O ESTADO DE S. PAULO, Dora Kramer, 3 de fevereiro de 2011
O País todo sabe desde a campanha eleitoral que Dilma Rousseff pretendia fazer um governo de "continuidade". Para a eleição isso bastou.
Nos primeiros dias de governo da presidente soubemos que a manutenção do conteúdo implicaria uma alteração significativa da forma, marcada pela diferença de estilo em relação ao antecessor.
De um governo, no entanto, exige-se (ou deveria ser exigido) mais que conceitos vagos e mudança de maneiras. É preciso que o País tenha claro quais são seus objetivos, aonde vai e como pretende chegar lá.
Isso, mais de um mês depois, ainda não se sabe a respeito do governo iniciante. Chamá-lo de "novo" seria uma impropriedade linguística, em face da opção pelo uso de material usado em sua composição.
Ao apresentar suas diretrizes ao Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff poderia ter alterado essa percepção, mas escolheu não fazê-lo, perdendo uma excelente oportunidade de explicitar seu projeto de Brasil aos brasileiros.
Ficou na repetição dos feitos passados, no diagnóstico de metas, nas proposições genéricas - erradicação da miséria, ampliação de oportunidades, política econômica consistente - e nas constatações óbvias.
Entre elas prioridades às áreas de educação, saúde e segurança, apresentadas sob o invólucro do surrado apelo ao "pacto social", à formação de "parcerias sólidas" e "ações integradas" entre municípios, Estados e União.
Pois bem, mas como o governo pretende desatar os nós que amarram o Brasil ao passado? A presidente reafirmou compromisso com a estabilidade econômica esquecendo-se de que só se chegou a ela mediante um programa muito nítido de reformas estruturais iniciado no governo Fernando Collor, aprofundado nas administrações Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, precisando ainda ser consolidado com a conclusão das reformas restantes.
Sobre elas a presidente referiu-se de passagem, citando apenas duas (política e tributária) e, ainda assim, sem especificar o que realmente quer o governo.
Mostrou disposição de trabalhar em prol dos "superiores interesses do Brasil", em conjunto com o Congresso, o Judiciário, a sociedade. Faltou dizer em que termos.
De maiorias. Nem se pode dizer que o governo tenha feito barba, cabelo e bigode no Congresso, pois não houve disputa de coisa alguma nas eleições das presidências da Câmara e do Senado.
A rigor, não houve sequer troca de comando. Na véspera o senador José Sarney e o deputado Marco Maia já ocupavam os postos para os quais foram eleitos no dia seguinte.
A maioria agora acachapante funcionará como dantes: eficaz como instrumento de defesa no caso de escândalos que requeiram CPIs e similares, mas dependente de negociações específicas no caso de votações de projetos de interesse do governo.
O País todo sabe desde a campanha eleitoral que Dilma Rousseff pretendia fazer um governo de "continuidade". Para a eleição isso bastou.
Nos primeiros dias de governo da presidente soubemos que a manutenção do conteúdo implicaria uma alteração significativa da forma, marcada pela diferença de estilo em relação ao antecessor.
De um governo, no entanto, exige-se (ou deveria ser exigido) mais que conceitos vagos e mudança de maneiras. É preciso que o País tenha claro quais são seus objetivos, aonde vai e como pretende chegar lá.
Isso, mais de um mês depois, ainda não se sabe a respeito do governo iniciante. Chamá-lo de "novo" seria uma impropriedade linguística, em face da opção pelo uso de material usado em sua composição.
Ao apresentar suas diretrizes ao Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff poderia ter alterado essa percepção, mas escolheu não fazê-lo, perdendo uma excelente oportunidade de explicitar seu projeto de Brasil aos brasileiros.
Ficou na repetição dos feitos passados, no diagnóstico de metas, nas proposições genéricas - erradicação da miséria, ampliação de oportunidades, política econômica consistente - e nas constatações óbvias.
Entre elas prioridades às áreas de educação, saúde e segurança, apresentadas sob o invólucro do surrado apelo ao "pacto social", à formação de "parcerias sólidas" e "ações integradas" entre municípios, Estados e União.
Pois bem, mas como o governo pretende desatar os nós que amarram o Brasil ao passado? A presidente reafirmou compromisso com a estabilidade econômica esquecendo-se de que só se chegou a ela mediante um programa muito nítido de reformas estruturais iniciado no governo Fernando Collor, aprofundado nas administrações Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, precisando ainda ser consolidado com a conclusão das reformas restantes.
Sobre elas a presidente referiu-se de passagem, citando apenas duas (política e tributária) e, ainda assim, sem especificar o que realmente quer o governo.
Mostrou disposição de trabalhar em prol dos "superiores interesses do Brasil", em conjunto com o Congresso, o Judiciário, a sociedade. Faltou dizer em que termos.
De maiorias. Nem se pode dizer que o governo tenha feito barba, cabelo e bigode no Congresso, pois não houve disputa de coisa alguma nas eleições das presidências da Câmara e do Senado.
A rigor, não houve sequer troca de comando. Na véspera o senador José Sarney e o deputado Marco Maia já ocupavam os postos para os quais foram eleitos no dia seguinte.
A maioria agora acachapante funcionará como dantes: eficaz como instrumento de defesa no caso de escândalos que requeiram CPIs e similares, mas dependente de negociações específicas no caso de votações de projetos de interesse do governo.
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