terça-feira, 20 de outubro de 2009

Fronteira e presídio envolvem o Paraná na crise de segurança do Rio de Janeiro

GAZETA DO POVO, 20 de outubro de 2009

Presídio de Catanduvas e fronteira com o Paraguai, por onde passa armamento ilegal pesado, tornam estado fator importante na crise


A posição geográfica do Paraná e a existência de um presídio federal no município de Catanduvas tornaram o estado um fator potencialmente importante para explicar a atual crise de segurança do Rio de Janeiro – desde o fim de semana, quando teve início uma disputa de traficantes da cidade, 22 mortes já foram registradas. O presídio tornaria o estado palco de decisões de criminosos com grande poder de fogo. Já a posição geográfica, na fronteira com o Paraguai, faz do estado a principal entrada de armamento pesado ilegal no Brasil. Armamento como o que pode ter derrubado um helicóptero, causando a morte de três policiais no Rio.

O presídio de Catanduvas apareceu no noticiário já no fim de semana como possível origem da ordem para a invasão do Morro do Macaco. Um dos presos de Catanduvas, Marcinho VP, ligado ao Comando Vermelho (CV), teria ordenado a ocupação do local, cujo tráfico antes estava nas mãos de outro grupo criminoso, a Amigos dos Amigos (ADA).

Ontem, o Ministério da Justiça negou que o presídio tenha sido a origem da ordem para a invasão do morro (veja texto nesta página). Porém, apesar de o governo afirmar que o serviço de inteligência do sistema penitenciário federal e o aparato de segurança da Peniten­­ciária Federal de Catanduvas “não permitem comunicação [dos presos] com o ambiente exterior”, em pelo menos duas vezes a Polícia Federal (PF) interceptou recados de detentos para comparsas que estão soltos.

Em março deste ano, uma advogada carioca foi surpreendida em flagrante pelas câmeras de vigilância do presídio quando tentava sair da unidade com uma carta escrita por um dos chefes do crime organizado no Rio e endereçada a outros criminosos. Ao ser abordada, a advogada rasgou a carta em vários pedaços e acabou presa.

Após remontar a correspondência, a PF descobriu que o texto fazia alusão a crimes praticados por bandidos que integram facções e agradecia-os pela execução de rivais. O nome da advogada e do cliente não foram revelados. Na época, o delegado da PF em Cas­­cavel, Algacir Mikalovski, disse que seria aberto um inquérito para apurar se a advogada tinha mais clientes dentro do presídio.

Em novembro de 2007, um ano e meio após a inauguração do presídio federal no Paraná, duas mulheres foram presas em Catanduvas acusadas de atuarem como mensageiras do traficante Luis Fernando da Costa, o Fer­­nandinho Beira-Mar, e outros criminosos. A PF chegou a cumprir mandados de busca e apreensão em celas dos presídios de Catan­­duvas e Campo Grande (MS), onde encontrou cartas cifradas com indicação de movimentos financeiros da quadrilha. Jaqueline Kelly dos Santos Arantes, uma das supostas mensageiras, foi presa quando desembarcava de um ônibus oriundo de Campo Grande, cidade para onde Beira-Mar fora transferido quatro meses antes.

Armamento
Embora a queda de um helicóptero, derrubado por disparos de traficantes cariocas, tenha sido um fato inédito nos conflitos entre grupos criminosos e a polícia do Rio de Janeiro, a estrutura montada para garantir tal capacidade bélica não representa uma novidade. Armas com capacidade para derrubar helicópteros, aviões e carros blindados têm entrado ilegalmente no Brasil, via Paraguai, há pelo menos duas décadas.

O Paraná está na ponta desse negócio que tem como consumidores finais os traficantes cariocas e quadrilhas paulistas que roubam bancos e carros fortes. No ano passado, policiais federais e patrulheiros rodoviários federais de Cascavel apreenderam uma metralhadora calibre ponto 50. A arma é usada pelo exército norte-americano no Afeganistão e no Iraque.

Em 2006, em Guaíra, a Polícia Federal apreendeu uma metralhadora dinamarquesa Madsen, calibre 7.62. A arma é usada para combates próximos desde a Primeira Guerra Mundial. Na mesma ocasião também foi apreendido um lança-rojão Rokcet HE 66 mm. Conhecido popularmente como “bazuca”, o lança-rojão pode penetrar em alvos fortemente blindados que estejam a até 200 metros de distância.


Paraná corta orçamento para segurança pública
BEM PARANÁ, 20 de outubro de 2009


Numa época em que a segurança pública é encarada como prioridade pela socidade brasileira, o Paraná reduz orçamento do setor.

Em 2009, o Estado deve investir R$ 1,2 bilhão em segurança. Enquanto isso, a previsão orçamentária para 2010 é de R$ 1,1 bilhão.

Os números foram apresentados pelo próprio secretário estadual de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, que fez balanço das ações da pasta na escola de governo de hoje (20), no auditório do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.

Delazari, inclusive, traiu-se quando comentou os dados. Ao apresentar quadro anual de orçamento no setor no Paraná nos últimos nove anos, observou que o gasto público no setor também baixou de 2002 para 2003 - últimos anos em que a verba foi determinada pela gestão Jaime Lerner.

"Essa redução é absurda, não se pensa nas próximas gerações. A mentalidade é: já que vai mudar o governo, então vamos cortar o orçamento", disse Delazari, referindo-se aos dados de 2002 e 2003. Vale lembrar que o governador Roberto Requião deve abandonar o cargo em abril de 2010 para concorrer a uma vaga no Senado.

A previsão orçamentária total do Estado para 2010 é R$ 25,046 bilhões, ou 5,89% mais que em 2009.

Em sua exposição, Delazari apresentou outros números e ações para tentar comprovar o êxito de sua gestão na pasta, que segundo ele é tratada como prioridade pelo governo do Estado: capacitação de 80 mil alunos na Academia Policial Militar do Guatupê, compra de 4,6 mil viaturas, investimento de R$ 26 milhões em reformas e construções, entre outros, .

Segundo Delazari, nos dois mandatos do governo Requião, soma investida em segurança pública será de R$ 7 bilhões ao final dos oito anos de mandato de Requião.

Também apresentam dados e ações o novo comandante-geral da PM, coronel Luiz Rodrigo Larson Carstens, o delegado titular da Delegacia de Homicídios, Hamilton da Paz, o delegado-geral da Polícia Civil, Jorge Azor Pinto.

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