terça-feira, 15 de setembro de 2009

Polícia fica proibida de remover feridos

GAZETA DO POVO, 15 de setembro de 2009

Decisão do governador Roberto Requião vem depois da morte de cinco pessoas em confronto com a PM no fim de semana


Por determinação do governador Roberto Requião (PMDB), as polícias Militar e Civil estão proibidas de transportar feridos em confrontos policiais ao hospital. A partir de agora, conforme medida anunciada ontem na reunião semanal da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), os policiais terão de acionar a ambulância do Sistema Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate), do Corpo de Bombeiros, para atender os feridos.

A decisão foi tomada após a morte na madrugada da última sexta-feira, no bairro Alto da Glória, em Curitiba, de cinco suspeitos de terem roubado um carro. Durante o confronto com policiais militares, os cinco suspeitos foram alvejados. Transportados pelas próprias viaturas policiais, os cinco teriam morrido a caminho do Hospital Cajuru, segundo a PM. Inquérito Policial Militar (IPM) foi aberto para averiguar a conduta dos oito policiais das Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) do 20.º Batalhão que se envolveram no confronto. Eles estão afastados do trabalho de rua durante a apuração interna e as respectivas armas foram recolhidas para perícia.

O objetivo da determinação, aponta o secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, é preservar a vida dos feridos. Para o secretário, os policiais tentam prestar o atendimento mais rápido. Mas o resultado não tem sido satisfatório, já que a maioria dos feridos chega morta ao hospital. “O policial não é preparado para esse tipo de socorro e nem a viatura é uma ambulância. Por mais que os baleados sejam criminosos e que entrem em confronto com a polícia, são vidas humanas e a gente não pode abrir mão de salvá-las”, argumenta Delazari.

Segundo o secretário, o resgate do Siate tem capacidade para atender essas ocorrências. “Como esses confrontos ocorrem geralmente de madrugada, quando não há mais trânsito, o Siate pode chegar ao local em até menos de dez minutos, que é a média do atendimento em horários de pico”, diz o secretário.

Mesmo com a determinação do governador, Delazari informa que pode haver exceções no procedimento. Como exemplo, ele cita o caso de um baleado na perna, sem risco de morte. “Tudo o que for extremamente explicável será aceito. Não estamos radicalizando. Mas a regra agora é a remoção pelo Siate”, reforça.

Cena

O secretário de Segurança Pública acredita que a remoção dos feridos pelo Siate também trará mais transparência na perícia do local do confronto policial. “Se a pessoa estiver ferida, não há como não alterar a cena porque ela será removida para atendimento médico. Mas, se estiver morta, não vai ser retirada até a chegada da perícia e aí sim vai colaborar na preservação do local do confronto.”

Opinião compartilhada pelo promotor de Justiça Leonir Batisti, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Segundo Batisti, desde que os promotores do Gaeco passaram a acompanhar pessoalmente as perícias nos locais de confrontos policiais há seis meses, não houve nenhum indício de adulteração da cena.

Mesmo assim, enfatiza o promotor, em todo confronto há a possibilidade de adulteração da cena. “Nesse sentido, a decisão do governador é positiva porque vai inibir manipulações, além de estancar ou diminuir as dúvidas em relação às condições com que o ferido chega ao hospital”, afirma.

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