JANIO DE FREITAS, 13 de setembro de 2009
Não encontrei nem um grande negócio de armamentos sem corrupção". A partir de tal constatação, para nós, brasileiros, os negociantes de armas são como as grandes empreiteiras.
Aí está uma razão definitiva, além de muitas outras, para que as atuais compras de armamentos pesados pelo Brasil -ou, mais precisamente, por Lula e Nelson Jobim em nome do Brasil- não lembrem os negócios para realização de obras públicas. Mas, depois dos submarinos, é o negócio da compra de aviões de caça, não importam seus tipos e procedências, que se enrola em inverdades, negaças e cartas marcadas.
Aquela frase é de Andrew Feinstein, autor de pesquisa mundial sobre negócios de armamentos, para o livro que escreve a respeito. Sua dedicação ao tema tem boa origem. Quando deputado na África do Sul, encabeçou a extraordinária investigação parlamentar que desvendou uma trama de grossa corrupção na compra, à Rússia, de grande número de caças Sukhoi. A frase consta da entrevista transmitida pelo "Milênio", na GloboNews, em 27.jul.09.
Será melhor que o Brasil não venha a figurar no livro de Feinstein nem de modo inconclusivo, apenas por estranhezas. Como esta, por exemplo: dada autorização especial, do Congresso e do governo dos Estados Unidos, para que a Boeing inclua a transferência de conhecimento tecnológico em sua oferta do caça F-A18E, na sexta-feira o Ministério da Defesa comunicou que só receberá propostas de fabricantes até a segunda-feira 21. Nelson Jobim criou, portanto, uma data-limite e, com ela, apenas nove dias (com dois sábados e dois domingos) para a elaboração de complexos estudos e formulação de propostas. Sendo que a da francesa Dassault já foi esboçada com brasileiros e em Brasília.
A data foi fixada na mesma sexta-feira em que Lula emitia, durante comício televisivo, três afirmações aproveitáveis para numerosos fins: "não há prazo" para a escolha, "eu decido quando quiser", "quem decide sou eu e mais ninguém". Pelo visto, não é o que Nelson Jobim acha, e pratica.
A nota com a informação de data-limite pede que a sueca Saab, do caça Gripen, e a Boeing "apresentem propostas que busquem equiparar-se à francesa", e esta "compatível com os parâmetros do presidente francês Nicolas Sarkozy". Confirma-se, pois, que a proposta francesa já é conhecida, contra nove dias para elaboração das demais, em negócio de bilhões.
Há pelo menos dois outros pontos de curiosidade na nota. Se Jobim não comete a impropriedade de revelar a outros a proposta francesa, é puro nonsense o pedido de que "equiparem" suas ofertas àquela. E "equiparar-se" para quê? O que deveria interessar ao Ministério da Defesa é justamente que não sejam apenas "equiparáveis", mas melhores. Ou, seja lá pelo que for, não conviria que se mostrem melhores?
Lula e Jobim podem querer o caça francês, mas não precisam recorrer à alegação de uma "aliança estratégica" com a França. Sob aliança estratégica com os Estados Unidos, o Brasil fez sua primeira esquadrilha de caças com os Gloster-Meteor de fabricação inglesa. Além da aliança estratégica, já sob o Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, que trouxe até militares norte-americanos para dentro de bases e quartéis brasileiros, comprou aos ingleses e reformou na Holanda o finado porta-aviões Minas Gerais. Comprou na França caças Mirage, ainda em uso. Fez a associação, hoje extinta, da Embraer com a Dassault, e comprou na França o atual, mas não atualizado, porta-aviões São Paulo.
Aliança estratégica não é fatura nem contrato de promessa de compra e venda. É geopolítica, é política internacional.
Além disso, essa história de que "a FAB faz a análise técnica" e "o governo toma a decisão política e estratégica" é só invencionice. As duas são indissociáveis: a finalidade condiciona a escolha técnica do instrumento. É a razão que faz os Estados Unidos, com seus tantos tipos de jatos de combate, desejarem testar o Super Tucano da Embraer, a hélice, para situações como as do Afeganistão.
As grandes empreiteiras já são mais do que o necessário para o mau conceito brasileiro.
Não encontrei nem um grande negócio de armamentos sem corrupção". A partir de tal constatação, para nós, brasileiros, os negociantes de armas são como as grandes empreiteiras.
Aí está uma razão definitiva, além de muitas outras, para que as atuais compras de armamentos pesados pelo Brasil -ou, mais precisamente, por Lula e Nelson Jobim em nome do Brasil- não lembrem os negócios para realização de obras públicas. Mas, depois dos submarinos, é o negócio da compra de aviões de caça, não importam seus tipos e procedências, que se enrola em inverdades, negaças e cartas marcadas.
Aquela frase é de Andrew Feinstein, autor de pesquisa mundial sobre negócios de armamentos, para o livro que escreve a respeito. Sua dedicação ao tema tem boa origem. Quando deputado na África do Sul, encabeçou a extraordinária investigação parlamentar que desvendou uma trama de grossa corrupção na compra, à Rússia, de grande número de caças Sukhoi. A frase consta da entrevista transmitida pelo "Milênio", na GloboNews, em 27.jul.09.
Será melhor que o Brasil não venha a figurar no livro de Feinstein nem de modo inconclusivo, apenas por estranhezas. Como esta, por exemplo: dada autorização especial, do Congresso e do governo dos Estados Unidos, para que a Boeing inclua a transferência de conhecimento tecnológico em sua oferta do caça F-A18E, na sexta-feira o Ministério da Defesa comunicou que só receberá propostas de fabricantes até a segunda-feira 21. Nelson Jobim criou, portanto, uma data-limite e, com ela, apenas nove dias (com dois sábados e dois domingos) para a elaboração de complexos estudos e formulação de propostas. Sendo que a da francesa Dassault já foi esboçada com brasileiros e em Brasília.
A data foi fixada na mesma sexta-feira em que Lula emitia, durante comício televisivo, três afirmações aproveitáveis para numerosos fins: "não há prazo" para a escolha, "eu decido quando quiser", "quem decide sou eu e mais ninguém". Pelo visto, não é o que Nelson Jobim acha, e pratica.
A nota com a informação de data-limite pede que a sueca Saab, do caça Gripen, e a Boeing "apresentem propostas que busquem equiparar-se à francesa", e esta "compatível com os parâmetros do presidente francês Nicolas Sarkozy". Confirma-se, pois, que a proposta francesa já é conhecida, contra nove dias para elaboração das demais, em negócio de bilhões.
Há pelo menos dois outros pontos de curiosidade na nota. Se Jobim não comete a impropriedade de revelar a outros a proposta francesa, é puro nonsense o pedido de que "equiparem" suas ofertas àquela. E "equiparar-se" para quê? O que deveria interessar ao Ministério da Defesa é justamente que não sejam apenas "equiparáveis", mas melhores. Ou, seja lá pelo que for, não conviria que se mostrem melhores?
Lula e Jobim podem querer o caça francês, mas não precisam recorrer à alegação de uma "aliança estratégica" com a França. Sob aliança estratégica com os Estados Unidos, o Brasil fez sua primeira esquadrilha de caças com os Gloster-Meteor de fabricação inglesa. Além da aliança estratégica, já sob o Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, que trouxe até militares norte-americanos para dentro de bases e quartéis brasileiros, comprou aos ingleses e reformou na Holanda o finado porta-aviões Minas Gerais. Comprou na França caças Mirage, ainda em uso. Fez a associação, hoje extinta, da Embraer com a Dassault, e comprou na França o atual, mas não atualizado, porta-aviões São Paulo.
Aliança estratégica não é fatura nem contrato de promessa de compra e venda. É geopolítica, é política internacional.
Além disso, essa história de que "a FAB faz a análise técnica" e "o governo toma a decisão política e estratégica" é só invencionice. As duas são indissociáveis: a finalidade condiciona a escolha técnica do instrumento. É a razão que faz os Estados Unidos, com seus tantos tipos de jatos de combate, desejarem testar o Super Tucano da Embraer, a hélice, para situações como as do Afeganistão.
As grandes empreiteiras já são mais do que o necessário para o mau conceito brasileiro.
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