sábado, 6 de novembro de 2010

Derrotada, oposição se reorganiza para enfrentar Dilma

VEJA ONLINE, 6 de novembro

Desafio é escolher líder que conduza PSDB, DEM e PPS às eleições de 2014


Com a derrota de José Serra na disputa pelo Palácio do Planalto, líderes dos PSDB, DEM e PPS tentam juntar os cacos e se reorganizar para enfrentar Dilma Rousseff e uma numerosa base aliada no Congresso. Uma segunda chance para aprender a ser oposição, após oito anos de governo Lula. “Pecamos por ter sido muito cordatos. Mesmo com o mensalão, os aloprados, nós nos encolhemos. Não fizemos a oposição que deveríamos”, admite a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS).

Pela frente, eles têm ainda a tarefa de consolidar um líder, que os conduza com menos sobressaltos à eleição presidencial de 2014. Os candidatos ao posto: os senadores Aécio Neves (MG) e Aloysio Nunes (SP) e os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa (PR). Sem cargo, o candidato derrotado à Presidência deve assumir função semelhante a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – a de conselheiro.

Mesmo sem vencer a eleição, Serra conquistou para a oposição um capital político de 43,7 milhões de votos, 43,9% do eleitorado. Juntos, PSDB e DEM vão governar 10 estados, entre eles os estratégicos e populosos São Paulo, Minas Gerais e Paraná. São quase 97 milhões de brasileiros – mais da metade da população. No Nordeste, reduto do PT, a oposição conquistou o Rio Grande do Norte e Alagoas.

Em meio ao debate eleitoral, Serra conseguiu fazer um contraponto ao governo Lula. Questões como a corrupção, as deficiências de infraestrutura, o atraso em obras federais, a necessidade de aumentar o investimento público e de reduzir a taxa de juros foram mencionadas – porém, de forma tardia.

A demora de Serra em assumir-se candidato à Presidência, enquanto Dilma viajava o Brasil na pose de sucessora de Lula, angustiou e desmobilizou políticos e militantes da oposição. Em janeiro de 2010, o tucano, de quem se esperava a largada para investidas contra o governo federal, deixou claro: “Candidato a presidente não é chefe de oposição.” Poucos se habilitaram para a tarefa. E a oposição teve voz fraca nas grandes decisões do país.

Marisa Serrano atribui a moderação dos tucanos ao medo de parecerem com os petistas durante o governo FHC. “Nunca agimos de forma raivosa. Isso sempre foi o perfil do PT. Fomos tachados como um país sem oposição. Na verdade, estávamos aprendendo a ser oposição”, diz a senadora. “Teremos agora mais ação e fiscalização. Não deixaremos passar nada.”

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), promete firmeza. “Faremos uma oposição segura.” Uma das mais contundentes vozes contra o governo Lula, o senador tucano Alvaro Dias (PR) quer uma oposição “sem adjetivos”, nem agressiva, nem suave. “O discurso de um oposicionista chega a poucos. O de um presidente, a milhões”, avalia. “Precisamos nos organizar para dar mais volume à oposição. Mais gente precisa falar por nós.”

O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), pretende trabalhar por um discurso unificado para desgastar o PT e o governo de Dilma e por um projeto próprio, com a cara da oposição. “O Congresso foi combativo durante o governo Lula, mas os governadores de oposição só se pronunciaram muito perto do período eleitoral”, diz. “Os governador eleitos este ano devem agora ajudar a vocalizar nossas ideias por todo o país. São eles que estão mais próximos dos eleitores.”

Estado de atenção - A ordem é manter vigilância sobre Dilma Rousseff e o PT desde o primeiro dia. “Não estamos no primeiro, mas no nono ano desse governo. Dilma deve explicações sobre tudo o que foi feito ou deixou de ser feito na era Lula, afinal, coordenou boa parte das iniciativas dele. O que Lula não fez, vamos cobrar de Dilma”, afirma Rodrigo Maia.

Contra a numerosa base aliada que Dilma terá na Câmara e no Senado, tucanos e democratas têm um antídoto, ao menos no discurso. “Sendo poucos, temos de ter qualidade”, diz Marisa Serrano. Juntos, PSDB, DEM, PPS e PMN terão 21 senadores nos próximos quatro anos, número insuficiente até mesmo para a criação de uma CPI, que exige 27 assinaturas.

Fiel escudeiro de Aécio, o deputado federal Nárcio Rodrigues (PSDB-MG) aposta no estilo mineiro para guiar a relação entre governo e oposição. “Precisamos sepultar os tempos em que PT e PSDB não podiam se falar. Nós, mineiros, vamos levar ao Congresso uma oposição convergente”, diz. E explica: “queremos firmar uma nova agenda de discussão, pela aprovação das reformas política e tributária e pelo estabelecimento de um pacto federativo, com mais poder e recursos para estados e municípios.”

Para não cair na armadilha de ser “bonzinho demais”, Nárcio cita a disputa pelo governo de Minas Gerais, que resultou na vitória do tucano Antonio Anastasia. “Seremos conciliadores, mas não deixaremos de discutir de forma transparente as diferenças entre nós e o PT. Não somos bonzinhos. Sabemos demarcar território”, diz o deputado. “Vamos nos impor pela diferença, pelo confronte de ideias. Tancredo Neves nos ensinou: quem brigam são as ideias, não os homens.”

Líderes – Para não incorrer no mesmo erro dos últimos anos, em que tentaram dar voz a suas ideias sem ter um rosto, a oposição tem pela frente ainda o desafio de escolher um líder. Das urnas de 2010 saiu um triunvirato: Aécio Neves, Geraldo Alckmin e Beto Richa. Aloysio Nunes, muito ligado a Serra, corre também para firmar-se entre os tucanos de destaque.

Aécio e Alckmin são as apostas do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson. Apesar das rusgas de Jefferson com meio mundo, o partido apoiou a candidatura de Serra. “Alckmin e Aécio são os nomes para empolgar a oposição, são os líderes da paciência.”

O papel de José Serra neste cenário ainda aparece como uma incógnita. Nem aos correligionários mais próximos o tucano falou sobre seus planos para os próximos anos. Mesmo assim, todos dão respostas semelhantes quando questionados sobre o destino de Serra: juntar-se a Fernando Henrique como conselheiro e porta-voz da oposição. Aventou-se a possibilidade de ele assumir a presidência do PSDB, remota, na opinião de seus aliados.

“Não tenho ideia do que Serra fará agora, mas a participação dele será importante, como é a de Fernando Henrique. Todos os espaços tem de ser ocupados. Eles sempre serão procurados pela imprensa sobre os grandes temas. E darão sua opinião”, afirma Álvaro Dias. “Serra sempre será uma referência, com Fernando Henrique, pela qualidade do discurso e pela experiência. Ele não precisa de cargo para liderar”, diz Rodrigo Maia.

Dono de uma língua afiada, Jefferson é mais direto: “Não há espaço para Serra como líder. Se ele não soube aglutinar as pessoas para vencer as eleições presidenciais, não saberá aglutinar para fazer oposição”, dispara. “Se ele quiser disputar um cargo eletivo, terá de recomeçar o caminho, quem sabe desde a prefeitura. Terá de ser ungido pelas bases.”

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