sexta-feira, 22 de julho de 2011

Hospital Regional de Cornélio Procópio: mais um projeto que vai para o palanque

INSTITUTO AME CIDADE, 22 de julho de 2011


O imenso alarde que o prefeito de Cornélio Procópio, Amin Hannouche (PP), vem fazendo do projeto do Hospital Regional planejado para ser construído na cidade agitou o humor dos procopenses. Os comentários giram bastante em torno da notória dificuldade que o prefeito mostra para tocar as obras da Prefeitura, com prazos de conclusão jamais cumpridos e sempre cercadas de suspeitas e muita confusão. Numa das emperradas obras de Hannouche, a do Calçadão do centro da cidade, teve ameaça de agressão contra um dos empreiteiros e até pagamentos de salários com cheques sem fundos.

A obra do Hospital Regional — cuja maquete (ao lado) foi apresentada de forma apressada e exultante na semana passada pelo prefeito — está orçada em R$ 30 milhões, o que também gera muitos comentários de como será o controle sobre um orçamento tão grande. Isso é quase a metade do orçamento de Cornélio Procópio, previsto para R$ 62.500 milhões no ano que vem. A administração de Hannouche, que está em sua segunda gestão consecutiva como prefeito, tem sofrido denúncias seguidas questionando a forma do uso do dinheiro público. Em contas da Prefeitura já foram encontradas até notas fiscais de números idênticos em pagamentos de publicidade.

No final do mês passado, o prefeito teve que fazer um acordo na Justiça com o Ministério Público do Trabalho para sustar uma Ação Civil Pública com graves denúncias de irregularidades na terceirização da limpeza pública na cidade. A promotoria pública apontava licitação fraudulenta, para a qual foi constituída até uma falsa cooperativa. Na ação civil constam depoimentos que garantem que o prefeito Hannouche estava a par de tudo o que era feito.

Neste mês de julho também estourou um outro caso muito suspeito, a partir de denúncias da vereadora Aurora Fumie Doi (PMDB), que envolve a doação de um terreno público para uma empresa. A vereadora entrou com Ação Popular junto ao Ministério Público contestando a doação do terreno feita a uma empresa que inclusive estava sendo processada pela Prefeitura PR não pagar imposto. De imediato a Justiça concedeu liminar e embargou os bens dos acusados.

Neste caso, depois que a vereadora entrou com a ação os vereadores ligados ao prefeito revogaram a doação. Certamente a ordem para desfazer o negócio veio do prefeito, já que o grupo de vereadores que domina hoje a Câmara Municipal nada faz sem o seu consentimento.

Com tantos rolos na sua administração e a imensa incapacidade técnica para tocar obras bem mais simples que um hospital de dimensão regional, é claro que todos duvidam até que o hospital realmente seja feito se depender do prefeito Hannouche. Mas, de qualquer forma, ninguém acredita que a obra saia até o fim de seu mandato. Uma ilustração de humor que expressa bem o que vem falando a população é esta ao lado, com a inauguração do Hospital Regional num cenário futurista de promessa de político.

Na tentativa de abafar o falatório e as piadas, o prefeito fez questão de levar à imprensa seu recado. “O projeto vai iniciar praticamente junto com a construção do Hospital Regional. O Hospital Regional em 14 meses estará concluído. Eu vou entregá-lo ainda no meu mandato , se Deus quiser”, ele disse.

A bem da verdade, nem em mãos capacitadas seria possível em pouco mais de um ano a conclusão de um hospital da dimensão que eles prometem. E nenhum político sério comprometeria de forma tão leviana a qualidade de uma obra dessa envergadura impondo uma correria eleitoral contrária ao interesse público.


Muitas obras ficaram só na
promessa eleitoral e teve
até construção que demorou
tanto que virou ponto de drogas
Mas os procopenses já conhecem bem essa conversa. É assim em tudo o que o prefeito faz, como foi com a construção do calçadão da cidade. Uma obra muito mais simples do que um hospital e que levou mais de um ano para ser construída. A incompetência do prefeito em tocar a obra infernizou a vida dos transeuntes e dos comerciantes do local, que até tiveram prejuízos com os transtornos no período da construção.

Mas se o calçadão foi afinal concluído, obras que corriam em paralelo até hoje não foram terminadas. A lista é grande, mas só para demonstrar que a população tem razão em duvidar do prefeito, tem o Frigorífico do Peixe e o Clube do Povo, duas obras de um certo volume, e as intermináveis reformas que Hannouche começa e vai deixando o tempo rolar. São intermináveis, como as reformas das praças Botafogo e Brasil.

Algumas dessa obras intermináveis acabam é virando assunto de programa policial, como é o caso do inacabado e abandonado Clube do Povo, que seguidamente é ocupado por criminosos como ponto para vendas e uso de drogas e também de prostituição.

Todas essas obras demoradíssimas, algumas já perto do segundo aniversário, são promessas de campanhas. Mas existem também muitas outras promessas de eleição feitas pelo prefeito que nem começaram. São várias obras que ficaram só na promessa, como as reformas nos ginásios de esportes, sistema de câmeras de segurança em toda a cidade, creches, postos de saúde, a Secretaria Antidrogas, e por aí vai, em muitas promessas de campanha que ficaram para trás.

Até a promessa da vinda para Cornélio Procópio de uma unidade de uma das maiores empresas brasileiras, a Moinho Pacífico, serviu de combustível para a eleição de Hannouche. E é claro que até agora a Moinho Pacífico não moeu nem um grão de trigo na cidade.

Existem políticos que com suas obras estabelecem uma relação com a cidadania, num compromisso com o bem comum. Infelizmente entre os políticos apenas uma minoria atua dessa forma. A maioria vê uma obra apenas na perspectiva do ganho eleitoral imediato.

Para a infelicidade dos procopenses o prefeito Amin Hannouche (PP) se enquadra nesta última categoria que administra pensando apenas na exploração política sobre obras e serviços. E agora aparentemente o prefeito tem em mãos uma cartada grande, um hospital inteiro de promessas eleitorais.


Projeto do hospital é parte
do esquema político do PT
para eleger Gleisi Hoffmann
ao governo do Paraná
O projeto do Hospital Regional é grandioso e não é à toa que chega num ano pré-eleitoral. A obra está orçada em R$ 30 milhões e a origem do dinheiro é o Governo Federal. Segundo as informações liberadas até agora pelos responsáveis, serão R$ 15 milhões aplicados na construção e R$ 15 milhões para a compra de equipamentos.

Uma conta fechada dessa forma tão certinha é de desconfiar, mas é o que foi veiculado em junho do ano passado quando o então ministro do Planejamento do governo Lula, Paulo Bernardo, esteve em Cornélio Procópio.

A forma que o prefeito Hannouche vem se referindo ao projeto mostra bem o conteúdo eleitoral no qual será embalado este Hospital Regional. Nas falas do prefeito, o projeto é propagandeado como “maior conquista da área de saúde na história de Cornélio Procópio e região” e “maior obra não só da nossa administração, mas de toda a história de Cornélio Procópio”.

A fórmula marqueteira é evidente, mas isso é só o começo, até porque o Hospital Regional não é um esquema eleitoral exclusivo do prefeito procopense para mascarar a ineficiência de sua administração. O projeto tem por detrás o grupo do PT paranaense, que é chefiado por Paulo Bernardo, ministro de Lula e agora de Dilma Roussef. Os petistas buscam se fortalecer na região com o olho no futuro, no sonho acalentado de eleger Gleisi Hoffmann para o governo do Paraná.

Em Cornélio Procópio o candidato natural desse grupo à sucessão de Amin Hannouche é com certeza o petista João Carlos Lima, atual vice-prefeito. Entre os partidários de Hannouche, a candidatura de Lima já causa ciumeiras, já que o grupo do prefeito tem outros pretendentes ao cargo. Mas é um fato que um projeto como o do Hospital Regional, todo movimentado com dinheiro que vem direto das mãos do cacique petista Paulo Bernardo, reforça bastante a candidatura do vice petista de Hannouche.

Outra questão que terá de ser resolvida nesta associação com fins eleitorais em torno do projeto de um hospital público é o acerto entre Hannouche e o governador Beto Richa (PSDB). O fortalecimento do grupo de Paulo Bernardo na região de Cornélio Procópio — resultando na elevação do cacife eleitoral de Gleisi Hoffmann — não se pode ser feito sem o enfraquecimento de Richa. E no Palácio do Iguaçu só tem lugar para um.

Outra equação a ser resolvida por Hannouche neste fortalecimento do PT na região será com seu colega de partido, o ex-prefeito de Maringá e atual secretário da Indústria e Comércio, Ricardo Barros. Em Maringá, Barros não tem acerto com o PT, que vai para a disputa no ano que vem pela prefeitura, atualmente em poder da família do secretário.

São os pontos que vão precisar de acordos na grande festa eleitoral em torno de um projeto de hospital público, nesta antiga e triste história do uso do dinheiro do contribuinte na exploração das necessidades e direitos legítimos da população.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tomara que o eleitor não se engane de novo, mas o jogo vai ser pesado!

Cidadania Já! disse...

O hospital regional é mesmo um golpe político. pode até sair, mas será que um grande hospital é prioridade na região ou a aplicação desse dinheiro poderia ser mais eficiente se feito de outras formas na saúde? É pra se pensar. Mas parabéns para o Instituto Ame Cidade por fazer esse debate. É bastante dinheiro, tanto que deve despertar a cobiça de alguns. É preciso ficar de olho nesse projeto.