quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A inflação gregoriana é agravada pela indexação

O ESTADO DE S. PAULO, 9 de fevereiro de 2010


O IPCA de janeiro aumentou 0,83%, ante 0,63% no mês anterior, e o INPC, calculado para as famílias cuja renda vai de 1 até 6 salários mínimos (o IPCA inclui renda familiar de até 40 salários mínimos), subiu 0,94% no mesmo período, ante 0,60% em dezembro, indicando que as famílias mais pobres sofreram uma inflação maior. A indagação é se se trata de alta gregoriana dos preços.

O setor que mais pesou no IPCA foi alimentação e bebidas, com alta menor do que no mês anterior, causada mais pelas chuvas, do que por um fator sazonal - seria uma inflação "do chuchu": 88,17%, mas com peso insignificante (0,05%). Os reajustes normais de janeiro são dos transportes e da habitação, o que nos leva a pensar que existe um problema de indexação, incompatível com o controle de inflação e que, infelizmente, continua, por exemplo, na fixação do salário mínimo, hoje em discussão.

Caberia extinguir esses reajustes de início do ano nos transportes e nas comunicações. Um outro reajuste gregoriano é na educação, que tem dois tempos: na fixação da mensalidade das escolas privadas e na compra de material escolar, que deverá pesar mais em fevereiro. No caso do reajuste das mensalidades, seria fácil, pelo menos em São Paulo, reduzir seu impacto estabelecendo que o reajuste dos professores seria em dezembro, e não em março do ano seguinte, o que leva as escolas, que ignoram qual será o reajuste dos professores (e é 80% dos gastos), a estimar uma margem elevada para enfrentar um aumento bem acima da inflação. Na compra de material escolar seria útil não mudar os livros a cada ano, permitindo que os alunos que sobem de série possam vender seus livros aos que os sucederem.

O coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas, Salomão Quadros, considera, à luz dos resultados de janeiro, que a meta de 4,5% neste ano é inatingível. Ele tem consciência de que os preços dos serviços se alimentam com certa largueza da alta das mercadorias comercializadas, superando os aumentos dessas, e que, além disso, a margem tolerada para a meta da inflação é excessiva, representando quase um convite para ser ultrapassada.

Pode-se temer que em fevereiro a alta dos preços seja maior que em janeiro, levando em conta que a inflação gregoriana continuará a se fazer sentir, pois o aumento dos preços no atacado deverá estar incluído nos do varejo. Ao governo caberia promover um debate interno sobre até que ponto a indexação, comum em nossa economia, alimenta a inflação.

Nenhum comentário: