a oposição.
A influência dos católicos e evangélicos devido à polêmica sobre o aborto não teve tanta importância quanto atribuem no resultado final.
As conclusões são do cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, especialista em geografia eleitoral. Ele comemora que já está se tornando comum o uso de mapas para definir melhor o que aconteceu nas eleições:
“Há uns dez anos lançamos um livro chamado “Comunicação Cartográfica” em que chamávamos a atenção para a importância do mapa como forma de comunicar a informação. Hoje, os grandes jornais estão dando destaque aos mapas mostrando a distribuição dos votos de cada candidato, o que é muito bom para entendermos o que está acontecendo no país”, diz ele.
Existem 9 estados que detém 75% do eleitorado brasileiro. Desses, Dilma ganhou em cinco: Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio e Rio Grande do Sul, e agora terá governadores eleitos para ajudá-la no segundo turno.
Em contrapartida aliados de Serra ganharam em 4 desses estados: Minas, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Dilma ficou num número intermediário entre a votação de Lula em 2002 – quando teve 46% - e em 2006, quando teve 48%. Nesta eleição ela teve 47%, o que demonstra que o PT estabeleceu nas últimas 3 eleições um patamar.
Já o Serra, que teve 33% dos votos este ano, teve mais votos que em 2002 - quando obteve 23% - mas menos do que o PSDB teve em 2006 com Alckmin, que foram 42%.
Esses 9 pontos percentuais foram para a Marina, já que Dilma ficou no mesmo nível das eleições anteriores do PT. Marina recebeu também os 9 pontos que em 2006 foram dados a Heloisa Helena (6%) e Cristovam Buarque (3%).
Isso quer dizer que a Marina com certeza, além dos votos “verdes” que em eleições anteriores foram para esses três candidatos, já que o PV não apresentou candidato próprio, foi o estuário desaguadouro de muitos votos, estimulados pelo seu discurso de que queria governar com o melhor do PT e do PSDB, quebrando a polarização: tucanos insatisfeitos com a campanha de Serra; petistas desapontados com o governo Lula; “verdes” propriamente ditos, e o voto religioso de evangélicos e católicos contra o aborto.
Romero Jacob, um estudioso da influência do voto religioso, vai contra a corrente e não considera que esse voto tenha sido decisivo, mas apenas mais um dos muitos fatores que impediram a eleição de se definir no primeiro turno.
Nas três primeiras eleições, os evangélicos estiveram ao lado de Collor e Fernando Henrique, por que entenderam que o PT tinha o apoio das Comunidades Eclesiais de Base (CEB), de onde eram originários muitos dos fundadores do partido, explica Cesar Romero Jacob.
Em 2002, no primeiro turno, foram todos para o “irmão” Garotinho, cuja distribuição de votos no território nacional naquela eleição é muito parecida com a localização das igrejas pentecostais e as repetidoras da Rede Record de televisão, comandada pelo Bispo Edir Macedo, como mostram estudos da equipe da PUC que Romero Jacob coordena.
No segundo turno, eles se dividiram: a Igreja Universal ficou com Lula e a Assembléia de Deus ficou com Serra. Em 2006 houve certa onda de que o Alckmin era da Opus Dei, um grupo católico mais conservador, e de novo o voto evangélico se dividiu.
Mas, adverte Romero Jacob, o fato é que, tirando a candidatura de Garotinho em 2002 e a do Crivela no Rio de Janeiro, esses votos se diluem.
De qualquer maneira, Romero Jacob diz que mesmo que sem querer, os grupos católicos e evangélicos ganharam a certeza de que nenhum dos candidatos levará adiante projetos de descriminalização do aborto e ao casamento gay, independentemente do que eles pensem.
Mas também aí esse movimento não é uniforme. Existe um grupo chamado “Católicas pelo direito de decidir”, um grupo minoritário, mas que defende o direito da mulher decidir sobre o aborto.
Do mesmo modo existe um movimento católico chamado “Diversidade católica”, pela não discriminação dos gays no mundo católico, e entre os evangélicos existe a Igreja Cristã Contemporânea, dissidentes da Igreja Universal, que aceita o casamento gay.
É claro, diz Romero Jacob, que para os líderes religiosos é bom que se diga que foi a polêmica que causou o segundo turno, pois isso aumenta o cacife político deles nesse jogo de pressões.
Entre os fatores que influíram no resultado final, Romero Jacob inclui a abstenção mais alta, com maior incidência nas regiões norte e nordeste, onde Dilma teve um desempenho melhor. E a abstenção foi menor justamente nas regiões sul, sudeste, onde Serra foi mais bem votado.
Romero Jacob acha inclusive que os institutos de pesquisas erraram ao não perceber que a abstenção iria aumentar – de 16% para 18% - devido a questões climáticas, como a seca na Amazônia, que impede o ribeirinho de sair de casa, ou no nordeste por causa da exigência do documento com foto para votar ou a dificuldade de votar em seis candidatos, deixando o voto para Presidente em último lugar.
A distribuição dos votos pelo território nacional é muito semelhante à eleição de 2006, constata Romero Jacob: o norte e o nordeste, a metade norte de Minas e o sul do estado, Rio de Janeiro e Espírito Santo e o Rio Grande do Sul com Dilma, mais o sul do Brasil, o centro-oeste, parte de Minas e São Paulo com Serra.
Mais uma vez o bolso influiu na eleição, ressalta Romero Jacob, com as regiões exportadoras votando contra o governo por causa da valorização do Real, e as regiões beneficiadas pelo Bolsa-Família e outros programas assistencialistas, a parte mais pobre do país, ficando com Dilma.
Os reflexos econômicos em ambos os casos perpassam toda a cadeia produtiva local, e o mercado interno das regiões, beneficiados ou prejudicados pelas ações do governo.
Em linhas gerais, onde o governador ganhou o candidato a presidente daquela base ganhou também. A única exceção foi Minas, onde o candidato tucano Antonio Anastásia teve 60% dos votos e o Serra teve 30%.
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