segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Alta de alimentos e boa safra fazem preço da terra disparar

O ESTADO DE S. PAULO, 5 fevereiro de 2011

Valor médio fechou 2010 com a maior aceleração anual desde 2008 e chegou a dobrar em algumas regiões


De carona não só no boom dos preços dos alimentos, que atingiram em janeiro as maiores cotações em 21 anos no mundo, o valor das terras no Brasil disparou. No fim de 2010, o preço médio da terra alcançou níveis recordes e a maior valorização anual desde 2008, revela pesquisa Informa Economics / FNP, obtida com exclusividade pelo Estado.

No Sudeste, Nordeste e Norte, o preço do hectare chegou a dobrar em algumas regiões entre janeiro e dezembro de 2010. Em áreas do Sul do País, houve alta de até 92,3% no mesmo período, como nas terras de pastagens de Cerro Azul (PR). A maior variação ocorreu em Aripuanã (MT), no Centro-Oeste. Lá a cotação do hectare de mata de difícil acesso, destinada a reserva florestal, subiu 105,6%, de R$ 170 para R$ 350 por hectare.

Terras mais caras

Mas as terras mais valiosas do País estão no Sul e Sudeste, regiões dotadas de melhor infraestrutura. Quem liderou o ranking das terras mais caras em 2010 foram as várzeas para arroz em Rio do Sul (SC). O hectare fechou o ano valendo R$ 43 mil, alta de 23% em 12 meses. Na sequência, estão Ribeirão Preto e Sertãozinho (SP), onde um hectare custava em dezembro de 2010 R$ 24 mil, com alta de 20% em um ano.

O levantamento, que mapeou os preços à vista de negócios fechados em 133 microrregiões do Brasil, mostra que o movimento de alta de preços das terras em 2010 foi generalizado: de áreas de mata e pastagem às terras roxas para café, cana e grãos.

Na média do País, o preço de um hectare atingiu no último bimestre de 2010 R$ 5.017, com alta de 9,1% em relação a janeiro de 2010, índice que é quase o dobro do registrado em 2009 (5%). Descontada a inflação oficial de 2010, de 5,91%, o aumento real do preço da terra foi de 3,2%.

"Todos os segmentos do agronegócio estão bons", afirma a agrônoma Jacqueline Bierhals, gerente da consultoria e responsável pela pesquisa. Ela observa que a valorização das terras foi desencadeada pela explosão dos preços agropecuários, mas houve outros ingredientes que potencializaram a alta.

Com mais dinheiro no bolso, em razão dos resultados positivos das últimas safras, os produtores de médio e pequeno portes voltaram a investir, expandindo as áreas de produção e impulsionando os preços das terras. "Hoje o produtor não tem mais necessidade de pôr o imóvel à venda para pagar os funcionários."

Ela cita Santa Catarina, onde predominam as pequenas propriedades, como o Estado com a maior valorização média do preço da terra em 12 meses, de 22%.

A tendência de alta mais intensa em áreas menores é confirmada por Atilio Benedini Neto, da Benedini Imóveis, que atua na região de Ribeirão Preto. "Hoje os grandes compradores de terras são os médios e pequenos produtores que, capitalizados, compram cinco alqueires para expandir a produção." Áreas menores são vendidas rapidamente, diz.

Só neste ano ele já fechou três negócios e a velocidade de vendas não é maior porque a oferta de terras na região é escassa. "O mercado é comprador."

Minério e energia - Também o avanço de atividades que exigem áreas extensas, como exploração mineral e parques eólicos, por exemplo, passou a disputar e valorizar a terra voltada para o agronegócio, diz Jacqueline.

No ranking de valorização de terras, depois de Santa Catarina e do Amapá (20%) está o Rio Grande do Norte, com aumento médio de 16% do preços em 12 meses. Segundo Jacqueline, fazendas de camarão, exploração de salinas, parques eólicos e atuação da Petrobrás valorizaram as terras do litoral.

Um exemplo da valorização das terras do agronegócio impulsionada por outras atividades ocorre no Cerrado mineiro, onde se produz café. Em Patrocínio (MG), o hectare saiu de R$ 15 mil para R$ 25 mil em um ano, segundo o corretor Damião Cosme Machado, da Imobiliária Central. Além do aumento de 80% do preço do café em 12 meses, ele aponta a chegada da Vale na região, comprando 3 mil hectares para exploração de minérios como fator de alta do preço da terra.

Corretor há 20 anos, Machado diz que nunca viu o preço subir tanto em tão pouco tempo. "O preço da terra é recorde e o do café também." De seis meses para cá, ele vendeu quatro fazendas para cafeicultores da região, uma delas à vista.


Em apenas dois anos, produtor
vê dobrar preço da terra em São Paulo

Acostumado a investir parte da renda na aquisição de terras para ampliar o cultivo, o grupo agrícola de Rodrigo Furtado, de Itapetininga, no sudoeste paulista, está há quase dois anos sem fazer negócio. Quando a última compra, uma fazenda de mais de 500 hectares, foi efetivada, o preço da terra agrícola na região girava em torno de R$ 30 mil o hectare. "Agora, quando há terra em oferta, chegam a pedir até R$ 60 mil", disse Furtado.

Ele atribui a valorização de até 100% em dois anos ao bom momento vivido pelo agronegócio, com as principais commodities em alta. O grupo é produtor de batata, soja, milho, feijão e trigo.

De acordo com o empresário rural, apesar de existir oferta, os negócios não se concretizam. "As pessoas até colocam preço na terra, mas a impressão é de que não querem vender." Segundo ele, o mercado está comprador, mas o alto preço emperra os negócios. "Muita gente passou a ver na venda de terra uma oportunidade de ganhar dinheiro."

O engenheiro agrônomo Rodolfo Cyrineu, dono de uma empresa de consultoria rural em Itapetininga, conta que muitos proprietários preferem arrendar as terras em vez de vender. Ele conta que barrou alguns negócios porque a fazenda pretendida não atendia ao projeto do comprador.

Faltam terras - Produtores ligados à Cooperativa Hollambra, em Paranapanema, têm dificuldade para ampliar a produção de soja, milho e algodão por falta de terra.

Com a boa renda das lavouras, os proprietários do entorno não se deixam seduzir pelas boas ofertas. No ano passado, um produtor do bairro Caputera, em Itapeva, depois de perder dinheiro com o feijão, vendeu uma área de 55 hectares. Logo depois fez uma boa colheita de soja e se arrependeu do negócio. O adquirente, um holandês, recorreu à Justiça.

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