sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Fraude no Enem deixa prejuízo de R$ 34 milhões

JORNAL DO BRASIL, 2 de outubro de 2009

O adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio custará R$ 34 milhões. O valor corresponde ao que foi gasto com a impressão do material. Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, a investigação sobre o vazamento das provas começará por São Paulo.

O adiamento do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) que seria realizado neste fim de semana por 4,1 milhões de estudantes em todo país custará cerca de R$ 34 milhões. Mas ainda não se sabe quem arcará com os prejuízos. O valor corresponde ao que foi gasto com a impressão do material, que estava na fase final de distribuição. As despesas com a impressão da prova correspondem a 30% do valor da licitação do consórcio responsável pela impressão e distribuição dos exames que, segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, servirá agora como simulado. A prova, inclusive, já foi disponibilizada pelo Ministério da Educação para que os estudantes possam estudar.

O Enem foi cancelado ontem pelo MEC por que as provas vazaram. A denúncia foi feita pelo jornal O Estado de S.Paulo, que foi procurado por dois homens que tinham a prova impressa e estavam interessados em vendê-la por R$ 500 mil. Na tarde de ontem o portal de notícias R7 afirmou também ter sido procurado por pessoas interessadas em vender a prova. Segundo o site, um dos homens afirmou que conseguiu as provas com um colega da Polícia Federal de Brasília que tinha um cargo no Congresso e o perdeu por indicação política. O vazamento seria “por vingança” e “para levantar algum dinheiro”. Já o Estadão recebeu a informação de que o material foi vazado por um funcionário do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela elaboração das provas. Tanto o Estadão quanto o R7 afirmaram que os homens se diziam respaldados por um advogado e por cópias das provas que foram autenticadas em cartório.

Segundo o ministro, não há qualquer possibilidade de funcionários do Instituto Nacional de Educação (Inep) estarem envolvidos no vazamento, uma vez que os jornalistas tiveram acesso a uma prova impressa no formato específico. Ele afirmou que a investigação começará por São Paulo, onde um superintendente da Polícia Federal já foi indicado pelo diretor-geral da corporação, Luiz Fernando Corrêa, para apurar o caso.

O Consórcio Nacional de Avaliação e Seleção (Connasel) é a empresa responsável em operacionalizar o Enem. Formado pelas empresas Consultec, Funrio e Instituto Cetro, sediadas, respectivamente em Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, o consórcio foi o único que participou da licitação. Apesar de não estar descartada a responsabilidade do consórcio no vazamento, deve ser ele o responsável pela impressão e distribuição das novas provas que, segundo o MEC, já está elaborada e deve ser aplicada em aproximadamente 45 dias.

Negando qualquer participação no vazamento, a Plural Editora e Gráfica Ltda, contratada pelo consórcio para a confecção de 9,4 milhões de exemplares da prova, emitiu nota afirmando que cumpriu as obrigações relacionadas à segurança e que uma equipe do consórcio acompanhou 24 horas por dia todo o processo produtivo.

Haddad destacou que a logística do processo é muito complexa, mas que a segurança do Enem vem sendo reforçada a cada ano e que a chance de um vazamento como esse ocorrer era maior nos anos anteriores. Ele ressaltou, no entanto, que “os prejuízos poderiam ter sido muito maiores” se a fraude fosse descoberta depois da aplicação das provas.

Este será o primeiro ano que a nota do Enem valerá no processo seletivo da maioria das universidades federais do país. De acordo com o ministro, como existia uma folga entre a realização do Enem e a maioria dos vestibulares, o adiamento não deverá prejudicar a classificação dos alunos nas instituições. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no entanto, suspendeu temporariamente as inscrições do vestibular. A nota do Enem será considerada na primeira parte do vestibular da instituição.


Prova fica para o ano que vem e PV investiga o vazamento
O ESTADO DE S. PAULO, 2 de outubro de 2009

A prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi remarcada para a primeira quinzena de novembro, mas sem dia específico. O exame, que estava agendado para amanhã e domingo, foi cancelado na madrugada de ontem após a reportagem do Estado alertar o Ministério da Educação (MEC) para o vazamento das provas já impressas. Os técnicos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) comprovaram a quebra de sigilo.

A pedido do ministro Fernando Haddad (Educação), que conversou ontem de manhã com o colega da Justiça, Tarso Genro, a Polícia Federal abriu uma investigação para saber quem são os responsáveis pelo vazamento das provas e onde foi que, ao longo de todo o processo de confecção das perguntas do exame, de produção gráfica, impressão e logística de distribuição aconteceu a violação (mais informações na pág. A21). Ontem à noite, o ministro fez um pronunciamento em emissoras de TV. O MEC colocou na internet a íntegra da prova.

Haddad ordenou ao Inep que o instituto dê "prioridade máxima" à preparação da nova prova. A meta é tentar antecipar ao máximo a realização do exame e, segundo um assessor do ministro, realizar a prova nos dias 7 e 8 de novembro, logo depois do feriado de Finados. Desse jeito, o MEC tenta garantir que o Enem seja usado como exame seletivo para ingresso nas universidades. Em sua 12ª edição, a prova do Enem deste ano terá novo formato. Ela funciona também como vestibular unificado - 24 universidades federais aboliram os processos seletivos para adotar o exame, que será feito em 1.828 municípios. Dos 4,1 milhões de inscritos, o maior número de candidatos está concentrado em São Paulo - 234.173 alunos.

O VAZAMENTO

O Estado foi procurado na tarde de anteontem por um homem que, pelo telefone, disse ter cópias da provas que seriam aplicadas amanhã e domingo. O homem propôs vender a prova por R$ 500 mil - o Estado rejeitou a proposta, mas viu trechos do exame que depois foram confirmados pelo MEC como oficiais.

O presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, disse que a nova versão da prova deverá ser desenvolvida por um sistema de segurança mais rígido do que a prova cancelada. "Não há como esperarmos o fim das investigações para iniciar preparativos para novo exame. Temos de fazer a prova e vamos colocar todos os elementos de segurança disponíveis em alerta máximo", disse.

O Inep tem um banco com cerca de 2 mil questões que podem ser usadas em novas versões da prova. Mas, mesmo com esse banco, é preciso um tempo para a seleção, montagem e impressão da nova versão. Haddad estima que, mesmo com um mês de atraso na realização do exame, será possível divulgar os resultados em uma data próxima da que havia sido estabelecida antes do vazamento. O ministro também afirmou que o Inep deverá fazer uma avaliação preliminar para analisar as lacunas de segurança. Para ele, a medida pode afastar eventuais questionamentos sobre a inviolabilidade da versão da prova que agora começa a ser preparada. Não está definido quem vai arcar com o custo da nova impressão, estimado em R$ 30 milhões.


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