segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Investir em áreas naturais para ter custo menor

BEM PARANÁ, 5 de outubro de 2009

Empresas começam a ver a conservação de espaços como forma de serem competitivas


Investir no meio ambiente, através da conservação de áreas naturais, pode render custos menores para empresas quando, por exemplo, vão ao mercado tentar obter dinheiro através de empréstimos. Em meio ao fantasma da escassez de materiais naturais, grupos começam a pensar os investimentos futuros de modo a garantir a preservação destas matérias-primas. Ao contrário de apenas atuarem com medidas profiláticas, com a implantação de viveiros de mudas de espécies nativas, essas empresas têm investido para manter os espaços naturais ainda intocados.

Em termos práticos, elas pagam aos donos de pequenas propriedades onde ainda há pontos de florestas naturais para que as espécies sejam mantidas focando o investimento em conservação de áreas naturais de biodiversidade. No mercado, essas empresas têm mais chances de conseguirem dinheiro mais barato, através de taxas menores de juros em empréstimos, frente à chamada agenda ambiental apresentada.

“Essa é uma tendência, não uma regra, mas que tem se mostrado bastante forte”, explica Clóvis Ricardo Schrappe Borges, diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), organização não-governamental com 25 anos de história. Ele ressalta que a ação de investir em áreas naturais ainda é bastante nova quando o assunto é agenda de conservação ambiental, mas que tem ganhado espaço no mercado à medida que grupos empresariais definem negócios com base em marcos regulatórios ambientais — instrumento do mercado comprador sem contingência legal que opta ou não por comprar um produto em função do modo como se obtém o produto.

Um exemplo desse cenário envolveu o grupo Wal-Mart do Brasil que se negou a comprar carne bovina oriunda de áreas onde ocorria o desmatamento ilegal para a criação de pasto. Ou seja, são regras impostas que tem como objetivo proteger o meio ambiente ou, em alguns casos, o um mercado com a cobrança de taxas de importação como acontece com o trigo importado de outros países de fora do Mercosul, onde o produto é isento da Tarifa Externa Comum (TEC). Sobre a importação de outros países a alíquota da TEC é de 10%.

Borges aponta essa agenda ambiental, com viés de negócio, como uma ação visionária destas empresas. “Essas empresas têm uma qualidade visionária, ninguém faz e elas estão fazendo agora e, no futuro, quando outras empresas começarem a pensar em fazer o mesmo terão de pagar muito mais por essas áreas ainda intactas”, projeta.

A preocupação das empresas, segundo Borges, não acontece porque elas são “boazinhas”, apenas porque sabem que a destruição da biodiversidade afeta o seu negócio e dá prejuízo. Como exemplo cita o custo da água tratada. Em um espaço preservado a água necessária a produção não necessita de tratamento para ser utilizada. Por isso, ela é mais barata. “O que não acontece em um ambiente onde é necessário o tratamento da água”, ressalta.

“A matéria-prima fica mais cara ou indisponível e com isso eu perco competitividade”, adverte Borges. Soma-se a isso a questão da imagem da empresa que não adota práticas ambientais.

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