sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Polícia Federal faz operação contra policiais ligados ao tráfico no Rio

VEJA ONLINE, 11 de fevereiro de 2011

A Polícia Federal realiza nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, a Operação Guilhotina, com o objetivo de capturar policiais civis e militares suspeitos de corrupção, roubo e de ligação com o tráfico de drogas e armas. A megaoperação conta com o apoio da Secretaria de Segurança Pública e do Ministério Público Estadual. Foram expedidos 45 mandados de prisão e 48 de busca e apreensão.

Os delegados e policiais sob investigação teriam fornecido a traficantes cariocas informações a respeito de operações policiais nas favelas. Alguns estariam envolvidos com milícias e a máfia dos caça-níqueis. Dos 45 mandados de prisão, 11 são contra policiais civis, 21 contra militares. As buscas são feitas na 22ª Delegacia de Polícia (Penha) e na 17ª DP (São Cristóvão).

Pela manhã, a delegada Márcia Becker, titular da 22ª DP, foi detida para prestar esclarecimentos na sede da PF. Ela já comandou a Delegacia de Repressão a Armas e Entorpecentes (Drae) e também a 17ª DP. Os agentes realizaram também buscas na casa do delegado Carlos Antônio Luiz de Oliveira, ex-subchefe de Polícia Civil do estado. Atualmente, Oliveira é subsecretário de Operações da Secretaria Especial da Ordem Pública (Seop). A prefeitura do Rio publicou nota informando que ele será exonerado. O delegado não foi encontrado pela PF.

A operação conta com 380 agentes da PF e 200 policiais das forças estaduais, além de dois helicópteros e quatro lanchas. Segundo a PF, o envolvimento dos policiais com o crime organizado foi detectado por meio de e-mails a traficantes. Acredita-se que uma parte desses homens recebia até 100.000 reais por mês como propina para proteger traficantes como Antonio Bonfim Lopes, o Nem, apontado como chefe do tráfico nas favelas da Rocinha e Vidigal.


Grupo é acusado de envolvimento
em desvio de dinheiro durante
a ocupação do Complexo do Alemão
Quando as atenções em todo o país estavam voltadas para a cinematográfica tomada do Complexo do Alemão, um pequeno grupo de investigadores se dedicava não à movimentação dos bandidos, mas dos próprios policiais. As dimensões da ação, em uma área onde certamente haveria um grande ‘espólio de guerra’, era a oportunidade perfeita para um grupo de policiais que vinha sendo investigado exatamente por tirar proveito desse tipo de cenário. O resultado do trabalho é parte da Operação Guilhotina, que já prendeu mais de 30 acusados desde a manhã desta sexta-feira, no Rio.

De acordo com o superintendente da Polícia Federal no Rio, Ângelo Gióia, a estratégia de ‘dar corda’ para a quadrilha, na operação do Alemão, contribuiu para descobrir mais e produzir provas contra os acusados de agora. "A movimentação no Alemão ajudou nas investigações. O volume de apreensões lá foi muito grande e houve desvios. Muito sobrou e os policiais revenderam. Muito foi apreendido e imediatamente subtraído”, afirmou.

Apontado como maior reduto de traficantes do estado – e muito provavelmente o maior do país –, o Complexo do Alemão acumulava algumas décadas de operação das quadrilhas de traficantes. Era sabido que haveria ali grande quantidade de armas, dinheiro, drogas. As apreensões, desde o dia da invasão, confirmaram essa expectativa. Mas um detalhe despertou a atenção dos investigadores. “Foram duas apreensões de dinheiro no Alemão: uma pelo Exército e outra pela Polícia Federal. Qualquer um de nós duvida que só foram encontradas quantias de dinheiro nessas duas situações”, adverte Gióia.

O desvio – ou roubo – do dinheiro que deveria ter sido apreendido e apresentado em delegacia ficou em segundo plano em novembro do ano passado, quando as forças de segurança ocuparam os complexos do Alemão e da Penha, em novembro e dezembro do ano passado. Na ocasião, agentes da Polícia Federal e homens do Exército trabalhavam lado a lado por um objetivo maior: libertar uma região que nas últimas décadas havia se transformado no maior reduto do tráfico de drogas no Rio de Janeiro.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou, na manhã desta sexta-feira, que a atuação do grupo estava mapeada. Mas, naquele momento, a prioridade era a ocupação do território dos traficantes. "O crime cometido por eless já estava detectado. Para não prejudicar, preferimos efetivar a operação no Alemão. Agora, pudemos finalmente atacar essa outra atividade criminosa", explicou Beltrame.

Delegada detida - Agora é possível entender, por exemplo, um episódio curioso do dia 27 de novembro, véspera da invasão dos agentes de segurança ao Complexo do Alemão. Durante o cerco ao conjunto de favelas, homens do Exército prenderam um homem que carregava numa mochila grande quantidade de dinheiro. No primeiro momento, os soldados informaram que o montante seria de 50 mil dólares e mais 20 mil reais. O dinheiro foi encaminhado para a delegacia mais próxima, no caso, a 22ª DP (Penha). Mas o valor divulgado pela Polícia Civil foi de 27 mil dólares e 29 mil reais. A confusão foi desfeita na época com uma nota divulgada pelo Comando Militar do Leste, informando um valor mais próximo do alegado pela delegacia: 27.400 dólares e 29.223 reais.

Nesta sexta-feira, a delegada titular da 22ª DP, Márcia Becker, foi detida para prestar esclarecimento por suspeita de proteger o inspetor Cristiano Gaspar Fernandes, que estava com prisão decretada na operação da PF. Ela teria mentido, dizendo que o agente estava de férias. Pelo menos outros dois policiais da delegacia tiveram mandados de prisão expedidos pela Justiça.

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