O GLOBO, Míriam Leitão, 1 de dezembro de 2010
A presença do presidente Lula no Ministério do governo Dilma Rousseff está sendo maior do que se previa. Ninguém duvidava que a interferência do presidente seria grande, mas começa a passar da conta e das cotas. Até agora, dos indicados e dos em cogitação, só não foi ministro, ou ligado ao governo Lula, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.
Pimentel é escolha pessoal da presidente, os dois têm uma longa relação de amizade, e está cotado para o Ministério do Desenvolvimento, mas os outros escolhidos têm relação mais estreita com o presidente que está saindo do que com a presidente que está entrando.
A permanência do ministro da Fazenda, Guido Mantega, como ficou público, foi pedido do presidente Lula. Miriam Belchior, quadro do PT do ABC, tem ligações muito mais antigas com o presidente do que com a presidente eleita. O assessor especial, Marco Aurélio Garcia, é o mesmo que conduziu a indigesta política externa, sendo o poder atrás da cadeira de chanceler durante os últimos oito anos.
O ministro Antonio Palocci evidentemente tem ligações históricas com Lula. Durante a formação do governo, em 2002, foi ele quem chamou Dilma para o escritório de transição. Mas depois os dois divergiram publicamente quando ela foi para a Casa Civil. A reaproximação aconteceu durante a campanha, quando ele se tornou uma peça-chave. Mas Palocci é mais ligado a Lula que a Dilma. O mesmo se diga de Paulo Bernardo, que assumirá o Ministério das Comunicações. Na Secretaria-Geral da Presidência estará Gilberto Carvalho, que, como todos sabem, é leal servidor de Lula. O ministro da Defesa, pelo visto, permanecerá sendo o mesmo Nelson Jobim. Ontem, o presidente continuou sua campanha para manter Fernando Haddad na Educação e foi bem explícito: "Não estou satisfeito porque Haddad ainda não foi confirmado." A superdose de lulismo no Ministério está fazendo com que esse governo se pareça um terceiro mandato. Está definitivamente faltando dilmismo no governo Dilma.
O país está cheio de ineditismos. O presidente Lula mesmo faltando 31 dias para sair do governo ainda não se enfraqueceu. Os americanos usam a expressão "pato manco" para um presidente em vias de deixar o cargo, após a eleição do sucessor. No Brasil, a brincadeira que se faz é que no final nem o garçom do Palácio do Planalto serve mais o cafezinho. Um dos fatos inéditos é que Lula preservou sua força mesmo neste finalzinho de governo, e pela nomeação de um ministério com a sua cara, mais do que com a cara da própria presidente, ele extrapola seu mandato. Não pode "desencarnar", para usar uma expressão do próprio presidente, quem faz tanta questão de manter tudo à sua imagem e semelhança no mandato subsequente ao seu.
De novo, até agora só mesmo o avião que o presidente Lula quer comprar para os deslocamentos da presidente. Apesar de ter comprado o AeroLula em 2005, agora está em vias de se iniciar os procedimentos para a compra de outro avião.
Havia duas certezas sobre Dilma: de que ela seria muito influenciada pelo presidente Lula; e de que sua forte personalidade no entanto a faria imprimir sua marca mesmo aceitando a influência do atual presidente. Só a primeira certeza se confirmou até o momento.
E daqui para diante há pouca chance de que isso aconteça, porque ontem começaram as negociações com o PMDB para a indicação dos ministérios do partido. A conversa sintomaticamente foi com o vice-presidente, Michel Temer, e com o ex-presidente José Sarney. Um dos nomes cogitados é o de Edson Lobão para o Ministério das Minas e Energia. Ele foi do governo Lula, aceitou de bom grado o comando da então ministra-chefe da Casa Civil, que continuou mandando no Ministério das Minas e Energia, mas todo mundo sabe qual é a sua primeira lealdade: José Sarney. Para a Saúde, vai um escolhido de Sérgio Cabral, o Sérgio Cortes.
Outro ineditismo é que essa é a primeira vez desde a redemocratização que há um vice-presidente forte. O Sarney não teve vice, porque ele mesmo foi o vice que assumiu. O ex-presidente Collor teve um vice com o qual se desentendeu mas que não teve, a não ser quando Collor estava caindo, força para mobilização de bancadas. O vice do ex-presidente Fernando Henrique foi o discreto, suave, e completamente adaptado à sombra, Marco Maciel. O vice do presidente Lula é um empresário de sucesso, mas um político neófito sem um partido importante a respaldá-lo.
Agora é diferente. Michel Temer fez sua demonstração de força ao organizar o "blocão". Foi uma reação à decisão de Dilma de passar o primeiro dia reunido apenas com petistas. Temer não será um vice apagado como os outros.
É da natureza da cadeira de presidente fortalecer quem se senta nela, por isso a expectativa é que em algum momento a presidente Dilma Rousseff demonstre ter as rédeas de seu próprio governo. Acontecerá ao longo do mandato, mas quando ela reduzir a presença extravagante das pessoas de confiança estrita do presidente Lula em seu governo.
A presença do presidente Lula no Ministério do governo Dilma Rousseff está sendo maior do que se previa. Ninguém duvidava que a interferência do presidente seria grande, mas começa a passar da conta e das cotas. Até agora, dos indicados e dos em cogitação, só não foi ministro, ou ligado ao governo Lula, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.
Pimentel é escolha pessoal da presidente, os dois têm uma longa relação de amizade, e está cotado para o Ministério do Desenvolvimento, mas os outros escolhidos têm relação mais estreita com o presidente que está saindo do que com a presidente que está entrando.
A permanência do ministro da Fazenda, Guido Mantega, como ficou público, foi pedido do presidente Lula. Miriam Belchior, quadro do PT do ABC, tem ligações muito mais antigas com o presidente do que com a presidente eleita. O assessor especial, Marco Aurélio Garcia, é o mesmo que conduziu a indigesta política externa, sendo o poder atrás da cadeira de chanceler durante os últimos oito anos.
O ministro Antonio Palocci evidentemente tem ligações históricas com Lula. Durante a formação do governo, em 2002, foi ele quem chamou Dilma para o escritório de transição. Mas depois os dois divergiram publicamente quando ela foi para a Casa Civil. A reaproximação aconteceu durante a campanha, quando ele se tornou uma peça-chave. Mas Palocci é mais ligado a Lula que a Dilma. O mesmo se diga de Paulo Bernardo, que assumirá o Ministério das Comunicações. Na Secretaria-Geral da Presidência estará Gilberto Carvalho, que, como todos sabem, é leal servidor de Lula. O ministro da Defesa, pelo visto, permanecerá sendo o mesmo Nelson Jobim. Ontem, o presidente continuou sua campanha para manter Fernando Haddad na Educação e foi bem explícito: "Não estou satisfeito porque Haddad ainda não foi confirmado." A superdose de lulismo no Ministério está fazendo com que esse governo se pareça um terceiro mandato. Está definitivamente faltando dilmismo no governo Dilma.
O país está cheio de ineditismos. O presidente Lula mesmo faltando 31 dias para sair do governo ainda não se enfraqueceu. Os americanos usam a expressão "pato manco" para um presidente em vias de deixar o cargo, após a eleição do sucessor. No Brasil, a brincadeira que se faz é que no final nem o garçom do Palácio do Planalto serve mais o cafezinho. Um dos fatos inéditos é que Lula preservou sua força mesmo neste finalzinho de governo, e pela nomeação de um ministério com a sua cara, mais do que com a cara da própria presidente, ele extrapola seu mandato. Não pode "desencarnar", para usar uma expressão do próprio presidente, quem faz tanta questão de manter tudo à sua imagem e semelhança no mandato subsequente ao seu.
De novo, até agora só mesmo o avião que o presidente Lula quer comprar para os deslocamentos da presidente. Apesar de ter comprado o AeroLula em 2005, agora está em vias de se iniciar os procedimentos para a compra de outro avião.
Havia duas certezas sobre Dilma: de que ela seria muito influenciada pelo presidente Lula; e de que sua forte personalidade no entanto a faria imprimir sua marca mesmo aceitando a influência do atual presidente. Só a primeira certeza se confirmou até o momento.
E daqui para diante há pouca chance de que isso aconteça, porque ontem começaram as negociações com o PMDB para a indicação dos ministérios do partido. A conversa sintomaticamente foi com o vice-presidente, Michel Temer, e com o ex-presidente José Sarney. Um dos nomes cogitados é o de Edson Lobão para o Ministério das Minas e Energia. Ele foi do governo Lula, aceitou de bom grado o comando da então ministra-chefe da Casa Civil, que continuou mandando no Ministério das Minas e Energia, mas todo mundo sabe qual é a sua primeira lealdade: José Sarney. Para a Saúde, vai um escolhido de Sérgio Cabral, o Sérgio Cortes.
Outro ineditismo é que essa é a primeira vez desde a redemocratização que há um vice-presidente forte. O Sarney não teve vice, porque ele mesmo foi o vice que assumiu. O ex-presidente Collor teve um vice com o qual se desentendeu mas que não teve, a não ser quando Collor estava caindo, força para mobilização de bancadas. O vice do ex-presidente Fernando Henrique foi o discreto, suave, e completamente adaptado à sombra, Marco Maciel. O vice do presidente Lula é um empresário de sucesso, mas um político neófito sem um partido importante a respaldá-lo.
Agora é diferente. Michel Temer fez sua demonstração de força ao organizar o "blocão". Foi uma reação à decisão de Dilma de passar o primeiro dia reunido apenas com petistas. Temer não será um vice apagado como os outros.
É da natureza da cadeira de presidente fortalecer quem se senta nela, por isso a expectativa é que em algum momento a presidente Dilma Rousseff demonstre ter as rédeas de seu próprio governo. Acontecerá ao longo do mandato, mas quando ela reduzir a presença extravagante das pessoas de confiança estrita do presidente Lula em seu governo.
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