GAZETA DO POVO, 1 de dezembro de 2010
Beto Richa nomeia antigos secretários da administração municipal para cargos no estado. Irmão assumirá “supersecretaria”
Seis dos nove nomes anunciados por Beto Richa (PSDB) como secretários de sua gestão à frente do governo do estado, a partir de janeiro, já integraram sua equipe durante seus dois mandatos como prefeito de Curitiba. A lista anunciada ontem confirma uma tendência demonstrada ainda durante a campanha eleitoral tucana: reproduzir no primeiro escalão do estado a estrutura técnica e política montada na prefeitura da capital.
“São nomes que preenchem integralmente os critérios de competência técnica, integridade pessoal e capacidade para o diálogo que estabelecemos para formação de nossa equipe de governo”, afirmou o governador eleito em nota divulgada à imprensa.
A articulação política da nova equipe de governo deve fortalecer ainda mais o prestígio do governador eleito Beto Richa como o grande líder tucano no estado. Para o sociólogo londrinense Marco Rossi a indicação do deputado Luiz Carlos Hauly co mo secretário de Fazenda confirma esta tendência. “Além de agradar o eleitor londrinense é uma tentativa de dirimir as rusgas que ficaram da eleição”, afirma.
A escolha de Hauly, um político historicamente ligado ao senador Alvaro Dias, é um fato político significativo, segundo o sociólogo. Richa entrou em rota de colisão com Alvaro na campanha, depois que os dois disputaram a candidatura ao Palácio Iguaçu. A briga se agravou quando Beto fez críticas em público ao ex-governador e, como resposta, ouviu Alvaro declarar que não votaria nele.
Segundo Rossi, o deputado Hauly tem se afastado gradativamente da influência de Al varo desde então e sua indicação para a Secretaria da Fazenda pode ser entendida como uma forma de cooptação de setores tucanos para o projeto político de Richa.
Um dos novos secretários será o irmão de Beto, José Richa Filho, o Pepe, que comandará a Se cretaria de Estado de Infraes trutura e Logística. A nova pasta a ser criada é resultado da integração de duas outras secretarias, que serão extintas – de Trans porte e de Obras. A nova “supersecretaria” deve administrar as estradas, portos, ferrovias e demais obras civis no estado.
“A integração das secretarias de Transporte e Obras atende ao objetivo de dar mais eficiência à gestão pública”, justificou o governador. Pepe Richa já ocupou o cargo de secretário municipal de Administração de Curitiba.
Para a pasta da Administração, o escolhido foi Luiz Eduardo Sebastiani, que atualmente é secretário municipal de Finanças de Curitiba. Na Secretaria de Saúde, o comando será de Michele Caputo Neto, atual secretário municipal de Curitiba para Assuntos Metropolitanos e que já foi secretário municipal da Saúde por duas vezes. O ex-procurador-geral do município de Curitiba e um dos membros da equipe de transição Ivan Bonilha será o procurador-geral do Estado.
Já Munir Chaowiche, ex-presidente da Companhia de Habitação (Cohab) da capital, vai comandar a Cohapar. A Sanepar será presidida por Fernando Ghignone, que já ocupou o cargo de secretário da Comunicação Social na cidade e de diretor de Transportes da Urbanização de Curitiba S.A (Urbs).
Além desses nomes, ainda durante a campanha o governador eleito já havia anunciado que o senador Flávio Arns – eleito vice-governador do Paraná – será o secretário de Estado da Educação.
“Forasteiros” - Dos primeiros nomes do novo secretariado apenas três são estranhos à antiga equipe da prefeitura. O engenheiro mecânico e funcionário de carreira da Copel Lindolfo Zimmer foi confirmado como presidente da es tatal de energia elétrica. Outros dois aliados políticos de Richa foram convocados: o deputado estadual Durval Amaral (DEM) responderá pela chefia da Casa Civil e o deputado federal Luiz Carlos Hau ly (PSDB) ficou com a Se cretaria da Fazenda.
Os dois deputados são caciques da base aliada em Londrina, cidade natal do novo governador e onde Richa teve vitória sólida nas últimas eleições.
Para o cientista político e professor de Sociologia da Uni ver sidade do Norte do Paraná (Unopar) Marco Rossi, a estratégia de Beto nestes primeiros movimentos como governador deve priorizar a confiança em assessores próximos e ao mesmo tempo compor uma costura política com a grande base de partidos aliado.
“É justo que o governador escolha entre pessoas de sua confiança, acostumadas ao ritmo de trabalho de sua administração ou que já demonstraram competência e prestigio político, como o senador Flávio Arns e o deputado Hauly”, afirma Rossi.
Nepotismo - O anuncio do irmão do governador eleito José “Pepe” Richa na nova secretaria de Infraestrutura e Logistica não configura nepotismo de acordo com o entendimento da atual procuradoria-geral do Estado. Os efeitos da Súmula Vinculante n.° 13 do Supremo Tribunal Federal (STF), que proíbe o nepotismo no po der público, não atingem os cargos políticos, ou seja, os de ministros e secretários estaduais e municipais.
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