BEM PARANÁ, 24 de setembro de 2010
Moradores alegam que quanto mais longe do centro, pior a qualidade da pavimentação
Ruas da periferia de Curitiba são pavimentadas com antipó: após as chuvas grandes buracos se formam
Todo ano é a mesma situação: depois dos períodos de chuva intensa, as ruas de Curitiba ficam esburacadas e os motoristas precisam de uma dose extra de paciência para se movimentarem pelas vias dos bairros periféricos. Os buracos abrem rapidamente porque o sistema usado pela Prefeitura é o de antipó, que exige operação tapa-buracos logo após de cada chuva.
Cansado dessa situação, o empresário Antonio Marques França, que mora no Xaxim e trabalha no Hauer, criou um movimento civil pelo fim do antipó e para cobrar um plano da Prefeitura por um projeto de melhoria das ruas. “Depois das chuvas as ruas ficam intransitáveis e a obra de remendo realizada não dura 60 dias. É dinheiro público jogado fora”, reclama Marques.
O empresário critica também a desproporcionalidade de investimentos entre os bairros nobres e periféricos. “Uma minoria tem o privilégio de ter um asfalto definitivo. Agora vá para os bairros, ali é a situação de abandono”, lamenta. Marques cita como exemplo a intervenção que ocorreu na Avenida Nossa Senhora da Luz, que no seu prolongamento passa a se chamar Avenida Marechal Humberto Castello Branco. A via passa pelos bairros Cristo Rei, Hugo Lange, Jardim Social e Cabral.
“A qualidade do asfalto naquela avenida já estava muito boa. Aconteceu a obra e a avenida foi toda recapada. Nos bairros mais distantes, é o contrário. O que sobra para a população são os solavancos e os buracos”, critica. “O que vemos em todas as regiões são ruas que não condizem com o status que Curitiba tem, de capital do Estado do Paraná e maior cidade do Sul do Brasil. Uma obra que recuperasse de fato as ruas e avenidas seriam revertidas em economia”, complementa.
O empresário lembra o fato de que Curitiba será uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 e até lá diz esperar que a situação mude. “Vamos ter um estádio de primeiro mundo e avenidas da região do Água Verde que vão ser um espetáculo. Enquanto isso, os bairros vão continuar vivendo esta triste realidade? Ou vamos ser lembrados só na hora de pagar a conta?”, questiona.
Bairros de diferentes regiões da cidade dão um panorama da situação dramática da maioria das ruas de Curitiba. São de bairros fora do anel central da Capital que chegaram a maioria das assinaturas do abaixo-assinado promovido por Marques. Foram cerca de 2.300 assinaturas das mais distintas regiões, como Boqueirão, Capão Raso, Bairro Alto e Boa Vista. “Vale ressaltar que com um panorama como este é possível fazer pesquisas de intenção de voto para presidência da República. Então estatisticamente é possível comprovar que a maioria dos curitibanos está descontente com o trabalho que vem sendo feito em relação ao asfalto”, avalia Marques.
O fim do antipó era uma das promessas do segundo mandato do então prefeito Beto Richa. No ano passado, a prefeitura tinha um planejamento de implantar o asfalto definitivo em 300 km de vias com antipó. Mas detalhe, 300 km de ruas por onde passam linhas de ônibus dos transporte coletivo até 2012.
Problemas atingem de Norte a Sul da cidade
A reportagem conversou com moradores de diversas regiões da cidade para analisar como anda a percepção do curitibano em relação à qualidade das ruas dos seus bairros. O analista de testes Eduardo Neffi Toporoski mora no Atuba, no norte de Curitiba, e trabalha no Parolin. Em seu trajeto, passa por bairros nobres da cidade e percebe o contraste. “A impressão é que se tem é que os bairros onde o IPTU é mais alto há um cuidado maior e um diferencial nas intervenções. Até sinalização da obra é bem feita. Já os bairros mais populares são mais esquecidos”, compara.
Toporoski cita como exemplo de abandono a Estrada do Santa Cândida, onde diversas linhas de ônibus transitam. “É lamentável a situação ali, são vários remendos e buracos. Você desvia de um e cai em outro”, reclama. “Outra via muito ruim é a Rua Fagundes Varela, entre a Linha Verde e a região do Cabral. Não dá para andar por ali. Dá para perceber que as obras que acontecem na região central são para turistas verem”, afirma.
No outro lado da cidade, o fotojornalista Robertson Luz também sente o abandono. Ele mora no Pinheirinho, no sul da cidade, e trabalha no Juvevê, considerado um bairro nobre da capital. “Depois que passa o Portão, até a rápida que vem do Centro tem buracos. Já no bairro em que trabalho, não falta uma só tartaruga no chão”, comenta.
Luz afirma que sua mãe já se acidentou devido à falta de sinalização em ruas do bairro em que mora. “Não há placas de preferencial em diversos cruzamentos e é ali que os acidentes acontecem. Em uma rua melhor sinalizada, o trânsito fica melhor. Minha mãe passou por um cruzamento sem sinalização e se acidentou”, conta o fotojornalista. “A questão é que a Prefeitura nunca deu a mesma atenção que dá para as regiões centrais à periferia”, acrescenta.
O leiturista Kahoê Mudry, morador do Capão da Imbuia, sabe bem o que Luz fala. Diariamente, durante o seu trabalho, ele caminha por regiões da cidade que nem asfalto tem. “Nos bairros nobres a pavimentação é maravilhosa e longe do centro mal e mal um farelo de asfalto, que se solta na primeira chuva”, pontua. Outro fato que chama atenção do leiturista são as obras pela metade. Mudry conta que a rua da sua casa foi reformada, mas a intervenção da Prefeitura não foi até o fim da via.
“Em um espaço de seis quadras o asfalto foi colocado, mas no restante não. Por que em uma obra no Batel a transformação é completa?”, questiona. Outra rua também problemática no opinião do morador do Capão da Imbuia: a Rua Suécia, no Tarumã. “Ela tem um fluxo de veículos muito alto e na mesma proporção está a qualidade do asfalto, só que para baixo”, analisa.
Na regional do Santa Felicidade, os mesmos problemas, mas contradições maiores. O publicitário Diogo Cotovicz, morador do Órleans, conta que várias obras estão acontecendo na sua região. Porém, elas ficam concentradas apenas em um lugar. “A Avenida Toaldo Túlio está sendo transformada, nova iluminação, novo asfalto, muito mais qualidade. Mas a obra para na BR-277. De um lado do viaduto, uma via maravilhosa, e do outro, na Rua João Falarz, buracos e remendos?”, sugere.
No seu bairro e nos vizinhos Cidade Industrial e Campo Comprido, a situação é a mesma, avalia Cotovicz. “Tem mais buraco que asfalto e a sinalização é ruim. Para trafegarmos pelas vias só fazendo zigue-zague. As atitudes da cidade [de favorecer regiões mais nobres] é mostrar que aparentemente tudo funciona, mas não é a realidade. Os moradores do bairro estão descontentes e abandonados. Além disso, estamos cansados de promessas eleitoreiras a cada quatro anos. Disso estamos cheios”, critica.
Moradores alegam que quanto mais longe do centro, pior a qualidade da pavimentação
Ruas da periferia de Curitiba são pavimentadas com antipó: após as chuvas grandes buracos se formam
Todo ano é a mesma situação: depois dos períodos de chuva intensa, as ruas de Curitiba ficam esburacadas e os motoristas precisam de uma dose extra de paciência para se movimentarem pelas vias dos bairros periféricos. Os buracos abrem rapidamente porque o sistema usado pela Prefeitura é o de antipó, que exige operação tapa-buracos logo após de cada chuva.
Cansado dessa situação, o empresário Antonio Marques França, que mora no Xaxim e trabalha no Hauer, criou um movimento civil pelo fim do antipó e para cobrar um plano da Prefeitura por um projeto de melhoria das ruas. “Depois das chuvas as ruas ficam intransitáveis e a obra de remendo realizada não dura 60 dias. É dinheiro público jogado fora”, reclama Marques.
O empresário critica também a desproporcionalidade de investimentos entre os bairros nobres e periféricos. “Uma minoria tem o privilégio de ter um asfalto definitivo. Agora vá para os bairros, ali é a situação de abandono”, lamenta. Marques cita como exemplo a intervenção que ocorreu na Avenida Nossa Senhora da Luz, que no seu prolongamento passa a se chamar Avenida Marechal Humberto Castello Branco. A via passa pelos bairros Cristo Rei, Hugo Lange, Jardim Social e Cabral.
“A qualidade do asfalto naquela avenida já estava muito boa. Aconteceu a obra e a avenida foi toda recapada. Nos bairros mais distantes, é o contrário. O que sobra para a população são os solavancos e os buracos”, critica. “O que vemos em todas as regiões são ruas que não condizem com o status que Curitiba tem, de capital do Estado do Paraná e maior cidade do Sul do Brasil. Uma obra que recuperasse de fato as ruas e avenidas seriam revertidas em economia”, complementa.
O empresário lembra o fato de que Curitiba será uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 e até lá diz esperar que a situação mude. “Vamos ter um estádio de primeiro mundo e avenidas da região do Água Verde que vão ser um espetáculo. Enquanto isso, os bairros vão continuar vivendo esta triste realidade? Ou vamos ser lembrados só na hora de pagar a conta?”, questiona.
Bairros de diferentes regiões da cidade dão um panorama da situação dramática da maioria das ruas de Curitiba. São de bairros fora do anel central da Capital que chegaram a maioria das assinaturas do abaixo-assinado promovido por Marques. Foram cerca de 2.300 assinaturas das mais distintas regiões, como Boqueirão, Capão Raso, Bairro Alto e Boa Vista. “Vale ressaltar que com um panorama como este é possível fazer pesquisas de intenção de voto para presidência da República. Então estatisticamente é possível comprovar que a maioria dos curitibanos está descontente com o trabalho que vem sendo feito em relação ao asfalto”, avalia Marques.
O fim do antipó era uma das promessas do segundo mandato do então prefeito Beto Richa. No ano passado, a prefeitura tinha um planejamento de implantar o asfalto definitivo em 300 km de vias com antipó. Mas detalhe, 300 km de ruas por onde passam linhas de ônibus dos transporte coletivo até 2012.
Problemas atingem de Norte a Sul da cidade
A reportagem conversou com moradores de diversas regiões da cidade para analisar como anda a percepção do curitibano em relação à qualidade das ruas dos seus bairros. O analista de testes Eduardo Neffi Toporoski mora no Atuba, no norte de Curitiba, e trabalha no Parolin. Em seu trajeto, passa por bairros nobres da cidade e percebe o contraste. “A impressão é que se tem é que os bairros onde o IPTU é mais alto há um cuidado maior e um diferencial nas intervenções. Até sinalização da obra é bem feita. Já os bairros mais populares são mais esquecidos”, compara.
Toporoski cita como exemplo de abandono a Estrada do Santa Cândida, onde diversas linhas de ônibus transitam. “É lamentável a situação ali, são vários remendos e buracos. Você desvia de um e cai em outro”, reclama. “Outra via muito ruim é a Rua Fagundes Varela, entre a Linha Verde e a região do Cabral. Não dá para andar por ali. Dá para perceber que as obras que acontecem na região central são para turistas verem”, afirma.
No outro lado da cidade, o fotojornalista Robertson Luz também sente o abandono. Ele mora no Pinheirinho, no sul da cidade, e trabalha no Juvevê, considerado um bairro nobre da capital. “Depois que passa o Portão, até a rápida que vem do Centro tem buracos. Já no bairro em que trabalho, não falta uma só tartaruga no chão”, comenta.
Luz afirma que sua mãe já se acidentou devido à falta de sinalização em ruas do bairro em que mora. “Não há placas de preferencial em diversos cruzamentos e é ali que os acidentes acontecem. Em uma rua melhor sinalizada, o trânsito fica melhor. Minha mãe passou por um cruzamento sem sinalização e se acidentou”, conta o fotojornalista. “A questão é que a Prefeitura nunca deu a mesma atenção que dá para as regiões centrais à periferia”, acrescenta.
O leiturista Kahoê Mudry, morador do Capão da Imbuia, sabe bem o que Luz fala. Diariamente, durante o seu trabalho, ele caminha por regiões da cidade que nem asfalto tem. “Nos bairros nobres a pavimentação é maravilhosa e longe do centro mal e mal um farelo de asfalto, que se solta na primeira chuva”, pontua. Outro fato que chama atenção do leiturista são as obras pela metade. Mudry conta que a rua da sua casa foi reformada, mas a intervenção da Prefeitura não foi até o fim da via.
“Em um espaço de seis quadras o asfalto foi colocado, mas no restante não. Por que em uma obra no Batel a transformação é completa?”, questiona. Outra rua também problemática no opinião do morador do Capão da Imbuia: a Rua Suécia, no Tarumã. “Ela tem um fluxo de veículos muito alto e na mesma proporção está a qualidade do asfalto, só que para baixo”, analisa.
Na regional do Santa Felicidade, os mesmos problemas, mas contradições maiores. O publicitário Diogo Cotovicz, morador do Órleans, conta que várias obras estão acontecendo na sua região. Porém, elas ficam concentradas apenas em um lugar. “A Avenida Toaldo Túlio está sendo transformada, nova iluminação, novo asfalto, muito mais qualidade. Mas a obra para na BR-277. De um lado do viaduto, uma via maravilhosa, e do outro, na Rua João Falarz, buracos e remendos?”, sugere.
No seu bairro e nos vizinhos Cidade Industrial e Campo Comprido, a situação é a mesma, avalia Cotovicz. “Tem mais buraco que asfalto e a sinalização é ruim. Para trafegarmos pelas vias só fazendo zigue-zague. As atitudes da cidade [de favorecer regiões mais nobres] é mostrar que aparentemente tudo funciona, mas não é a realidade. Os moradores do bairro estão descontentes e abandonados. Além disso, estamos cansados de promessas eleitoreiras a cada quatro anos. Disso estamos cheios”, critica.
Um comentário:
Os buracos nas ruas de curitiba existem porque o que são tapados são os administradores da cidade.
Quem inventou o antipó não merece nosso respeito.
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