quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Plano de Saneamento de Cornélio Procópio está na mão de escritório que serve à grandes empreiteiras e empresa de pedágios do norte do Paraná

INSTITUTO AME CIDADE, 2 de setembro de 2010


Nesta semana foi finalmente anunciada a elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico de Cornélio Procópio. O plano é uma exigência de lei federal relativa ao saneamento básico e está bem atrasado. Bem ao modo da administração do prefeito Amin Hannouche (PP), nenhum procedimento com transparência e aberto à participação dos cidadãos foi realizado até o momento, sem nenhuma reunião com associações representativas de profissionais, empresários ou de bairros, nem mesmo de comunidades afetadas por poluição de fontes abastecedoras que, no município, já teve até denúncias de poluição por chumbo.

O anúncio do início dos trabalhos do Plano Municipal de Saneamento Básico de Cornélio Procópio surgiu na voz do gerente regional da Sanepar em Cornélio Procópio, Acir Pedro Crivelari, que foi procurado pela Rádio Cornélio. De forma lamentável, expressando-se como se fosse representante da Prefeitura, Crivelari informou aos procopenses que a Sanepar inclusive já havia aberto suas portas e exposto seus dados para a empresa privada Cinco Engenheiros, de São Paulo, contratada por Hannouche para fazer o plano.

A revelação da forma como vem sendo tocado este plano avivou novamente as preocupações dos procopenses quanto à possibilidade de que a Prefeitura tome para si o saneamento municipal, uma municipalização que muitos vêem como o primeiro passo para a posterior privatização dos serviços, uma ameaça constante desde que Hannouche foi eleito prefeito.

A apreensão tem seus fundamentos, até porque a atual administração tem mostrado ineficiência até para tocar os serviços básicos e se envolvido em obras com licitação duvidosa, sempre atrasadas ou mal concluídas. A privatização de um serviço essencial como o saneamento é um perigo ainda maior, pois coloca na esfera do lucro algo fundamental até para a sobrevivência humana, como a água.

Como já dissemos aqui no blog do Instituto Ame Cidade, asfalto esburacado, obras que não terminam ou acabam malfeitas, falta de limpeza urbana, tudo isso acaba chateando bastante, mas é possível conviver com tais problemas. Já o saneamento básico e a água tratada não podem faltar nem um dia, pois aí a própria sobrevivência humana acaba sendo afetada.

A assinatura do contrato entre prefeitura e Sanepar vem se arrastando desde a primeira eleição de Hannouche, que está em seu segundo mandato consecutivo, ambos coincidentes com os oito anos de Roberto Requião (PMDB) no governo estadual. Há cerca de três anos, a ameaça de privatização do serviço levou o gerente regional anterior da Sanepar, Milton Borghi, que aposentou-se no ano passado, a encabeçar junto à sociedade civil procopense e funcionários da estatal paranaense um movimento que levou à fundação do Movimento Água da Nossa Gente, uma organização em defesa da água como um bem comum dos brasileiros.

O movimento capitalizou de forma ordenada a clara oposição da população não só à privatização, mas também contra qualquer intenção de municipalização de um serviço prestado pela Sanepar com uma eficiência ímpar. Em um Brasil em que mais da metade das residências não tem saneamento básico e com 12 milhões de residência até sem água encanada, o saneamento em Cornélio Procópio está próximo de 100%.

Enquanto esteve a frente da Sanepar na cidade se conduzindo em defesa do saneamento público e contrário à privatização, naturalmente Borghi sofreu hostilização por parte da Prefeitura, mas estranhamente também não recebeu apoio algum do então presidente da Sanepar, Stênio Jacob, que acabou sendo demitido em julho passado por Orlando Pessuti, vice que substituiu Requião no cargo de governador.

Jacob foi presidente da Sanepar durante os dois mandatos de Requião e neste período esteve sempre empurrando para a frente de forma muito estranha a conclusão das negociações com Hannouche para a assinatura do contrato de concessão. De um modo que parecia deliberado, ele dava sempre a impressão de o contrato estar para ser assinado, algo que ele até garantia para todos, inclusive a imprensa, até poucos dias antes de ser demitido de um jeito nada honroso por Pessuti.

No mês anterior à sua demissão por Pessuti de forma nada honrosa, Jacob ainda esteve na cidade e durante audiência pública dizia que tudo estava caminhando bem para a assinatura de um novo contrato de concessão de serviços por mais 30 anos entre a Sanepar e o Município.

À frente da empresa, Jacob ignorava os apelos do gerente regional, Borghi, que alertou várias vezes para o risco que a empresa pública corria em Cornélio Procópio e ainda buscava pressionar para que fosse contido o Movimento Água da Nossa Gente. O fato concreto é que no final a atitude de Jacob levou sem conclusão o caso até o final de um governo estadual que parecia ter mais preocupação com os bens públicos.

Da forma que foi feito, o anúncio da execução do Plano Municipal de Saneamento Básico de Cornélio Procópio reforça as preocupações da população quanto à privatização do serviço de água e esgoto, até porque oficializa como parceira da Prefeitura a empresa Cinco Engenheiros, que já era alvo de rumores na cidade.

Acontece que a Cinco Engenheiros presta assessoria direta à poderosas empresas que dominam a privatização de serviços públicos como o das estradas brasileiras. Entre os clientes da Cinco Engenheiros estão grandes empreiteiras e empresas como a Econorte, concessionária de estradas rodoviárias do Paraná que cercou várias cidades do interior com seus pedágios.

Não deixa de ser uma demonstração de intenções que o prefeito escolha para fazer um plano de saneamento não uma empresa relacionada com a ecologia e o meio ambiente ou o setor de saneamento brasileiro, mas um grupo de profissionais que serve a empresas com interesse direto na privatização de serviços públicos essenciais.

A Cinco Engenheiros atua diretamente na concessão de serviços públicos em várias áreas, inclusive no saneamento básico, sem nenhuma experiência na questão do meio ambiente.

Segundo informações que chegaram ao nosso blog, a elaboração do plano pela Cinco Engenheiros estaria custando à Prefeitura mais de R$ 100 mil reais, quando o mesmo serviço poderia ser feito gratuitamente e com muita mais qualidade e transparência pela própria Sanepar.

6 comentários:

Cidadania disse...

Dá-lhe Instituto Ame Cidade!! Sempre na defesa dos interesses públicos em Cornélio! Parabéns!

Eneida Marques disse...

O Borghi é desses cidadãos que orgulha Cornélio. Acompanhei sua luta e sempre achei que ele estava certo, muito corajoso na defesa da Sanepar e do interesse da cidade de Cornélio.

Anônimo disse...

Pois é Eneida, há quanto tempo atrás o Milton Borghi alertou sobre o que hoje está acontecendo não é mesmo?
Na época, foi até chamado de 'louco', só agora a verdade aparece.

Vigia Cornélio disse...

Tudo nesta cidade é encaminhado de um jeito estranho. Até uma coisa básica e importante como o plano de saneamento tem que ter todo esse envolvimento com coisas que nada tem a ver com o objetivo em si do trabalho. Quando é que isso vai acabar?

Olho Vivo disse...

Se o prefeito pegar a Sanepar vai ser igual as obras que não terminam nunca e ficam abandonadas feito lixo. E se o saneamento não for administrado direito dá problema sério. É duro ficar sem água em casa, todo mundo sabe disso. Cornélio não vai permitr uma coisa dessas.

Ex-companheiro disse...

é muito triste acreditar neste acontecimento.
Eu sabia que a sua aliança com o executivo para assumir o poder não ia dar certo. Voce não tem estrutura psicológica para isso.
Será que este cargo de gerente vale o pacto.
Que pena..............