quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Chuva recorde para São Paulo e altera rotina das empresas

VALOR ECONÔMICO, 9 de setembro de 2009

As chuvas fortes que castigaram São Paulo desde o início da manhã até à tarde de ontem prejudicaram completamente a rotina da cidade, dos moradores, das empresas e do transporte. Os rios Tietê e Pinheiros transbordaram, provocando a interdição das duas marginais, cerca de 70 pontos de alagamento foram formados, houve queda de dezenas de árvores e duas crianças acabaram morrendo, soterradas por um deslizamento de terra, na Zona Leste . Em Osasco, na região metropolitana, outra pessoa morreu, também soterrada.

Em sete horas, choveu mais da metade do esperado para todo o mês de setembro na capital paulista, informou o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). De acordo com os meteorologistas, o índice de chuva de ontem foi de 70 milímetros das 8 horas até às 17 horas. Foi o maior volume de chuvas no período de 24 horas em um mês de setembro desde 1943, início das medições do Inmet. As rajadas de vento na Zona Norte chegaram a 53 quilômetros por hora.

Os congestionamentos, fora do período de pico, chegaram aos 140 quilômetros. Em muitas ruas, o lixo acumulado foi levado pelas águas, tampou bueiros e chegou a invadir moradias, como na favela do Sapo, na Zona Norte, onde os moradores, revoltados, recolheram o entulho e o jogaram na Marginal Tietê, prejudicando ainda mais a circulação dos veículos.

Na sede da Nestlé, na avenida Chucri Zaidan, Zona Sul, os telefones não funcionaram na maior parte do dia. Quem pode trabalhar em casa, teve a permissão da empresa. Segundo a assessoria de imprensa, não houve aumento no número de faltas, uma vez que a maioria das pessoas inicia o expediente entre 7h30 e 8h30 - horário em que o trânsito ainda estava tranquilo. Mas os funcionários passaram o dia sem saber como iriam conseguir voltar para casa. A Tetra Pak, que tinha sua sede na avenida Luis Carlos Berrini, também na Zona Sul, não teve sorte ao inaugurar seu novo endereço, na avenida das Nações Unidas, próximo ao Shopping Villa Lobos. A partir das 12 horas, o acesso à empresa se tornou impossível, uma vez que o trânsito na marginal Pinheiros ficou totalmente parado, com motoristas abandonando os carros na pista. "Até ás 18 horas, o escritório ficou completamente sem rede (internet) ou telefone", relatou Claudio Righi, gerente geral da multinacional sueca.

Na Bombril, em São Bernardo do Campo, muitos executivos também preferiram trabalhar em casa. Marco Aurélio Guerreiro de Souza, diretor financeiro e de relações com investidores, por exemplo, teria de decolar do Rio de Janeiro às 7h30. O avião, entretanto, só conseguiu voar às 11 horas. "Só consegui chegar em meu apartamento às 16h30", disse ele ontem à tarde, após enfrentar mais cinco horas de engarrafamento. Na Bombril, os telefones também tiveram pane.

Outras empresas, como Hypermarcas, Herbalife e Carrefour ficaram o dia todo com as linhas de telefone mudas e celulares funcionando apenas em alguns intervalos do dia.
O transporte de passageiros e de cargas foi muito afetado. O presidente da transportadora Trafti, Marco Antonio Capitanio, disse que os atrasos das entregas ficaram muito acima do normal para dias de chuva. "A média de atraso de hoje (ontem) girou em torno de 5 horas, em média. Em uma situação de chuvas consideradas normais e agravamento do trânsito, normalmente, gera atrasos entre 1 hora e 2 horas."

O transporte aéreo também foi afetado. No aeroporto internacional de Guarulhos, oito voos foram desviados para outros aeroportos de manhã. Outros oito (5%) foram cancelados e pelo menos 81 (49%) atrasaram . Em Congonhas, 67 (40%) dos 168 voos programados atrasaram e 26 (15%) foram cancelados.

O setor de construção civil é um dos que mais sofre com qualquer chuva, ontem foi duramente afetado. Segundo fontes do setor, em um dia como o de ontem os canteiros de obras ficam totalmente paralisados e há o risco de alguns trabalhos terem de ser refeitos. Todos os serviços externos, como fundação, escavação, fachada, concretagem, pintura e impermeabilização, não podem ser feitas em dias de chuva. "O risco de acidentes de trabalho é maior", afirma Carlos Borges, diretor de tecnologia
do Secovi. "A execução da obra fica bastante comprometida em dias de chuva."

Ainda que o ciclo da construção seja longo, as chuvas fora de época atrapalham ainda mais. "A indústria já planeja dias de não produtividade, mas não no mês de setembro", afirma Eduardo Zaidan, diretor do Sinduscon. Quando as aprovações permitem, as empresas procuram antecipar a fase inicial da obra - a fundação - para antes do verão, por exemplo. "Ninguém posterga, mas muita gente antecipa para tentar fugir da chuva, quando é possível", diz Borges.

Vários serviços de construção são terceirizados e, nesse caso - já prevendo chuva - a empresa contratante paga por produtividade e não por dia útil. O prejuízo fica com a empresa que executa o serviço.

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