sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ônibus com combustível menos poluente começam a circular em SP

O ESTADO DE S. PAULO, 11 de fevereiro de 2011

Frota com 1.200 veículos terá 20% de biodiesel, o que reduz emissão de CO²; expectativa é que todos os coletivos sejam 'limpos' até 2018


A partir desta sexta-feira, 11, a frota de São Paulo terá 1.200 ônibus circulando com combustível menos poluente. Parte da frota da empresa irá circular com um combustível que tem 20% de biodiesel, o que gera uma emissão 22% menor de dióxido de carbono, um dos gases causadores do efeito estufa.

Por enquanto todos os ônibus que circulam com o combustível menos poluente terão selos identificando que é um veículo mais limpo. A empresa VIP tem uma frota de dois mil ônibus. Segundo a São Paulo Transporte (SPTrans), a empresa, que opera linhas nas zonas leste e sul, terá todos os ônibus circulando com 20% de biodiesel até o próximo mês.

Para maio de 2011, está previsto o início da operação de 50 ônibus movidos a etanol e novos testes com um veículo híbrido que funciona com baterias enquanto está parado nos pontos ou circulando a menos de 20 km/h.

Segundo a SPTrans, a chamada Ecofrota será implantada em todos os 15 mil ônibus que circulam pela cidade até 2018. Os veículos devem usar biodiesel ou etanol híbrido.


Diesel, combustível que
mais polui, já responde por
53% das emissões de CO2

O diesel, usado principalmente no transporte de carga, é o combustível que mais tem colaborado para as emissões pelos escapamentos de dióxido de carbono (CO2), o principal gás de efeito estufa, no Brasil. Em 2009, o diesel respondeu por 53% das emissões do transporte rodoviário do País, seguido pela gasolina, com 26%.

O primeiro inventário nacional de emissões veiculares mostra que a grande participação desse derivado do petróleo nas emissões de gases que provocam o aquecimento global tende a se manter: em 2020, deve ser responsável por 49% das emissões de CO2.

Para reverter essa situação, especialistas que participaram da elaboração do relatório afirmam que o País não pode apenas centrar sua preocupação em substituir a gasolina pelo álcool, com os carros flex fuel. "A troca é importante, mas não resolverá o problema", diz André Ferreira, diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), que integrou o grupo de trabalho criado pelo governo para fazer o inventário.

O álcool também emite gases-estufa, mas a cana-de-açúcar compensa parte importante dessas emissões ao absorver CO2.

O diesel tem outro problema no Brasil: possui alta concentração de enxofre, o que é bastante prejudicial para a saúde da população. Já deveria estar em uso desde 2009 no País um diesel de melhor qualidade e menos poluente, mas houve um adiamento da medida (mais informações nesta página).

Segundo Ferreira, para reduzir as emissões é importante investir nos motores e em logística para melhorar a eficiência do transporte rodoviário de carga. Mas, principalmente, é preciso priorizar outros tipos de transporte, como o ferroviário.

Nos EUA, no Canadá, na Austrália e na Rússia, por exemplo, o transporte ferroviário da carga tem uma participação muito maior do que no Brasil. Na Rússia, por exemplo, o transporte de mercadorias sobre trilhos atinge 81%, contra 8% do rodoviário. Já no Brasil, 58% das cargas circulam por rodovias, enquanto 25% por ferrovias.

O inventário, ao identificar as responsabilidades pelas emissões, pode orientar o governo em suas políticas públicas. A secretária nacional de Mudanças Climáticas, Branca Americano, considera a realização do inventário "um grande avanço". Para ela, é preciso investir no biodiesel e repensar o transporte. "O Brasil se desenvolveu muito calcado no transporte rodoviário."

Ainda não há uma definição sobre de quanto em quanto tempo a atualização do inventário poderá ser feita, mas ela diz que "não se pensa em parar por aqui".

Expectativa. A frota do País (carros de passeio, caminhões, ônibus e motocicletas) passou de 9,3 milhões de veículos em 1980 para 38,2 milhões em 2009 - aumento de 310,7%. As emissões de CO2 do transporte rodoviário passaram de 65 milhões de toneladas para 167,1 milhões de toneladas (aumento de 156,6%).

Em 2020, a expectativa é de que a frota chegue a 48,7 milhões de veículos e o setor de transporte rodoviário emita 267,5 milhões de toneladas de CO2.

Por outro lado, é possível notar queda da emissão dos chamados "poluentes locais", como o monóxido de carbono (CO) e material particulado (MP), que pioram a qualidade do ar. Isso ocorreu por causa de decisões do Conama que exigiram inovações tecnológicas nos veículos e melhoria dos combustíveis.

O lançamento para a atmosfera do MP - mistura de poeiras e fumaça - cresceu até 1997, quando foram emitidas 69 mil toneladas do poluente. Em 2009, elas corresponderam a menos da metade do observado naquele ano.


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