quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Rombo no caixa da Urbs é de R$ 9,2 milhões

GAZETA DO POVO, 21 de outubro de 2009

Sistema de ônibus de Curitiba perdeu mais de 12 milhões de passagens desde o início do ano, causando atrasos nos pagamentos às empresas
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De janeiro a setembro deste ano, mais de 12 milhões de passagens não entraram no Sistema de Transporte Coletivo de Curitiba e geraram um déficit de R$ 9,2 milhões no caixa da Urbanização de Curitiba (Urbs). Em média, a queda foi de 1,3 milhão de passageiros transportados por mês em relação à previsão inicial para este ano. A maior perda aconteceu em agosto, durante o período de maior medo de contaminação pela gripe A(H1N1), conhecida como gripe suína, quando deixaram de entrar 3,5 milhões de passagens – uma queda de 12% sobre o movimento previsto para o mês. Nem mesmo o aumento da passagem, ocorrido no começo do ano, foi suficiente para cobrir o buraco nas contas da Urbs.

O furo de caixa só não é maior porque desde janeiro a prefeitura de Curitiba socorre o Fundo de Urbanização com o repasse contínuo do Imposto Sobre Serviços (ISS), arrecadado junto às dez empresas que operam o transporte coletivo na cidade. O valor mensal é de aproximadamente R$ 800 mil. Portanto, foram injetados no caixa da Urbs R$ 7,2 milhões desde então. Além disso, a Urbs está recebendo desde 2005 mais um aporte de cerca de R$ 1 milhão referente ao Sistema Integrado de Transporte (Sites), que atende 50 linhas de ônibus para o transporte de alunos das escolas especiais para deficientes físicos e mentais. Até 2005, o custo desse serviço era absorvido pelo sistema. Atualmente, ele é pago pela Secretaria de Educação e virou um alento neste ano de vacas magras.

O resultado deste déficit de mais de R$ 9 milhões é o atraso no pagamento do serviço prestado pelas empresas. “Estamos devendo uma média de 5 dias úteis”, informou o diretor de Transportes da Urbs, Fernando Ghignone. O diretor executivo do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), Aírton Amaral, disse que o pagamento acontece, em média, com até 8 dias de atraso. A reportagem da Gazeta do Povo apurou que, no início do ano, o atraso chegou a 20 dias. Para Amaral, o problema de caixa da Urbs refletiu na contabilidade das 10 empresas que operam o sistema na cidade e elas tiveram de recorrer a empréstimos bancários para conseguir capital de giro para manter os ônibus circulando.

Causas
Não há apenas um motivo que levou as pessoas a andarem menos de ônibus em Curitiba, e sim um conjunção de fatores que prejudicaram o sistema do transporte. Dois fatos foram determinantes: a crise financeira mundial e o medo da gripe. No primeiro semestre do ano, o nível da atividade econômica diminuiu e aumentou o desemprego. Consequentemente, menos pessoas usaram os ônibus para ir ao trabalho e voltar para casa. Depois da crise, veio a gripe. Ghignone salienta que nos três meses de temor intenso em relação ao risco de contaminação, 6,6 milhões de passagens deixaram de entrar no sistema. “O mais curioso é que não tivemos nenhum caso de motorista de ônibus com a gripe suína. Só três cobradores tiveram casos confirmados, mas eles trabalhavam em estações-tubo”, diz Amaral.

O diretor do Setransp lembrou ainda os fatores políticos envolvidos. “Infelizmente o poder público federal acabou incentivando o transporte individual”, comentou, ao lembrar a redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para a produção de automóveis, que ficaram mais baratos. Além disso, as pessoas continuam a optar pelas motocicletas para os deslocamentos urbanos.

Tarifa
Outro fator relevante para a queda na quantidade de pessoas transportadas neste ano pelo sistema de ônibus de Curitiba foi o aumento da passagem, que subiu de R$ 1,90 para R$ 2,20 em janeiro. O reajuste aconteceu depois de cinco anos de preço congelado. Em janeiro, a Urbs informou que a elevação da passagem era necessária para manter o nível de investimentos e evitar um déficit de R$ 122 milhões ao longo do ano.

No entanto, a medida não evitou que o caixa ficasse no vermelho. Nos quatro primeiros meses deste ano, foram perdidas 2,6 milhões de passagens, média de 600 mil por mês, devido ao au­­mento do preço da tarifa e à diminuição da atividade econômica influenciada pela crise financeira mundial.


Novo reajuste afastaria mais passageiros
Apesar de o preço da passagem ter subido R$ 0,30 em janeiro deste ano, o valor atual de R$ 2,20 não é suficiente para equilibrar o sistema devido à queda do número de passageiros transportados por mês. Para se ter uma ideia, o preço da passagem de ônibus deveria ter sido de R$ 2,32 durante o mês de agosto deste ano para que a arrecadação fosse equivalente ao custo total do sistema, estimado em cerca de R$ 55 milhões por mês. O valor da passagem é obtido pela divisão do custo total do sistema de transporte pelo número de passageiros transportados.

Apesar da defasagem, o diretor de Transportes da Urbs, Fernando Ghignone, não garante que haverá um novo aumento da passagem em janeiro do ano que vem, já que isso pode afastar um número maior de pessoas do sistema de ônibus, aumentando o déficit. Ele argumenta que é necessário esperar a conclusão da discussão do projeto de lei que tramita no Congresso Nacional para desonerar o transporte coletivo em todo o país. “Se for aprovada a desoneração em todo o sistema, é uma coisa. Se a desoneração for só para o diesel, é outra”, declara.

No início do mês, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que prevê isenção do PIS e da Cofins sobre o faturamento dos serviços de transporte público, compra de diesel, gás veicular, de combustíveis renováveis e não poluentes. Os tributos incidentes sobre a aquisição de chassis, carrocerias, veículos, pneus e câmaras de ar usados nos ônibus também podem ser derrubados. O texto prevê também a diminuição de ISS e ICMS na operação do sistema. A estimativa é de que apenas a desoneração dos impostos federais reduza em 15% a carga tributária do transporte coletivo. O projeto de lei precisa ser votado ainda no Senado Federal e, se não houver modificações, deve ser encaminhado para a sanção do presidente da República. Se os senadores alterarem a redação da lei, ela deverá ser novamente votada na Câmara.

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