terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Com documentos, Alvaro corrige doação “futura”

GAZETA DO POVO, 25 de janeiro de 2011


O senador Alvaro Dias (PSDB) apresentou ontem documentos para corrigir o erro referente à doação de sua aposentadoria de ex-governador para uma entidade beneficente de Curitiba. Alvaro anunciou, na última sexta-feira, ter encaminhado todo o dinheiro de sua aposentadoria referente aos meses de novembro e dezembro para a Assistência Social Santa Bertilla Boscardin, entidade que mantém uma creche na capital. No entanto, o recibo da ONG aparecia com a data futura de novembro de 2011, em vez de 2010.

“Isso é só um detalhe e já foi corrigido. Parece que as pessoas têm horror à ideia de que alguém possa preferir doar o dinheiro ao invés de ficar com ele no próprio bolso”, afirmou o senador, por telefone. Alvaro encaminhou à reportagem um novo recibo, com data de 30 de novembro de 2010 e uma fotocópia do cheque que teria encaminhado à entidade na mesma data.

A Assistência Social Santa Bertilla Boscardin, entidade à qual o senador Alvaro Dias (PSDB) encaminhou R$ 37,2 mil de sua aposentadoria de ex-governador, referentes ao valor líquido do benefício que recebeu em novembro e dezembro, é responsável por gerir uma creche que atende 90 crianças de dois a cinco anos no Bairro Alto, em Curitiba. A maior parte da verba para manutenção da entidade vem da prefeitura de Curitiba: por não ter como acomodar todas as crianças em creches próprias, o município faz convênios com ONGs em toda a cidade.

A Bertilla Boscardin recebe R$ 38 mil a cada bimestre dos cofres públicos. Mesmo assim, de acordo com a última prestação de contas feita pela entidade ao Ministério da Justiça, referente ao ano de 2008, a instituição teve déficit anual de R$ 4 mil. De acordo com a direção da creche, a biblioteca local foi montada com dinheiro doado pelo senador em anos anteriores e a nova verba servirá para reparos e reformas.

Inconstitucional - Alvaro passou a receber a aposentadoria de ex-governador em novembro do ano passado. O senador exerceu o mandato no governo estadual entre 1987 e 1991, mas nunca havia solicitado a verba. No ano passado, depois das eleições, entrou com o pedido e passou a ser pago com a verba mensal de R$ 24,8 mil. Com os descontos, a verba fica em R$ 18,6 mil. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) diz que vai entrar com uma ação na Justiça para acabar com esse tipo de aposentadoria em todo o país, sob o argumento de que o benefício é inconstitucional.

As críticas ao senador se acentuaram quando veio à tona, na semana passada, a notícia de que ele também teria pedido cinco anos de pensão retroativa, num valor estimado de R$ 1,6 milhão. Dois dias depois, Alvaro convocou entrevista coletiva para dizer que destinaria todo o valor (tanto mensal quanto o retroativo, se receber) para a caridade.

O senador disse ontem que não anunciou antes o destino da verba para não fazer propaganda da boa ação. Sobre o fato de ter dado outra explicação antes, quando ainda não se sabia do pedido dos retroativos, Alvaro afirmou que a ideia era justamente essa: não fazer “estardalhaço” sobre a doação. Em dezembro, o senador havia dito que pediu a aposentadoria porque estaria “pagando para trabalhar” no Congresso.

“Isso também era verdade. Mas, agora, com o aumento [do salário dos congressistas], isso mudou”, disse ele ontem. O aumento de 61,8% no salário dos parlamentares foi aprovado no dia 15 de dezembro. Alvaro disse, porém, que mesmo antes disso, quando estaria tendo prejuízos por não receber as verbas de ressarcimento do Congresso, dinheiro do qual abre mão, sua intenção já era doar o dinheiro para entidades beneficentes.

Alvaro creditou as críticas ao anúncio da doação ao fato de que o país ainda generaliza os políticos. “As pessoas ainda não sabem separar os políticos honestos”, afirmou. Quanto à possibilidade de algum adversário político usar contra ele, em uma futura campanha eleitoral, o fato de ter solicitado o valor retroativo, Alvaro disse não se preocupar. “Nunca subestimo a inteligência do povo”, afirmou.

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