segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Água imprópria

JORNAL DE LONDRINA, 17 de outubro de 2010

Condomínios e sítios são os que mais têm água imprópria para consumo, em razão do uso de poços e minas


Os condomínios (horizontais e verticais) e a zona rural (sítios e chácaras) de Londrina são os locais onde há a maior quantidade de água imprópria para o consumo. O motivo é a utilização de poços e minas sem a instalação de bombas de cloro, que evitam a contaminação de bactérias. O monitoramento é feito mensalmente por técnicos da Vigilância Sanitária, através do programa federal Vigiágua. De acordo com dados trimestrais da análise, nos meses de julho, agosto e setembro foram coletadas 168 amostras, das quais 31, ou 18,5%, em desacordo com o padrão de potabilidade estabelecido pelo Ministério da Saúde. No trimestre anterior (abril, maio e junho), o índice foi um pouco maior: 49, ou 22% das 223 amostras coletadas, estavam em desacordo com o padrão.

Pelo padrão, níveis de flúor e turbidez da água devem estar em um mínimo aceitável, e não pode haver resquícios de coliformes fecais ou totais. Além disso, é preciso que a água receba tratamento com cloro. De todas as análises realizadas nas diversas regiões de Londrina, alguns condomínios (horizontais ou verticais) que utilizam poços e propriedades rurais que captam água de minas, ambos sem bomba de cloração, apresentaram bactérias que indicam contaminação por coliformes totais ou fecais. Outras amostras apresentaram ainda níveis altos de flúor ou turbidez.

“O problema são as pessoas que moram em sítio, nos distritos ou em condomínios que estão perfurando poços artesianos. Tem que colocar a bomba de cloro para a água ser tratada e evitar contaminação. É uma segurança”, afirmou a professora do departamento de Microbiologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Jacinta Sanchez Pelayo. De acordo com ela, a água controlada pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) não apresenta problemas de contaminação ou falta de potabilidade, sendo considerada uma das melhores do País.

O coordenador do programa Vigiágua em Londrina, Moacir Gimenez Teodoro, explicou que o programa tem como objetivo monitorar a qualidade da água consumida na cidade, seja de minas, poços ou água encanada. Além dos condomínios e zona rural, amostras são coletadas em hospitais, creches, postos de saúde, entre outros locais de grande concentração de pessoas. Teodoro citou o exemplo de um supermercado da cidade que, quando foi inaugurado, apresentou índices altos de contaminação por coliformes totais.

Neste caso, o estabelecimento – que já regularizou a situação - foi notificado e teve de providenciar a cloração da água. Foi assim, segundo ele, com diversos condomínios que são abastecidos por poços artesianos: todos os que não tinham bombas de cloro tiveram de regularizar a situação.

Análise verifica coliformes - O problema maior de falta de potabilidade na água está na presença de coliformes totais ou fecais. Essa é a avaliação da professora do departamento de Microbiologia da UEL, Jacinta Sanchez Pelayo. De acordo com ela, para saber se uma amostra de água está contaminada, os técnicos verificam a presença da bactéria Escherichia coli, encontrada no intestino humano. “Se houver presença, significa que a água já entrou em contato com fezes”, afirmou a professora. Ela explicou que a água contaminada pode ser agente transmissor de doenças. As mais comuns são diarreia e hepatite, entre outras.

O programa Vigiágua, determinado pelo Ministério da Saúde, é executado por meio de parceria entre o município, o estado e a UEL. É dever do executivo estadual fazer análises para medir a qualidade da água do município. Em Londrina, são 2.360 imóveis cadastrados na zona rural, sem contar o Distrito da Warta, na zona norte. Nesses domicílios estão 1.025 fontes de água, entre poços e minas. No espaço chamado Londrina urbana, que compreende áreas intermediárias entre a zona rural e a cidade, como o Patrimônio Três Bocas, a Estrada do Limoeiro, entre outras, há 155 poços artesianos, 225 poços rasos e 96 minas.

De acordo com o coordenador do Vigiágua, Moacir Gimenez Teodoro , são as minas as principais fontes de ausência de potabilidade da água.

Saneamento público ainda sofre com ingerência política ao destinar recursos

Funcionário da Organização Mundial da Saúde (OMS), o engenheiro Sérgio Rolim Mendonça já viu de tudo na América Latina em relação à falta de tratamento de água e esgoto. “Ao redor do mundo, verminoses matam mais que fatores de risco por abuso de drogas, poluição do ar, fumo, inatividade física, desnutrição, consumo de álcool”, afirma.

Sobre o Brasil, Mendonça diz que a marca do saneamento básico público ainda é a da interferência política na hora de planejar e até de destinar recursos. O engenheiro aponta a má gestão de serviços – como o desperdício de mais de 50% da água tratada em grandes cidades (em Londrina, as perdas da Sanepar, já mostradas no JL, são de 34,6% da água tratada) - como um dos fatores críticos para a oferta de preços mais acessíveis. “As companhias não investem o que deveriam para eliminar essas perdas e quem paga é sempre o consumidor”.

O técnico cobra, ainda, que companhias de saneamento como a Sanepar estudem e apliquem o reuso do esgoto tratado como forma de evitar a contaminação dos rios com o despejo de efluentes - e como fator de economia para irrigação de plantações. O engenheiro participa do 7º Seminário de Responsabilidade Sócio-Ambiental, que começa nesta semana em Londrina, promovido pela Unimed. Leia abaixo, a entrevista que ele concedeu ao JL.

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