sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Chinaglia diz que Lula soube do mensalão

VALOR ECONÔMICO, 30 de outubro de 2009


O ex-presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), confirmou ontem, em depoimento à Justiça Federal, que o presidente do PTB e deputado cassado Roberto Jefferson (RJ) revelou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a existência do mensalão. Chinaglia disse que tomou conhecimento do mensalão em dois momentos, sendo que um deles foi após a denúncia do escândalo pela imprensa e outro durante uma reunião com Jefferson no Palácio do Planalto.

"Tem um momento principal, quando a imprensa divulgou aquilo que o então deputado Roberto Jefferson denunciou, e faço referência a esse momento como principal porque lá ele apelidou de mensalão e ainda que ele fez um comentário ao presidente da República, e, entre outros, eu estava presente", disse à Justiça.

Chinaglia, no entanto, sugeriu que o esquema nunca tenha acontecido. "Nunca soube de nenhuma denúncia de que houve compra de votos", afirmou.

Após o testemunho, Chinaglia explicou aos jornalistas que a reunião ocorreu em março de 2005, e estavam presentes o presidente Lula, Jefferson, o ex-ministro Walfrido Mares Guia (Turismo), o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro - à época, líder do PTB -, e o ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Na reunião, Jefferson levantou a questão do pagamento a parlamentares, o chamado mensalão. Segundo Chinaglia, o presidente Lula pediu que fosse apurada a denúncia. "A primeira reação é não acreditar em uma história dessa. O presidente pediu para que eu e Aldo verificássemos", disse. "Foi uma conversa inoportuna. Não era assunto para tratar com o presidente", completou.

Após a reunião, a imprensa divulgou informações sobre a oferta de recursos aos parlamentares em troca de apoio político que teria partido do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Chinaglia, que na época era líder do PT na Câmara, disse que Teixeira negou relação com o caso, e na sequência foi aberta uma sindicância. O caso acabou arquivado porque nenhum parlamentar se manifestou.

Chinaglia foi ouvido na condição de testemunha dos ex-deputados Pedro Corrêa (PP-PE), José Janene (PP-PR), do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e de Jefferson - que estão entre os 39 réus do processo do mensalão.

O ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza ofereceu denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) em abril de 2006 contra 40 suspeitos de participarem de um suposto esquema de compra de votos de parlamentares da base aliada - o mensalão.

Em agosto de 2007, os ministros do STF acataram a denúncia e transformaram os suspeitos em réus. Entre os denunciados estão os ex-ministros Luiz Gushiken (Comunicação do Governo), Anderson Adauto (Transportes) e José Dirceu (Casa Civil), além do empresário Marcos Valério, os deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e José Genoino (PT-SP) e o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Dos 40 denunciados, 39 continuam respondendo como réus. O ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira fez um acordo e foi excluído da ação em troca do cumprimento de pena alternativa.

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