sábado, 19 de setembro de 2009

China responde por 30% dos negócios em Maringá

VINICIUS CARVALHO, O DIÁRIO DE MARINGÁ, 19 de setembto de 2009

O comércio entre a cidade e o país asiático cresceu 61% este ano ante 2008. De lá, vem componentes eletrônicos; para lá, vão grãos. Mas comprar dos chineses não é simples


Mais de 19 mil quilômetros separam Maringá, no noroeste do Paraná, e Xangai, o centro financeiro da China. A impressionante distância – equivalente à metade da circunferência da Terra sobre o Trópico de Capricórnio – foi a rota percorrida por milhares de toneladas de mercadorias este ano. Somados, esses produtos representam um fluxo comercial de US$ 265,744 milhões (R$ 479,930 milhões).

O comércio entre a cidade paranaense e a maior das economias emergentes cresceu 61,3%, na comparação entre os oito primeiros meses de 2009 e 2008. No ano passado, o volume comercial foi de US$ 164,753 milhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Atualmente, de cada três dólares negociados por Maringá no exterior, um deles vem ou vai para a China.

O país asiático recebeu 35,67% de todas as exportações maringaenses e vendeu 30,86% de tudo o que foi importado pelo município. Para a Ásia, Maringá exporta principalmente grãos e açúcar. Da China, o município importa sobretudo equipamentos eletrônicos.

O volume de compras da China pelas empresas de Maringá é oito vezes maior do que as importações da vizinha Argentina. As importações são quatro vezes superiores ao que foi comprado da recessiva economia norte-americana, considerando o período entre janeiro e agosto de 2009.


Preços atrativos

No comércio internacional, um bom desconto compensa qualquer distância. Foi o que motivou o empresário Tico Kamide, integrante de uma joint venture de 55 empresas da região de Maringá – provedores de internet e revendedores de equipamentos eletrônicos – a ir até a China em busca de insumos.

Desde maio de 2008, os empresários já importaram US$ 700 mil em peças e dispositivos de comunicação on line, comprados da cidade industrial chinesa de Shenzhen. “Esses produtos não têm similar nacional, mas se fosse procurar no Brasil, o preço seria 50% mais caro”, afirma Kamide.

O empresário explica que um cabo de rede, item básico para a montagem de equipamentos eletrônicos, custa cerca de R$ 0,50 no Brasil. O chineses conseguem mandar o mesmo produto para cá, com todas as taxas incluídas, por R$ 0,10.

“Não é só a mão de obra barata que permite que os chineses tenham esse preço. Há também a produção em larga escala e a concorrência no mercado deles”, explica Kamide. “Enquanto o Brasil tem apenas um fabricante de fibra ótica, eles têm centenas”, acrescenta.


Processo complexo

Comprar da China não é um processo simples. O empresário precisa ter muita segurança antes de fechar um negócio com fornecedores do outro lado do mundo, que não falam sua língua e vivem numa cultura totalmente diferente da brasileira.

No caso de Kamide, o negócio começou com a Feira de Cantão (Guangzhou) de 2008, que contou com uma comitiva maringaense. Na cidade chinesa, ele entrou em contato com os fabricantes, que prontamente ofereceram um táxi para levá-lo até a fábrica. Lá, o brasileiro conheceu a linha de produção, descreveu o tipo de equipamento que precisava e negociou o preço.

“Com tudo acertado, a gente precisa pagar antes mesmo do item ser produzido. Paguei em julho, mas só recebi os produtos em dezembro”, conta Kamide. Em relação a mercadoria, os chineses são irrepreensíveis.

“Eles fizeram exatamente o que eu pedi, inclusive com a minha marca estampada dentro e fora do equipamento e numeração de série individual”, comenta Kamide. Para garantir que o negócio não traria preocupações, o brasileiro contratou um advogado chinês para checar todos os detalhes da negociação em Shenzhen.

Para o diretor-executivo da trading maringaense W. Intex International, William Costa, garantir a segurança do negócio para o empresário nacional é a principal necessidade para a ampliação do comércio exterior. “O volume de negócios aumentou a partir do momento em que houve maior circulação de informações e o empresário local conseguiu perceber que o mercado externo não é tão distante”, analisa Costa.


Nova geração

Para Costa, o perfil do empresário brasileiro está mudando. “Tivemos várias gerações de empresários com perfil mais conservador, que não admitiam negociações no exterior. As novas gerações sentem uma maior necessidade de aumentar a competitividade”, avalia Costa. “Para isso, estão olhando o mercado como um todo e utilizando o mercado externo de maneira estratégica”, acrescenta.

As trocas com a China modificam o perfil das empresas locais. A economia chinesa, totalmente orientada para a industrialização e exportação, ensina ao mundo qual a postura que se espera dos agentes que atuam no mercado internacional.

“Eles conseguem perceber os efeitos sazonais de cada economia e orientam o comércio de determinado setor para determinado país”, diz Costa. Essa adaptabilidade, que também é característica do empresário brasileiro, pode ser a chave para o avanço da economia local.

Nesse sentido, Maringá ainda precisa superar a fase de exportação de produtos primários, para um patamar em que as exportações sejam de bens prontos para o consumo. Apesar do saldo positivo de US$ 541,866 milhões na balança comercial de Maringá em 2009, o município tem uma pauta em que 93% dos itens são commodities – soja, milho, álcool e açúcar.

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