terça-feira, 15 de setembro de 2009

Vereador de Londrina é afastado pela Justiça

JORNAL DE LONDRINA, 15 de setembro de 2009

Paulo Arildo foi acusado pelo MP de ficar com parte dos salários de ex-assessores. Partido do acusado já tinha um processo disciplinar contra ele desde abril do ano passado


O juiz da 10ª Vara Cível de Londrina, Álvaro Rodrigues Júnior, concedeu liminar, (leia aqui na íntegra) ontem, afastando o vereador Paulo Arildo (PSDB) do cargo, no caso em que ele foi denunciado pelo Ministério Público, sob a acusação de ficar com parte de salários de ex-assessores. Num despacho de cinco páginas, o juiz afirma que “há fortes indicativos de que o réu (Arildo), com o auxílio da ré Valéria (Cristina de Oliveira Domingues, esposa do vereador) exigiu de funcionários públicos, detentores de cargos em comissão, o repasse de parte seus vencimentos”.

Rodrigues Júnior justifica “a necessidade de afastamento do vereador a fim de se garantir o bom andamento da instrução processual”, alegando que é “fato incontestável que, na posse de seu cargo, o réu exerce notória influência não apenas sobre testemunhas, como também detém livre acesso a documentos relevantes encontrados nas dependências da Câmara. O afastamento – sem prejuízo dos vencimentos – dura até o encerramento da instrução do processo. De acordo com a denúncia do MP, o vereador cobraria parte dos salários de três ex-assessores e de uma assessora que trabalha em seu gabinete até hoje (leia texto nesta página).

O vereador disse que vai recorrer junto ao Tribunal de Justiça para tentar suspender a liminar que determinou o seu afastamento. Arildo disse que exonerou ontem pela manhã Izabella Ariane Faiad, a única dos quatro ex-funcionários que ainda trabalhavam no seu gabinete. “Exonerei para provar que não há problemas”, declarou.

Arildo disse ver “uma motivação puramente política” por trás das falas dos seus três ex-assessores, nos depoimentos que foram prestados ao MP. Ele disse ter prova que dois deles trabalharam na campanha do hoje coordenador do Procon, Marco Cito, que no ano passado disputou uma cadeira na Câmara Municipal. Embora Cito tenha concorrido pelo PDT, os dois buscavam votos na mesma base, a Renovação Carismática Católica. “Eu tenho provas de que os três (ex-assessores) trabalharam para ele (Cito). Tentaram acabar com o meu nome dentro da Igreja para que o nome do aliado deles subisse”, declarou.

Sobre as denúncias de divisão de salários, Arildo afirmou que ajudou seus ex-assessores emprestando dinheiro. “Ajudei um deles a comprar o carro porque ele não tinha nome na praça. Tenho canhoto de cheques que eu emprestava para eles comprarem com prazo de 30 a 60 dias em posto de gasolina e em outros lugares. Até isso eu fazia para eles”, declarou.

O vereador afirmou que vai entrar na Justiça contra seus assessores, que segundo eles teriam feito empréstimo consignado na Câmara falsificando a sua assinatura na condição de avalista. “Maldito o homem que confia em outro homem”, concluiu Arildo, citando a Bíblia (Jeremias, capítulo 17 versículo 5).

Marco Cito se defende

Procurado pelo JL, Marco Cito respondeu que “das quatro pessoas que estão no processo e que tanto o Ministério Público, quanto o juiz acataram como verdade, eu conheço duas”. “Não fui eu que motivei coisa alguma, não estamos mais em campanha eleitoral, eu estou seguindo a minha vida, ele segue a dele e tem que responder à Justiça”, completou. Os ex-assessores não foram localizados pelo JL ontem.


Três depoentes confirmaram a suposta divisão

De acordo com a denúncia oferecida na última sexta-feira pelo Ministério Público, o vereador Paulo Arildo (PSDB) ficaria com parte dos salários de três ex-assessores e de uma assessora que trabalhava no seu gabinete até ontem, quando foi exonerada para – segundo o tucano – não atrapalhar as investigações. Os ex-assessores que acusaram a suposta divisão de salários em depoimentos ao MP foram Paulo Sérgio de Brito, Edson Luís Barato e Edésio Viana da Silva. Segundo o MP, a ex-assessora Izabella Ariane Faiad, também seria obrigada a dividir o salário, o que ela nega.

O MP afirma que a quebra de sigilo bancário do vereador sustenta a acusação feita pelos ex-assessores, de que os salários eram divididos. Segundo os promotores, “Brito apresentou dois comprovantes, em que se constata duas transferências bancárias para a conta do vereador, no valor de R$ 442,50, datadas de 19 de agosto e 20 de setembro de 2005”, para cumprir a “exigência” da divisão do salário.

Ainda ao segundo a denúncia, embora Izabella Faiad tenha negado a exigência da divisão do salário, a auditoria do MP constatou que “a partir de maio de 2005, foram efetuados saques regulares no valor de R$ 442,50, sempre no dia 21 ou 22 de cada mês”. Nenhum dos ex-assessores foi localizado ontem pelo JL para comentar o caso.

Comissão de ética do PSDB analisa caso

A executiva do diretório municipal do PSDB de Londrina se reuniu no final da tarde de ontem para marcar a data do julgamento do vereador Paulo Arildo, que é filiado ao partido e foi afastado do mandato pela 10ª Vara Cível de Londrina, numa ação em que o Ministério Público o acusa de ficar com parte de salários de assessores. De acordo com o presidente do diretório municipal do PSDB, Claudemir Molina, não se trata de um julgamento sumário. Ele explicou que a comissão de ética do PSDB analisa o caso de Arildo desde o dia 16 de abril – poucos dias depois do caso ter vindo à tona – do ano passado e já há um posicionamento da comissão - que é mantido sob sigilo. “Já temos um processo disciplinar aberto no ano passado, instruído, com os depoimentos colhidos e com as razões finais”, explicou.

Falta marcar a data do julgamento. Segundo Molina, o processo foi paralisado no ano passado, antes da campanha eleitoral, a pedido do próprio Arildo, que alegou que o julgamento poderia ser contaminado pelo processo eleitoral.

Há um indicativo para que o julgamento ocorra em 24 de setembro, mas a definição sairia da reunião que não tinha acabado até o começo da noite de ontem. Participam do julgamento os 45 membros do diretório municipal e a condenação ou absolvição se dá por maioria simples.


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