segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Contrabandear medicamento rende tanto quanto traficar drogas

BEM PARANÁ, 19 de outubro de 2009

Uma apreensão de 8,6 mil comprimidos de Cytotec feita esta semana pela PRF equivale a uma tonelada de maconha


O tráfico de medicamentos contrabandeados está em alta. O indício já é constatado pelas apreensões que as polícias realizam. Só neste ano a Polícia Rodoviária Federal (PRF), por exemplo, já bateu duas vezes o recorde de apreensões. Em julho, um carregamento de 34 mil comprimidos foi pego na BR-277, perto de Céu Azul, no Oeste paranaense, na que era a maior apreensão feita. Na quarta-feira passada foram 180 mil unidades pegas, de novo na BR-277, e de novo em Céu Azul. Esta foi provavelmente, se não a maior, uma das mais importantes no País em 2009.

“O tráfico de medicamentos cresce a medida que as quadrilhas observam que se trata de algo tão rentável quanto trazer entorpecentes”, comenta o inspetor Gilson Cortiano, chefe de operações da PRF no Paraná. Pegando apenas um medicamento como comparação já dá para observar a dimensão do problema. Na apreensão da quarta-feira, entre os 180 mil comprimidos ou doses encontrados, 8,6 mil eram do abortivo Cytotec. Essa quantidade equivale, em termos financeiros, a uma tonelada de maconha.

No Paraguai, de onde são trazidos o contrabando de remédios e medicamentos, uma única cartela com dez comprimidos de Cytotec é vendida, em média, por US$ 15, ou pouco mais de R$ 25. No Brasil, cada comprimido é vendido a R$ 50. Ou seja, as 8,6 mil unidades custaram quase R$ 22 mil, mas renderiam, quando vendidas no mercado negro, algo em torno de R$ 430 mil.

A maconha é comercializada no Paraguai por R$ 30 a R$ 50 o quilo. Tomando o valor menor, seriam necessários R$ 30 mil para adquirir mil quilos, que quando vendidos no Brasil dariam ao tráfico até R$ 500 mil. A diferença não é tão grande entre o Cytotec e a maconha, com a diferença gritante no transporte. Para levar uma tonelada de maconha até os centros consumidores, as quadrilhas precisam de uma grande estrutura e, no mínimo, um caminhão médio. Para levar o Cytotec até Salvador — que era o caso do carregamento pego na semana passada — bastaria alguém com uma bolsa.

“Esse contrabando de medicamentos vem sendo uma constante e competido com outros entorpecentes. E, à medida que as quadrilhas veem que tem um rendimento melhor e um volume menor, podem migrar para essa atividade”, diz Cortiano, que exlica ainda que as mesmas quadrilhas que contrabandeiam os medicamentos, também trabalham no narcotráfico e no tráfico de armas. “Fazem essa alternância para tentar despistar a polícia”, completa o inspetor.

O trabalho para conseguir apanhar o contrabando de medicamentos precisa ser mais minucioso que o das drogas. Em volumes menores, o transporte pode passar quase despercebido. Não quer dizer que é mais fácil. “Como já observamos essa mudança, também estamos com o foco mais apurado para esse transporte, e nosso setor de inteligência também”.


A mesma estrutura do narcotráfico

Os 180 mil comprimidos ou doses de medicamentos apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) na quarta-feira passada foram estimadas em R$ 2 milhões. Além do Cytotec, foram encontrados dentro de um compartimento falso no teto do caminhão Mercedes-Benz/L 1113, 132 mil comprimidos de Pramil, 20 mil de Aspirina, 6 mil de Erofast (cidemafil), 14 mil de Reumazim forte, 22 de Pramil feminino, 80 de Viagra, 40 de Cialis, 30 de Z-Cal(Reumafort), 17 de Rigix.

Também foram encontradas ampolas de diversos medicamentos, a maioria anabolizantes: 304 de Nandrolone, 250 de Primobolan, 400 de Durateston, 200 de Testex, 300 de Tecadurabolin, 300 de Winstrol, 10 de Winstrol V, 250 de Lipostabil, 20 de Stanozoland e 20 de Testogar.

O fato do contrabando estar num compartimento falso do caminhão — método utilizado pelo narcotráfico — também é um indício de que o veículo estaria preparado para o transporte de cocaína, e que foi aproveitado para colocar os medicamentos. Toda a carga seguiria para Salvador, capital baiana. O motorista, de 50 anos, foi preso em flagrante. Ele disse aos policiais que recebeu o veículo em um posto de combustíveis em Foz do Iguaçu e o levaria até o Nordeste, recebendo R$ 2 mil pelo transporte.

Durante todo o ano passado, cerca de 500 mil unidades de medicamentos contrabandeados foram apreendidas pela PRF no Brasil — 123 mil destes, no Paraná, que é o Estado onde mais se apreende esse tipo de contrabando.

Desde o começo do ano, a PRF tinha apreendido no Paraná a cerca de 122 mil comprimidos de medicamentos, um volume praticamente igual ao do ano passado inteiro, quando foram pegos 123 unidades em apreensões da PRF no Estado.

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